As diferentes fontes de evidência na
produção científica em psicoterapia
Sonia Beatriz Meyer IPUSP PSC
WORKSHOP - USO DE EVIDÊNCIAS EM PSICOLOGIA
O Workshop - USO DE EVIDÊNCIAS
EM PSICOLOGIA
• A Psicologia Baseada em Evidências foi definida, em 2005, pela American Psychological Association (APA) como a integração da pesquisa de alta qualidade
metodológica à habilidade clínica, considerando as
características individuais e culturais dos pacientes, bem como as suas preferências.
• Tamara Melnik - articulação entre a pesquisa e a prática clinica.
• Antes da articulação pesquisa, dentro de uma instituição que produz pesquisa, mas nem sempre evidências.
Determinantes históricos na pesquisa
sobre tratamentos psicológicos
• Pesquisa de intervenção: importância da
prestação de serviços aliada à produção de conhecimento
• Demanda por intervenções psicológicas • Surgiram diversas formas de tratamento
• Necessidade da fixação de critérios minimamente consensuais para a validação dessas práticas.
Determinantes históricos na pesquisa
sobre tratamentos psicológicos
• Resposta a fatores sociais, econômicos e
políticos, principalmente nos Estados Unidos,
relacionados ao papel central desempenhado
pelos sistemas de saúde vigentes, com
repercussões na formação do terapeuta e na
organização da psicologia como profissão.
Contexto histórico da pesquisa
empírica da psicoterapia
• Centenas de pesquisas sobre os efeitos de
intervenções psicológicas já foram conduzidas
ao redor do mundo.
• Quando tinham delineamento apropriado
foram base de revisões sistemáticas e
metanálises.
Contexto histórico da pesquisa
empírica da psicoterapia
• E sobre estes estudos conclusões foram
produzidas por diversas forças-tarefa sobre
psicoterapia.
• Forças Tarefa vão além da sistematização do
conhecimento produzido. Propõem diretrizes,
é também política.
Contexto histórico da pesquisa
empírica da psicoterapia
• Tal sequência de estudos está em acordo com o princípio da ciência de que o conhecimento é construído de forma progressiva e cumulativa, ou seja, baseado em informações existentes e no acréscimo de resultados de pesquisas atuais às bases de conhecimento.
• Resultados podem independer da orientação teórica.
• Mesmo assim todas as análises sobre
Histórico: Força Tarefa de 1995 –
Tratamentos empiricamente apoiados
• Reações emocionais à prática psicológica baseada em evidência; breve histórico.
• Em 1995, a Força Tarefa da Divisão 12 (Psicologia Clínica) da APA sobre a Promoção e Divulgação de Procedimentos Psicológicos publicou os critérios
para a identificação de tratamentos
empiricamente validados (posteriormente
renomeada tratamentos empiricamente
apoiados) para transtornos específicos
Ensaios clínicos randomizados
• Validação ou apoio empírico veio de ensaios
clínicos randomizados.
• Requer um n de difícil obtenção com nossas
estruturas de serviço e tempo para mestrados
e doutorados.
1. Os pacientes são randomicamente designados
para condições de tratamento e de controle.
Ensaios clínicos randomizados
2. Os controles são rigorosos. Incluem-se pacientes que não recebem tratamento, ou o tratamento é comparado com condições contendo ingredientes potencialmente terapêuticos de aliança terapêutica, a fim de controlar influências como relacionamento, expectativa de ganho e atenção empática (intitulados não específicos).
3. Os tratamentos são padronizados, com um roteiro da terapia altamente detalhado e explicitado. A fidelidade ao manual é avaliada usando-se sessões gravadas em vídeo, e os executores inconstantes são corrigidos.
Ensaios clínicos randomizados
5. Os resultados alvo são bem operacionalizados
(e.g., transtorno do DSM-IV diagnosticado
pelo clínico, número de orgasmos relatados,
autorrelatos
de
ataques
de
pânico,
percentagem de falas fluentes).
6. Os avaliadores e diagnosticadores são cegos
com respeito ao grupo de origem dos
pacientes.
Ensaios clínicos randomizados
7. Os pacientes cumprem critérios para um
único transtorno diagnosticado e os pacientes
com múltiplos transtornos são tipicamente
excluídos (validade interna, mas não externa)
8. Os pacientes são acompanhados por um
período fixo após o término do tratamento
com uma completa bateria de avaliação.
Histórico: Força Tarefa de 1995 –
Tratamentos empiricamente apoiados
• Esta Força Tarefa identificou 18 tratamentos
com sustentação empírica.
