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SU DOMÍNIO SOBRE NOSOTRAS ERA ABSOLUTO : UMA REFLEXÃO SOBRE A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA AS INIMIGAS INTERNAS DAS DITADURAS DE SEGURANÇA NACIONAL

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“SU DOMÍNIO SOBRE NOSOTRAS ERA ABSOLUTO”: UMA REFLEXÃO SOBRE A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA AS “INIMIGAS INTERNAS” DAS DITADURAS DE

SEGURANÇA NACIONAL

Janaína Athaydes Contreiras1

Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar, a partir de alguns estudos de caso, como o Terrorismo de Estado - empenhando durante as ditaduras de Segurança Nacional no Cone Sul – possibilitou que a violência sexual, mais propriamente o estupro (e a escravidão sexual), fosse uma das ferramentas utilizada de forma sistemática para o controle e punição das mulheres identificadas como “inimigas internas” dos regimes ditatoriais. Em todos os países que passaram pela experiência de ditaduras há relatos de memórias, bem como documentos dos julgamentos e Comissões da Verdade, que atestam a utilização desta prática no quadro da repressão. Logo, analisaremos como os agentes repressores, através da total liberdade de repressão e tortura, usaram os corpos das ex-presas políticas como um “botim de guerra”. Priorizaremos neste artigo as questões relativas a escravidão sexual ilustrando com alguns casos de mulheres argentinas que foram presas nos centros clandestinos de detenção e de uma sobrevivente uruguaia, exilada no Brasil, que teve dois filhos frutos desta violência. Ressaltamos que este trabalho pertence a uma pesquisa maior que está em desenvolvimento, entretanto tais dados apontados já são resultados parciais da pesquisa. Diante disto, justificamos a relevância do trabalho, pois a violência sexual empenhada contra as mulheres foi específica e deixou marcas permanentes que impactaram e continuam impactando suas vidas no tempo presente.

Palavras-chave: Violência Sexual. Escravidão sexual. Estupro. Ditaduras de Segurança Nacional. Terrorismo de Estado.

A violência sexual2 contra as mulheres é uma realidade que transcende gerações. Por

séculos, nas mais diversas sociedades e culturas, em períodos de guerra, batalhas, conflitos civis, ou experiências marcadas por forte autoritarismo, as mulheres acabam sendo visadas pelos grupos

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Porto Alegre, Brasil.

2 A Organização Mundial da Saúde baseou-se na definição do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde de Heise &

Garcia-Moreno, 2002; Jewkes, Sen & Garcia-Moreno, 2002 para a definição. Segundo o relatório qualquer ato sexual, tentativas de obter um ato sexual, comentários ou insinuações sexuais não desejadas, atos de tráfico ou dirigidos contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção, por qualquer pessoa, independentemente de sua relação com a vítima, em qualquer contexto, porém não limitado à penetração da vulva ou ânus com o pênis, outra parte do corpo ou objeto – contudo, a definição de estupro pode variar em vários países. Ver em Organização Mundial da Saúde, 2012. Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher Ação e produção de evidência. Disponível em: < http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44350/3/9789275716359_por.pdf?ua=1 > Acesso em junho de 2017. Ao encontro da definição sobre violência sexual podemos citar também o trecho que a Corte Interamericana de Direitos Humanos define, segundo o Tribunal Penal Internacional para Ruanda: “La Corte, siguiendo la línea de la jurisprudencia internacional y tomando en cuenta lo dispuesto en la Convención para Prevenir, Sancionar y Erradicar la Violencia contra la Mujer, considera que la violencia sexual se configura con acciónes de naturaleza sexual que se cometen en una persona sin su consentimiento, que además de comprender la invasión física del cuerpo humano, pueden incluir actos que no involucren penetració n o incluso contacto físico alguno. Ver em: CARVALHO, Cláudia P. Crimes sexuais e justiça de transição na América Latina: judicialização e arquivos. Florianópolis: Tribo da ilha, 2016. p. 56. Disponível em: < http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/anistia/anexos/miolo_crimes-sexuais_final.pdf/ > Acesso em maio de 2017.

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armados fazendo parte do botim de guerra, os bens, as crianças e as mulheres eram entendidos como os espólios da batalha. Durante as ditaduras de Segurança Nacional (SN), as mulheres que foram consideradas “inimigas internas”, também, foram alvos da violência sexual.

