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RISCOS OCUPACIONAIS DO ENFERMEIRO ATUANTE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

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Academic year: 2021

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RESUMO: O enfermeiro, em sua atividade laboral, está sujeito a riscos ocupacionais. Este estudo objetivou discutir os riscos

a que os enfermeiros da Estratégia Saúde da Família estão expostos, segundo a literatura. Pesquisa bibliográfica realizada na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde sobre a temática. Foram identificados e analisados 29 artigos publicados de 1998 a 2008. Os enfermeiros estão expostos a riscos físicos (temperatura elevada e ambiente pouco iluminado); químicos, biológicos (secreções oral, vaginal e de feridas), ergonômicos (mobiliário inadequado para a realização das atividades) e acidentes. Percebe-se que os riscos químicos, biológicos e os acidentes típicos são os temas mais evidenciados na literatura, entretanto, os riscos ergonômicos e os físicos são pouco explorados. Urge, portanto, a realização de estudos mais aprofundados sobre essa temática, a fim de que este profissional possa utilizar de maneira mais adequada as medidas de biossegurança e promover o autocuidado.

Palavras-Chave: Enfermagem; risco ocupacional; saúde do trabalhador; programa saúde da família. 

ABSTRACT: Nurses are exposed to a variety of occupational risks at work. This study discusses the occupational hazards facing nurses who work in Brazil’s Family Health Strategy (Estrategia de Saúde da Família, ESF) as reported in the literature. A search on occupational hazards in nursing in the Caribbean and Latin-American Literature in Health Science (LILACS) database returned 29 articles published between 1998 and 2008. The risks facing such nurses are physical (high temperatures and poor lighting); chemical; biological (oral, vaginal and wound secretions); ergonomic (furniture unsuited to their work), and to accidents. It was observed that, while chemical and biological risks and typical accidents are the topics most highlighted in the literature, physical and ergonomic risks are less explored. Further studies on this issue are thus urgently needed so that nurses can use bio-safety measures more properly and promote their self-care.

Keywords: Nursing; occupational risks; occupational health; family health program.

RESUMEN: El enfermero, en sus actividades de trabajo, se queda sujeto a riesgos laborales. Este estudio objetivó discutir los

riesgos a que los enfermeros que trabajan en la Estrategia Salud de la Familia están expuestos. Estudio de la literatura realizado en la base de datos de América Latina y de Caribe en Ciencias de la Salud acerca de la temática. Fueron identificados y analizados 29 artículosA publicados de 1998 a 2008. Los enfermeros están sujetos a riesgos físicos (temperatura alta y ambiente con poca luz), químicos, biológicos (secreciones orales, vaginales y de heridas), ergonómicos (mobiliario inadecuado para llevar a cabo las actividades) y accidentes. Se observa que los riesgos químicos, biológicos y los accidentes típicos son los temas más evidentes en la literatura, pero los riesgos ergonómicos y físicos son poco explotados. Por lo tanto, es necesario llevar a cabo más estudios sobre este tema, de manera que este profesional pueda utilizar una serie de medidas de bioseguridad más adecuadas y promover el autocuidado.

Palabras Clave: Enfermería; riesgo laboral;  salud del trabajador; programa salud de la familia. 

R

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A

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A

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E

STRATEGIA

S

ALUDDELA

F

AMÍLIA

Maria Eliana Peixoto BessaI

Maria Irismar de AlmeidaII

Maria Fátima Maciel AraújoIII

Maria Josefina da SilvaIV

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Professora Substituta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil E-mail: elianabessa@hotmail.com.

IIDoutora em Enfermagem. Professora adjunta da Universidade Estadual do Ceará. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: irismaruece@gmail.com.

IIIDoutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: fátima.maciel@ig.com.br.

IVDoutora em Enfermagem. Professora Associada da Universidade Federal do Ceará do Departamento de Enfermagem. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: mjosefina@terra.com.br.

A r t i g o s de Revisão

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teção individual e coletiva, condições e local de estocagem e procedimentos de emergência3.

Já o grupo 3 está representado pela cor marrom, correspondendo aos riscos biológicos, isto é, à probabi-lidade da exposição ocupacional a agentes biológicos3,4.

