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RECURSO I DA TEMPESTIVIDADE. AO MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES Sr. Antonio de Aguiar Patriota. Pedido Acesso à Informação nº

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1 AO MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES Sr. Antonio de Aguiar Patriota

Pedido Acesso à Informação nº 09200.000058/2012-13

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, já qualificada no pedido de acesso à informação indicado acima, representada por sua diretora executiva e representante legal nos termos de seu Estatuto Social, Sra. LUCIA NADER, vem, respeitosamente, com fundamento no artigo 17 da Lei Federal nº 12.527/2011 e no artigo 37 do Decreto nº 7.724/2012, interpor o presente

RECURSO

em face da negativa de desclassificação de informações solicitada à Subsecretária-Geral de Assuntos Políticos I pelas razões que passaremos a expor.

I – DA TEMPESTIVIDADE

De início, verifica-se que o presente recurso preenche o requisito da tempestividade, posto que a resposta ao pedido de desclassificação foi recebida no último dia 27 de julho p.p. (doc. 07).

É cediço que o Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, estabelece o prazo de 10 (dez) dias para interposição de recurso, como se vê:

Art. 37. “Negado o pedido de desclassificação ou de reavaliação pela autoridade classificadora, o requerente poderá apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da negativa, ao Ministro de Estado ou à autoridade com as mesmas prerrogativas, que decidirá no prazo de trinta dias”.

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2 Ainda, a Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, determina que “os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento” (art. 66).

Portanto, a apresentação deste recurso obedece ao prazo de dez dias exigido pela legislação sendo, pois, tempestivo.

II – DOS FATOS

No dia em que entrou em vigor a nova Lei de Acesso à Informação Pública, 16 de maio de 2012, a Recorrente enviou a Vossa Excelência pedido de acesso a informações relativas às posições assumidas pelo Brasil no Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para o Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (doravante “Grupo de Trabalho”), no âmbito do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mais especificamente, foram requisitados, nos termos do pedido, “todos os despachos telegráficos, telegramas e outras formas de comunicação que contenham instruções existentes entre Brasília e Delbrasupa entre 29 de maio de 2011 e 25 de fevereiro de 2012 (ou seja, um mês antes e um mês depois do período em que o processo foi conduzido, uma vez que teve início em 29 de junho de 20111a 25 de janeiro de 20122) referentes ao denominado Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, incluindo os pedidos de instrução e as instruções enviadas para posicionamento do Brasil, nas seguintes reuniões do GT entre 14 de julho e 13 de dezembro de 2011”. (doc. 01)

No último dia 18 de junho, a resposta do Ministério das Relações Exteriores foi enviada à Recorrente, assinada por “Serviço de Informação ao Cidadão”, negando acesso a praticamente todos os documentos solicitados.

1 Data da criação do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da CIDH para o

Fortalecimento do SIDH, Washington, D.C.

2 Data da apresentação e adoção do Informe Final do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o

Funcionamento da CIDH para o Fortalecimento do SIDH ao Conselho Permanente da OEA, Washington, D.C.

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3 Tal decisão foi justificada com base no fato de que “esses expedientes, em sua quase totalidade, foram classificados como reservados, em razão das implicações que poderiam advir sobre a participação do Brasil no processo negociador a divulgação, antes de sua conclusão, de posições ou comentários sobre posições de outros países a respeito”. (doc. 02)

Com efeito, apenas dois telegramas de caráter ostensivo foram enviados – números 01057 e 01153 - sendo um deles referente à anuência do governo brasileiro ao convite da Conectas Direitos Humanos (ou seja, a própria Recorrente) para participar de diálogo com a sociedade civil em 28 de outubro de 2011 e outro sobre a aprovação da agenda de uma sessão especial sobre o tema “Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos em Seguimento de Mandatos Derivados das Cúpulas das Américas”, que aconteceria no dia 2 de fevereiro do corrente ano, em Washington D.C, nos Estados Unidos.

Ou seja, o cerne do pedido – o acesso às informações acerca dos debates ocorridos no âmbito do Grupo de Trabalho, que realizou um total de 23 reuniões ao longo de mais de seis meses, foi absolutamente ignorado, sem que fossem fornecidas quaisquer informações relevantes acerca do posicionamento do Brasil nesse processo.

