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AS AVES DO AMBIENTE COSTEIRO DO BRASIL: BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO.

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AS AVES DO AMBIENTE COSTEIRO DO BRASIL:

BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO.

Carolus Maria Vooren e Luciano Ferreira Brusque

Fundação Universidade Federal de Rio Grande Departamento de Oceanografia

Laboratório de Elasmobrânquios e Aves Marinhas

Rio Grande, RS Agosto de 1999

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SUMÁRIO

Capítulo 1: Introdução 4

Capítulo 2: O Ambiente Costeiro: Geografia, Geomorfologia e Hidrografia 7

Introdução 7

A Região Subtropical 8

A Região Tropical Sul 8

A Região Equatorial 9

As Ilhas Oceânicas 9

Capítulo 3: Biodiversidade e Status das Espécies 10

Biodiversidade em geral 10

"Status" das espécies 11

As espécies: ocorrência, migração e nidificação 12

Nidificação nas ilhas oceânicas 13

Nidificação em ilhas costeiras 13

Nidificação na costa continental e no interior 14

Os migrantes costeiros: os Charadrii do norte 16

Os migrantes costeiros: os Charadrii do sul 17

Os migrantes costeiros: os Lari do norte 18

Os migrantes costeiros: os Lari do sul 19

Os migrantes pelágicos do sul: albatrozes e petréis 19

Albatrozes e petréis do sul: os migrantes de inverno 21

Albatrozes e petréis do sul: a fauna de Tristão da Cunha e Gough 21

O caso de Diomedea exulans 22

Os migrantes pelágicos do sul: Spheniscus magellanicus 22

Capítulo 4: A Variação da Biodiversidade no Espaço 23

Os tipos de habitat 23

Grupos taxonômicos e habitats 23

Interrelações entre tipos de habitat, e entre regiões geográficas 24

Variação regional da biodiversidade 25

Áreas secundárias de invernagem para as aves costeiras neárticas 26

Capítulo 5: O Impacto Humano sobre as Aves Marinhas e Costeiras 27

Introdução 27

Interferência humana em ilhas 27

A presença humana nas praias e as aves costeiras neárticas 29

A presença humana nas praias e os Laridae, Sternidae e Rhynchopidae 31

A captura acidental de albatrozes e petréis na pesca com espinhel 32

As aves marinhas e costeiras e a poluição por óleo 34

As aves marinhas e a poluição por plásticos 35

As aves marinhas e a poluição ambiental por hidrocarbonetos halogenados 36

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Capítulo 6: As Unidades de Conservação no Ambiente Costeiro do Brasil 37 Bibliografia citada 40

Tabelas (anexo)

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CAPÍTULO 1

Introdução

Uma grande gaivota apareceu, e pousou na coluna de papiro da proa. O pato, que estava tomando ar ao lado do galinheiro, afugentou-a. A gaivota levantou vôo. Logo vimo-nos cercados por todo um bando. As aves do mar gritaram, e as galinhas cacarejaram dentro da gaiola que era para nós a mesa de jantar.

"Eu sei o que aquela gaivota foi contar para as outras", disse Carlo. "Ela disse que ela tinha achado um ninho de pássaro, boiando em frente do Cabo Juby".

Assim descreve Thor Heyerdahl (1971) uma cena da sua primeira viagem transatlântica num barco egípcio de papiro no ano de 1969. No século 19, passageiros e marujos das caravelas inglesas costumam afastar o tédio da viagem com o tiro aos albatrozes, pescando-os também com anzóis, e aproveitando a caça para vários fins: os pés, para bolsa para guardar fumo; os ossos da asa, para cabo de cachimbo; o bico, para prendedor de papéis; a plumagem, para artigos de vestido; e o ovo eventualmente encontrado na ave, para uma bem-vinda variação do cardápio de bordo (Medway, 1998). No ano de 1970, Rodolfo Escalante reside num edifício na orla marítima da cidade de Montevidéu, e escreve sobre a gaivota Larus dominicanus da costa do Uruguai: "Esta formosa gaivota é a mais abundante e de permanente presença em toda a extensão da costa. Seu vôo é direto, avançando velozmente pelo espaço graças a poderosas e compassadas batidas de asa. Quando há forte vento, se vê ela planar e outras deslocar-se horizontalmente ou permanecer imóveis enfrentando a brisa a dez ou mais metros de altura, aproveitando as correntes de ar que batem em objetos elevados, sejam estes altas encostas ou edifícios de vários pisos próximos ao mar...É sobretudo um formidável consumidor de desperdícios, um verdadeiro lixeiro das praias e das águas vizinhas...Nos seus lugares de nidificação o homem recolhe grande quantidade de ovos que são logo utilizados em diversas maneiras para sua alimentação" (Escalante, 1970a). Durante sua viagem marítima ao redor mundo pelos recantos insulares do Commonwealth, a bordo do Royal Yacht "Britannia" nos anos de 1956 a 1959, Sua Alteza Real Príncipe Philip, Conde de Edimburgo, realiza um projeto de fotografia de aves marinhas, o que resulta num livro (Philip, 1962). Na Introdução do livro, o Conde explica: "Creio que até aquele momento, eu nunca na minha vida tinha deliberadamente fotografado uma ave. Minha ignorância de aves era sublime: quando pressionado, eu teria admitido que, fora as aves de caça mais óbvias, as outras vinham em três categorias: pardais, gaivotas, e patos". Com estas referências a gaivotas e albatrozes, fica demonstrado que as aves marinhas fazem parte do mundo vivenciado pelo ser humano em geral. O grito da gaivota é ingrediente típico da sonoplastia que acompanha cenas marítimas nos filmes de cinema, e faz o ser humano relembrar seus dias de mar e praia.

