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AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO TRABALHO INFORMAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA QUE ATUAM NO SHOPPING POPULAR DE MONTES CLAROS-MG

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TRABALHO GT N.º 07 – GÊNERO E SOCIEADE

SBS – XII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA

AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO TRABALHO INFORMAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA QUE ATUAM NO SHOPPING POPULAR DE MONTES CLAROS-MG

Autora: Maria da Luz Alves Ferreira

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As relações de gênero no trabalho informal: um estudo de caso sobre as mulheres chefes de família que atuam no shopping popular de Montes Claros-MG

Maria da Luz Alves Ferreira1

Resumo

O texto diz respeito a análise de uma pesquisa realizada com trabalhadoras informais – chefes de família – que têm lojinhas no Shopping popular de Montes Claros – MG. Os resultados mostram que mesmo que estas mulheres sejam as principais responsáveis pelo sustento da família, elas ainda têm que conciliar as atividades “profissionais” com as atividades domésticas. Verificou-se ainda que, os maridos/companheiros demonstraram um alto grau de insatisfação com esta situação, gerando, na maioria das vezes, conflitos familiares, uma vez que pelo fato das mulheres serem as chefes da família, acarreta uma mudança na balança de importância das decisões familiares, que antes pendia para o lado masculino, patriarcal, de acordo com as tradições familiares, peculiares no Brasil e na região.

Palavras-chaves: chefes de famílias, relações de gênero, trabalho informal,

família.

Introdução

Este trabalho tem por objetivos refletir sobre as mulheres chefes de família que exercem atividades informais no Shopping Popular de Montes Claros, Minas Gerais. A tentativa é compreender como estas trabalhadoras articulam as atividades produtivas – o sustento dos seus lares – com as atividades domésticas/familiares, que tradicionalmente são reconhecidas como atividades femininas. Busca-se refletir também como vinvenciam os conflitos familiares, uma vez que sendo as chefes da família (as principais responsáveis pelo sustento da família), acarreta numa possível transformação nas decisões familiares, que no Brasil, quase sempre foi de responsabilidade do marido. A análise será baseada, nos dados obtidos através de entrevistas realizadas com um grupo de 10 mulheres chefes de família e seus respectivos maridos. A

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Doutoranda em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e professora da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).

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forma de identificação foi a chamada “bola de neve”, onde a partir da identificação de algumas mulheres, estas indicaram as próximas para serem entrevistadas até chegar ao total de 10 casais.

Contextualização teórica: trabalho informal e chefia de família.

As produções recentes acerca do mercado de trabalho tem apontado para três situações: o crescimento freqüente da presença de mulheres no mercado de trabalho; o aumento do número de trabalhadores no setor informal; e, a mudança de gênero na manutenção do grupo familiar. Segundo os dados do censo do IBGE (2000), no Brasil, as famílias chefiadas por mulheres representam 29,4% dos domicílios brasileiros2. A seguir será feita uma breve revisão teórica sobre o trabalho informal e chefia feminina, categorias que serão analisadas no presente trabalho.

Trabalho informal: os primeiros estudos sobre o tema da informalidade

iniciaram-se na década de 70 por pesquisadores da Organização Internacional do Trabalho, em um relatório sobre o Quênia (África), onde definiram o setor informal como o conjunto de atividades que se caracterizam por uma lógica produtiva e uma racionalidade própria e distinta da vigente no mercado formal. No setor informal incluem-se um conjunto heterogêneo de atividades produtivas que emprega um conjunto de pessoas sem oportunidades no setor formal (Vasconcelos, 1994).

Na literatura brasileira encontram-se dois enfoques alternativos do setor informal:

1) o trabalho informal como alternativa de sobrevivência: referem-se a trabalhadores/as que perdem seus postos de trabalho no mercado formal e como geralmente não têm qualificação para retornar ao mesmo, são obrigados/as a inserirem em atividades informais. Esta vertente relaciona a informalidade com o número excedente da força de trabalho, componente de um mercado de trabalho heterogêneo, tanto em relação à qualificação quanto à

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forma de salários. Consideram ainda que o excedente da mão-de-obra do setor formal o principal responsável pela expansão do setor informal (Cacciamalli, 1999, Fuentes, 1998 e Pamplona, 2001).

