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SUPERVISÃO DE MERCADOS
BM&FBOVESPA SUPERVISÃO DE MERCADOS- BSM CONSELHO DE SUPERVISÃO
TURMA
CONSELHEIRO-RELATOR: WLADIMIR CASTELO BRANCO CASTRO MEMBROS: ALINE DE MENEZES SANTOS E HENRIQUE DE REZENDE VERGARA
PROCESSO ADMINISTRATIVO ORDINÁRIO N' 21/2014
DEFENDENTES: JOSÉ MÁRIO VALLE E RENATO TEIXEIRA MOTA
VOTO DO CONSELHEIRO-RELATOR WLADIMIR CASTELO BRANCO CASTRO
FATOS
I. A instauração do presente processo administrativo teve por base o Parecer da Superintendência de Acompanhamento de Mercado da BSM (SAM) n° 137/2013, no qual foi constatada a realização de operações executadas pelo operador Renato Teixeira Mota ("Renato") e pelo agente autônomo de investimento José Mário Valle ("José Mário"), vinculados à corretora Planner, que consistiram em práticas não equitativas em relação à cliente Stand By Agência de Viagens e Turismo Ltda. ("Stand By").
2. As ocorrências imputadas a Renato e a José Mário pela acusação foram perpetradas entre 0110112013 e 30/09/2013, período no qual José Mário, operando com carteira própria, e o cliente Guilherme Trindade Vila ("Guilherme") realizaram, respectivamente, 32 (trinta e duas) e 81 (oitenta e uma) operações day-trade, que incluíam a realização de negócios diretos, tendo como contraparte a Stand By.
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Em síntese, os negócios objeto da acusação se realizavam com José Mário e Guilherme comprando ou vendendo lotes de opções contra o mercado e instantes depois encerrando a posição com operação inversa, em negócios diretos com a Stand By.
4. As ordens em nome da Stand By foram executadas por Renato. As ordens de Guilherme foram executadas por Renato e as ordens em nome de José Mário foram executadas em parte pelo próprio José Mário e em parte por Renato.
5. Diante das constatações de que as operações em nome de Guilherme e de José Mário eram executadas com conhecimento prévio de ofertas a serem realizadas pela Stand By e que tinham o intuito de favorecer indevidamente José Mário e Guilherme, Renato e José Mário foram acusados de terem violado os incisos I e II,
alínea "d", da Instrução CVM no 8/79 ("ICVM 8/79").
6. Em defesa, os acusados apresentaram, em síntese, os seguintes argumentos: (i) se comparadas com as ofertas inseridas em nome da Stand By, as ofertas de José Mário e de Guilherme seriam inexpressivas; (ii) os negócios objeto da acusação não interfeririam na formação da tendência do mercado; (iii) as operações de day-trade de José Mário e de Guilherme não buscavam a obtenção de vantagem indevida, mas evitar sua exposição à variação do mercado; e (iv) José Mário e Renato são profissionais experientes, sem histórico de envolvimento em ocorrências em desacordo com as normas do mercado.
MÉRITO
7. Com relação às operações, entendo ter restado evidenciado nos autos que (i) Renato possuía autonomia para decidir o momento da inserção das ofertas da Stand By,
executando ordens administradas, com quantidades e preços que melhor conviesse à
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estratégia de favorecimento de Guilherme e de ~osé Mário; (ii) as ordens de José Mário , )z
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eram executadas tanto por si quanto por Renato; (iii) Renato executava as ordens de Guilherme; e (iv) o espaço de tempo entre as ordens de Guilherme e José Mário e da Standy By em todas as operações objeto da acusação era muito curto, reforçando a constatação de que havia conhecimento prévio das ofertas da Stand By pelos acusados e que tal conhecimento foi utilizado em benefício de José Mário e Guilherme.
8. Além disso, o padrão das operações entre José Mário e Stand By e entre Guilherme e Stand By (todas identificadas pelo termo de acusação e seus anexos - fls. 39-42 e 44-56) era sempre o mesmo: José Mário e Guilherme posicionavam-se em determinada opção a preço de mercado, antecipando-se às ordens da Standy By, previamente conhecidas. Em seguida, encerravam suas posições com uma operação inversa em negócios diretos com a Stand By.
9. Nesse contexto, para promover o encerramento das posições de José Mário e Guilherme, Renato inseria a oferta em nome da Stand By em quantidade de ativo e preço exatos de forma a garantir que as ofertas de José Mário e Guilherme, já previamente inseridas no livro de ofertas, fossem integralmente atendidas, propiciando êxito nas operações day-trade dos favorecidos, conforme é possível verificar nos exemplos contidos no termo de acusação (fls. 7 -li e 13 ).
I O. Consequentemente, o índice de acerto das operações executadas durante o período considerado pela acusação, por José Mário e Guilherme tendo a Stand By como contraparte, foi atípico: 96,9% para José Mário e 92,6% para Guilherme.
11. Ressalto que José Mário e Renato, em suas defesas, não demonstraram a
inocorrência de operações não equitativas, do modus operandi caracterizador dessas / \ práticas e nem se desincumbiram de suas responsabilidades pelas práticas não ~
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12. Além disso, concordo com o exposto no Parecer Jurídico no sentido de que o fato de as ofertas inseridas em nome de José Mário e de Guilherme serem de baixa monta em comparação às ofertas da Stand By é irrelevante para a caracterização ou não da prática não equitativa.
13. Resta clara, portanto, a ocorrência de front-running, prática não equitativa realizada intencionalmente por Renato e José Mário que, conhecedores das ordens administradas da Stand By, possibilitaram a obtenção de vantagem ilícita por José Mário e Guilherme: R$ 80.539,00 (oitenta mil, quinhentos e trinta e nove reais) e R$ 190.742,00 (cento e noventa mil, setecentos e quarenta e dois reais), respectivamente.
14. A responsabilidade dos acusados é clara: Renato e José Mário, como prepostos da corretora Planner tinham o dever de fidúcia com relação a Stand By, cliente da corretora. Entretanto, ao invés de atuarem no melhor interesse desse cliente, aproveitaram-se de suas ordens administradas para favorecerem José Mário e Guilherme: Renato atuou diretamente na inserção das ofertas da Stand By, de Guilherme e em parte das ofertas de José Mário. José Mário, por sua vez, utilizou-se desse conhecimento das ordens do cliente Stand By para obter ganhos indevidos para si próprio.
DISPOSITIVO
15. Nesse sentido, com base nas provas produzidas nos autos, voto pela condenação de:
I. José Mário Valle à pena de mu1ta no valor de R$ 120.000,00 (cento e
vinte mil reais), correspondente a aproximadamente uma vez e meia o valor da vantagem obtida com a realização de 32 operações não
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equitativas indicadas no termo de acusação, em violação aos incisos I e II, alínea "d" da ICVM n° 8/79; e
li, Renato Teixeira Mota à pena de multa no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), já que foi o responsável direto pelas operações irregulares, tendo inserido as ordens dos clientes Stand By, Guilherme e José Mário indicadas no termo de acusação, em violação aos incisos I e II, alínea "d" da ICVM n° 8/79.
É o meu voto.
São Paulo, 24 de setembro de 2015.
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Wladimir 'castelo BrarteD-éastro Conselheiro-Relator
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