Ovos dos albatrozes da Ilha de Laysan, no Oceano Pacífico, são colhidos como matéria-prima para a produção industrial de albumina, e 300 000 aves adultas foram abatidas no ano de 1909 para o comércio de penas (Ziswiler, 1967). A pequena população humana que existia até o ano de 1930 na Ilha de São Kilda, no Oceano Atlântico frente à Escócia, comia

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principalmente aves marinhas e seus ovos, e a colheita de ninhegos do petrel Fulmarus glacialoides no mês de agosto era essencial para a sobrevivência durante o resto do ano. As aves eram depenadas, evisceradas e salgadas em barris (Steel, 1975). Nas Ilhas Faroe, a colheita anual de alcas de duas espécies foi em torno de 300 000 aves e 500 000 ovos na década de 1960. A alca-gigante Alca impennis do Atlântico Norte tornou-se extinta no ano de 1850, pela caça e pela colheita dos ovos (Ziswiler, 1967). A presença de aves no oceano ajuda o pescador a localizar os cardumes de atuns (Chiaradia, 1991). No Brasil, o biguá Phalacrocorax olivaceus foi considerado como praga, alegando-se que esta ave comia os peixes cobiçados pelos pescadores (Teschauer, 1925). O maçarico Calidris canutus rufa nidifica na tundra do Ártico e migra sazonalmente para o sul pela costa atlântica dos Estados Unidos, onde grandes números desta ave foram caçados durante o século 19 para comercialização da sua carne. No ano de 1893, as aves foram vendidas no mercado da cidade de Boston pelo preço de 10 centavos a dúzia (Bent, 1962). Gaivotas nidificam em grupos, em lugares descampados onde as aves são facilmente observadas. O estudo destas aves nos seus ninhais produz avanços fundamentais no conhecimento das leis do comportamento animal (Tinbergen, 1953, 1974). Com estes exemplos, fica demonstrado o valor cultural e social das aves marinhas e costeiras. O ser humano interage com estas aves em muitas maneiras.

O bando do talha-mar Rhynchops nigra que durante o ano de 1998 pousou na desembocadura da Lagoa dos Patos, no sul do Brasil, consumiu cerca de 500 000 pequenos peixes em um ano (Naves, 1999). No mês de abril do ano de 1983, bandos do maçarico-de-peito-vermelho Calidris canutus alimentaram-se intensamente na zona de varrido da costa do Rio Grande do Sul, com densidade média de uma ave por sete metros de extensão de costa (Vooren & Chiaradia, 1990). As populações de aves marinhas e costeiras são importantes elementos na dinâmica dos ecossistemas onde elas vivem.

Todos estes fatos são motivos para a conservação das aves marinhas e costeiras, no sentido de resguardar a existência das espécies e das suas populações. Esta conclusão justifica o presente estudo, que tem como objetivo, a revisão das aves marinhas e costeiras como componentes da biodiversidade do Brasil.

Os dados foram levantados mediante consulta da bibliografia citada, a qual inclui livros, revistas técnicas, resumos de congressos, e relatórios de pesquisa com distribuição restrita. Comunicações pessoais também são citadas. Nas Tabelas 5 e 9 são lançados os dados básicos sobre a distribuição espacial de cada espécie, sobre o tipo de habitat onde esta ocorre, e sobre seu status como ave que nidifica no país ou que ocorre esporadicamente ou como migrante sazonal. As fontes consultadas na elaboração das Tabelas 1 e 5 são marcadas com asterisco na listagem da bibliografia citada. As Tabelas 2, 6, 7, 8, 10, e 12 a 16 foram elaboradas mediante o rearranjo dos dados que constam nas Tabelas 1 e 5. As posições das ilhas oceânicas e costeiras que constam nos mapas (Fig. 1 a 12 ) e na Tabela 9, e os dados fisiográficos da costa continental e das ilhas oceânicas que constam no texto, foram encontrados em publicações da Marinha do Brasil (1976, 1977a, 1977b, 1977c 1984, 1989, 1992) e em Spina (1997, 1998).