No período das ditaduras todas as formas de violência foram utilizadas contra presas e

presos políticos. A prática da tortura3 foi aplicada de forma sistemática e em grande escala; pois,

esta era entendida, na lógica da repressão, como um método eficaz para extrair informações e confissões e para obter a destruição física, psicológica e moral dos presos e presas. A tortura, combinada com sequestros, execuções extrajudiciais e desaparecimentos de pessoas (e de seus cadáveres), configurou uma dinâmica complexa de violência, dentro da estrutura do Terrorismo de Estado, que, segundo Enrique Padrós, “se fundamenta na lógica de governar mediante a intimidação”. Ou seja, “é um sistema de governo que emprega o terror para enquadrar a sociedade e que conta com o respaldo dos setores dominantes, mostrando a vinculação intrínseca entre Estado, governo e aparelho repressivo”. (PADRÓS, 2005, p.64).

A violência do Terrorismo de Estado, principalmente a tortura, foi uma das práticas utilizadas de forma sistemática em praticamente todas as ditaduras de SN do Cone Sul, tornando-se a central, entre as diversas modalidades de ações violentas. Entretanto, dentro deste conjunto de “ferramentas de terror”, é importante registrar uma, de característica específica, utilizada, principalmente, contra as mulheres: a violência sexual.

Todos los informes existentes sobre la tortura indican que el cuerpo femenino siempre fue un objeto “especial” para los torturadores. El tratamiento de las mujeres incluía siempre una alta dosis de violencia sexual. Los cuerpos de las mujeres – sus vaginas, sus úteros, sus senos -, ligados a la identidad femenina como objeto sexual, como esposas y como madres, eran claros objetos de tortura sexual [...]. Hay que recordar también que muchas mujeres detenidas eran jóvenes y atractivas y, en consecuencia, más vulnerables al hostigamiento sexual (JELIN, 2002, p.102-103).

Durante as ditaduras de SN a maioria das presas políticas sofreu algum tipo de violência sexual. Homens, presos políticos, também sofreram esse tipo de violência, que era realizada, geralmente, com o objetivo de afetar a sua masculinidade ou torná-los impotentes (tanto para efeitos de procriação quanto para manter relações sexuais); contudo, poucos são os registros e denúncias de conhecimento público.

A violência sexual está inserida na violência de gênero (que é algo muito maior) e engloba diversos tipos de agressões: morais, verbais, psicológicas e, principalmente, físicas. A maioria das

3 O “Projeto Brasil: Nunca mais” define a tortura como “a imposição deliberada, sistemática e desconsiderada de

sofrimento físico ou mental por parte de uma ou mais pessoas [...] com o fim de forçar uma outra pessoa a dar informações, confessar, ou por outra razão qualquer” Disponível em: <

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ex-presas políticas sofreu algum tipo de violência sexual. Muitas não falaram à respeito por muito tempo. Todavia o quadro de denúncias e o entendimento desta forma de violência como algo especifico, e não como uma forma de tortura, contra as mulheres ganhou mais importância nas últimas décadas. Sobre as denúncias relacionadas as violações de direitos humanos a tortura predomina, mas é possível averiguar que há, também, nos relatos das vítimas a acusação do uso da violência/tortura sexual, principalmente entre as mulheres. Paraguai, Brasil, Uruguai, Chile e Argentina além de terem pessoas que foram torturadas, há as que foram torturadas sexualmente, abusadas e/ou violentadas. Cabe aqui explicar que há uma diferença entre tortura sexual e abuso sexual (que pode ser usada tanto em homens quanto em mulheres). A historiadora Mariana Joffily é muito didática na explicação desta diferença:

A violência sexual, com um conteúdo mais abrangente, refere-se a toda e qualquer violência dirigida aos órgãos sexuais, o que era muito comumente praticado, tanto com homens quanto com mulheres, dada a extrema sensibilidade dessa parte do corpo. O abuso adquire uma conotação mais específica quando relacionado ao contexto cultural das representações de como podem ou devem ser as relações entre homens e mulheres, dentre as quais não se exclui o prazer masculino numa relação sexual imposta à mulher. Contribui para isso o fato de a extensa maioria dos agentes repressivos ser do sexo masculino. Esta indiferenciação entre abuso e violência sexual está certamente na raiz da proximidade percentual entre as vítimas de sexo feminino e masculino relativamente a esta modalidade de tortura (JOFFILY, 2010, p. 124)

Portanto, muitos presos e presas politicas receberam, durante as sessões de tortura, a tortura sexual. Seus órgãos sexuais sofreram diversas formas de violência (choque, soco, cortes, mutilações, queimaduras, entre outras), já os abusos sexuais, de fato, atingiram em maior escala as presas política; porque os corpos femininos eram entendidos como objetos sexuais; ou seja, serviram também para satisfazer os desejos dos agentes, que eram em grande parte homens.