• O relatório aumentou o reconhecimento dos
tratamentos psicológicos comprovadamente
eficazes entre o público, políticos e programas
de formação.
Histórico: Força Tarefa de 1995 –
Tratamentos empiricamente apoiados
• Ao mesmo tempo, muitos psicólogos levantaram
preocupações sobre o foco exclusivo em
tratamentos breves, baseados em manuais.
• Sobre a ênfase nos efeitos de tratamentos específicos em oposição a fatores comuns que respondem por grande parte da variância de resultados através de transtornos
• Sobre sua aplicação a uma gama diversificada de
pacientes variando em comorbidade,
Histórico: Força Tarefa da Divisão 29 da APA –
Relações terapêuticas empiricamente
apoiadas
• Em 1999, a Divisão 29 da APA (Psicoterapia) estabeleceu uma força tarefa para identificar, operacionalizar e disseminar informações sobre relações terapêuticas empiricamente apoiadas, dada a forte associação entre resultados e a aliança terapêutica (Norcross, 2001).
• É um movimento contra a padronização de tratamentos (não contra as evidências) na direção da flexibilização.
Histórico: Força Tarefa da Divisão 29 da APA –
Relações terapêuticas empiricamente
apoiadas
• Não é plausível atribuir todos os resultados à
relação terapêutica.
• No entanto, a comunidade psicológica,
incluindo cientistas e profissionais estava
preocupada que as iniciativas na prática
baseada em evidências fossem utilizadas
como
justificativas
para
restringir
indevidamente o acesso aos cuidados e à
escolha de tratamentos.
Histórico: Força Tarefa de 2005 –
Prática Baseada em Evidência
• Em 2005 o presidente da APA, Ronald Levant nomeou uma Força Tarefa Presidencial em Prática Baseada em Evidência. A Força-Tarefa incluiu cientistas e profissionais de uma ampla variedade de perspectivas e tradições.
• A Força-tarefa foi encarregada de definir e explicitar princípios da prática baseada em
evidências na psicologia, e não com o
desenvolvimento de orientações para a prática de psicólogos individuais ou com outras formas de implantação. tomada de decisão do clínico.
Histórico: Força Tarefa Conjunta da Divisão
12 da APA e da North American Society for
Psychotherapy Research – 2002-2004
• Outra força tarefa foi coordenada por Larry Beutler e Louis Castonguay e foi denominada Força Tarefa sobre Princípios de Mudança Terapêutica Empiricamente Baseados.
• Objetivos:
1. identificar a força relativa das contribuições para o resultado da terapia das
Histórico: Força Tarefa Conjunta da Divisão
12 da APA e da North American Society for
Psychotherapy Research – 2002-2004
b. das intervenções e modelos teóricos (fatores do tratamento)
c. das variáveis do relacionamento
2. determinar e descrever como essas variáveis interagem umas com as outras para afetar diferencialmente os resultados
3. identificar princípios básicos da seleção e aplicação de tratamento efetivo para diferentes
Relação entre EBPP
(Prática baseada em evidências na psicologia)e ESTs
(tratamentosempiricamente apoiados)
• ESTs começa com um tratamento e pergunta
se ele funciona para certo distúrbios ou
problema sob determinadas circunstâncias.
• EBPP começa com o paciente e pergunta o
que a evidência de pesquisa (incluindo
resultados relevantes de RCTs) contribuirá
para o psicólogo obter o melhor resultado.
Múltiplos tipos de evidências de
pesquisa
Na nossa realidade é importante enfatizar que há múltiplos tipos de evidências possíveis.
Vários projetos de pesquisa contribuem para a prática baseada em evidências (e não só os ensaios clínicos randomizados), e projetos de pesquisa diferentes são mais adequados para lidar com diferentes tipos de perguntas:
• A observação clínica (incluindo estudos de casos individuais) e pesquisa básica em psicologia são fontes valiosas de inovações e hipóteses (o
Múltiplos tipos de evidências de
pesquisa
• A pesquisa qualitativa pode ser usada para descrever a experiência subjetiva vivida por
pessoas, incluindo os participantes em
psicoterapia.
• Estudos de caso sistemáticos são particularmente úteis quando agregados, sob a forma de redes de pesquisa para comparar pacientes individuais a outros com características semelhantes (banco de dados).
• Delineamentos experimentais de caso único são particularmente úteis para o estabelecimento de relações de causalidade no contexto de um
Múltiplos tipos de evidências de
pesquisa
• Pesquisas em saúde pública e etnográfica são
especialmente úteis para monitorar a
disponibilidade, utilização e aceitação de
tratamentos de saúde mental, bem como sugerindo formas de alterá-los para maximizar a sua utilidade em um determinado contexto social.