Agentes biológicos correspondem aos microor-ganismos, geneticamente modificados ou não; às cultu-ras de células, aos pacultu-rasitas, às toxinas e aos príons3.

Os riscos ergonômicos estão representados pela cor amarela e estão englobados no grupo 4, sendo caracterizados pelo levantamento e transporte ma-nual de cargas e peso, repetitividade, ritmo excessivo de trabalho, posturas inadequadas de trabalho e tra-balho em turnos3,4.

E por fim, o grupo 5, que são os riscos de aciden-tes, representados pela cor azul, e que correspondem ao arranjo físico inadequado, quedas, equipamentos sem proteção e acidentes perfurocortantes3,4.

Assim, como em qualquer outra profissão, os trabalhadores de enfermagem também estão subme-tidos a esses riscos. No entanto, o que se percebe é uma negligência tanto por parte dos trabalhadores quanto por parte do empregador, no que diz respeito à saúde ocupacional dos enfermeiros.

Nesse contexto, é necessário que o enfermeiro conheça o processo de trabalho e os riscos potenciais a que está sujeito, para, assim, garantir a sua seguran-ça e a da equipe, durante o atendimento5.

M

ETODOLOGIA

O

presente estudo é

uma pesquisa

bibliográfi-co-documental que traz à luz da literatura conheci-mentos acerca da problemática de riscos ocupacionais dos profissionais da enfermagem.

A busca bibliográfica, realizada no mês de ja-neiro de 2009, compreendeu as bases de dados LILACS, inclusas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando os descritores: riscos ocupacionais e enfermagem. Considerou-se essa base de dados, pois o Scientific Eletronic Library on Line (SCIELO) e Base de dados de Enfermagem (BDENF) já estão incluídos na mesma.

O estudo abrangeu os últimos 11 anos (1998 a 2008). Foram encontradas inicialmente 163 referên-cias bibliográficas. Considerou-se como critério de inclusão artigos na integra disponível na base de da-dos pesquisada com um total de 29 artigos2,4-31.

No período da pesquisa, não foram encontrados artigos sobre riscos ocupacionais na enfermagem atu-ante na atenção básica. Após a análise dos artigos encontrados, foi localizado um artigo32 sobre atenção

básica, produzido no Rio de Janeiro, que contribuiu para a discussão dos achados.

I

NTRODUÇÃO

A

s doenças profissionais

constituem um grave

problema de saúde pública. Historicamente, porém, os profissionais de saúde só foram considerados uma cate-goria de alto risco para acidentes de trabalho a partir do século XX, quando então a ocorrência dos riscos bioló-gicos foi relacionada com as doenças que atingiam espe-cificamente os trabalhadores da área da saúde1.

Riscos ocupacionais são todas as situações de tra-balho que podem romper o equilíbrio físico, mental e social dos trabalhadores e não somente as situações que originem acidentes e doenças2. Dessa forma,

en-tende-se por condições de risco as que, devidas à natu-reza das próprias funções e em resultado de ações ou fatores externos, aumentem a probabilidade de ocor-rência de lesão física, psíquica ou patrimonial3, sendo

necessário que o enfermeiro conheça o processo de trabalho e os riscos potenciais a que está exposto.

O exercício profissional da enfermagem na aten-ção básica, mais especificamente na Estratégia Saúde da Família (ESF), muitas vezes ocorre em cidades interioranas, necessitando, portanto, de deslocamen-tos diários para atendimento em distrideslocamen-tos, com risco de vida para cada um dos que estão nesse mister. Mui-tos profissionais da saúde trabalham sem vínculo de trabalho com base na Consolidação das Leis Traba-lhistas (CLT), não podendo usufruir dos direitos pro-fissionais. Além disso, estão sujeitos a pressões psico-lógicas decorrentes das inúmeras atribuições da ESF.

Sabemos que a enfermagem é a profissão do cui-dar, mas quem cuida desses profissionais que muitas vezes negligenciam o seu próprio autocuidado? Desse modo, este artigo teve como objetivo discutir os ris-cos ocupacionais a que os enfermeiros atuantes na ESF estão expostos, segundo a literatura.