As denúncias sobre violência sexual são recentes, mas são cada vez mais crescentes. Isto evidencia – para os casos das ditaduras de SN – que tal prática foi utilizada de forma sistemática e destrutiva. As violações, os abusos, e torturas sexuais foram empenhados como método para castigar, destruir e, também, como forma de apropriação dos corpos das vítimas. Foi um modelo que se aproxima e integra a concepção de que a violência sexual - contra mulheres - é muito mais recorrente e agressiva em períodos de guerras ou conflitos armados. Usa-se o corpo das mulheres para subjugá-las, domina-las, castiga-las, e também para mostrar para os homens que tenham alguma relação pessoal com elas (pai, filho, irmão, marido, companheiro político ou de grupo de resistência), que elas são, também, um território a ser disputado. Logo, a violência sexual também é usada de forma política nas estratégias belicosas. Independente do período que seja analisado há, nestes contextos de extrema violência, a interpretação (pelo masculino) de que o corpo das

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mulheres (ou o corpo feminino4) é passível de ataque, pode tornar-se objeto de prazer, de dominação e, também, disputa de poder.

A violência sexual praticada no marco do Terrorismo de Estado, durante as ditaduras de SN, se demonstrou excepcional. É possível ver, nas experiências traumáticas, como a hierarquização de gênero está presente, reafirmando o poder hegemônico do masculino sob o feminino e ao mesmo tempo ocultando tais prática, mantendo-as na invisibilidade, pois muitas das sobreviventes silenciaram por muito tempo, seja por culpa, por vergonha, por acreditarem que foram responsáveis pelos danos que sofreram ou porque os espaços de escuta não estavam interessados em ouvir tais especificidade.

Neste artigo, sobre a Argentina apresentaremos alguns recortes de relatos - de pessoas que passaram pela experiência da tortura e da violência sexual - extraídos do Informe final realizado

pela Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP)5 publicado em 1985, e

também do livro de relatos sobre as experiências traumáticas que muitas mulheres passaram nos Centros Clandestinos de Detenção (CCDs) durante os anos da ditadura neste país. Este livro foi

organizado pelas sobreviventes do período, Miriam Lewin6 e Olga Wornat7, e intitula-se: Putas y

Guerrilleras: crímenes sexuales en los centros clandestinos de detención. La perversión de los represores y la controversia en la militancia. Las historias silenciadas. El debate pendiente. E para

o caso do Uruguai utilizaremos o caso de uma sobrevivente uruguaia, exilada no Brasil, que teve dois filhos frutos das violações. A partir destes relatos é possível construir uma reflexão inicial sobre como a violência estatal se deu neste contexto.

Repressão e violência sexual

As ditaduras no Cone Sul, de modo geral, cercaram-se de práticas completamente ilegais, sob o verniz da legalidade, para caçar e destruir os considerados “inimigos internos” (inimigos ideológicos). Os mecanismos de terror estatal puderam ser utilizados de forma massiva e sistemática, pois respaldaram-se e foram estimulados, principalmente, a partir do alinhamento do Estado com a Doutrina de Segurança Nacional (DSN); teoria elaborada pelos Estados Unidos da América logo após o final da II Guerra Mundial. Sua criação surgiu da necessidade de fortalecer a

4 Pessoas que nascem, biologicamente, num corpo masculino, mas que se identificam com o gênero feminino

(transexuais e travestis) podem ser alvos de violência sexual da mesma forma.

5 Esta comissão foi criada no governo de Raúl Afonsín em dezembro de 1983 com o objetivo de esclarecer e investigar

os desaparecimentos de pessoas realizados durante os anos da ditadura de 1976 da Argentina.

6 A jornalista Miriam Lewin foi presa política e ficou desaparecida no centro clandestino de detenção Escuela Superior

de Mecánica de la Armada

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segurança nacional estadunidense contra a influência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas nos países considerados pertencentes às zonas de influência capitalista.

