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Exercícios de suspensão

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Academic year: 2021

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CRÍTICA

Exercícios de

suspensão

NUNO CRESPO 27/03/2015 - 01:25

Uma exposição intrigante, cheia de insinuações, no regresso de Luísa Cunha à Galeria Miguel Nabinho

Artes

A Bit of Matter and a Little Bit More

Contemplar o horizonte marítimo é contemplar uma grandeza que a nossa vista nunca poderá alcançar, parecem sugerir as imagens de Luísa Cunha na sua nova exposição

TÓPICOS

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A actividade artística de Luísa Cunha tem conhecido muitas variações materiais. Interessa-lhe explorar muitas matérias, porque essa diversidade material

corresponde a diferentes

modalidades expressivas. Uma característica de tal modo forte que nunca se sabe bem o esperar da suas exposições: podem ser fotografias, vídeos, desenhos, pinturas ou peças sonoras. No entanto, há dois elementos

comuns, a saber: a maneira como inscreve a linguagem no corpo das obras ou nos seus títulos, e uma certa ideia de absurdo que diz respeito à forma como esta artista lida (alterando, invertendo,

desrespeitando) com os protocolos da experiência das obras de arte e com todas as expectativas

existentes sobre o que é e o que deve dizer uma obra de arte. E é a partir destas duas ideias que

podemos entender a sua nova exposição na Galeria Miguel Nabinho, A Bit of Matter and a

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A Bit of Matter and a Little Bit More

Artista(s): Luisa Cunha


Lisboa. Galeria Miguel Nabinho. Rua Tenente Ferreira Durão, 18B. T. 213830834. Até 9/5. 3ª a Sáb das 14h às 20h.

No seu conjunto, nesta nova exposição a relação com o mar parece ser o denominador comum, mas não se trata tanto do mar (ou do rio, num dos casos) e sim de um confronto com o vazio e o

indeterminado que o mar convoca. Contemplar o horizonte marítimo é contemplar uma grandeza que a nossa vista nunca poderá alcançar, ou seja, trata-se da experiência de inadequação do nosso aparelho sensível à grandeza do mundo. Dar-se conta desta inadequação

significa uma particular

compreensão da nossa finitude originária, uma consciência

importante para esta artista e que muitas vezes surge tematizada em

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obras cujo coração é formado pela tentativa de dizer o mundo e não o conseguir. Uma impotência

significativa, porque não só apresenta os limites da nossa linguagem, mas revela

simultaneamente a irresistível vocação humana de ultrapassar a linguagem possível e seguir em direcção a um qualquer

incondicionado, isto é, tentar dizer o que não se deixa dizer. 

Esta parece ser a situação da escultura sonora FRYDM! Uma caixa de cartão colocada no centro da sala que repete,

ininterruptamente, o que nos parece ser a palavra

“freedom” (liberdade) e a repetição contínua (em loop) colocam-nos na situação poética de encontrar o sentido no dizer da palavra, no seu ritmo e na sua matéria sonora. Mas este dizer não se destina a

aprisionar, isto é, a cristalizar e a fixar a palavra, porque a partir de determinado momento é-se

lançado para lá da palavra, da voz e do dizer e só se tem acesso à subtil vibração do ar. Trata-se de um movimento, muito importante no trabalho desta artista, de

espacialização da linguagem, do sentido e, claro, da arte. 

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Mas estas não são peças

existenciais ou metafísicas e, tal como sugerido pelo título de uma das obras “It is what it is”, estas obras são o que são, tudo está à vista, sem segredos escondidos e sem exigir uma interpretação destinada à descoberta de

significados ocultos. O título desta série de fotografias não significa uma tautologia vazia, mas a consciência de que, como diz

Hofmannsthal, é preciso esconder a profundidade mas que o único

esconderijo possível é a própria superfície. Uma equivalência entre superfície e profundidade que não corresponde a uma retórica

estética, mas faz da reunião do concreto e do abstracto um programa artístico. Por isso, a simplicidade dos gestos desta artista não é vazia; antes faz da obra de arte o lugar de encontro entre as dimensões aparentemente inconciliáveis dos conceitos e das ideias com as coisas materiais e sensíveis do mundo.

Trata-se de uma exposição

intrigante, cheia de insinuações, e muito atmosférica. A peça sonora imprime qualidades espaciais importantes e, depois, as fotografias sugerem acções/

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Na realidade, são foto-acções em que as personagens parecem estar no início de uma acção a ser

revelada pela sequência de

imagens, mas depois a acção não se resolve. Fica tudo numa tensão pairante e num estado

contemplativo. Este estado de não-resolução sugere uma particular apresentação da arte enquanto exercício de equilíbrio feito por um funâmbulo que, concentrada e esforçadamente, caminha em cima de um cabo estendido sobre um abismo. Um andar que implica uma infinitude de pequenos

ajustamentos — a condição do poder andar. A obra de Luísa Cunha está nesta situação de caminhar sobre o abismo da possibilidade de ainda podermos dizer a linguagem.

Referências

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