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O MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO CAMPO E SUAS CONFLITUALIDADES EL MODELO DE DESARROLLO DEL CAMPO, Y CONFLITUALIDADES

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O MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO CAMPO E SUAS CONFLITUALIDADES EL MODELO DE DESARROLLO DEL CAMPO, Y CONFLITUALIDADES

Alexandre Peixoto Faria Nogueira1 alexandrepfn@gmail.com

Marìa Franco García2 mmatillo@gmail.com

Resumo: A questão agrária pode ser analisada sob vários aspectos, violência no campo, concentração fundiária, movimentos sociais do campo, agronegócio, educação do campo, entre outros. No presente artigo pretende-se analisar a formação territorial dos assentamentos rurais no município de Cruz do Espírito Santo, como fator contribuinte para o entendimento da questão agrária e da luta pela terra na Paraíba, nesse contexto, analisa-se a conflitualidade no campo baseada na relação capital X trabalho, materializada na luta dos camponeses pela posse da terra e a Usina São João. Nesse processo, se faz necessário analisar como se deu o processo de organização e divisão da produção no estado desde sua ocupação territorial e sua influência na constituição dos assentamentos rurais. Parte-se também da análise do paradigma da Educação do Campo como um possível instrumento do campesinato para conquista de sua emancipação.

Palavras-chaves: Questão Agrária, luta pela terra, novas territorialidades, educação do campo e trabalho.

Resumen: La cuestión agraria puede examinarse desde distintos aspectos, la violencia en el campo, la concentración de la tierra, los movimientos sociales del campo, la agroindustria, la educación del campo, entre otras. En este artículo se propone investigar la formación regional de los asentamientos rurales en el municipio del Cruz del Espíritu Santo, como un factor que contribuye a la comprensión de la cuestión agraria y la lucha por la tierra en Nueva Hampshire, en ese contexto, analizar el conflicto en el país sobre la base del capital X trabajo, materializado en la lucha de los campesinos por la posesión de la tierra y el Molino São João, este proceso si es

1 Mestrando do programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba; Membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT).

2 Professora Drª do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba – Dgeoc/UFPB; Membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT).

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necesario considerar la forma de dar el proceso del organización y división de la producción en el estado desde su ocupación territorial y su efecto sobre el establecimiento de asentamientos campo. También es examinar el paradigma de la educación Del campo como una posible herramienta para el campesinado en la conquista de su emancipación.

Palabras-claves: Cuestión agraria, lucha por la tierra, nueva territorialidad, educación del campo y trabajo.

Apresentação

Este artigo recolhe parte das discussões que estamos desenvolvendo na pesquisa de mestrado intitulada “Escolas rurais e formação territorial dos assentamentos de reforma agrária no município de Cruz do Espírito Santo-PB” vinculada ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. Tal projeto de mestrado tem como objetivo geral analisar a escola no processo de formação territorial dos assentamentos do município.

No entanto, restringiremos a discussão neste trabalho ao processo de formação territorial do município e à análise da questão da educação do campo como fator de compreensão da questão agrária e para uma possível emancipação dos camponeses. Sobre a formação territorial do município estudado leva-se em consideração a expressão territorial que a relação capital x trabalho tem assumido no decorrer da sua configuração, desde a disputa entre a Usina e os camponeses que ocupavam a terra até a constituição de novas territorialidades de Reforma agrária na década de 1990.

Para tanto, nos propomos problematizar a questão agrária na Paraíba a partir do modelo de desenvolvimento adotado no campo e seus rebatimentos no processo organizacional do espaço o que levou a concentração fundiária no estado, aos conflitos rurais históricos e aos movimentos sociais que emergem no seu contexto.

Já sobre a discussão da educação do campo, partiremos do processo inicial que deu origem ao debate sobre tal questão relacionando-a com a categoria Trabalho, até chegar à conquista e implementação das escolas nos assentamentos do município de Cruz do Espírito Santo.

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Introdução

Em pleno século XXI o quadro agrário brasileiro tem apresentado um panorama complexo e contraditório onde a ordem tem sido a luta e os conflitos por terra, no entanto, esse panorama vem se perpetuando ao longo do tempo.

A questão agrária brasileira está intimamente ligada ao processo histórico de colonização do país, iniciando com o processo de distribuição de grandes extensões de terra, as sesmarias. Segundo Prado Jr. (1995) as doações das terras se deram em grandes extensões, uma vez que sobravam terras e as ambições daqueles beneficiados não se contentariam com pequenas propriedades. Desde o período das capitanias hereditárias, passando pelos diversos ciclos econômicos (açúcar, mineração, borracha, pecuária e café) até os dias atuais, a questão da posse da terra esteve presente no cenário político nacional.

Além da política inicial da ocupação do território brasileiro, outro fator que agravou ainda mais a concentração de terras no país foi a criação da lei N° 601 denominada de Lei de Terras de 1850 que configurou a estrutura fundiária do país, transformando a terra em mercadoria e acabando com a única via de acesso a ela, então existente, o regime de posse ou a lei do usucapião. Segundo esse sistema o uso produtivo de um pedaço de terra após certo número de anos, abria a via para a obtenção do título de propriedade.