A institucionalização da violência foi tão abrangente entre os membros das Forças Armadas e policiais que isto possibilitou a minimização da culpa entre os agentes envolvidos nas práticas. Entretanto, houve também um outro elemento que, também, facilitou o exímio da culpa: a desumanização das vítimas. Havia todo um processo de desconstrução da identidade dos interrogados, pois para os agentes o “subversivo” era um inimigo de alto risco e precisava ser destruído, logo, não poderia ser visto como alguém indefeso que estava sofrendo. Durante as sessões de tortura lhes tiravam as roupas, deixando somente o capuz (ou algo parecido que cobrisse

o rosto) e o transformavam em um corpo sem rosto, sem identidade. Essa

coisificação/desumanização das presas e presos políticos permitia legitimar qualquer violência aplicada como estratégia de interrogatório sem a existência da culpa. O próprio uso do capuz anulava a identidade da pessoa que o usasse; eram corpos sem expressões faciais, sem características próprias. Nesta lógica da desumanização foi possível a perpetração de práticas terríveis: saques, sequestros de pessoas, bem como a utilização da tortura e a violência sexual de forma indiscriminada, principalmente, contra as mulheres que estavam detidas. Pois elas ficavam a mercê dos agentes repressores que estavam amparados por um Estado que, também, permitia todos os tipos de violência e abusos sexuais.

O médico Liwsky que foi preso em 5 de abril de 1977 na Argentina denunciou à CONADEP o que lhe ocorreu enquanto foi preso político:

En algún momento estando boca abajo en la mesa de tortura, sosteniéndome la cabeza fijamente, me sacaron la venda de los ojos y me mostraron un trapo manchado de sangre. Me preguntaron si lo reconocía y, sin esperar mucho la respuesta, que no tenía porque era irreconocible [...] me dijeron que era uma bombacha de mi mujer. Y nada más (CONADEP, 1985, p. 18)

Podemos perceber, a partir do seu testemunho, que ao mostrarem uma calcinha com manchas de sangue para ele dizendo que era da sua esposa a mensagem era clara. Os agentes induziam o preso a pensar que havia sido cometido ou poderia ocorrer estupros das mulheres (esposa, filha, irmãs, etc). Uma das formas utilizadas para desestruturar ou para conseguir arrancar informações de homens que tinham alguma relação pessoal com alguma mulher. E, de fato, em muitos casos o estupro era consumado; não era apenas uma insinuação ou ameaça. Outro caso semelhante a esta situação é o de Fernando Rule que foi levado para o centro clandestino D2 em Mendoza. Ele se recorda que “le hicieron “manosear” a su mujer, desnuda y colgada de la puerta de

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um calabozo, mientras los repressores le describían cómo la violaban (Lewin; Wornat, 2014, p. 211). Ainda no mesmo depoimento, Fernando Rule faz a seguinte constatação:

Querían que tuviésemos claro que podían hacer com nosostros lo que quisieran. Querían que colaboráramos, que les diéramos información, pero nos robaban las Mujeres. Así como nos robaban la heladera y el televisor, nos robaban las Mujeres. Necesitaban dejar en claro que nos despojaban de todo, hasta de ellas (LEWIN; WORNAT, 2014, p. 212)

As questões que envolveram abusos e estupros feriam a moral dos homens, e estes se consideravam incapazes de proteger suas mulheres, ou sentiam-se desonrados. Miriam Lewin e Olga Wornat falam sobre isso em seu livro: “Una ex desaparecida visitada en la cárcel por su padre, relata que él le preguntaba insistentemente si la habían violado. [...] Outra, cuando le contaba a su hermano que había sido sometida sexualmente, recebía como respuesta un “no exageres, no habrá

sido para tanto””. A socióloga Inés Hercovich, também citada por Miriam e Olga, relata um caso

semelhante:

una mujer le dijo en una entrevista: ‘Yo no sé quién me dano más, se el violador o mi papá’. Cuando ella llegó a su casa lastimada, violada por vários hombres y le contó a su padre, él de imediato la subió a su camioneta para buscar a los violadores. No la escuchó. No la ayudó ni siquiera a lavarse la cara. El padre se habia convertido em la victíma principal, em el personaje central. Su hija violada y degradada ocupaba um lugar secundário (LEWIN; WORNAT, 2014, p. 212).

A violência sexual ultrapassou o objetivo de causar dores físicas, sua aplicabilidade transmite mensagens relacionadas as questões morais concebidas para cada gênero. Tanto para o homem quanto para a mulher este tipo de violência é degradante, humilhante e a dor física é bastante presente. Não é possível pensar nos casos de homens e mulheres que tiveram objetos condutores de eletricidades inseridos em seus corpos como algo apenas moral. Este tipo de violência foi usado para aumentar a dor física das vítimas e causar-lhes, também, a humilhação e o sentimento de derrota em não poder proteger aquilo que consideram mais íntimo no seu corpo. O caso do médico Liwsky, citado anteriormente, também ajuda a perceber que este tipo de tortura sexual foi explorado nos corpos masculinos:

Empezaron a retorcerme los testículos. No sé si era manualmente o por médio de algún aparato. Nunca sentí dolor semejante. [...] Otro día me llevaron y, a pesar del tamaño de los testículos, me acostaron uma vez más boca abajo. Me ataron y, sin apuro, desgarrando conscientemente, me violaron introduciéndome em el ano un objeto metálico. Después me aplicaron electricidad por médio de ese objeto, introducido como estaba. No sé describir la sensación de cómo se me quemaba todo por dentro (CONADEP, 1985, p. 31).

