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RELAÇÃO COM O PACIENTE

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Academic year: 2021

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Aula 06

RELAÇÃO COM O PACIENTE

Olá!

Nesta aula iremos discutir sobre algumas questões atuais, especialmente sobre a relação entre o pro-fissional da saúde e o paciente.

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: A) Compreender a importância da relação entre profissional da saúde e paciente;

B) Identificar os aspectos importante para o esta-belecimento de uma relação, mesmo que breve, entre profissional da saúde e paciente.

Boa aula!

Durante seu curso, você deve ter visto que, no atual contexto brasileiro, de mudanças significativas do Sistema Único de Saúde (SUS), baseado nos princípios de universalidade, integralidade e equidade, a relação profissional-paciente tornou-se estratégica (Brasil, 2007). De acordo com Starfield (2007), esse novo sistema exige a consolidação de um modelo de atenção geral, comunitário e de família, para a qual o paciente não é o indivíduo doente, mas sua integração com família, comunidade e condições de vida.

Com a mudança de um paradigma de atendimento segundo o modelo médico para uma abordagem biopsicossocial, o paciente passou a ser visto integralmente, como um ser ativo e responsável também pela sua saúde. O profissional de saúde é um educador que tem a possibilidade

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de ajudar para que o paciente participe das decisões e do tratamento. Os profissionais em saúde cada vez mais têm se empenhado na melhora da qualidade dos serviços, que está relacionada com a qualidade da relação interpessoal entre os pacientes e os trabalhadores da saúde (ASSUNÇÃO, 2003; MARTINS, 1997).

É essa relação que vai nortear o tratamento, prevenção de doenças e a promoção de saúde, em especial colabora com a adesão ao tratamento e a comunicação em saúde. Um mau atendimento ou problemas na comunicação podem levar a sentimentos de frustração e ansiedade e diminui o potencial que essa relação apresenta. Assim, é uma área de interesse da Psicologia, o estudo de como se dá essa relação entre profissional da saúde e paciente (ASSUNÇÃO, 2003).

Gomes et al. (2011) destacam que embora essa relação apresente características peculiares, o contexto de sua realização, de um modo geral, é semelhante em todas as profissões do campo da saúde, por formação ou por atuação, podendo sua análise ser passível de generalização. De acordo com Ayres (2004), a prática das profissões da saúde, nas condições de massificação, mercantilização e supervalorização da técnica, situou a subjetividade do paciente em posição secundária e destacou a objetividade da doença.

Você já deve ter percebido que primeiro contato do profissional com o paciente ocorre, na maioria dos casos, quando este está sob o efeito de determinada tensão ou crise aguda. Por conseguinte, é provável que suas ansiedades se intensifiquem e pareça estar mais perturbado ou na defensiva do que em outros momentos. Se o profissional pode conter o excesso de ansiedade que o paciente não pode enfrentar nesse momento (MARTINS, 1997), proporcionará alívio e dará oportunidade a que surjam os aspectos mais maduros do paciente e a que este recobre a capacidade (diferente para cada indivíduo) de compreender, elaborar e finalmente integrar a situação dolorosa. Além da receptividade, pode haver um segundo fator relacionado com esta capacidade e que se soma a ela. Trata-se da capacidade dos pais, não só de cuidar de seu filho e preocupar-se com ele, senão de pensar, clarificar, diferenciar, nomear um sentimento vago e dar-lhe significado. Esta função equivale a uma espécie de digestão mental que transforma a angústia insuportável em algo mais definido, determinando deste modo que não seja sentida de forma tão perigosa.

Todas as atitudes do profissional repercutem sobre o paciente e terão significado terapêutico ou antiterapêutico segundo as vivências que despertarão no paciente e nele, profissional. A "psicoterapia implícita" que existe no relacionamento profissional-paciente são as atitudes do profissional no seu relacionamento com o doente, dirigidas a um fim terapêutico, qualquer que seja a natureza das medidas de ordem técnica (GOMES, 2011).

Essa relação é construída através da comunicação, seja ela verbal ou não verbal. Para que o paciente seja considerado em sua totalidade integral, essa comunicação precisa ser de qualidade, juntamente com um bom vínculo e da sensibilidade do profissional perceba os aspectos subjacentes do paciente. Assim, percebemos que quatro fatores podem influenciar no estabelecimento dessa relação (ASSUNÇÃO, 2003).