R

EFERENCIAL

T

EÓRICO

A

Norma

Regulamentadora no 5 (NR5) do

Mi-nistério do Trabalho e Emprego (MTE) classifica os riscos ambientais em cinco grupos: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes2;3.

O grupo 1 engloba os riscos físicos que estão representados pela cor verde e que correspondem ao ruído, calor, frio, radiações ionizantes e não ionizantes, vibrações, umidade, pressões ambientais3;4.

O grupo 2 são os riscos químicos, representa-dos pela cor vermelha, constituírepresenta-dos pelas poeiras, gases e vapores3,4.

A Norma Regulamentadora no 32/MTE (NR32) recomenda uma ficha descritiva que contenha, no mínimo, as informações sobre as características e a forma de utilização do produto, os riscos à segurança e saúde do trabalhador, bem como as medidas de

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pro-Após a seleção, os artigos foram impressos e li-dos em sua íntegra. O primeiro passo foi registrar, em instrumento elaborado para esse fim, o nome do au-tor, o título do artigo, o ano de publicação, o tipo de metodologia e o local do estudo. A seguir, os artigos foram organizados em riscos ocupacionais – conforme a NR5/MTE: físicos, químicos, biológicos e ergonômicos – e riscos de acidentes, dando-se ênfase aos riscos ocupacionais dos enfermeiros que atuam na área de

saúde da família, valendo-se, portanto, da experiência

vivenciada por uma das autoras.

Os dados foram analisados à luz da literatura específica e dos documentos legais que legislam sobre a temática.

R

ESULTADOSE

D

ISCUSSÃO

O

enfermeiro tem o

direito de desenvolver suas

atividades profissionais em condições de trabalho que promovam a própria segurança e dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva, se-gundo as normas vigentes, cabendo a ele recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de ma-terial ou equipamentos de proteção individual e co-letiva definidos na legislação específica33.

As atividades de saúde são classificadas com grau de risco 3, sejam elas hospitalares ou ambulatoriais3.

Desse modo, considerando que a maioria das ativida-des dos enfermeiros atuantes em ESF é de nível ambulatorial, também esses estariam expostos a ris-cos em suas atividades laborais e não apenas os que trabalham em hospital, como apontam os artigos li-dos para a elaboração deste estudo.

Riscos Físicos

As cargas físicas a que os trabalhadores de en-fermagem estão expostos na ESF são: exposição à ilu-minação precária, o que dificulta a realização de pro-cedimentos; a falta de arejamento nos consultórios de enfermagem, tornando o ambiente impróprio para o trabalho, e as instalações elétricas inadequadas, pro-piciando o risco de choque elétrico, especialmente durante a realização do exame papanicolau, já que é necessário o foco de luz elétrica.

Apesar da relevância da temática para a enfer-magem, os riscos físicos são pouco discutidos na lite-ratura2,5,14,15,21,19,32.

Riscos Químicos

Os riscos químicos, aos quais os enfermeiros estão submetidos, “são os gerados pelo manuseio de uma variedade grande de substâncias químicas e tam-bém pela administração de medicamentos que po-dem provocar desde simples alergias até importantes neoplasias” 7:351.

As principais cargas químicas às quais estão ex-postos são: medicamentos, soluções, desinfetantes, desencrostantes ou esterilizantes, antissépticos, quimioterápicos, gases analgésicos, ácidos para trata-mentos dermatológicos, látex (do contato com ma-teriais de borracha) e a fumaça do cigarro7, com

ma-nifestações físicas como tontura, dispneia, urticária e irritação da mucosa nasal6,8.

Alguns riscos químicos que podemos encontrar nas UBS são: uso de luvas, obrigatória nos procedi-mentos; uso do hipoclorito de sódio, no ato de reali-zar educação em saúde para a população; o iodo e o éter, substâncias presentes na realização dos curati-vos. Além disso, a própria administração de medica-mento pode gerar risco de sensibilidade alérgica32.