Muitos dos centros clandestinos que foram utilizados pelo sistema repressivo possibilitaram, além de todas as violações de direitos humanos ocorridas, que os agentes cometessem estupros e abusos sexuais diversas vezes, em várias mulheres; muitas delas foram vítimas de estupros e abusos por mais de uma agente torturador. Os homens e mulheres que foram detidos nestes centros,

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ficaram à mercê de violações de direitos humanos cometidos por agentes da mais baixa patente até os chefes dos centros.

Conforme os relatos analisados podemos identificar que algumas mulheres foram vistas por alguns oficiais como “propriedade”, outras foram escolhidas para atender sexualmente as necessidades das tropas. A finalidade é a mesma: prazer sexual, dominação, poder. Mas as formas foram diferentes. Também vale ressaltar que algumas mulheres foram estupradas propositalmente na frente de seus companheiros; com o objetivo da punição. Ou seja, o objetivo da violência muda, crime, mas não a perversidade e muito menos a forma: violência sexual é violência sexual.

A depoente C.G.F8 relatou à CONADEP que além de passar por toda a degradação da

tortura acabou submetendo-se ao desejo sexual do agente. Este lhe propôs liberta-la se ela aceitasse fazer sexo com ele. Outra depoente, nominada pela CONADEP por M., relatou a violência que sofreu no local que foi levada sem saber identificado. Era uma espécie de acampamento com lonas e toldos.

Luego la ataron de los pies y de las manos com cables y le pasaron corriente eléctrica. A partir de ahi tuve convulsiones, ellos decían que eso era el adiestramiento que necesitaba para que confessara. Luego desdudaron y la violaron. [...] Tambiém recuerda claramente que la paseaban desnuda por la galería, que la violaron varias veces, no recuerda si eras, recuerda conscriptos o gendarmes, recuerda que para esa época tenía muchas perdidas y ella ya para esse entonces se dejaba morir, que ya no le importaba nada, ya ni lloraba. (CONADEP, 1985, p. 51-52).

No relato sobre o caso de M. podemos perceber que além da tortura sexual a depoente foi diversas vezes estuprada enquanto esteve presa. Situações como estas não foram casos isolados. Tanto C.G.F., quanto M passaram pela mesma experiência. Sofreram abusos sexuais dos mais variados e foram violentadas diversas vezes. Dos casos de mulheres que foram constantemente violentadas, por mais de um agente existem vários, mas apontaremos apenas alguns, como o caso de Elena Alfaro que além de relatar o que lhe ocorreu, durante os julgamentos da Junta Militar em 1985 na Argentina, apontou outros casos de mulheres que também passaram pelo centro onde esteve presa; El Vesubio. Elena foi sequestrada no ano de 1977 e quando foi solta, no ano de 1982 exilou-se na França. Quando ocorreram os julgamentos das Juntas ela fez suas declarações diante da Câmara Federal sobre a situação das mulheres que foram sequestradas:

Nosotras, como Mujeres, estábamos en una situación a merced de cualquier fuerza o cualquier hombre que estuviera ahí, salvo por supuesto, los detenidos que no harían una cosa por el estilo. Yo sé del caso de Graciela Moreno, una de las detenidas, que fue violada mientras estaba en las duchas. De Elsa, de María del Pilar García, que también fue violada. (LEWIN; WORNAT, 2014, p. 105-106).

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Durante a descrição (realizada por Olga Wornat), sobre o caso de Elena, há, também, mais alguns outros casos que a depoente lembrou, como as três desaparecidas: Silvia, Elena e Tana. Sobre estas três mulheres ela disse que o torturador Durán Sáez as levou com ele. Em 1977 as três

mulheres que formaram o harém de Durán foram transladadas9. Elena contou que, também, recebeu

ordens para ir com Dúran, onde acabou sendo estuprada. Ela estava gravida de quatro meses quando este episódio ocorreu. Já Alícia (uma outra vítima lembrada por Elena) sofreu estupro coletivo na enfermaria. Elena afirma que isso não foi um caso isolado e que Beatriz (também outra vítima citada) sofreu felação na presença de seu filho pequeno de 3 anos. Já Alejandra Naftal uma secundarista de 17 anos foi sequestrada em 1978 e levada, também, para El Vesubio onde sofreu estupros e, no seu depoimento, ela relata que, o seu estuprador era conhecido como “la vaca”, além dos abusos ele a ameaçava com a sua sobrinha de dois anos de idade.

