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As transformações do Diário do Rio de Janeiro no contexto político e social do Império. Laiz Perrut Marendino*

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Academic year: 2021

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As transformações do Diário do Rio de Janeiro no contexto político e social do Império.

Laiz Perrut Marendino*

“[...]Até aqui tinha se o Diário abstido de questões políticas; do principio do anno em diante consagraremos algumas columnas a esse importante objeto. Não impedirá isso que registremos em nossas páginas o que de mais importante ocorrer nos paizes estrangeiros;[...]”1

Diário do Rio de Janeiro, 2 de Janeiro de 1845 Com estas palavras, depois de 24 anos de existência, o primeiro jornal diário sinaliza a mudança das diretrizes do periódico. O Diário até então havia se esquivado de questões políticas, sendo um jornal marcadamente informativo, trazendo apenas notícias oficiais dos acontecimentos políticos do senado, da câmara e do Império de maneira geral. Nesse momento, o redator anuncia que passará a contar com colunas de opinião sobre os temas.

O jornal é sempre uma fonte muito rica para aqueles que estudam a história do Brasil no século XIX, contudo, pretendemos tratar o jornal como objeto e fonte, ao mesmo tempo. Desta forma, ao buscar a bibliografia especializada sobre o tema, percebemos que ainda há lacunas variadas, o que possibilita uma gama de novos trabalhos no campo que mescla a história da imprensa e a história política do século XIX.

Os anos iniciais do Diário do Rio de Janeiro, ainda são pouco estudados; a partir do período Regencial e, para os anos seguintes, é lembrado como um dos principais veículos de propagação de uma literatura nacional2 e espaço de debates entre os homens de letras do período, como José de Alencar, que chegou a ser editor chefe. Nesta sua “segunda fase”, tornou-se referência pela publicação de folhetins de sucesso, de autores nacionais e estrangeiros, e também de artigos literários.

Fundado por ZefferinoVito de Meirelles, português vindo de Lisboa, o Diário, saía à luz pela primeira vez no dia 1º de junho de 1821, permaneceu sob o comando de Meirelles, que foi, ainda, seu primeiro redator, até o ano seguinte, quando faleceu. Seu substituto foi

* Aluna de mestrado no Programa de pós-graduação em História da UFJF. A aluna é bolsista CAPES.

1Diário do Rio de Janeiro. Edição: 001, 2 de Janeiro de 1845. Rio de Janeiro. Microfilmes sob a guarda da Biblioteca Nacional, disponíveis on-line pelo site: http://hemerotecadigital.bn.br/

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Antônio Maria Jourdan.3 O jornal foi dirigido por ele durante os anos seguintes, anos nos quais o periódico se consolidou conforme as propostas editoriais criadas por Zefferino Meirelles4.

Na primeira edição, o redator enfatizou que o jornal seria marcadamente informativo – com “anúncios ou notícias particulares (que convenham e sejam licito imprimir), inclusive os

dos Divertimentos e Espetáculos Públicos”5. Até às oito e meia da noite o jornal sairia a

público, e para tanto, como nos explica o próprio fundador, aqueles que quisessem publicar anúncios ou notícias no jornal, deveriam depositar o seu texto “na Caixa que estará exposta ao público na Loja de Livros de Manoel Joaquim da Silva Porto”.6

O jornal conservou-se nesta diretriz, publicando anúncios variados como de compra, venda ou aluguel de escravos, os navios que estavam para partir e ofereciam-se para levar cargas e passageiros, bem como notícias a respeito de publicações diversas.

Ao largo dessa conjuntura, foram editados muitos diários e pasquins deliberadamente criados para a propaganda política das correntes, ou facções políticas então existentes. Contudo, O Diário do Rio de Janeiro escapou a tais discussões até por volta de 1845, embora desde seus primeiros anos, mesmo que timidamente, já tenha incorporado o noticiário oficial (extratos de debates ocorridos no senado, na câmara, etc.) e notícias de conflitos, guerras nos países estrangeiros, entre outras notícias políticas.