A falta de rotulagem adequada das substâncias químicas comercializadas leva à deficiência de infor-mações sobre os riscos a que os trabalhadores estão expostos, contribuindo para que doenças ocupacionais e acidentes do trabalho com elas relaci-onados fiquem muitas vezes fora das estatísti-cas10,11,20,21,22,26 por desconhecimento das causas.

Riscos Biológicos

Os riscos ocupacionais estão amplamente dis-tribuídos nas unidades de saúde, sofrendo variações proporcionais aos contatos mais intensos e diretos com os pacientes. Podem ser transmitidos pelas mãos ou pela utilização de materiais não limpos, não desinfetados ou esterilizados, e pelo contágio indire-to, por objetos contaminados do paciente ou por in-termédio do ar9-11,34,35.

Os agentes mais importantes de transmissão parenteral são os vírus da hepatite B (HBV), da hepa-tite C (HCV) e da imunodeficiência adquirida hu-mana (HIV)14,36. É certo que o enfermeiro da ESF não

tem oportunidade frequente de aplicar uma injeção endovenosa. Entretanto ele corre o risco de conta-minação parenteral ao administrar vacinas e medi-camentos por via intramuscular32.

Ao executar atividades que envolvem o cuida-do direto e indireto com os pacientes, os enfermeiros estão frequentemente expostos às infecções trans-mitidas por microorganismos presentes no sangue ou outros fluidos orgânicos11,14. Cabe lembrar que esses

profissionais devem estar imunizados contra tétano, difteria e hepatite36,37.

Enfe rme iros da ESF realizam o e xame papanicolau, entrando em contato com secreção va-ginal da paciente. Também entram em contato com doenças infectocontagiosas, tais como tuberculose (TB), viroses, além das parasitoses. Podem ainda en-trar em contato com a secreção de feridas, ao reali-zar procedimentos invasivos, como sondagem vesical de demora.

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Esses profissionais estão expostos a parasitas ao cui-dar de clientes portadores de pediculose e/ou escabiose, com grande possibilidade de infestação11. E isso é

fre-quente, pois geralmente as mães procuram o ambulatório de enfermagem para o tratamento dessas afecções.

Percebe-se uma vasta literatura sobre esta temática9-11,14,16,18-20,24,27-30,32,34-36.

Riscos Ergonômicos

A ergonomia focaliza um sistema formado por um complexo relacionamento de componentes que interagem entre si12.

Na atenção básica, um dos principais proble-mas ergonômicos está relacionado com o mobiliário: as mesas e cadeiras para o atendimento ambulatorial são inadequadas para utilização por um período lon-go. Apesar de os enfermeiros se dedicarem a outras atividades, tais como atendimento em grupos e visi-tas domiciliárias, esses profissionais passam boa par-te do par-tempo realizando atividades ambulatoriais32.

Como essa análise tem base na vivência profis-sional de uma das autoras, descrevemos um local de atendimento típico de unidades de atenção básica em um município do interior do Ceará, com vistas a ilustrar neste estudo as más condições de trabalho do enfermeiro em UBF: em atendimentos realizados em escolas, as prescrições feitas em cadeiras escolares, que, em razão do desgaste, são instáveis; realização de pré-natal em camas comuns ou em macas improvisa-das no solo; o papanicolau realizado em macas inapropriadas, precisando de um auxiliar para evitar acidentes como quedas. Em tais situações, frequen-temente o enfermeiro faz o exame em pé.

A essa situação, descrita e vivenciada por mui-tos enfermeiros que labutam nos locais mais distan-tes das sedes municipais, os gestores não estão sensí-veis, nem dispostos a promover melhorias. Conside-ram, apenas, o atendimento de qualidade para o paci-ente e não se preocupam com as condições de traba-lho do profissional38. Daí a necessidade de realizar

estudos sobre os aspectos ergonômicos não só em hospitais, mas também em UBF, pois nesse contexto só foram encontrados dois artigos32,38.

Entre os riscos ergonômicos destacam-se os riscos psicossociais que são desencadeados pelo contato com o sofrimento do paciente15. Alguns agentes estressores são:

o rígido controle do tempo; forma como o setor é organi-zado; falta de materiais e equipamentos adequados; con-flitos nos relacionamentos entre os membros da equipe; estado crítico de saúde do paciente; dupla jornada de tra-balho (decorrência também da má remuneração), a que tanto homens como mulheres estão expostos, e trabalho nos finais de semana e feriados13,15-19,39.