No centro clandestino La Cueva a perversão e crueldade também imperou. Marta (outra depoente) contou a experiência que passou enquanto esteve sequestrada neste centro para as autoras Lewin e Wornat:

Una día, Charles la llevó a limpiar la mesa que ataban a los torturadores para picanearlos. Com un balde y un trapo, com la capucha semilevantada, Marta quitó restos de sangre y de excrementos de la superfície bajo la mirada del verdugo.[...] Pero Charles no le dio tempo a comoverse. La empujó sobre un camastro que había en la habitación y la violó.[...] Marta se mordió los lábios mientras el monstruo la penetraba. [...] No fue la única vez. Tampouco fue Marta la única victíma de esse suboficial de la Fuerza Aérea que se llamaba Gregório Molina. Usaba un anillo cuadrado [...] y golpeaba a Marta com el borde en el brazo, como anticipándole que había llegado el turno de otro sometimiento. Sólo uma vez, ella quebro el silencio para perguntarle: ?por qué? “Así, com essas dos palavras. “Porque vo sos uma señora y afuera no me darías pelotas”, le contestó el violador. (LEWIN; WORNAT, 2014, p. 141).

Marta foi submetida sexualmente diversas vezes pelo torturador Gregório Molina, tornando-se um objeto tornando-sexual “à disposição”. Não era pouco comum que mulheres, na condição de presa

política, fossem “escolhidas” por agentes da repressão. Este foi o caso da a uruguaia Rosa10.

Rosa11 é uma ex-presa política, sobrevivente da ditadura do Uruguai e residente no Brasil

(Porto Alegre). Ela era estudante de medicina e atuava no movimento estudantil, tinha 19 anos

quando foi presa. A sua primeira prisão ocorreu em 21 de julho de 1973, um mês após a oficialização da ditadura uruguaia. Rosa relata que quando acordou – depois de ser presa - era de noite, pouca claridade, em um local ao ar livre - ela acredita ser a praça de armas do quartel

9 Termo usado para dizer que uma pessoa que estava em algum centro clandestino de detenção foi desaparecida;

assassinada.

10 Por questões de privacidade ocultaremos o sobrenome da depoente.

11 Foram realizadas duas entrevistas orais com a depoente Rosa para o trabalho de dissertação de mestrado, desta autora,

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comandante da marinha em Montevideo. Relata que ao acordar, percebeu que estava amarrada pelas mãos (pendurada), nua, com as pernas abertas e com o corpo ensanguentada. Relata que foi submetida a torturas e abusos. Rosa passou por vários espaços de detenção: a praça de armas, na chefatura de polícia - que fica no centro de Montevideo -, em uma sala branca (possivelmente alguma enfermaria), em vagões, mas não sabe ao certo, podem ser, também, containers e na 9ª Cavalaria, lugar quando um dos Ferreiras (militares), José Eduardo, a capturou. Rosa relata que foi muito violentada na chefatura e nos demais espaços e que foi em algum destes locais que ficou

grávida da sua primeira filha (M)12. Ela não sabe se a sua primeira gravidez foi de algum dos

Ferreiras, mas acredita que não, por causa dos diversos estupros que sofreu, cometido por diversos agentes, nos espaços de repressão em Montevideo.

Quando ela já estava no 7º mês de gravidez foi levada pelos irmãos Ferreiras para uma cidade no interior do Uruguai. A família Ferreira era praticamente a dona da cidade; o cartório local era da família, assim como a policlínica onde nasceu seus filhos. Rosa relata que foi obrigada a casar com um deles, Carlos Maria, um dos irmãos que foi expulso do exército e que inclusive era alcoólatra. Como Rosa era menor de idade (para a legislação uruguaia da época) e só poderia casar com a permissão dos pais, foi feito, neste cartório local, uma certidão de nascimento com a data falsa para que a união matrimonial fosse realizada dentro da legalidade.

A filha de Rosa nasceu em 12 de junho de 1974 e três meses depois ela ficou grávida do segundo filho; este sim, provavelmente de um dos irmãos Ferreiras. Quando falamos um dos irmãos Ferreiras é porque ela afirma que dos 4 irmãos, 3 abusavam sexualmente dela e que ela não podia sair sem a presença de algum deles. Os três lhe agrediam fisicamente, além dos abusos e estupros.