Sobre a criação da Lei de Terras no Brasil, Martins afirma que:

Ao contrário do que se deu, por exemplo, nas zonas pioneiras americanas, a Lei de Terras institui no Brasil o cativeiro da terra – aqui as terras não eram e não são livres, mas cativas. A Lei 601 estabeleceu em termos absolutos que a terra não seria obtida por outro maio que não fosse à compra. (1984, p. 72)

Ainda sobre a Lei de Terras e suas conseqüências, Moreira & Targino (1997) colocam que:

Com a lei de Terras de 1850, a terra se valoriza e adquire importância mercantil e o estabelecimento da propriedade privada é reforçado no Brasil e por rebatimento, na Paraíba. (p. 50)

Com o fim da via de acesso à posse da terra através do uso, garantiu-se a implementação dos direitos dos grandes latifundiários ao domínio das terras estruturadas na monocultura predominante da época, a cultura cafeeira. Esta predominou de 1850 à 1930 voltada para o capital externo, que reprentava, na época,

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conforme coloca Santos (1995), “quase 60% das exportações do país e aproximadamente, 50% da exportação mundial desse produto” (p.37).

Esse quadro de concentração de terras e de capitais, no entanto, foi fortemente agravado no período do Pós-Guerra com a implantação, na década de 1960, do modelo de modernização econômica da agricultura3 que impôs aos trabalhadores rurais a lógica, segundo a qual, a simples posse da terra não garante a reprodução das unidades produtivas familiares (LAZZARETTI, 2000).

Segundo Sampaio Jr. (1999), a modernização acelerada da agricultura e o elevado crescimento da indústria vieram acompanhados da continuidade da pobreza no campo e de um processo caótico de urbanização acelerada que generalizou o problema do subemprego para os grandes centros urbanos do país. O que até meados do século XX era uma realidade basicamente rural, ou seja, o trabalho em atividades de baixíssima produtividade passa a fazer parte da realidade também das cidades.

O processo de modernização conservadora da agricultura brasileira foi levado a efeito tendo como suportes: a criação do sistema nacional de crédito rural; o estímulo às exportações de produtos agrícolas de grãos, em particular soja; o incentivo ao cultivo de algumas culturas através de estabelecimento de políticas creditícias e fiscais específicas, como foi o caso do Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL)4; a constituição dos complexos agro-industriais; e o fomento às industriais de equipamento e de matéria prima agrícolas. (DELGADO, 1997).

Esse modelo de modernização privilegiou as empresas capitalistas em detrimento da agricultura camponesa além da introdução de máquinas e insumos químicos que ocasionou uma desarticulação da lógica tradicional camponesa baseada na mão-de-obra familiar como unidade de produção e da produção direta de parte dos meios necessários à subsistência, seja produzindo alimentos para o autoconsumo, seja produzindo alimentos ou outras mercadorias para a venda (KAGEYAMA & COLS. 1987: SILVA, 1980). Assim, a agricultura capitalista se desenvolveu enquanto os camponeses, em sua maior parte, foram expropriados e/ou expulsos da terra. Nesse processo as empresas capitalistas se apropriaram de terras públicas, com incentivo do governo federal, e das terras dos camponeses aumentando a concentração da

3 Processo de industrialização/mecanização da agricultura com a manutenção das suas estruturas, ou seja, com a permanência da concentração fundiária nas mãos das oligarquias rurais.

4 O Programa Nacional do Álcool foi criado em 14 de novembro de 1975, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. Foi um programa de substituição em larga escala dos derivados de petróleo. Foi desenvolvido para evitar o aumento da dependência externa de divisas quando dos choques do preço de petróleo.

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propriedade da terra, de modo que, o Brasil atualmente é o segundo país do mundo com maior concentração fundiária (SILVA, 1997), perdendo apenas para o Paraguai.

Além da expansão da agricultura capitalista, as transformações ocorridas na base técnica de produção levaram à mudanças significativas nas relações sociais de produção, em particular, com o avanço do assalariamento no campo. Para tal, a burguesia rural utilizou formas espúrias de convencimento, fez o uso da força acima da lei, da destruição de lavouras, de materiais e até tentativas de assassinato (MOREIRA, 1997).

Sobre este processo de desenvolvimento do capitalismo no campo Graziano da Silva (1989) diz que:

O desenvolvimento do capitalismo no campo, na medida em que incorporou máquinas, defensivos, fertilizantes e outros insumos modernos, modificou profundamente a base técnica da produção de algumas regiões do Brasil. O resultado foi uma alteração nas relações de trabalho existentes no campo (p.47).

Todo esse processo histórico e de políticas de ocupação do território brasileiro teve como seqüela a atual estrutura fundiária baseada na alta concentração de terras nas mãos de uma minoria oligarquia rural que, em detrimento da expropriação da agricultura camponesa, vem a se expandir em todo território nacional, atualmente, na forma do agronegócio, agravando ainda mais os números da estrutura fundiária brasileira e, conseqüentemente, aprofundando as condições de sobrevivência dos camponeses na marginalidade social e econômica.

Logo, historicamente, podemos caracterizar três momentos em que o papel da terra foi decisivo na conformação da sociedade brasileira: em 1850, quando foi regularizado, pela Lei de Terras, o acesso privado às terras, impedindo que parte da população trabalhadora rural também tivesse esse direito. O segundo momento ocorreu nas décadas de 1920 e 1930, quando o movimento tenentista questionou o latifúndio improdutivo e iniciou os primeiros debates sobre a necessidade de reformar a estrutura agrária do país. Já a terceira fase iniciou-se nos anos do Pós-Guerra, quando apareceram as Ligas Camponesas5 e, mais recentemente, quando surgiu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), movimentos que transformaram o campesinato em um dos sujeitos sociais mais relevantes do país, ao indicarem a 5 Movimento social brasileiro surgido a partir da década de 1950 no estado de Pernambuco. Sua origem remonta as antigas Ligas Camponesas da década de 1940, originárias da ação do Partido Comunista Brasileiro no campo. A criação desse movimento, ao invés de sindicatos, é explicada como uma maneira de fugir a rigidez institucional, ao burocratismo já existente no sindicalismo urbano e também ao conjunto de restrições ao sindicalismo rural, na década de quarenta (AUED, 1986).