Além disso, os trabalhadores de enfermagem apresentam sentimentos de desvalorização por parte

das chefias, o que os leva ao desânimo, desinteresse, fadiga e a uma relação desumanizada com o pacien-te16,29,31,32,40,41.

Os profissionais de enfermagem vivenciam si-tuações de risco cotidianamente, deixando de se pro-teger, deixando de se cuidar, como se isso fosse uma atitude natural, essencial para o exercício de uma pro-fissão cujo objeto é a prática do cuidar40. Observa-se

que, muitas vezes, a atenção da equipe no ambiente de trabalho concentra-se no cuidar, mas no cuidar apenas dos outros.

Na ESF encontram-se também riscos psicossociais. Muitos que trabalham nesse tipo de atendimento passam a semana no local de trabalho, ficando distante da família e do seu ciclo social. As pressões sofridas pelos profissio-nais não advêm apenas das chefias, mas da própria clien-tela, que não entende essa nova proposta de assistência à saúde e ainda prefere os modelos curativos ao enfoque preventivo. A natureza do fator psicossocial é complexa e envolve questões relativas ao indivíduo (personalida-de), ao ambiente de trabalho (demandas e controle sobre a tarefa) e ao ambiente social (fatores culturais)41.

Riscos de Acidentes

Acidente de trabalho é aquele que ocorre em fun-ção do exercício do trabalho a serviço da instituifun-ção empregadora, provocando lesão corporal ou perturba-ção funcional que cause a morte, ou perda ou reduperturba-ção permanente ou temporária da capacidade para o traba-lho; sendo acidente típico aquele que ocorre no local de trabalho e durante o exercício do mesmo3.

Dos acidentes com trabalhadores de enferma-gem pode-se enumerar os gerados por más condições de trabalho, cargas no desenvolvimento do processo de trabalho, desconhecimento de medidas preventi-vas, em especial os acidentes provocados pelos mate-riais perfurocortantes, expondo a riscos biológicos como relatado7,9,11,14;23-28,30,34,39.

Os trabalhadores da ESF estão sujeitos a riscos de acidente, tanto típico quanto de trajeto. Esses pro-fissionais podem sofrer acidentes com material perfurocortante, ao realizar procedimentos como va-cinas, injeções e retirada de pontos; ao acidente de trajeto, ao se deslocarem diariamente para o distrito em que trabalham, viajando por veredas e estradas sem sinalização e estrutura viária. Deslocam-se em veículos velhos, enferrujados, com pneus gastos pelo uso, bancos soltos, sem cintos de segurança e, fre-quentemente, com excesso de lotação.

É importante destacar, ainda, que muitos pro-fissionais têm contrato temporário, isto é, não têm vínculo empregatício de acordo com a CLT, não ten-do os direitos reconheciten-dos em casos de acidentes de trabalho, sendo esse um grande fator estressor para os enfermeiros atuantes na ESF42.

(5)

C

ONCLUSÃO

D

iante da magnitude

dos problemas

decorren-tes da falta de biossegurança no campo de trabalho do enfermeiro, ainda são poucos os estudos que bus-cam conhecer com maior profundidade a temática. E, embora tenham sido identificados estudos abran-gendo os tipos de riscos a que estão sujeitos os profis-sionais de enfermagem, mesmo esses trabalhos ainda desenvolvem o tema de forma incipiente, direcionando os objetivos na perspectiva de explorar e descrever os cenários onde os problemas ocorrem.

Para avançar no conhecimento sobre riscos ocupacionais no trabalho de enfermagem e ter condi-ções de apresentar evidências sobre estes riscos, deve-mos aprofundar estudos com bases estatísticas sólidas, de modo a oferecer aos enfermeiros e demais membros da equipe de saúde informações que levem ao autocuidado e à capacidade de reivindicar melhores condições de trabalho e qualidade de vida profissional.

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Referências

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