Seu filho (E)13 nasceu um ano e cinco dias após o nascimento de sua filha (M) em 1975.

Da menina eu não sei e dele eu também não sei, teoricamente é de um dos Ferreiras. Por que? Porque depois que to lá... E aí nasce a (M) e tal. Tá? Com 3 meses eu engravido do meu filho. Como é que eu sei que é três meses? Porque levou um ano e cinco dias. É só fazer a conta. Eu não lembro de quando, não lembro como eu lembro que ela era muito pequena, voltei para Montevideo. A esta casa em Paulo Perez, 4434, que é esta casa que a gente estava buscando e que achamos e que estava exatamente igual [...]14.

A partir do ano de 1977, Rosa relatou que passou a morar numa casa clandestina onde passavam vários militares e que neste espaço havia, também, outras mulheres. Umas habitavam a casa e outras, apenas, passavam por lá.

Tem várias peças. Tá? É um corredor, tem uma casa na frente e depois tem um corredor. Tá? Atrás, que são várias peças, que tem em cada peça mora gente e eu era uma dessa

12 A pedido da depoente será mantido em sigilo o nome de seus filhos. 13 Idem.

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gente, como... e... e ali só tem militares, todos os homens que tem ali, são só homens militares. E tem mulheres, e tem algumas crianças. Só que uma, não me lembro do nome dela, me lembro do nome do gurizinho pequeno dela que agora deve ser um homem, William, mas eu não me lembro do nome dela. E ela tinha duas crianças. Tinha esse menino e uma menina, que segundo eu me lembro, ela era mulher de algum sargento, mas tinha as outras peças que tinham outros militares que tinham outras mulheres. Inclusive, o Ferreira, o sargento Ferreira, vamos dizer o patriarca, o maior de todos eles, dos três irmãos, aliás, mais irmãos, mas dali. Aí, assim... o Ferreira tinha a Mabel também que eu me lembro, que depois eu nunca mais vi ela, que a gente se conversava.

Rosa menciona, também, que esta casa foi utilizada por homens ligado às Forças Armadas tanto para moradia como, possivelmente, um espaço para manter algumas mulheres, ou para levar outras que pudessem lhes atender. É possível inferir que Mabel, citada por Rosa, seja um familiar de algum preso político, pois algumas mulheres relataram que se sujeitaram aos abusos sexuais dos agentes em troca da liberdade ou para melhorar a qualidade do seu familiar preso. A existência de outras mulheres como moradoras fixas e com crianças possibilita pensarmos duas possibilidades plausíveis. Poderiam ser esposas, de fato, dos militares e/ou algumas estarem na mesma condição de Rosa: escrava sexual.

Embora pouco se fale no Uruguai sobre a violência sexual cometida pelos agentes do Estado, o caso de Rosa não é isolado neste país. Em outubro de 2011 uma denúncia judicial coletiva de 28 mulheres veio a público. Uma das porta-vozes do grupo, Beatriz Benzano, relatou que todas as mulheres foram vítimas de alguma forma de tortura ou abusos sexuais. Em um dos vídeos disponíveis no YouTube ela fala sobre a cumplicidade entre os militares e quais as práticas de tortura sexual e abuso que as mulheres passaram.

Acusamos desde o comandante, que era o responsável primeiro, até o último alferes. Todos os oficias, porque todos eram cumplices, todos sabiam o que estavam fazendo nos quarteis. [...] Desde a nudez forçada, exposta, exposta aos olhares da tropa, exposta na praça de armas nos quarteis. Também quando tomávamos banho, assistiam ao banho, [...] desde a nudez forçada até as distintas e aberrantes formas de violência sexual, como violação, com o sem penetração, com bichos, com cachorros [...] com vara também. Distintas formas e todas selvagens e aberrantes 15.

O que ocorreu com as presas políticas do Uruguai se assemelha com as práticas de violência existentes no Paraguai, Brasil, Chile e Argentina. Na maior parte das vezes as mulheres que foram presas neste período passaram por torturas, tortura sexual e ainda foram vítimas de abusos e estupros sistemáticos. Em muitos espaços clandestinos, espaços militares ou policiais a violência sexual foi massiva. As presas destes espaços eram, também, o botim das tropas. Os agentes, que ali circulavam, abusavam dos seus corpos. As vezes cometiam os abusos de forma individual e em outros momentos de forma coletiva. Eles escolhiam os seus “troféus” e faziam o uso indiscriminado

15 Traduzido por esta pesquisadora. “Era salvaje, aberrante”: relatos de mujeres abusadas em ditadura” da emissora

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dos corpos das presas. As denúncias feitas na Argentina informam que a prática da escravidão sexual foi usual na maioria dos centros clandestinos de detenção daquele país.