As aves consideradas na presente revisão são aquelas que alimentam-se habitualmente de animais aquáticos e/ou de invertebrados da epifauna e

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infauna da zona litoral. Aves que comem restos animais na praia, ou que praticam cleptoparasitismo sobre outras aves do ambiente costeiro são também incluídas. No Brasil não existem aves da Ordem Passeriformes que vivam exclusivamente desta maneira. Aves desta Ordem não ocorrem habitualmente em praias (por exemplo, Chiaradia & Vooren, 1990), mas algumas espécies foram avistadas em manguezais. No canal de Santa Cruz, uma paisagem estuarina com praia e manguezal na costa do estado de Pernambuco, Azevedo Júnior (1993) registrou nos anos de 1987 a 1989 o total de 47 espécies de aves, entre estas, seis Passeriformes. Conirostrum bicolor, da Subfamília Thraupinae, ocorreu no mangue, que é seu habitat usual (Sick, 1997). A ocorrência das outras cinco espécies tais como, andorinhas que sobrevoam a praia e manguezal, é interpretada como um transbordar para fora dos seus habitats interioranos, adjacentes ao manguezal. Para evitar a dificuldade de decidir sobre a inclusão, ou não, de espécies com este tipo de ocorrência no ambiente costeiro, as aves Passeriformes não foram incluídas na presente revisão.

Os nomes comuns das aves são segundo Sick (1997). A nomenclatura científica das aves é segundo Sick (1997) e, para as espécies que alí não constam, segundo Harrison (1989) e Hayman et al. (1986), mas Phalacrocorax olivaceus e as espécies do gênero Catharacta são citadas segundo Harrison (1983), e Procellaria conspicillata segundo Ryan (1998). As entradas na lista das espécies de aves registradas no ambiente marinho e costeiro do Brasil (Tabelas 1 e 5) incluem taxa a nível de sub-espécie. De várias espécies que ocorrem no país, duas sub-espécies foram registradas. Isto é o caso com Calonectris diomedea (sub-espécies borealis e edwardsii), Numenius phaeopus espécies phaeopus e hudsonicus), e Himantopus himantopus (sub-espécies mexicanus e melanurus). Estas sub-(sub-espécies são listadas separadamente na Tabela 1. Para o gênero Catharacta, Sick (1997) reúne todas as populações dos hemisférios norte e sul na única espécie skua. Harrison (1989) reserva este nome para as populações boreais, e reconhece três espécies austrais: chilensis, maccormicki e antarctica. A identificação em campo destas três espécies é difícil e muitas ocorrências no Brasil das formas austrais de Catharacta são registradas na literatura como skua. Registros de Catharacta skua durante o inverno austral são interpretados como ocorrências das formas austrais. Tais registros constam nas Tabelas 1 e 5 como Catharacta sp., como referência à provável ocorrência de maccormicki e/ou antarctica. A ocorrência de Catharacta chilensis no Brasil é documentada por um exemplar coletado (Vooren, não publicado). O número total de 148 "espécies" de aves no ambiente costeiro do Brasil, citado nas tabelas e no presente texto, deve ser interpretado de acordo com as considerações supracitadas. Este número inclui seis sub-espécies de três espécies, e caso a ocorrência habitual tanto de Catharacta maccormicki como de Catharacta antarctica for comprovada, o número total de "espécies" aumentará para 149, e o número de "espécies" com ocorrência habitual, de 111 para 112. A ocorrência de Anous tenuirostris nas Ilhas Martin Vaz (Luigi & Nacinovic, 1997) é aqui tratada como registro de Anous minutus, que é citada por Harrison (1989) como uma espécie distinta, embora minutus é considerado por alguns como sub-espécie de tenuirostris que segundo Harrison (1989) é restrita ao Oceano Índico. Oliveira Pinto (1964) e Harrison (1989) citam a sub-espécie Sterna albifrons antillarum, mas Sick (1997) cita este taxon como a espécie

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Sterna antillarum. O registro de Sterna albifrons no Atol das Rocas (Azevedo Júnior, 1992b) é interpretado como ocorrência de Sterna antillarum.