Não obstante alguns documentos relativos ao posicionamento do Brasil no âmbito do Grupo de Trabalho estarem disponíveis no sítio eletrônico do Grupo de Trabalho, como exposto no pedido, esse material não abarca uma série de questões relevantes tratadas especificamente no âmbito do GT, a saber: (i) as posições do Brasil diante do mecanismo de critérios para a construção do capítulo IV do informe anual da CIDH; (ii) as posições do Brasil com relação a propostas apresentadas durante o processo pelos demais Estados da OEA; (iii) o fluxograma dos processos de tomada de decisão envolvendo diferentes órgãos do Estado brasileiro, como a Presidência da República, o Ministério de Relações Exteriores e sua Missão Permanente do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (Delbrasupa) e a Secretaria de Direitos Humanos.

Posto que a negativa de acesso à informação por parte do Ministério das Relações Exteriores não respeitou os requisitos mínimos impostos pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012, a Recorrente interpôs recurso no último dia 28 de junho p.p., arguindo basicamente: (i) a ausência de fundamentos legais para a classificação e a omissão

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4 quanto à autoridade classificadora; (ii) a omissão quanto ao fundamento legal da negativa de acesso; (iii) a omissão quanto à indicação da autoridade competente para apreciação do recurso.

Com esses fundamentos, o recurso apresentou três pedidos principais: (i) a reforma da decisão do Ministério das Relações Exteriores que negou acesso à informação; (ii) o acesso a todas as informações requeridas no pedido protocolado (09200.000058/2012-13) no dia 16 de maio de 2012; (iii) a disponibilização da decisão classificadora dos documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com a apresentação do assunto, do fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do artigo 28 da Lei nº 12.527/2011, e (iv) um pedido subsidiário: a desclassificação das informações indicadas pelo MRE como “reservadas”. (doc. 03)

Na data em que se encerrava o prazo legal para resposta, dia 3 de julho, o Ministério das Relações Exteriores enviou à Recorrente, por meio eletrônico, uma mensagem sui generis, “avisando” que a verdadeira resposta ao recurso seria enviada no dia 5 de julho – fora do prazo legal, pois: “Em virtude do movimento de greve dos servidores deste Ministério - encerrada somente hoje, 3 de julho; da interposição de um fim de semana no prazo inicial previsto para resposta; e do fato das autoridades responsáveis pela avaliação do recurso estarem ausentes do país, não foi possível concluir a resposta ao recurso de Vossa Senhoria. Entretanto, informamos que a resposta ao mesmo será enviada ao seu correio eletrônico até o final do dia 05/07, quinta-feira próxima. Atenciosamente, SIC – Itamaraty” (doc. 04)

A despeito do desrespeito ao prazo legal, a Recorrente houve por bem aguardar a data indicada quando, de fato, a resposta ao recurso chegou mantendo a negativa de acesso à informação sem superar, contudo, o desrespeito à exigência da apresentação de fundamentação legal da classificação, bem como a omissão quanto à autoridade classificadora (doc. 05).

Ainda que a resposta não tenha deixado claro quem teria classificado as informações solicitadas, tampouco em que grau de sigilo elas se encontravam e por quanto tempo, foi informado que a demanda por desclassificação dos documentos havia sido encaminhada à Chefe da Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos I:

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“Nos termos do Artigo 36, parágrafo único, do Decreto 7.724/2012, informa-se que a solicitação de desclassificação de todos os expedientes reservados trocados sobre o tema em pauta com a Missão Permanente do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), no período entre 29 de maio de 2011 a 25 de fevereiro de 2012, foi encaminhada à Chefe da Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos I, instância imediata superior àquelas das autoridades classificadoras, a fim de que se possa proceder à avaliação, de maneira uniforme, do pedido da Conectas Direitos Humanos. Nos termos da legislação vigente, resposta deverá ser encaminhada à Conectas Direitos Humanos no prazo de trinta dias”.

De todo modo, frente à reiterada negativa de acesso à informação sem fundamentação idônea, foi interposto recurso perante a Controladoria-Geral da União (CGU) que, incrivelmente, não ofereceu resposta até o último dia do prazo legal (doc. 06).

Nesse interregno, a Recorrente recebeu, por via eletrônica, um despacho comunicando a manutenção da classificação dos documentos, ou seja, a negativa dos pedidos de desclassificação: “Com referência ao assunto, o Ministério das Relações Exteriores mantém a classificação de sigilo dos documentos solicitados pela requerente, à luz do disposto no Artigo 23, Inciso II, da Lei 12.527/11 [...]” (doc. 07).