Na Argentina, Graciela García Romero (la negrita) esteve presa na Escuela Superior de

Mecánica de la Armada (ESMA) e cruzou com alguns dos piores torturadores: Antonio Pernías

(Rato), González Menotti (el gato), Francisco Whamond (el duque) e Jorge Acosta (el tigre). Segundo Graciela, destes homens o que lhe transformou em uma escrava sexual foi Acosta (el tigre), um dos mais importantes oficiais do centro. Acosta a levou para um dos apartamentos que eram usados pelos agentes para levar as presas políticas e abusarem sexualmente delas. Mesmo que Acosta não utilizasse de golpes ou agressões físicas ao estuprar Graciela, a situação toda já era uma violência. Miriam Lewin fala sobre a impossibilidade de defender-se dos agentes: “ninguna de nosotras tenía posibilidad de resistirse, estábamos bajo amenaza constante de muerte en un campo de concentración. Estábamos desaparecidas, si derechos, inermes, arrasada nuestra subjetividad. Su

domínio sobre nosotras era absoluto [...] Ellos eran nuestros dueños absolutos”. (LEWIN;

WORNAT, 2014, p.19)

Muitas mulheres, como Rosa e Graciela, ou, talvez, até mesmo a Mabel (mencionada por Rosa) “consentiram” o estupro porque estavam numa situação em que não tinham escolha. Estavam na condição de reféns em espaços desconhecidos. Não tinham com quem contar e/ou confiar. Precisavam sobreviver e, para tal, sabiam que resistir ao ato sexual forçado era inútil e perigoso. Ao mesmo tempo sabiam que “aceitar” ser o objeto sexual dos agentes não era garantia de segurança ou vida. Algumas destas mulheres que sofreram abusos e estupros estão nas listas dos mortos e desaparecidos políticos dos países do Cone Sul, isto demonstra que estar nas mãos dos torturadores e “servi-los” de qualquer forma não era garantia de vida.

Considerações finais

Tentamos problematizar neste artigo, de forma geral, a questão da violência sexual, especificamente o estupro (e escravidão sexual) praticado contra as mulheres que foram vítimas da violência estatal durante as ditaduras de Segurança Nacional no Cone Sul. Buscamos esboçar, por estes pequenos relatos, as especificidades desta violência. Desta forma, podemos identificar que a violência sexual foi utilizada de forma sistemática, deliberada e cruel. As motivações para tais práticas foram várias. Algumas foram violentadas na frente de seus maridos/companheiros para agredir a moral dos homens, outras foram torturadas sexualmente como uma dupla punição, pois eram “inimigas internas” e não representavam o papel social que lhes cabia e adentraram no político, dito “mundo masculino”.

(12)

Algumas das mulheres que foram estupradas, o foram porque despertaram o interesse sexual nos agentes, outras serviram como recompensa para as tropas e outras foram interpretadas como um troféu, tornando-se escravas exclusivas de um oficial; como o caso de Graciela ou o harém relatado por Elena. Não há como dizer qual foi a pior experiência. O que devemos ressaltar é que a experiência de estar na condição de sequestrada em um centro clandestino possibilitou que o sistema (seus agentes) extrapolassem todos os limites morais e sociais para ferir, degradar, matar e desaparecer corpos, e, ainda, para o caso das mulheres, abusar sexualmente e estuprar sistematicamente.

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junho de 2017.

"His domain over us was absolute": a reflexion about sexual violence against the "intern enemies" of National Security Dictatorship

Abstract: The following paper has the objective to present, using some case studies, how the State Terrorism - used by the National Security Dictatorships of the Cone Sur - made possible that the sexual violence, specifically rape and sexual slavery, to be used systematically as a tool to control and punish women identified as "intern enemies" of the dictatorial regimes. There are testimonies, as well as documents of trials and Truth Commissions', that attest the use of this kind of violence by the repression. Then, will be analysed how the repressive agents had the total freedom to torture and use the bodies of the ex-political prisoners as a war booty. The paper will focus the questions around sex slavery using some cases of argentineans who were in clandestines' detention centers and an uruguayan, exiled in Brazil, who had two children as a result from this violence. This paper belongs to a larger research in development and the dada presented here are some of the parcial conclusions. Therefore the importance of the paper resides in the specificity of sexual violence against women in that period, which left permanent marks that impact till this day the lives of these women.

Keywords: Sexual violence, Rape, Sexual slavery, National Security Dictatorships, State's Terrorism.

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