2) A perspectiva sociocultural, para a qual os trabalhadores/as ao “optarem” pelo ingresso em atividades informais, o fazem mediante algumas vantagens, tais como: possibilidade de auferir ganhos maiores do que recebiam no mercado formal, flexibilidade da jornada de trabalho, etc. Segundo esta abordagem o ingresso na informalidade poderia se dar na maioria das vezes após saída voluntária ou não do mercado formal. Entretanto, o exercício de atividades informais não seria caracterizado como conseqüência da exclusão do mercado formal, podendo até mesmo ser resultante de uma “auto-exclusão” por parte dos/as trabalhadores/as (Vasconcelos, 1994, Ferreira, 2000 e Reinecke, 1999).

Neste texto adota-se o trabalho por conta própria3 e utiliza-se como categoria analítica, a desenvolvida por Souza (1980), que associa o trabalho informal ao conjunto de atividades econômicas onde o/a proprietário/a trabalha diretamente na produção e/ou comercialização dos produtos4.

Mulheres chefes de família: embora as análises sobre o comportamento do

mercado de trabalho brasileiro aponte para o aumento do ingresso das mulheres na força de trabalho, e consequentemente tem aumentado a chefia feminina, as análises tem considerado que estas crescem no país como um todo, constituindo-se em um fenômeno complexo que requer desvendar uma multiplicidade de fatores que contribui para o aumento e visibilidade como problema de investigação.

3 O IBGE considera como trabalho informal, o trabalho sem carteira assinada, serviço doméstico e o

trabalho por conta própria.

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No caso do presente trabalho as mulheres normalmente comercializam produtos com brinquedos, assessores, presentes, etc. comprados em feiras brasileiras e no Paraguai.

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Macedo (2001) elenca vários fatores para explicar o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres: o processo de independência feminina devido ao aumento do ingresso no mercado de trabalho, o aumento de mulheres separadas ou solteiras com filhos e o aumento do número de viúvas. A autora propõe para estudar a problemática da chefia feminina articular algumas categorias como gênero, classe, raça/etnia e geração que possibilitaria pensar os sujeitos como:

socialmente situados, isto é, não existe uma mulher chefe de família genérica; elas pertencem a um determinado grupo racial/étnico e uma faixa de idade/geração têm uma determinada relação com a estrutura produtiva que vai definir o status ocupacional, nível de renda e escolaridade etc, portanto, vivenciam trajetórias e experiências distintas (Macedo, 2001:60).

Neste contexto, os estudos sobre as relações sociais de gênero são fundamentais para entender como foram construídas e interpretadas as diferenças entre os sexos ao longo do desenvolvimento das sociedades, já que pelo fato das mulheres se constituem em um grupo heterogêneo situados em contextos e condições distintas requer que se considere, para analisar a problemática das mulheres chefes de família, a dimensão de gênero e também outras como descrito acima.

Uma contribuição importante sobre a temática supracitada foi dada por Mendes (2002) que aponta três tipologias de chefias femininas: 1) a chefia caracterizada pela ausência masculina, mas sem a manutenção feminina; 2) a chefia em que existe a ausência do parceiro com a manutenção feminina; 3) a chefia em que há a manutenção feminina com a presença masculina.

Mulheres chefes de família: o que dizem os dados.

Neste texto adota-se como tipologia de chefia de família para análise dos dados empíricos, aquela citada por Mendes (2002), em que as mulheres são as principais responsáveis pelo sustento de seus lares e familiares, mas que

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convivem com os seus maridos/cônjuges. Assim, optou-se por entrevistar mulheres casadas motivada pela seguintes questões: pelo fato das mulheres serem as provedoras dos seus lares, isso pesaria na balança das decisões familiares que tradicionalmente é reconhecida no Brasil como prerrogativa do homem? Estas mulheres ao assumir a responsabilidade financeira se colocam como autoridade perante aos maridos? Como se dão as relações de gênero e/ou poder no interior destas famílias? E os maridos como se sentem sendo sustentados pelas suas mulheres? Eles assumem e/ou dividem as tarefas domésticas?