O sigilo das informações foi justificado, portanto, com base na suposição de que sua divulgação poderia por em risco a condução de negociações, prejudicando, em tese, os interesses nacionais. Não se falou sequer uma palavra a respeito da maneira como essas informações poderiam ameaçar a segurança da sociedade ou do Estado em nítido desrespeito ao Decreto nº 7.724/2012.

Pior, referido despacho foi assinado pelo mesmo funcionário público que encaminhara a resposta anterior (ainda que conste estar em caráter “interino”), o que evidentemente viola no cerne a ideia de existir uma instância recursal (ou “hierarquicamente superior”). Isso porque a sistemática que envolve a existência de um recurso (um “segundo olhar” sobre o mesmo fato) obviamente pressupõe que aquele que profere a primeira decisão não irá analisar novamente, ele mesmo, em sede de recurso, o mesmo pedido.

Não se quer acreditar que tal contrassenso lógico possa ser entendido como a exteriorização de como a Lei de Acesso à Informação tem sido desrespeitada por parte desse ilustre Ministério.

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6 Além dessa grave violação ao sistema recursal, referido despacho veio acompanhado de uma lista com a relação dos documentos cuja desclassificação fora solicitada e seu respectivo Código de Indexação, deixando de apresentar, na contramão da exigência legal, a autoridade que classificou cada um dos documentos de forma explícita, o fundamento idôneo que justificou a classificação de cada um dos telegramas solicitados, e o grau de sigilo em que os telegramas foram classificados.

Em paralelo, a CGU admitiu o recurso em 31 de julho, determinando que o Ministério das Relações Exteriores prestasse esclarecimentos a respeito da questão no prazo de dez dias, o que ainda está em curso.

Resta evidente, pois, que a negativa do pedido de desclassificação das informações merece reforma, posto que nega acesso à informação que deveria ser pública de maneira não justificada de acordo com a lei. É o que se passa a expor.

III –DO DIREITO: Razões para desclassificação da informação

a) Inexistência de ameaça à segurança da sociedade ou do Estado.

A classificação das informações solicitadas baseou-se no argumento de que a Lei de Acesso à Informação, em seu artigo 23, inciso II, tornaria passíveis de sigilo as informações cuja divulgação pudesse “prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismos internacionais”.

Ocorre que a nova legislação exige mais do que isso.

O Decreto que regulamenta a Lei nº 12.527/2011 impõe, antes de tudo, que as informações passíveis de classificação sejam consideradas “imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado”. Veja-se a transcrição exata do caput do artigo 25 do Decreto 7.724/2012:

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7 Art. 25. “São passíveis de classificação as informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, cuja divulgação ou acesso irrestrito possam”:

Logo, apenas são passíveis de classificação aquelas informações que (i) coloquem em grave risco a segurança da sociedade ou do Estado e (ii) incidam nas hipóteses listadas nos incisos do referido artigo.

Em outras palavras, a legislação exige que a publicidade da informação ameace do modo irrefutável a segurança da sociedade ou do Estado. Se e somente se isso ocorrer, devem ser verificadas, em um segundo momento, as situações que justificam a restrição da divulgação.

Essa é a única interpretação possível da letra da lei. Qualquer entendimento contrário a esse resultaria no completo esvaziamento de uma legislação que é fruto e símbolo de uma nova lógica de gestão da coisa pública. Não é difícil imaginar um cenário de total ineficácia da lei caso aqueles órgãos públicos que tratam de negociações entre Estados simplesmente classificassem toda e qualquer informação em seu poder sob os frágeis argumentos de que essas informações teriam sido fornecidas em caráter sigiloso e sua divulgação poderia interferir na condução de processos negociadores, sem embasar como elas poriam em risco a segurança do Estado ou da sociedade, pressuposto absoluto para a exceção à publicidade.

A entidade requerida não pode pretender se imunizar perante a nova lei, que torna a transparência a regra e o sigilo a exceção. Assim, a exigência imposta pela lei deve ser cumprida por toda e qualquer entidade pública, sob pena de que a elas seja conferida uma indevida discricionariedade capaz de impossibilitar o acesso a determinadas informações pelo prazo de cinco ou mais anos.

Em outras palavras, é evidente que não se pode conferir aos órgãos públicos verdadeiro cheque em branco por meio do qual bastaria alegar uma pseudo proteção à segurança da sociedade ou do Estado para driblar a Lei.