Nos chamados “periódicos doutrinários”, cujos assuntos apresentavam caráter diretamente político, as matérias traziam à tona a opinião explícita de seus redatores acerca dos episódios ocorridos,7 ainda que muitas vezes anônimos, o que não acontecia no caso do

Diário, onde essas opiniões não estão claramente colocadas.

Uma edição avulsa do Diário custava em torno de 40 réis diários ou 640 réis mensais, na época de sua fundação. Seu preço permaneceu o mesmo até a primeira edição de 1830,

3Jourdan foi redator no jornal de São Joao Del rei e se viu envolvido num processo de injuria. Sobre o tema ver VELLASCO, Ivan de Andrade.; OLIVEIRA, Gabriel Nicolau. Clientelismo e Patronagem: Redes de Influência medindo forças através da Justiça.

4Zeferino Vito de Meirelles. “Plano para estabelecimento de um útil e curioso Diário nesta cidade”. Diário do Rio de Janeiro, nº 1, 1º de Junho de 1821.

5 Idem.

6 Segundo Sacramento Blake, Manoel Joaquim da Silva Porto, comerciante das letras, de nacionalidade

portuguesa que se fixou no Brasil com sua oficina tipográfica.

7BASILE, Marcello Otávio Néri de Campos. O Império em Construção: projetos de Brasil e ação política na Corte Regencial. Rio de Janeiro, 2004 [Tese de Doutorado]. Instituto de Filosofia e Ciências sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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quando passa a custar 60 réis diários e sua assinatura 800 réis mensais. Enquanto os demais jornais de grande circulação custavam cerca de 100 réis no início da década de 1830. Após essa data, e até a última edição do ano de 1839, a subscrição do periódico custava 800 réis mensal e 9:600 reis ao ano. Já em 1840 o preço sofre uma alteração, segundo consta em sua primeira edição, devido à mudança no formato, vem a custar 1 conto de reis por mês e 12 contos de réis por ano, preço que permaneceu o mesmo até pelo menos 1854. Para os demais ano de sua existência ainda precisamos de mais pesquisa, que se dará com o andamento de nossas pesquisas.

Tudo isso levou-me à conclusão inicial de que o Diário, ao menos até 1845, se constituía, como um verdadeiro mosaico das informações consideradas úteis ao público leitor. Sua função de painel informativo ganha ainda mais sentido ao notarmos que seus valores de subscrição e compra avulsa eram baixos, quando comparados aos de seus congêneres, o que fomentou o aparecimento dos apelidos “Diário da manteiga”8 (por seu valor ser igual ao de uma porção do produto) e “Diários do vintém”. Os dados disponíveis em suas páginas (principalmente os preços baixos, inalterados por vários anos e a quantidade de anúncios que o jornal publicava) sinalizam o maior alcance potencial em número de exemplares vendidos, deste periódico, em relação a seus concorrentes.

Além de seu conteúdo altamente informativo, (contando com diversos anúncios de compra, venda, aluguéis, obras publicadas, notícias do interior e do exterior) a partir de fins da década de 30 o Diário do Rio de Janeiro começa a veicular textos de cunho literários.

Voltando à citação que abre este projeto, vemos que naquele ano de 1845 o jornal passa por uma grande ampliação, em todos os sentidos - de formato, a inclusão de temáticas políticas assim como a adoção de uma coluna sobre notícias do de países do outro lado do atlântico, como Inglaterra, França, Rússia, Espanha9, além de notícias de diversas publicações que saiam à luz, tanto livros, revistas e jornais de todos os tipos, e contavam, inclusive, com um representante em Lisboa.

8 SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 59

9Sobre estas mudanças no tipo de publicações ver, entre outros, as edições do Diário do Rio de Janeiro dos meses de Janeiro à Março de 1839..