• Estudos de processo-resultado são especialmente valiosos para a identificação de mecanismos de
Múltiplos tipos de evidências de
pesquisa
• Estudos de intervenções tal como aplicadas em ambientes naturais (investigação de eficácia) são adequados para avaliar a validade ecológica dos tratamentos (Consumers Report).
• Ensaios clínicos randomizados e seus equivalentes lógicos (pesquisa de eficácia) são o padrão para fazer inferências causais sobre os efeitos das intervenções (contexto da verificação científica).
• Meta-análise é um meio sistemático para sintetizar os resultados de vários estudos, testar hipóteses e quantitativamente estimar o tamanho dos efeitos (Gabriela).
Alguns estudos necessários e
importantes
• A generalização e transportabilidade das
intervenções que se mostraram eficazes em ambientes de pesquisa controlada
• interações entre pacientes e tratamento
(moderadores)
• A eficácia e efetividade da prática psicológica com grupos sub-representados, tais como aqueles caracterizados por gênero, identidade de gênero, etnia, raça, classe social, status de deficiência e
Alguns estudos necessários e
importantes
• com crianças e jovens em diferentes estágios de desenvolvimento
• com idosos
• Distinguir fatores comuns e específicos como os
mecanismos de mudança (paradoxo da
equivalência)
• características e as ações do psicólogo e do relacionamento terapêutico que contribuem para resultados positivos (um dos meus focos de pesquisa)
Alguns estudos necessários e
importantes
• A eficácia dos tratamentos amplamente praticados, baseados em diversas orientações teóricas e combinações integrativas, que ainda não tenham sido submetidas a pesquisas controladas
• O desenvolvimento de modelos de tratamento baseados na identificação e observação das práticas dos clínicos na comunidade que empiricamente obtém os resultados mais positivos
• Critérios para a interrupção do tratamento
Alguns estudos necessários e
importantes
• O custo-efetividade e custo-benefício das
intervenções psicológicas
• Desenvolvimento e teste de redes de pesquisa
prática
(é um sonho que tenho)Alguns estudos necessários e
importantes
• Os efeitos de feedback sobre o progresso do
tratamento para o psicólogo ou o paciente (Lambert
MJ, Harmon C, Slade K, Whipple JL, Hawkins EJ. Providing feedback to psychotherapists on their patients' progress: clinical results and practice suggestions. J Clin Psychol. 2005 Feb;61(2):165-74.)
• Desenvolvimento de consenso profissional, enraizado na melhor evidência de pesquisa disponível, sobre tratamentos psicológicos que são considerados desacreditados
Considerações
• Intervenções que ainda não foram estudadas
em
ensaios
clínicos
são
podem
ser
consideradas ineficazes, elas simplesmente
não foram testadas até o momento.
• A boa prática e a ciência requerem a oportuna
validação das práticas psicológicas de uma
forma
que
adequadamente
as
operacionalizem,
utilizando
metodologia
científica adequada.
Considerações
• Prática baseada em evidência exige que o psicólogo reconheça os pontos fortes e as
limitações dos dados obtidos através de
diferentes tipos de pesquisa.
• Pesquisas mostraram que o método de tratamento, o psicólogo individual, a relação terapêutica, e o paciente são todos contribuintes vitais para o sucesso da prática psicológica.
• Restam muitos transtornos, constelações de problemas e situações clínicas para os quais os
• Quando não existe suficiente evidência empírica os psicoterapeutas usam seu melhor julgamento clínico e conhecimento da melhor evidência de pesquisa disponível para desenvolver estratégias de tratamento coerente.
• Sem evidência de eficácia, os profissionais de saúde são obrigados a depender exclusivamente da sua experiência direta com os efeitos de diferentes intervenções, uma abordagem que tem o risco de produzir conclusões errôneas.
Considerações
• Teoria pode e deve orientar as intervenções.
• Entretanto a teoria não deve ter caráter de
preconceito que anule os dados clínicos ou de
pesquisa.
Bibliografia
• Neno, S. (2005). Tratamento padronizado: Condicionantes históricos, status contemporâneo e (in)compatibilidade com a terapia analítico-comportamental. Tese de Doutorado. Belém: Programa
de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.
• APA Presidential Task Force on Evidence-Based Practice (2005). Evidence-based practice in psychology Am Psychol. May-Jun;61(4):271-85.
• Castonguay, L. G. & Beutler, L. E. (2006). Principles of
therapeutic change that work. New York: Oxford