Os dados analisados demonstram que as mulheres chefes de família são predominantemente jovens, já que a maioria das entrevistadas têm entre 25 e 40 anos (70%). Estes dados corroboram a afirmação de Bruschini (1998), que coloca que a partir da década de 90, contrário ao que acontecia nos anos 70, vem-se alterando o perfil das mulheres casadas no mercado de trabalho, já que antes as mulheres ingressavam no mercado, quando tinham filhos, saia do mercado para dedicar-se à criação dos mesmos e só retornavam aos postos de trabalho quando seus filhos estivessem maiores. Neste contexto, a atividade feminina era caracterizada por uma alternância, com as mulheres ora ingressando, ora saindo do mercado de trabalho. Já a partir da década de 90, as mulheres tiveram que se articular para conciliar as atividades profissionais com as atividades domésticas/familiares.

Uma explicação interessante dada a esta nova configuração da força de trabalho feminina a partir dos anos 90 é dada por Montali (2000). Para a autora foi justamente neste período que houve o empobrecimento da população de classe média/baixa o que obrigou não só as mulheres, como os filhos a exercerem qualquer atividade produtiva para ajudar do orçamento familiar. Isso atingiu principalmente as mulheres chefes de família que em momentos de crise – devido à precarização das relações de trabalho e a falta de políticas e proteção social, bem como a deterioração da renda familiar - tiveram que “assumir o maior encargo na composição da renda familiar, para fazer face ao aumento do desemprego dos filhos” (Montali, 2000: 66).

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Em relação a cor/raça verificou-se que 50% são pardas e negras, confirmando a tendência apontada por Mendes (2002), que afirma que a maioria das mulheres chefes de família são pardas e negras. Entretanto, deve-se considerar como a referida autora também o faz que não existe uma chefia homogênea e nem genérica.

Direcionando a análise para a escolaridade, observa-se que a maioria delas têm uma baixa escolaridade, já que 10% não completou o primário, 10% não completou o ensino fundamental e 40% concluiu o ensino fundamental. Uma possível explicação para que uma parcela destas mulheres terem inserido no setor informal é o fato de não terem escolaridade suficiente para concorrerem a uma vaga no mercado formal, e como não tinham outra alternativa, tiveram que ingressar no setor informal.

Em relação a renda verifica-se que estas mulheres recebem em média entre 04 e 06 salários mínimos, seguida de uma parcela que recebem entre 07 e mais de 10 salários mínimos. Entretanto, verifica-se também que 20% das entrevistadas recebem entre 01 e 03 salários mínimos conforme gráfico abaixo.

É importante ressaltar que é com esta renda que estas mulheres sustentam as suas famílias, e também porque são as maiores do domicilio, pois a

IGráfico 1 – Renda das chefes de família

de 1 a 3 salários mínimos de 4 a 6 salários mínimos de 7 a 10 salários mínimos Mais de 10 salários mínimos

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maioria dos maridos não têm uma atividade fixa (fazem bicos), alguns se encontram desempregados e a parcela que tem emprego fixo, recebem um salário inferior ao das suas companheiras, pois 55% dos maridos declararam receber apenas 01 salário mínimo mensais.

Ainda em relação a renda pelas chefes de família no setor informal, embora seja baixa, verifica-se que para o padrão da região acabam sendo maiores do que algumas rendas obtidas no mercado formal. Isso corrobora a afirmação de Reinecke (1999) que o aumento do número de trabalhadores/as informais, não implica, necessariamente a precarização em termos de salários, já que em algumas atividades informais, principalmente, as empreendedoras, percebem salários maiores que em alguns postos de trabalho formais.

Em relação às decisões familiares, verifica-se que mulheres ao mesmo tempo em que demonstraram uma certa satisfação ao responderem que detêm um alto grau de participação nas decisões familiares já que a maior parcela (60%) declarou que a sua participação mais decisiva do que a dos maridos/companheiros, 30% declarou ser igual e apenas 10% declarou que sua participação é menos decisiva do que a do marido/companheiro. Cabe destacar no entanto que, apesar da maioria ter declarado ser a principal mantenedora financeira dos seus domicílios, em alguns casos até como a única responsável, pode-se verificar durante as entrevistas que elas demonstraram um certo constrangimento em assumir este papel, inclusive, algumas vezes justificando o fato dos seus maridos não estarem contribuindo com a maior parte do orçamento familiar, embora declarassem também que são provedoras dos seus lares a mais de 03 anos.