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Em 1855, o jornal se encontra em meio a uma crise financeira e, na ocasião, é comprado pelo escritor José Martiniano de Alencar e um grupo de amigos10. No ano seguinte, 1856, José de Alencar torna-se seu editor chefe. A partir desse ano parte de suas páginas (normalmente o final da primeira página de cada edição) eram destinadas aos textos de cunho literários, os conhecidos “folhetins”. Nesses espaços diversos autores, que mais tarde viriam a se tornar escritores reconhecidos em todo o Brasil, tinham espaço para escrever seus romances, contos e crônicas, como o próprio editor chefe e Machado de Assis. Este, colaborou para a redação do Diário entre os anos de 1860 e 1867, anos estes que a redação do periódico era chefiada por Saldanha Marinho, até 1866, e depois por Quintino Bocaiúva11.

Os anos entre 1858 e 1860, foram especialmente complicados para a Empresa do “Diário do Rio de Janeiro”, tanto a tipográfica quanto o jornal. Em 10 de dezembro de 185812 saí às ruas sua última publicação e só reaparece em 16 de dezembro do mesmo ano com o nome de “O Velho Diário do Rio de Janeiro”13. Já em sua primeira página, desta edição, traz o esclarecimento dos fatos que levaram à falência do Jornal. Seu redator chefe na época, Luiz Antônio Navarro de Andrade, expõem que, o jornal sofria perseguições do Ministério, que, segundo ele, “por felicidade da paz e de suas instituições jaz hoje na eternidade, condenado

por todos e até por aqueles que lhes prestaram apoio”. Afirma ainda que, “O ex-ministro da

fazenda, que se denomina progressista, levou o rancor ao ponto de hostilizar-nos só porque fazíamos oposição franca e decidida à sua fatal administração”.14 Ao que tudo indica, pelos exemplares que temos, o Diário volta à circulação, efetivamente, em março de 1860, já sob chefia de Saldanha Marinho.

Em 1867 é vendido, novamente, e seu proprietário passa a ser Sebastião Gomes da Silva Belfort, sabemos ainda, de acordo com o dicionário escrito por Sacramento Blake, que o jornal contava com cinco redatores nessa época, um deles era Caetano Alves de Sousa filgueiras.15 Finalmente, em 31 de outubro de 1878, sob a chefia da redação de Augusto de

10 FARACO. Carlos Alberto. Em http://www.culturabrasil.org/josedealencar.htm

11 Diário do Rio de Janeiro. Leitura dos anos de 1855 - 1867. Rio de Janeiro. Microfilmes sob a guarda da Biblioteca Nacional, disponíveis on-line pelo site: http://hemerotecadigital.bn.br/

12Idem. Edição: 328, 10 de Dezembro de 1858. 13 Ibdem. Edição: S/N, 16 de Dezembro de 1858. 14

Ibdem.

15BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1883-1902. Disponível em: <http://www.ieb.usp.br/online/index.asp>

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Carvalho16 saí á luz sua última edição, com promessa que não seria ressuscitado mais uma vez. Sua Tipografia para a se chamar “Imprensa do Jornal do Povo” e ainda nessa última publicação indica que seus leitores acompanhem as publicações do novo “Jornal do Povo”.

Portanto, diante de todo o exposto, a presente pesquisa pretende analisar a transformação do Diário do Rio de Janeiro de “diário da manteiga”, de jornal de anúncios, para um dos principais veículos de discussão do “fardo dos homens de letras”17 e, também, ou principalmente, como locus para o debate político. Propomos, para essa pesquisa, que o

Diário do Rio de Janeiro seja lido como um fio condutor para analisar as práticas políticas e a cultura política do universo destes literatos e políticos, homens de letras que trabalhavam na

imprensa (homens que muitas vezes são funcionários públicos, como forma de se manter, escrevem para a imprensa e que, também, se envolvem na cena política de sua época) até o final da década de 1870. Isso incorre, claro está, em tratar o jornal como uma fonte e, simultaneamente, objeto de pesquisa, o que permite compreender como funcionavam estes

espaços de sociabilidades e como esta cultura política se articulava ao exercício da

imprensa.18

Sendo assim,temos dois pontos de vista para tratar o periódico: um que incorporou o discurso da obra de Nelson Werneck, uma historiografia clássica e, por outro lado, uma segunda “geração” de autores com novos e pequenos estudos que acreditam que seu caráter não era meramente informativo, e se o era, em determinada época, como esse mosaico de informações contribuíam para a “instrução” e “construção” de uma cultura política19.