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reforma agrária como um dos principais instrumentos de luta para transformar a sociedade brasileira.

Como podemos observar no processo histórico da configuração da estrutura fundiária brasileira, o Estado teve um papel fundamental a partir das políticas de configuração territorial, afirmando o desenvolvimento do capitalismo no campo, predominando os interesses da classe dominante, especificamente os latifundiários, excluindo, conseqüentemente, os interesses do campesinato.

Nesse processo de desenvolvimento no campo, o camponês, dono da terra de trabalho e dos meios de produção, é progressivamente expropriado pelo desenvolvimento das forças produtivas e da lógica capitalista no campo, consequentemente, o camponês sem terra transforma-se, assim, em trabalhador assalariado.

De acordo com Ianni (2005) esta transformação não ocorre de forma rápida e nem é um fenômeno igual e/ou generalizado em toda sociedade agrária. É um processo lento intrínseco de contradições. Segundo este autor, a origem do proletariado rural depende da efetiva transformação do camponês em trabalhador livre e assalariado.

Logo, podemos constatar que a inserção do capitalismo no campo brasileiro e seus rebatimentos nas relações sociais de produção nesse espaço tiveram como elemento norteador o Estado, através de suas políticas públicas e seu modelo de desenvolvimento adotado, baseado em sues alicerces, tais como capital, mercado, crescimento, modernização e tecnologia.

Sobre a estruturação do modelo de desenvolvimento adotado no campo brasileiro, Gómez (2006) afirma:

O desenvolvimento prossegue mantendo sua força, tanto no imaginário coletivo como na essência das políticas públicas, a despeito da seguinte espiral nada virtuosa: implementação de estratégias de desenvolvimento → promessas de melhora geral da qualidade de vida → fracassos → reformulações → novas estratégias → novas promessas → novos fracassos (p.117).

Em resposta à esse modelo de desenvolvimento do campo brasileiro e partindo de sua condição material – expropriados da terra, é que os camponeses organizam-se politicamente com o objetivo de (re)conquistar sua terra de trabalho. Nesse contexto de luta surgem os assentamentos rurais, como novas territorialidades que vão de encontro ao desenvolvimento do capitalismo no campo.

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No interior do desenvolvimento desigual das relações capitalistas, os camponeses, por meio de sua luta de resistência, vão conquistando o seu lugar social, são muitos os exemplos de lutas camponesas no Brasil, bem como em outros países, que evidenciam a construção desse lugar na sociedade. (...) Os camponeses são capazes de realização de ações coletivas. Essas ações coletivas podem ser verificadas nas lutas para entrar na terra e nela permanecer. (...) Pela luta os camponeses se constituem como sujeitos políticos e vão garantindo sua existência no sistema adverso (capitalismo), que insiste em fazê-los desaparecer. (...) As atividades coletivas desenvolvidas pelos camponeses dos assentamentos são caracterizadas por um conteúdo político e ideológico de classe. (p.20)

É nesse contexto de luta e reivindicações no interior do desenvolvimento do capitalismo no campo que se faz necessário o estudo das suas implicações na configuração e organização do espaço agrário. Nessa nova configuração do espaço rural temos um instrumento decisivo para tal, a política de reforma agrária que vem reorganizar o espaço rural a partir da implementação de novas territorialidades, os assentamento rurais. Nesse contexto uma abordagem geográfica de todo esse processo é fundamental para uma melhor compreensão das conflitualidades existentes no campo brasileiro.

Uma abordagem geográfica da reforma agrária

Estudar a reforma agrária sob uma abordagem geográfica significa, portanto, realizar uma análise centrada no tipo de transformação territorial que ela produz, ou seja, as novas territorialidades. Entende-se o território como fruto do tripé espaço, tempo e relações sociais (RAFFESTIN, 1993) e, termos no território nosso eixo central de análise, percebemos que ele está ganhando uma configuração que nada tem de linear. Assim como a história, as relações sociais e o espaço também não o são.

Para uma melhor compreensão e análise tanto da questão agrária quanto da reforma agrária, partimos do conceito de território. Consideramos o território segundo Fernandes, onde afirma que é uma unidade espacial onde se desenvolvem diferentes

relações sociais, por exemplo: capitalistas e familiares, que conflitam permanentemente, aumentando ou diminuindo suas extensões (2005, p.114). Logo, o

aumento do número de unidades espaciais ou frações territoriais onde se desenvolvem relações capitalistas amplia o território capitalista, em contraposição, o aumento do número de unidades espaciais ou frações territoriais onde se desenvolvem relações camponesas amplia, conseqüentemente, o território camponês.

Essa dinâmica existente nas frações territoriais seja ela aumentando ou diminuindo, acontece pelo processo geográfico de territorialização e

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desterritorialização, respectivamente. Esses conceitos contribuem para entendermos e acompanharmos as mudanças na estrutura fundiária.

Ao trabalharmos com a concepção de que o território é construído a partir das relações sociais estabelecidas em um dado espaço ao longo do tempo, devemos entender que, na atualidade, ele é materialização do modo capitalista de produção. Entretanto, o capitalismo é um modo de produção contraditório: ele não só permite e possibilita como também necessita de relações não capitalistas de produção. Como afirma Oliveira (1995):

Isto significa dizer que, ao mesmo tempo em que esse desenvolvimento avança, reproduzindo relações tipicamente capitalistas (implantando o trabalho assalariado através da figura do “bóia-fria”), produz também, contraditoriamente, relações camponesas de produção (através do trabalho familiar) (p.467).