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- Aspectos comunicacionais: envolve a troca de informações, resposta a emoções, tomada de decisões e permissão para que o paciente participe do gerenciamento da sua própria saúde. Alguns fatores comunicacionais podem prejudicar o estabelecimento dessa relação, como dar declarações contraditórias, evitar assuntos, dizer frases incompletas, utilizar de um discurso rebuscado e muito técnico, além de violações na cortesia e gentileza para com o outro. Como facilitadores da comunicação são citados a compreensão das expectativas e experiências, recomendações contextualizadas, fornecer informações detalhadas, avaliando a compreensão do paciente, ter empatia utilizar uma linguagem simples, falar pausadamente, prestar atenção em comportamentos não verbais, conhecer valores culturais e sociais do paciente, entre outros.

Atitudes dos profissionais de saúde: são baseadas em qualidades humanas e princípios bioéticos presentes nas ações de saúde, tais como empatia, continência, humildade, respeito a diferenças, capacidade de ser flexível, criativo, paciência, solidariedade, integridade e compaixão. Os princípios bioéticos incluem a ética, sigilo, respeito à autonomia do paciente, beneficência e não-maleficência, justiça, atenção ao paciente e responsabilidade.

- Comportamentos do paciente: incluem as reações emocionais, assim, diante de uma pessoa que lhe é desconhecida e frente a situações estressantes, de dor e limitação é esperado que o paciente reaja com algum grau de regressão e ansiedade, o que deve ser compreendido pelo profissional.

- Contexto em que a relação acontece: é o local da interação, que pode desgastar ou prejudicar a interação entre o profissional e o paciente. Frente a esse local, o paciente chega com sua interpretações e vivência construídas ao longo de sua vida, ele já possui um julgamento e sentimentos que, se não compreendidos, podem prejudicar o estabelecimento do vínculo.

Agora, vamos discutir alguns modelos que explicam essa relação entre paciente e terapeuta.

Schneider (1974 apud MARTINS, 1997) descreveu três modelos que explicam como se dá a relação entre o profissional da saúde e o paciente, com enfoque na atividade-passividade; na distância psicológica e no grau de contato pessoal.

Segundo o modelo de atividade-passividade, existem três tipos básicos de relação: a atividade do profissional e a passividade do paciente, que é encontradas nas urgências e emergência em que o profissional atua mas o paciente permanece passivo; a direção feita pelo

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, numa tenta-tiva de compreender o que a pessoa está sentindo, percebendo seus significados internos, como se fosse o outro.

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profissional e a cooperação do paciente, considerando o paciente como um sujeito capaz de fazer algo com ajuda do profissional; e a participação mútua e recíproca entre os dois, que é típico das doenças crônicas e dos estados em que o paciente assume que pode cuidar de si. A ocorrência desses modelos depende da situação, mas nenhum é melhor ou mais eficaz (MARTINS, 1997).

Com o modelo de distância psicológica, ocorrem três fases: de apelo humano em que o profissional responde à demanda do paciente, sem frustrar suas necessidades e aproximando-se dele; o ajustamento e objetivação é o exame científico em que o paciente não é considerado como uma pessoa, mas sim um objeto de estudo e as relações afetivas ficam em segundo plano; a personalização ocorre depois do diagnóstico, quando o profissional pode se aproximar do paciente e o percebe como uma pessoa que sofre. Se o profissional ficar paralisado na fase de objetivação, percebemos um fenômeno de frieza no trato com pacientes e um afastamento das próprias emoções e sentimentos (MARTINS, 1997).

Já o modelo de grau de contato, observamos dois esquemas de relação: interpessoal, com uma relação direta entre profissional e paciente, realizada em níveis intelectual e afetivo; prestação de serviços como uma tarefa de assistência especializada, pautada num ritual social com explicações técnicas. O especialista isola o objeto (corpo, parte do corpo) e tenta repará-lo, mas ao fazer isso, acaba interagindo com o paciente (MARTINS, 1997).

Outro fator que pode impactar a relação entre o paciente e o profissional da saúde são as condições de trabalho. Se o profissional estiver insatisfeito acabará transmitindo frustração ao atendimento, além de suas próprias vivências emocionais. Vale lembrar que se trata de uma relação humana, em que duas pessoas se encontram e a prioridade deve ser, além de tratamento, promoção da saúde (ASSUNÇÃO, 2003).

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Os primeiros atendimentos como alguém da área da saúde ocorrem num época de transição entre ser aluno e assumir um papel de profissional. O estudante, ao encontrar seus primeiros pacientes, é uma pessoa de experiência ainda limitada em práticas profissionais e na sua identidade enquanto profissional da saúde. Esse momento é permeado por dúvidas e incertezas, pois precisa compreender o paciente, ser receptivo e lidar com esse contato, além dos próprios sentimentos (MARTINS, 1997).

Além disso, ele precisa se preocupar com a possibilidade de causar algum sentimento penoso ao paciente, que este chore, ou tenha reações que causem sentimentos negativos no profissional. Esses muitos sentimentos vivenciados precisam ser considerados, para poderem ser enfrentados (MARTINS, 1997).