O papel do Diário do Rio de Janeiro no debate em torno da identidade nacional, ou de constituição de uma literatura nacional já foi objeto de estudos na teoria literária. Pelas suas páginas, diversos homens de letras que ganhariam fama, escreviam e discutiam sobre o que deveria ser a literatura, o papel do romance e sobre uma nova maneira de escrever – os

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Diário do Rio de Janeiro. Edição: 205, 31 de Outubro de 1878. Rio de Janeiro. Microfilmes sob a guarda da Biblioteca Nacional, disponíveis on-line pelo site: http://hemerotecadigital.bn.br/

17 Expressão utilizada por Jefferson Cano em: CANO, Jefferson.

O FARDO DOS HOMENS DE LETRAS: o “orbe literário” e a construção do império brasileiro. Tese de doutorado história social. Campinas: Unicamp, 2001.

18 Para essas discussões recorro aos escritos de Pilar Bernal e Marco Morel, no que tange à sociabilidades e para o conceito de Culturas Políticas me atenho, principalmente, aos estudos de Serge Berstein. Explicaremos com mais detalhes a utilização desses conceitos e a ligação com as nossas pesquisas na parte em que falamos da metodologia.

19 PIRES, Myriam Paula Barbosa. Impressão, sociabilidades e poder: três faces da tipografia do Diário na corte do Rio de Janeiro (1821 – 1831). Rio de Janeiro, 2008 Dissertação de Mestrado

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folhetins20. Ainda nos falta, contudo, uma análise mais detalhada da atuação deste jornal (dos seus redatores, colaboradores, anunciantes) para a “instrução política” e para o compartilhar de uma cultura política e esse é o propósito de nossas pesquisas futuras.

Referências Bibliográficas: Fontes:

Periódicos disponíveis on line na Hermeroteca Digital da Biblioteca Nacional disponível em: <http://hemerotecadigital.bn.br/>

Dicionários:

BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Biográfico Brasileiro. Rio de

Janeiro: Tipografia Nacional, 1883-1902. Disponível em:

<http://www.ieb.usp.br/online/index.asp> Bibliografia:

BASILE, Marcello Otávio Néri de Campos. O Império em Construção: projetos de Brasil

e ação política na Corte Regencial. Rio de Janeiro, 2004 [Tese de Doutorado]. Instituto de

Filosofia e Ciências sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

BASILE, Marcello Otávio Néri de Campos. Projetos de Brasil e construção nacional na

imprensa fluminense (1831-1835). In: Lúcia Maria Bastos P. das Neves; Marco Morel; e

Tânia Maria Bessone da C. Ferreira. (Org.). História da imprensa: representações culturais

e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

FERREIRA, Tania Maria Bessone da Cruz. História e Imprensa: Representações culturais

e práticas de poder. Rio de Janeiro: DPA, 2006.;

MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: Imprensa, atores políticos e

sociabilidades na cidade Imperial (1820 - 1840). São Paulo: Hucitec, 2005.

PIRES, Myriam Paula Barbosa. Impressão, sociabilidades e poder: três faces da tipografia

do Diário na corte do Rio de Janeiro (1821 – 1831). Rio de Janeiro, 2008Dissertação de

Mestrado

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

20Segundo Jefferson Cano, desde o aparecimento dos folhetins nos jornais cariocas, a ideia de valorizar a cultura brasileira já estava presente e sua função era a de “construção” da imagem da nação, principalmente pela diferenciação do “velho mundo”. Assim, nacionalizava um gênero literário de origem europeu, trazendo temas, culturas e paisagens tipicamente brasileiras. CANO, Jefferson .Nação e ficção no Brasil do século XIX. História Social (UNICAMP), v. 23-23, p. 19-39, 2013.

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Referências

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