As possibilidades de restrição ao acesso devem mesmo ser excepcionais já que a legislação de acesso à informação pública visa concretizar, de uma vez por todas, o direito

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8 constitucional à informação. Nesse sentido, chama a atenção o fato de que cerca de 2% dos telegramas, tão somente, sejam ostensivos.

Não obstante, a lei impõe ao poder público o ônus de fundamentar o sigilo das informações sob seu cuidado. Lembrando que o fundamento legal é uma exigência que não se resume a, como já fez esse ilustre MRE, apenas apontar determinado artigo na lei sem justificar de que forma e em que medida o fato concreto se subsume à norma.

No caso concreto, a negativa de desclassificação não menciona sequer uma palavra a respeito da alegada imprescindibilidade das informações requeridas para a segurança da sociedade ou do Estado. O disposto no caput do artigo 25 do regulamento da Lei de Acesso, do que dependem todos seus incisos, não foi considerado e muito menos enfrentado na decisão que manteve o sigilo.

Em verdade, a omissão quanto a esse ponto não possui outra razão senão o fato de que a publicidade das informações requeridas certamente não colocaria em risco a segurança da sociedade, tampouco do Estado. Muito ao contrário, a divulgação dessas informações confere à sociedade a possibilidade de acompanhar as posições do governo brasileiro, que ela mesma elegeu, resultado que só tem a beneficiar o interesse público.

Ainda, o argumento alegado pelo MRE em sua resposta ao recurso da negativa de acesso à informação, de que o sigilo seria necessário “para preservar a credibilidade e a confiabilidade do país como parceiro em negociações internacionais”, mostra que o órgão está menos atento a questões de segurança, como exige a lei, e mais preocupado com a “reputação” brasileira.

Além disso, o acesso a informações como essas colocaria fim a uma forma de gerir a Política sem transparência e sem o escrutínio da população, forma esta que contraria os ideais republicanos insculpidos na Constituição Federal de 1988 que deveriam nortear as ações do governo brasileiro, inclusive no que tange à condução de sua Política Externa. Afinal, a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelo princípio da prevalência dos direitos humanos, como disposto expressamente no artigo 4º, II, da Constituição.

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9 Ademais, ressalte-se que a resposta da autoridade – supostamente hierarquicamente superior à classificadora – ao fundamentar o sigilo, informou que “A divulgação irrestrita e extemporânea tanto de informações fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados, quanto de avaliações sobre o processo negociador ainda em curso terão efeitos claramente deletérios sobre a possibilidade e a qualidade da defesa dos interesses nacionais”.

Não foi oferecida, no entanto, qualquer pista a respeito de quem as teria fornecido nessa condição, tampouco foi apresentado qualquer comprovante de que os telegramas já foram recebidos com alguma classificação.

Como se vê sob qualquer ótica, a negativa de desclassificação carece de fundamentação idônea, merecendo, pois, que se dê provimento a este recurso e restabeleça no caso concreto o espírito da Lei de Acesso à Informação, para que finalmente o órgão requerido divulgue informações que são de interesse público.

b) O mandato do Grupo de Trabalho já se encerrou.

Ainda que o órgão requerido consiga fazer um exercício de criatividade para construir fundamentos que justifiquem a existência de ameaça à segurança da sociedade ou do Estado, cumprindo o primeiro requisito explicitamente exigido no artigo 25 do Decreto 7.724/2012, a alegação de prejuízo a negociações em curso também não se sustenta.

Isso porque, como explicado desde o primeiro pedido apresentado ao MRE, os documentos requisitados estão circunscritos a um determinado período - que tem como referência o início e o fim do mandato do Grupo de Trabalho Especial de Reflexão sobre o Funcionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para o Fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (ou seja, de 29/05/2011 a 25/02/2012).

De acordo com as regras procedimentais adotadas em 11 de agosto de 2011 (GT/SIDH/-1/11 rev. 3, doc. 08), o objetivo do Grupo era apresentar recomendações específicas sobre assuntos concretos com relação aos trabalhos da CIDH e sobre o fortalecimento do Sistema Interamericano. Na exata tradução dessas regras, seria “um

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10 processo limitado no conteúdo e no tempo, diferente do regular e contínuo ‘processo de reflexão sobre o Sistema Interamericano para a promoção e proteção dos direitos humanos’ que tem sido desenvolvido pela Comissão dos Assuntos Jurídicos e Políticos (CAJP) com a Corte Interamericana de Direitos Humanos e CIDH”.