O campesinato e, sem dúvida, os movimentos sociais no campo, marcam o território por uma relação não capitalista. O campesinato se territorializa através de uma relação que não está baseada na exploração (extração de mais-valia) e, ao contrário do que se tem afirmado, os camponeses não têm desaparecido; pelo contrário, no Brasil, nos últimos anos, seu número aumentou consideravelmente (OLIVEIRA, 1991).

Para dissertar sobre a reforma agrária, partiremos da discussão sobre sua questão conceitual. Segundo Fernandes (2005), na obra A Qualidade dos

assentamentos da reforma agrária brasileira de Gerd Sparovek, há uma importante

discussão a respeito do debate conceitual e das experiências de reforma agrária. Dentro do debate são apresentadas diferentes acepções do termo reforma agrária, que variam desde a realização de políticas públicas como créditos agrícolas, assistência técnica, garantia de preços, etc., ao processo de redistribuição da propriedade da terra, fundamental para mudanças políticas, econômicas e sociais, portanto, territoriais. Todo esse conjunto de políticas faz parte do conteúdo do conceito de reforma agrária.

O conceito de reforma agrária expressa processos compostos de diferentes dimensões. Os modos de realização desses processos transformam o conceito em territórios teóricos e políticos apropriados por diferentes instituições. Essas apropriações aplicam distintas especificidades ao conceito, que tem sido definido como política compensatória, apenas para minimizar os conflitos por terra, ou como revolução, como uma possibilidade de transformação da sociedade.

Essas definições estão em debate hoje nas políticas de assentamentos rurais implantadas por diversos governos desde a década de 1960. Enquanto se faz o

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debate, milhares de assentamentos são criados por causa da intensa luta popular realizada pelos movimentos camponeses por meio da ocupação de terra. Nesse tempo, o conceito de reforma agrária foi transformado em territórios em disputa.

A definição de reforma agrária como política compensatória expressa um processo de controle social dos movimentos camponeses pelo estado, sob influência direta do capital. A política compensatória é uma forma de tratamento terminal do campesinato. A aposta no fim do campesinato não se efetua como se tem esperado, de modo que a política compensatória mantém os movimentos na UTI (FERNANDES, 2005).

A reforma agrária pensada como política de desenvolvimento econômico insere-se, segundo Dias (2006), em uma lógica que se contrapõe a do agribusiness. A tese de que o Brasil caminha rapidamente para um processo inexorável de urbanização, coloca a distribuição de terras como um anacronismo, em que a mesma não cumpre os seus objetivos sociais e, de certa forma, atrapalha o desenvolvimento econômico do país6.

Por outro lado, a definição de reforma agrária como revolução política de transformação socioeconômica expressa um processo de enfrentamentos permanentes. Essa compreensão é defendida por movimentos camponeses, especialmente os vinculados à Via Campesina. A posição está fundada na diferenciação do campesinato pela renda capitalizada da terra. Essa é a essência da questão agrária e sua solução só é possível com a superação do modo capitalista de produção.

Essas definições são territórios em disputa no cotidiano da sociedade e são percebidas tanto nos periódicos de circulação nacional como nos trabalhos científicos de diferentes correntes teóricas. Esses territórios são projetos políticos de instituições diversas e se materializam simultaneamente nos campos e nas cidades, territorializando-se, sendo desterritorializados e reterritorializando-se.

Os territórios dos projetos de políticas compensatórias e dos projetos de perspectivas revolucionárias estão inseridos no espaço de realização das lutas pela terra e pela reforma agrária. Como são territórios em disputa, podemos ter diferentes interpretações dessa parte da realidade, porque ela contém o sucesso e o fracasso, o avanço e o retrocesso, que são resultados dos projetos políticos em desenvolvimento.

Essas diferentes leituras estão contidas nos projetos políticos e territoriais que acreditam na agricultura camponesa como modelo de desenvolvimento ou que a vêem 6 O conceito de desenvolvimento é medido, nesse caso, por critérios como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumento da renda per capita, industrialização, avanço tecnológico e etc. (DIAS, 2006).

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como uma política de controle social do capital. Nesse sentido, o trabalho de Sparovek

et alii (2003) é uma importante referência para compreender os assentamentos como

uma forma de desenvolvimento da agricultura camponesa, portanto de realização da reforma agrária.

Devido ao processo de ocupação do território brasileiro ainda está em movimento, sua dinâmica territorial ainda ser ativa no cenário nacional, podemos considerar que, mesmo analisando conjuntamente a expropriação e a compra de terras para a formação de milhares de assentamentos, a estrutura fundiária brasileira continua concentrada.

O assentamento rural na reforma agrária.

O assentamento aparece na política de reforma agrária como principal instrumento de democratização e acesso a terra. Para o Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o assentamento rural é considerado como:

Retrato físico da Reforma Agrária. Ele nasce quando o INCRA, após se imitir na posse da terra (recebê-la legalmente) transfere-a para trabalhadores rurais sem terra a fim de que a cultivem e promovam seu desenvolvimento econômico. O assentamento é, portanto, razão da existência do INCRA. (s.d. p.02).

No entanto, podemos caracteriza o assentamento rural a partir de duas perspectivas, a primeira como um decreto governamental fruto de um ato administrativo; Na segunda perspectiva, analisa-se o assentamento como resultado de uma conquista dos trabalhadores sem terra diante o latifúndio, ou seja, resultado de um conflito de classes.

Segundo Sauer (2005), o assentamento é um espaço, geograficamente delimitado, que abarca um grupo de famílias beneficiadas por programas governamentais de reforma agrária. Nesse sentido, a constituição do assentamento é resultado de um decreto administrativo do governo federal que estabelece condições legais de posse e uso da terra. Logo, o assentamento é fruto de um ato administrativo que limita o território, seleciona as famílias a serem beneficiadas, etc., sendo, portanto, artificialmente constituído, criando um novo ambiente geográfico e uma nova organização social (CARVALHO, 1999)7.