Isso pode ser explicado a partir das relações sociais de gênero, onde historicamente, dentro da família, as mulheres sempre foram reconhecidas como as responsáveis pela procriação e consequentemente pelo exercício de atividades domésticas, no interior do lar, e os homens contrariamente, são reconhecidos como os responsáveis pela função instrumental de prover a família (Aguiar, 1996).

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Assim, embora a maior parte das mulheres tenham afirmado que são as principais responsáveis pelas decisões familiares, quando questionadas quem era o chefe da família, algumas delas responderam que eram os seus maridos como atesta as falas a seguir:

“No fundo acho que o chefe da família é ele, apesar de todas as contas e decisões sobre filhos, empregada, e tudo ficar por minha conta, mas as vezes ele fica emburrado então para evitar briga, eu acabo fazendo o que ele quer”

“Sabe como é, filho obedece muito mais o pai do que a mãe, ainda mais porque passo o dia inteiro fora... mas aqui em casa é assim quando um de nós fala alguma coisa o outro concorda”

“Embora o dinheiro seja meu, toda vez que quero comprar alguma coisa para a casa, eu consulto o meu marido.. sei lá, acho que já acostumei com isso, então acabo pedindo a opinião dele”.

Pelos relatos pode-se verificar como as próprias mulheres se naturalizam, a partir de como a família ocupando a centralidade nas suas vidas, embora, ao mesmo tempo buscam estratégias de auto valorização. No Brasil, isto pode ser explicado pela socialização diferenciada de homens e mulher no interior da família, desde o nascimento a mulher é reconhecida como o sexo frágil, designada à esfera familiar, ao homem, cabe a esfera da produção, portanto, cabe a ele chefiar a família, provê-la (Ferreira, 2000).

Portanto, as próprias mulheres têm a percepção de que seu espaço prioritário e natural é o espaço do domicílio, no seio da família. Esse apelo ao dever da maternagem é associado a uma representação de gênero que atribui às mulheres uma posição secundária em relação à atividade produtiva – mesmo sendo as principais mantenedoras financeiras, embora uma parcela de 10% das entrevistadas, declararam ter um grau de participação nas decisões familiares inferior aos maridos – e uma primazia em relação às responsabilidades familiares, sobretudo, com relação as filhos.

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Um outro aspecto que ajuda a elucidar esta questão é em relação à execução e/ou supervisão das tarefas domésticas. Embora como ressaltado antes, as mulheres sejam as principais provedoras dos seus lares/famílias, elas ainda têm que se responsabilizar pelo cuidado com as atividades da casa, marido, filhos e familiares em geral. Portanto, os achados da pesquisa vem confirmar o que a literatura corrente tem demonstrado, ou seja, o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, seja formal ou informal, bem o como fato delas serem as chefes da família é diferenciado para homens e mulheres, enquanto para o homem – aqueles que declararam trabalhar fora de casa – o final da jornada de trabalho significa descanso, para a mulheres significa a continuação da jornada e de suas multifuncionalidade5, pois o fato delas serem as provedoras da família não alivia sua carga de atividades, ao contrário, ao invés de uma única atividade na esfera produtiva, acrescenta às de mãe, esposa e donas de casa (Macedo, 2001; Mendes, 2002).

Em relação a questão norteadora do presente trabalho, isto é, se pelo fato das mulheres serem as chefes da família, acarretou em uma mudança na importância das decisões familiares, que tradicionalmente, sempre pendia para o lado masculino? Eu tenderia a dizer que não totalmente, apesar de termos que considerar que vem ocorrendo mudanças. A postura dos homens é elucidativa para compreender melhor esta questão. Pelos relatos pode se observar que os maridos se sentem bastante incomodados com a situação de dependência em relação as suas mulheres. Dá para perceber que como as mulheres, estes trazem internalizadas as concepções de diferentes papéis na sociedade – a chefia masculina imporia uma autoridade reconhecida não só pela família, mas no espaço público - e o fato de serem sustentados pelas mulheres, os incomoda não somente pela questão financeira, mas pelo fato de que ao assumir que as mulheres saem na frente nas decisões familiares, que de certa forma fere a “masculinidade” tão valorizada, principalmente em cidades interioranas como é o caso do lócus empírico da pesquisa.

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Prefiro usar o termo multifuncionalidade ao termo dupla-jornada pois entendo que ao longo do dia as mulheres são multifuncionais, ou seja, exercem várias atividades, algumas até concomitantemente.