Na formação do profissional em saúde, é importante que ele desenvolva uma escuta ativa, não interpretando e fazendo julgamentos sobre o paciente. Ter essa habilidade pode facilitar a interação com o paciente, pois reconhece as necessidades e angústias dele, favorecendo o desenvolvimento de um vínculo (ASSUNÇÃO, 2003).

O vínculo profissional-paciente pode ser denominado de aliança terapêutica. Para a Psicanálise, essa relação se expressa em termos de transferência e contra-transferência. Por transferência entende-se o processo pelo qual sentimentos e conflitos originários na infância são trazidos para o relacionamento atual. Os pacientes têm uma tendência a investirem o profissional de saúde com propriedades poderosas e onipotentes, semelhantes às que as crianças acham que os pais possuem, quando ainda responsáveis por elas e por seu cuidado.

O paciente sente-se pequeno, desamparado e à mercê do profissional; a crença no poder do profissional permite-lhe sentir-se seguro na situação de perigo (MARTINS, 1997).

A transferência do paciente para o profissional pode ser negativa, com sentimentos de desconfiança, inveja, desprezo, irritação ou raiva. Pode se manifestar por uma reserva geral, escassez de informações ou pouca disposição de cooperar durante o exame e o tratamento (MARTINS, 1997).

Já a contra-transferência é entendida como os movimentos afetivos do profissional em reação ao paciente e com base nas suas vivências da infância. A contra-transferência pode também ser positiva ou negativa e depende de inúmeros fatores, advindos tanto do paciente (idade, sexo, situação social, apresentação e comportamento) como do próprio profissional (estado de cansaço, irritação, situação conjugal, social e de trabalho) (MARTINS, 1997).

Diante de um exame médico ou de possibilidade de doença, muitos pacientes têm reações emocionais de medo e ansiedade, seja influenciado por experiência passadas ou por expectativas. Para minimizar a ocorrência desses sintomas, orientações de rotina prévias à realização de exames ou procedimentos poderiam ser utilizadas, mas a influencia pouco, pois

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é feita apenas a informações sobre o processo a ser realizado (SILVA; SANTO, 1996). No contato com o paciente, o ambiente, equipe e materiais geram impacto e pensamentos sobre a situação que podem aumentar a ansiedade e o medo. Para entender essa situação, é preciso compreender o paciente como um ser biopsicossocial, sendo importante a relação com o profissional, que tem potencial para minimizar a negatividade dessa experiência. Levando em conta o que foi discutido acima, podemos entender que, se a relação com o paciente, mesmo que breve, for estabelecida de uma maneira satisfatória, o atendimento será de qualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYRES, J. R. C. M. Cuidado e reconstrução das práticas de saúde. Interface, n. 14, v. 8, p 73-92, 2004.

ASSUNÇÃO, G. S. Relação profissional de saúde-paciente: avaliação de uma intervenção com estudantes da área da saúde. 2013. 181f. Tese (Mestre em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde) – Instituto de Psicologia, UNB, Brasília, 2013.

BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE. Atenção primária e promoção da saúde. Brasília: Conass, 2007.

BORSOI, I. C. Da relação entre trabalho e saúde à relação entre trabalho e saúde mental. Psi-col. Soc., v.19, Porto Alegre 2007. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-71822007000400014

GOMES, A. M.; et al.. Cuidar e ser cuidado: relação terapêutica interativa profissional-pacien-te na humanização da saúde. Rev APS; n. 4, v. 14, p. 435-446, 2011.

JACQUES, A. M. G. O ambiente de trabalho e os reflexos na saúde. Jornal APMPA, n. 48, nov. 2007. Disponível em http://www.apmpa.com.br/apmpa/art.asp?id=40

MARTINS, M. C. F. N. Relação profissional-paciente: subsídios para profissionais de saúde. Psychiatry on line Brasil, n. 3, v. 2, març. 1997. Disponível em http://www.polbr.med.br/ ano97/cezira.php

SILVA, M. R. A.; SANTO, A. C. G. E. Intervenção dialógica e atenuação da ansiedade no Em síntese:

Nesta aula estudamos ainda sobre a importân-cia da relação entre profissional da saúde e paciente. Essa relação depende da boa comu-nicação, empatia, sensibilidade e até do for-necimento de informações com um discurso claro e objetivo.

Com a mudança de paradigma da saúde, con-siderando um modelo biopsicossocial, o paci-ente passou a ser paci-entendido em sua totalidade,

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exame de endoscopia digestiva alta. Cadernos Extensão-Saúde, 1996. Disponível em http:// www.ufpe.br/proext/images/publicacoes/cadernos_de_extensao/saude/interv.htm

STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnolo-gia. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

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