7 Nos debates e formulações sobre a importância da luta pela terra e possíveis impactos de uma reforma agrária no Brasil, os projetos de assentamento têm sido objetos, peculiares e diferenciados, de diversos estudos. Ver, por exemplo, as discussões de Medeiros e Esterci, 1994; Palmeira e Leite, 1998; Carvalho, 1999, especialmente a recente publicação de Leite et alii, 2004.

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A criação do assentamento é, por outro lado, produto de conflitos, lutas populares e demandas sociais pelo direito de acesso à terra. A mobilização e organização sociais, o enfrentamento com os poderes políticos locais e nacionais, as disputas com o latifúndio e com o estado e os questionamentos das leis de propriedade caracterizam o que Bourdieu definiu como “as lutas pelo poder de di-visão”, as quais são capazes de estabelecer territórios, delimitar regiões, criar fronteiras (BOURDIEU, 1998, p. 113).

As ocupações de terras no Brasil tem sido uma das principais vias de acesso à terra que os camponeses sem terras encontraram nas últimas décadas no Brasil, como afirma Fernandes (2001):

No Brasil, a ocupação se converteu em uma forma importante de aceder a terra. Nas últimas décadas, a ocupação de latifúndios tem constituído a principal ação na luta pela terra. Por meio das ocupações, os sem-terra espacializam a luta, conquistando a terra e territorializando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. (p.01).

A principal causa de que faz o acesso a terra ser por vias das ocupações, é o comportamento dos governos, tanto a nível federal quanto estadual, com as políticas de reforma agrária, representado por um comportamento inerte diante do processo de democratização do acesso a terra, tem colocado na marginalidade social milhões de camponeses e, conseqüentemente, também tem colaborado para o acirramento dos conflitos no campo envolvendo os camponeses sem terra e os proprietários das terras em disputa, contribuindo, assim, para o aumento das estatísticas da violência no campo. Como afirma Franco García M. (2004)sobre os conflitos/acampamentos “Eles

são a expressão local e específica do conflito capital x trabalho e a concretização da resistência à exclusão social e espacial” (p.68).

A luta ela terra é um processo complexo que assume diferentes formas. Situa-se dentro do contexto da luta pelo espaço e pela ruptura do poder de poder. Nessa medida, a conquista do espaço liga-se à procura da identidade social.

Ao apresentar a ocupação como forma de acesso a terra, esta é compreendida como ação de resistência essencial à formação campesina no interior do processo contraditório do desenvolvimento do capitalismo. Sobre isto afirma Oliveira (1991):

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O Capital não expande de forma absoluta o trabalho assalariado, sua relação de trabalho típica, por todo lugar, destruindo de forma total e absoluta o trabalho familiar campesino. Ao contrário, este, o capital, se cria e recria para que sua produção seja possível, e como ela pode ter também uma criação, de novos capitalistas (p.20).

Sobre o processo de ocupações de terras, Franco García, M. (2004) afirma que:

Através da ocupação de latifúndio e terras devolutas, a estrutura organizada do espaço se transforma. Entram em cena novas formas de gestão do território: os acampamentos e assentamentos rurais (p.65)

O estabelecimento de fronteiras geográficas é uma definição legítima e um resultado das lutas pelo “poder de ver e fazer crer” (“produto de uma divisão a que se atribuirá maior ou menor fundamento na ‘realidade’”, BOURDIEU, 1998, p. 114). Este poder estabelece divisões do mundo social, cria diferenças culturais e geram identidades (BOURDIEU, 1996, p. 108), permitindo tratar as áreas de assentamento como realidades distintas, portanto, como unidades de análise, um objeto peculiar de estudo, no entanto, esta distinção não significa isolamento das relações sociais e políticas locais e regionais, ou seja, os estudos sobre assentamentos rurais de reforma agrária devem ser feitos considerando os contextos sociais, políticos, econômicos, incluindo processos históricos de constituição dos projetos e de inserção no seu entorno, pois segundo Leite:

Os assentamentos tendem a promover um rearranjo do processo produtivo nas regiões onde se instalam, muitas vezes, caracterizada por uma agricultura com baixo dinamismo. A diversificação da produção agrícola, a introdução de atividades mais lucrativas, mudanças tecnológicas, refletem-se na composição da receita dos assentados afetando o comércio local, a geração de impostos, a movimentação bancária, etc., com efeitos sobre a capacidade do assentamento se firmar politicamente como um interlocutor de peso no plano local/regional (2000, p. 48).

A conversão de um latifúndio, de uma grande área de terra improdutiva em um lugar de produção e vida para dezenas, centenas de famílias é apenas um aspecto da “reorganização fundiária”. Esta questão tem impactos, inclusive econômicos, que transcendem as fronteiras dos projetos, transformando a “ruralidade de espaços vazios” (WANDERLEY, 2000)8.

8 O latifúndio é promotor de deslocamento geográfico por meio do êxodo rural, portanto, é instrumento e lugar de exclusão social e marginalização política. Segundo Wanderley (2000), estes então criam “espaços vazios” e lugares ausentes de significados. A reforma agrária deve estabelecer novas bases produtivas, sociais, políticas, culturais e

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O assentamento deve ser compreendido também como uma “encruzilhada social” (CARVALHO, 1999, p. 10), portanto, é um espaço social e geográfico de continuidade da luta pela terra. É o lugar onde diferentes biografias se encontram – ou ampliam os encontros iniciados nos acampamentos – e iniciam novos processos de interação e identidade sociais, gerando novos sujeitos sociais e políticos. Esses sujeitos terão como principais fatores de mediação real e simbólica (interna e externa) a terra, o trabalho e a produção.