A redação das regras procedimentais não poderia ser mais clara. O contínuo processo de reflexão sobre o Sistema Interamericano para promoção e proteção dos direitos humanos é um - o processo sobre o fortalecimento conduzido pelo Grupo de Trabalho é outro. As mesmas regras definem ainda que o Grupo de Trabalho teria que “apresentar suas recomendações até a primeira sessão regular [do Conselho Permanente], em dezembro deste ano [2011]”, o que encerraria o seu mandato.

A conclusão lógica é que, se as informações requeridas são especificamente restritas ao Grupo de Trabalho, o qual tinha um termo final muito bem definido desde o momento de sua criação, a restrição imposta pelo MRE não deve prosperar. Muito embora os debates em torno do processo de fortalecimento não tenham se esgotado, os trabalhos do GT possuíam prazo definido e foram encerrados com o cumprimento do seu objetivo, que era a adoção das recomendações fruto dos seis meses de trabalho. As discussões em outros âmbitos da OEA sobre o denominado processo de fortalecimento configuram outra etapa desse debate que se encontra fora do escopo do mandato do GT.

É por prever situações como essa que a Lei nº 12.527/2011 possibilita o fim da restrição ao acesso antes do prazo máximo da classificação mediante a ocorrência de um evento determinado:

Art. 24, § 3o: “Alternativamente aos prazos previstos no § 1o, poderá ser estabelecida como termo final de restrição de acesso a ocorrência de determinado evento, desde que este ocorra antes do transcurso do prazo máximo de classificação”.

Mais do que isso, ocorrido tal evento, a informação deve se tornar automaticamente pública:

Art. 24, § 4o: “Transcorrido o prazo de classificação ou consumado o evento que defina o seu

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11 No caso em tela, a única opção sensata, ao menos para os órgãos públicos preocupados em assegurar a transparência de suas ações, seria definir o fim do mandato do Grupo de Trabalho como o referido evento que consuma o processo e que, por consequência, levaria ao fim da restrição.

c) A classificação nos graus secreto e ultrassecreto desrespeita os critérios da lei.

A sucinta negativa de desclassificação dos documentos apresentou uma lista informando apenas os Códigos de Indexação dos telegramas classificados deixando à Recorrente a tarefa de desvendar em qual grau de sigilo cada documento fora classificado.

Essa tarefa mostra-se absolutamente incerta, uma vez que, em sua resposta ao pedido de informação, o MRE havia informado apenas que “esses expedientes, em sua quase totalidade, foram classificados como reservados”, enviando os dois telegramas ostensivos e indicando que esses seriam as únicas exceções aos reservados, como se vê: “Encontram-se em anexo à presente comunicação, os expedientes ostensivos que guardam relação com a solicitação apresentada por Vossa Senhoria”.

Ou seja, na primeira resposta enviada pelo MRE, não havia uma única menção à existência de documentos classificados como “secretos” e “ultrassecretos”.

No entanto, para surpresa da Recorrente, na segunda negativa de acesso, a entidade fez referência a documentos classificados nessa categoria: “Os expedientes produzidos e classificados como secretos estão protegidos até 28 de maio de 2026 e 24 de fevereiro de 2027, a partir de suas respectivas datas de produção. Os documentos classificados como ultrassecretos estão protegidos até 28 de maio de 2036 e 24 de fevereiro de 2037, de acordo com as respectivas datas de produção”.

Se é verdade que, dentre os documento requeridos, alguns estão em sigilo por quinze ou vinte e cinco anos, prorrogáveis por igual período, faz-se necessário que o órgão justifique o injustificável: a classificação em tamanho grau de sigilo.

Assim, se constatado que, entre os telegramas listados, há documentos classificados no grau “secreto” e/ou “ultrassecreto”, a desclassificação torna-se ainda mais necessária.

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12 Impedir o acesso a esses telegramas por tantas décadas mostra-se totalmente desproporcional e desarrazoado.