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Em que pese os conflitos que algumas mulheres de certa forma tentaram encobrir, mas que seus companheiros explicitaram a partir de suas falas, as entrevistas sugerem que as mulheres chefes de família se constituem em um grupo heterogêneo, que por um lado, alternam uma visão de poder, uma postura mais moderna, devido ao fato de serem as provedoras financeiras bem como, ter um alto grau de decisão em relação às questões familiares/domésticas, se colocando como sujeitos com pensamentos mais autônomos. Embora não dê para afirmar que no interior das famílias, a chefia feminina - do ponto de vista das mulheres – constitui em uma substituição da autoridade masculina pela autoridade feminina (Mendes, 2002). E por outro lado, o fato de serem as responsáveis financeiramente pelas famílias, a chefia neste caso não configura uma mudança nas representações que os homens e mulheres têm de si e do outro, o que se assiste são mulheres combinando estratégias para amenizar os conflitos oriundos da condição de chefia de família em relação aos seus maridos/companheiros.

Contudo, não se pode deixar de ressaltar que embora seja um processo lento, e não se aplique à totalidade das mulheres entrevistadas, o ingresso das mulheres em atividades informais ao mesmo tempo que facilita a conciliação das atividades profissionais com as atividades domésticas, pelo fato de não ter um horário fixo - embora o horário de funcionamento do Shopping Popular seja de 08:00 as 19:00 – elas podem flexibilizar suas jornadas, possibilita também a elas buscarem suas autonomias financeira, configurando o trabalho informal como uma alternativa promissora para as chefes de família investigadas.

Considerações finais

Não pretendendo concluir, mas colocar algumas questões que carecem serem melhor investigadas, eu consideraria alguns pontos.

As chefes de família entrevistadas apresentaram atitudes de certa forma contraditórias, pois ao mesmo tempo que se colocavam como sujeito na hora

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de assumirem um maior grau de participação nas decisões familiares, assumindo uma postura moderna, em alguns momentos demonstraram posturas extremamente tradicionais, sobretudo em relação à autoridade perante à famílias que elas representam como autoridade masculina.

Contudo, é importante apontar a situação de contraste existente, ou seja, ao assumir que são as principais responsáveis pelo provimento financeiro de seus lares, bem como pelo fato de trabalharem informalmente, e serem as “donas” do próprio negócio, elas vislumbram uma certa independência financeira e consequentemente uma alteração nas relações de poder em relação aos seus companheiros, mas ainda assim, a própria forma que elas utilizaram para justificarem a pouca ou nenhuma participação dos maridos na manutenção financeira das famílias, denuncia que ao mesmo tempo que avançam na direção de relações mais igualitárias e até mesmo de poder em relação aos seus cônjuges, elas parecem recuar quando reconhecem apenas a autoridade masculina.

Esta situação contraditória persiste, sobretudo, quando as mulheres assumem serem as principais responsáveis pelo exercício e/ou supervisão das tarefas domésticas, mesmo em domicílios em que os homens não estão trabalhando fora de casa, reforçando as relações sociais de gênero que definem como espaço social do homem o espaço público, da produção e o espaço social da mulher, o espaço da família, da reprodução e das atividades domésticas, como considera Aguiar (1996).

Em suma, eu tendo a concordar com Mendes (2002), que a análise e entendimento da questão das mulheres chefes de família não pode ser analisada como um fenômeno em si mesmo, mas que engloba várias dimensões como “poder econômico, poder de decisão, modelo familiar e relações de gênero” (p. 11), como também questões referentes a tempo e espaço. De qualquer forma, penso que a questão da chefia feminina continua sendo um fenômeno complexo, entretanto, não se pode deixar de considerar também que pelo fato dessas mulheres serem as chefes da família - mesmo com algumas contradições nas suas falas - se traduz em um avanço em

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relação a postura das mesmas em relação à “saída do domínio exclusivamente doméstico e seu ingresso no mercado de trabalho” (Mendes, 2002:11), fato que certamente, contribuirá para formatar uma postura mais autônoma tanto no campo financeiro, quanto em relação às relações de poder no interior das famílias e consequentemente, em que pese os conflitos esta situação pode gerar e/ou explicitar, alterar a balança que sempre pendeu para o lado masculino.

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