A luta social pela terra e o seu resultado – a criação dos assentamentos – geram uma nova organização social, econômica e política. Segundo Martins, os projetos de assentamentos são uma verdadeira reinvenção da sociedade como uma clara reação

aos efeitos perversos do desenvolvimento excludente e da própria modernidade (2000,

p. 46)9.

Carvalho trata os assentamentos como um processo social inteiramente novo (1999, p. 13). Segundo ele:

Nesse espaço físico, uma parcela do território rural, plasmar-se-á uma nova organização social, um microcosmo social, quando o conjunto de famílias de trabalhadores rurais sem terra passarem a apossarem-se formalmente dessa terra. Esse espaço físico transforma-se, mais uma vez na sua história, num espaço econômico, político e social (CARVALHO, 1999, p. 7).

Esse espaço passa a ser a referência para a reconstrução de uma representação identitária, permitindo interiorizar a noção de ser alguém, visível na sociedade. Essa visibilidade (alcançada no processo de conquista da terra) possibilita o estabelecimento de uma nova relação com o outro, com a “sociedade”.

Essa transformação não se restringe a uma mudança de comportamento e de representações, baseada em um processo de relacionamento face a face com o exterior, com o entorno. Essa mudança é reflexo também dos impactos econômicos, sociais e políticos que os projetos de assentamentos causam em níveis municipal e regional10.

organizacionais, rompendo com este vazio e criando novas dinâmicas socioambientais no meio rural, uma nova ruralidade.

9 Martins define o acampamento como um espaço de “sociabilidade instável”, onde “na fase da luta pela terra, [as pessoas] acabam se ressocializando por força do convívio e dos enfrentamentos conjuntos com estranhos. Há aí, pois, um alargamento de horizontes e de convivência” (2000, p. 04). Isso permite a recriação de relações e valores, de práticas sociais, de formas de organização e convívio nos projetos de assentamento.

10 Abramovay afirma que “…uma das características centrais das experiências problemáticas está na sua precária capacidade de articulação com outros atores da região e sua estrita dependência dos poderes públicos federais. Ao

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A Questão Agrária Paraibana e o Município de Cruz do Espírito Santo

A origem da estrutura agrária paraibana está inserida no processo de ocupação e de estruturação do espaço agrário nordestino, lastreada na expansão da cultura canavieira e da pecuária extensiva. Ambas, absorvedoras de grandes extensões de terras adquiridas por sesmaria ou posse, no contexto do desenvolvimento do capitalismo comercial (VARELA, 2006).

A exploração das terras e a divisão regional do trabalho no Estado, segundo Moreira e Targino (1997) espacializa-se de forma que: a região da Zona da Mata, no litoral do estado, destinou-se, desde o inicio da colonização, ao desenvolvimento da cultura canavieira, principalmente nas áreas de várzea que apresentavam e ainda apresentam condições favoráveis para essa atividade. Outra atividade econômica importante foi da cotonicultura, sua inserção no território paraibano data também do início da colonização, no entanto, nesse período, teve pouca expressão econômica no Estado, adquirindo posteriormente um caráter significante no Agreste em meados do século XVIII e no Sertão, a partir do século seguinte. Na década de 1980 os algodoais paraibanos sofreram grandes destruições com a praga do bicudo e posteriormente com a ocorrência da seca de 1993 (VARELA, 2006).

A configuração regional do espaço agrário mantém a herança dessa formação inicial, transformada tão só através de conflitos e lutas pontuais no decorrer da sua história.

Na atualidade existem 234 projetos de assentamentos rurais de Reforma Agrária no estado (NOGUEIRA, 2006). Deles 205 foram implementados pelo governo federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e apenas 26 assentamentos tiveram como agente interventor o governo estadual, na figura do Instituto de terras e planejamento da Paraíba (Interpa) e ainda 3 projetos foram implementados através do convênio entre as duas instituições.

Os assentamentos rurais na Paraíba, espacializam-se de forma que, sua maior concentração encontra-se na Zona da Mata. Essa concentração ocorre pelo motivo de ser nessa região onde se encontra, desde o início do processo de ocupação do território paraibano, a maior concentração da atividade canavieira e conseqüentemente seus engenhos e usinas.

contrário, as experiências bem-sucedidas caracterizam-se sistematicamente pela ampliação do círculo de relações sociais dos assentados no plano político, econômico e social” (2000, p.30).

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No processo de produção e organização do espaço paraibano canavieiro, podemos identificar, segundo Leite (2004), quatro períodos, o domínio dos engenhos (do início da colonização ao final do século XIX); efêmera experiência dos engenhos centrais (do final do século XIX ao início do século XX); dominação da usina de açúcar (do início do século XX à década de 1970) e expansão e crise do Proalcool (de 1975 aos dias atuais).

Apesar de todo esse processo de modificação existente na produção e organização do espaço canavieiro, dois elementos perpetuaram-se e permanecem até hoje, a pobreza da população trabalhadora rural e a elevada concentração fundiária.

Na Paraíba, devido ao movimento de luta dos camponeses esse quadro tem uma análise diferente. Amplas regiões do estado que desde o início da colonização sempre estiveram sob o domínio de algumas poucas famílias de oligarquia local, hoje, encontra-se em processo de desapropriação para fins de Reforma Agrária. Segundo estudos realizados por Neto e Bamat (1998) nos últimos anos o número de assentamentos para fins de reforma agrária tem aumentado em um ritmo acelerado, contribuindo para transformação da paisagem de algumas regiões onde predominava a monocultura canavieira bem como a pecuária extensiva. Estas atividades vêm cedendo lugar para as agriculturas camponesas11, produzindo, consequentemente, transformações políticas, econômicas, culturais e sociais nessas regiões, o que historicamente é muito importante, pois dignifica o trabalhador rural e mostra a possibilidade real da conquista da terra através da luta organizada.