Ressalte-se que a nova legislação busca encerrar uma cultura de opacidade do Estado brasileiro, tendo a preocupação de exigir que a classificação de informações como sigilosas observe o interesse público da informação e utilize o critério menos restritivo possível:

Art. 27. Para a classificação da informação em grau de sigilo, deverá ser observado o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo possível, considerados:

I - a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado; e

II - o prazo máximo de classificação em grau de sigilo ou o evento que defina seu termo final. (Decreto 7.724/2012)

É óbvio que “o critério menos restritivo possível” combinado com a observância do interesse público não pode resultar na classificação nos graus mais elevados de sigilo, em especial se, como já demonstrado no caso em tela, não é o caso de risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado.

d) Direito à obtenção de informações básicas sobre documentos sigilosos. Ao que parece, os documentos requeridos foram classificados em momento anterior à vigência da nova lei. Isso não exime a autoridade classificadora de apresentar certas informações básicas sobre cada um eles – de maneira individualizada e não em um grande bloco de difícil compreensão para o cidadão comum.

É verdade que não se pode exigir a apresentação do Termo de Classificação de Informação, uma vez que ele foi criado com a nova legislação. Por outro lado, certamente, mesmo antes da Lei nº 12.527/2011 entrar em vigor, a informação continha ao menos “data de produção do documento”, “indicação do prazo do sigilo” e “identificação da autoridade que classificou a informação”.

Além disso, segundo a redação do artigo 31 do Decreto, nenhum desses elementos deve ser mantido sob o mesmo grau de sigilo da informação classificada.

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13 Sabe-se também que o formato tradicionalmente utilizado pelo MRE para circulação de telegramas inclui as seguintes informações: “destinatário”, “remetente”, “data”, “horário”, “número”, “caráter”, “prioridade”, “distribuído para” e “descrição”. Assim, faz sentido exigir que, no mínimo, seja apresentada uma lista com essas informações elementares.

É esse o espírito da nova lei quando ela impõe o preenchimento de Termos de Classificação da Informação aos documentos classificados. O fato de não haver Termo para os documentos classificados antes dessa lei entrar em vigor não significa que o órgão requerido possa se furtar a apresentar informações básicas – e diga-se, já existentes - sobre eles.

IV – CONCLUSÃO E PEDIDO

O direito à informação inclui tanto a obrigação de que os órgãos públicos disponibilizem certas informações, independentemente de requerimentos, quanto a necessidade de que esses órgãos garantam o acesso a informações que lhes forem solicitadas.

Tal direito está explicitamente previsto na Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, XXXIII), que também impõe à Administração Pública o respeito ao princípio da publicidade (artigo 37, caput) e que assuma a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem (Art. 216. § 2º).

A Lei nº 12.527/2011 regulamenta esses dispositivos constitucionais, estabelecendo um novo marco legislativo em que a transparência é a regra, e o sigilo, exceção. Essa legislação entende a informação como dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato (art. 4º, I) e estabelece que qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações (art. 10).

Logo, no estrito cumprimento da legislação e dos princípios constitucionais do direito à informação (artigo 5º, inciso XXXIII) e da publicidade da Administração Pública (artigo 37, caput), é urgente que os despachos telegráficos, telegramas e outras formas de comunicação requisitados pela ora recorrente sejam tornados públicos.

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14 Diante de todo o exposto, requer-se seja recebido e provido o presente recurso, no prazo de trinta dias previsto no artigo 37, caput, do Decreto nº 7.724/2012, para que seja determinada a reforma da decisão da Subsecretária-Geral de Assuntos Políticos I, que negou o pedido de desclassificação das informações, para que:

(i) Sejam desclassificadas as informações requeridas no pedido protocolado em 16 de maio de 2012 (09200.000058/2012-13), considerando-se a ausência de fundamentação idônea para manutenção da classificação, e que sejam disponibilizados à sociedade civil;

(ii) Caso o item anterior seja indeferido, sejam reclassificadas como “reservadas” as informações requeridas que estão classificadas como “secretas” ou “ultrassecretas”;

(iii) Subsidiariamente, caso mantida a classificação de algum ou alguns dos documentos, seja disponibilizada a decisão que os classifica, informando o grau de sigilo, o assunto, o fundamento legal da classificação, o prazo de sigilo e a autoridade classificadora, nos termos do artigo 28 da Lei nº 12.527/2011, de cada telegrama.

De São Paulo para Brasília, 06 de agosto de 2012

Lucia Nader

Diretora Executiva da Conectas Direitos Humanos lucia.nader@conectas.org

CPF: 276.635.148-58 RG: 29.570.265-5

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