No entanto, essa nova dinâmica territorial no campo demanda esforços no que diz respeito ao melhoramento da qualidade de vida das famílias rurais. Já que, as dificuldades não acabam apenas com a distribuição de terras, pois, a implantação dos projetos de assentamentos sem os devidos planos de desenvolvimento locais é um entrave para o real desenvolvimento dessas novas territorialidades no rural paraibano.

Outro problema enfrentado pelos assentados, segundo Bamat e Neto (1998) é o processo de comercialização da produção. Em geral, os assentados comercializam individualmente e/ou diretamente com outro comerciante que compra a produção camponesa para revendê-la. Esta figura é conhecida como atravessador, que paga um valor muito abaixo do preço de mercado. Quando os assentados passam a comercializar a sua produção sem depender do intermédio do atravessador, ele

11 Segundo Silva (1980) é a agricultura baseada na utilização do trabalho familiar como unidade de produção, posse total ou parcial dos instrumentos de trabalho e produção direta de parte dos meios necessários à subsistência, seja produzindo alimentos para o autoconsumo, seja produzindo (alimentos ou produtos) para a venda.

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custeará além dos vários encargos sobre a mercadoria nos postos fiscais entre o assentamento e o local da comercialização dos produtos, o frete do transporte da mercadoria até o local de destino.

Na Zona da Mata paraibana, precisamente no município de Cruz do Espírito Santo, localiza-se um significativo número de projetos de assentamentos (PAs) do INCRA, que o coloca como o segundo município com maior número de PAs do estado, ficando atrás apenas de Alagoa Grande com doze assentamentos.

Em Cruz do Espírito Santo foram implantados um total de nove assentamentos entre os anos de 1995 e 1998: Engenho Santana, Campos de Sementes e Mudas, Massangana I, II e III, Corvoada I, Santana, Dona Helena e Canudos. Estes representam conjuntamente uma área de 6.201,30 hectares com 838 famílias assentadas. O município possui também uma área de conflito: a fazenda Santa Luzia onde quinze famílias participam do processo de desapropriação (PEIXOTO, 2006).

Podemos observar melhor a relação entre área e número de famílias assentadas a partir da tabela abaixo:

Tabela 01. Assentamentos de Cruz do Espírito Santo – 2006

Assentamentos

Engenho Santana 55 371,00 Campo de Sementes e Mudas 45 207,00

Organizador: Nogueira, Alexandre Peixoto F. (2006).

ses assentamentos teve um destaque e m diferencial no cenário paraibano até então, devido à inserção da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no processo de luta e conquistas das terras dos assentamentos em

Famílias Área(ha) Massangana 134 991,40 Massangana II 158 1.300,90 Massangana III 132 816,00 Corvoada I 41 152,00 Santana II 55 370,00 Dona Helena 105 762,00 Canudos 113 1.231,00 Total 838 6.201,30 FONTE: INCRA-PB, 2006. u

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nário estadual no que ta

m um cenári

o campo podemos considerar iversas dimensões para analisar a questão agrária, uma delas é a Educação. Cada

eforma agrária, necessitam de um progra

assumir junto a população,

, com especi

questão, pois foi na luta pela terra da fazenda Engenho Novo, hoje assentamento Dona Helena, que a CPT realizou seu primeiro acampamento no estado.

Além da particularidade do início da participação da CPT no processo de ocupação e luta pela terra na Paraíba, os assentamentos rurais de reforma agrária do município de Cruz do Espírito Santo possuem outro destaque no ce

nge a organização dos camponeses. Tal destaque refere-se à presença de escolas rurais em todos os assentamentos. As escolas rurais mencionadas atendem crianças assentadas em idade escolar, correspondente a etapa do ensino fundamental I. No entanto, após o término dessa etapa escolar, os alunos para permanecerem estudando e concluírem as etapas escolares, têm que se deslocarem para o centro urbano do município ou conjuntos habitacionais próximos aos assentamentos.

É através das lutas pela terra e a conquista de novas territorialidades que o município de Cruz do Espírito Santo se remete a uma posição de destaque quando nos referimos à questão agrária no estado paraibano, pois esses processos constitue

o relevante na composição da paisagem e na possibilidade de quebra do tradicionalismo da organização da produção, baseada na monocultura canavieira, para uma produção de base familiar e de culturas diversas.

Educação do Campo: elemento do campesinato Dentro desse processo de desenvolvimento d d

vez mais, os sujeitos participantes do processo da r

ma educacional que se enquadre com a realidade encontrada e vivida por eles, seja nos acampamentos, seja nos projetos de assentamentos, como trabalhadores/as rurais e camponeses, acampados/as e/ou assentados/as.

Nos últimos anos, a discussão da educação como direito subjetivo tem se evidenciado. A educação passa a ser vista cada vez mais como um direito fundamental e uma responsabilidade social, que os governantes devem

pois a escola básica, pública e gratuita continua sendo o espaço privilegiado para a aquisição de competências e habilidades, mesmo em uma sociedade capitalista.

No entanto, podemos afirmar que em grande parte do território nacional brasileiro inexiste uma educação que leve em conta as necessidades da classe trabalhadora, especificamente das famílias que vivem e trabalham no campo

(18)

al, devido principalmente às reivindicações dos camponeses para implem

Nacional Por uma Educa

ão do campo, a partir de praticas e estudos científicos, deve r uma pedagogia que respeite a cultura e a identidade dos ovos do campo. (I Conferência Nacional Por uma Educação Básica no

Segundo Cald

processo de construç ses, gestado desde o

seu po

ria, tem como vínculo de origem as lutas s

De alguma forma os movimentos sociais reeducam o pensamento cional, a teoria pedagógica, a reconstrução da história da ducação básica. Um pensamento que tinha como tradição pensar essa

Neste momen

educação. Compree arte das relações socais

resistência da classe trabalhadora do campo, os assentamentos rurais de reforma agrária.

A questão da Educação do Campo nos últimos anos tem tido um avanço substanci

entação de escolas nos assentamentos e acampamentos.

A educação básica do campo é uma reivindicação dos movimentos sociais e está expressa no documento preparatório para a I Conferência

ção Básica no Campo.

A educaç aprofunda p

Campo. Carta Aberta. Luziânia – Goiás, 1998).

art (2002) a Educação do Campo deve ser pensada como o de um projeto de educação dos campone

ã

nto de vista e da trajetória de luta de suas organizações. Isto quer dizer que se trata de pensar a educação (política e pedagogia) desde os interesses sociais, políticos, culturais de um determinado grupo social.

A Educação do Campo e a implementação de escolas em áreas rurais, especificamente em assentamentos de reforma agrá

ociais dos trabalhadores rurais e camponeses. Ela é incompatível com o modelo de agricultura capitalista que combina hoje no Brasil latifúndio e agronegócio, exatamente porque eles representam a exclusão da maioria e a morte dos camponeses. Educação do Campo combina com Reforma Agrária e com o modo de produção camponesa (CALDART, 2002).

Sobre o papel dos movimentos sociais na (re)formulação da educação básica, Arroyo (2003) afirma que:

educa e

história como apêndice da história oficial, das articulações do poder, das concessões das elites, das demandas do mercado... Seria de esperar que a reconstrução da história da democratização da escola básica popular na América Latina não esquecesse de que ela é inseparável da história social dos setores populares. (p.30)

to se faz necessário a exposição do que entendemos sobre der a educação como algo isento, à p

(19)

signific

Nada é isolado. Isolar um fato, um fenômeno e depois conservá-lo pelo entendimento neste isolamento, é privá-lo de sentido, de explicação, de onteúdo. É mobilizá-lo artificialmente, matá-lo. É transformar a

Logo, para co

sociedade a qual ela a

educa

própria contradição de classe no campo: existe uma incomp tibilid

o desenvolvimento do território camponês, pois ao contrário do territór

construção de novas territorialidades tem como resultado uma intervenção na ção das relações de trabalho existentes até então. A criação

a romantizar a educação (ORSO, 2008), pois, como afirma Engels in Lefebre (1975):

c

natureza – através do entendimento metafísico – num acúmulo de objetos exteriores uns aos outros, num caos de fenômenos (p. 238).

mpreender a educação temos que primeiramente compreender a está inserida. A partir desta compreensão, não dissociamos ção da categoria trabalho, entendida aqui como a raiz ontológica do ser social12. Nesse sentido, não se pode compreender a educação fora do contexto social, o qual ela está inserida, assim, analisamos e compreendemos a educação de acordo com a categoria da totalidade13.

Nesta perspectiva, a Educação do Campo se constitui a partir de uma contradição, que é a

a ade de origem entre a agricultura capitalista e a Educação do Campo, exatamente porque a primeira sobrevive da exclusão e morte dos camponeses, que são os sujeitos principais da segunda (CALDART, 2002), logo a Educação do Campo vem como um instrumento a ser utilizado contra a agricultura capitalista, materializada no agronegócio.

A Educação do Campo compreende um conjunto de políticas públicas que contribuem para

io capitalista (baseado apenas na produção de mercadoria, na monocultura, ou seja, baseado apenas no viés econômico como norteador do seu território), ele baseia-se na multidimensionalidade, em um conceito mais amplo de território onde ocorrem as diversas relações sociais que constituem as dimensões territoriais, tais como educação, cultura, produção, trabalho, infra-estrutura, organização política e etc. (FERNANDES, 2005).

Considerações Finais A

paisagem e na organiza

12 Na medida em que ele produz valores de uso, que ele é útil, o trabalho, independentemente de toda forma de sociedade, é a condição indispensável para a existência do homem, uma necessidade eterna, o mediador da circulação entre a natureza e o homem. (MARX, 1982, p. 50).

13 A compreensão dialética da totalidade significa não só que as partes se encontram em relação de interna interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação das partes. (KOSIK, 1969: 42).

(20)

dos as

as públicas, a precariedade de infra-estrutura, entre outros fatores

Ponto de partida de demandas, levando à afirmação de novas anizativas ternas (e também mais amplas) e à busca de lugares que se façam

As famílias as

distintas daquelas é então, desenvolvem relações não capitalistas,

ses, é essencial para a manutenção dos mesmos no campo, pois desenvolve, estand

sentamentos rurais implicou alguma redistribuição fundiária e viabilizou o acesso à terra a uma população de trabalhadores rurais, mas não alterou radicalmente o quadro da concentração fundiária, não podendo considerar então, a política de implementação de assentamentos rurais como um profundo processo de reforma agrária (LEITE, 2004).

A experiência de luta pela terra, a existência do assentamento como espaço de referência para polític

, fazem com que os assentamentos tornem-se, segundo Leite (2004):

identidades e interesses, ao surgimento de formas org in

ouvir. (p.258)

sentadas imprimem nessa nova área relações sociais próprias, xistentes at

e

construindo assim, seu território através da prática dessas relações nessa porção do espaço.

A Educação do Campo como política pública e como relação social própria dos campone

o dentro da proposta dos movimentos sociais do campo, uma política e consciência de classe através do trabalho realizado a partir da sua realidade encontrada e vivida no campo.

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