As aves do Brasil vêm sendo estudadas desde o século XVI (Oliveira Pinto, 1979). No ano de 1925, Teschauer escreve que "o Brasil, segundo o estado actual da sciencia, aloja não menos de 1680 espécies". Setenta e dois anos mais tarde, o mesmo número de espécies consta no índice da revisão das aves do país, elaborado por Sick (1997). Nos seus aspectos faunísticos, as aves do Brasil são bem conhecidas, inclusive as aves marinhas e costeiras. Importantes coleções de aves existem no Museu de Belém, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, e no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (Sick, 1997), mas informação sobre o acervo de aves marinhas e costeiras destes museus não é encontrada na literatura. A Fundação Universidade Federal de Rio Grande, na cidade de Rio Grande/RS, possui uma coleção com exemplares de 49 espécies do total das 146 espécies de aves marinhas e costeiras registradas no país. O catálogo das coleções sistemáticas de aves marinhas e costeiras do Brasil permanece como objetivo de futuros trabalhos.

CAPÍTULO 2

O Ambiente Costeiro: Geografia, Geomorfologia e Hidrografia

Introdução

A costa do Brasil estende-se sobre 39 graus de latitude, desde 05º N até 34º S, e sobre a distância de mais de 9200 km de linha real (Villwock, 1994). Esta costa, as águas litorâneas e oceânicas adjacentes, e as ilhas situadas nestas águas, constituem em conjunto o "ambiente costeiro". Neste ambiente vivem populações de aves que utilizam os recursos alimentares ali disponíveis. Estas "aves costeiras e marinhas" são o objeto da presente revisão. Existem espécies de aves que utilizam principalmente os ambientes terrestres ou aquáticos do interior do país, e que ocorrem irregularmente ou em pequenos números no ambiente costeiro. Para tais espécies de aves o ambiente costeiro não é essencial como espaço de vida, e elas não são componentes típicos e constantes do ecossistema costeiro. Estas aves não são consideradas no presente trabalho.

No ambiente costeiro existem aves que ocorrem somente no habitat emerso ou levemente alagado, outras que ocorrem somente na camada superficial das águas, e outras que utilizam ambos estes tipos de habitat. Os habitats emersos localizam-se no mesolitoral e supralitoral da costa oceânica, das lagunas costeiras, das baías e enseadas, dos estuários e das ilhas. Em termos de paisagens, estes habitats são as praias oceânicas arenosas com suas dunas frontais, o litoral rochoso, as planícies arenosas e lodosas de maré, os marismas e os manguezais. Em todos estes ambientes predomina a influência marítima em termos da salinidade da água intersticial do solo, e da energia dos ventos, das ondas e das marés que atuam sobre o solo. O ambiente costeiro emerso inclui ainda toda a área de superfície das ilhas costeiras e das ilhas oceânicas. No interior das ilhas podem existir habitats usados para nidificação ou para pouso por aves que alimentam-se no

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mesolitoral da ilha, ou no ambiente aquático ao redor.

Os habitats costeiros aquáticos são as águas das lagunas costeiras, dos estuários, das baías e enseadas e da plataforma continental, e ainda as águas oceânicas fora da plataforma até a distância de 200 milhas da costa. Esta distância corresponde com o limite da região oceânica denominada Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do país. A isóbata de 200 m é o limite externo da plataforma continental.

Para fins da descrição da biodiversidade e da distribuição espacial das aves marinhas e costeiras, a costa do Brasil é dividida nas quatro regiões descritas abaixo. Três regiões da costa continental são definidas por limites de graus de latitude (Fig. 1). Estas três regiões incluem as ilhas costeiras. A quarta região é o conjunto das ilhas oceânicas. Cada uma das quatro regiões inclui as águas adjacentes da ZEE.

A Região Subtropical

A Região Subtropical, entre as latitudes de 28º 30' S e 34º 00' S, é a costa do estado de Rio Grande do Sul e a costa sul do estado de Santa Catarina. A costa desta região é uma praia arenosa com dunas, sem reentrâncias, e estende-se sobre a distância de 770 km. Entre as numerosas lagunas costeiras (denominadas de "lagoas" nos mapas topográficos), as principais são a Lagoa dos Patos, a Lagoa Mirim, a Lagoa do Peixe, e a Lagoa de Tramandaí. As conexões entre estas lagunas e o oceano são os principais estuários, com ilhas estuarinas, marismas, pontais e bancos de areia. Ao longo desta costa, a amplitude da maré lunar é pequena, em torno de 50 cm. Na "zona de varrido", invertebrados bentônicos vivem em elevada densidade e constituem recurso alimentar para aves costeiras (Vooren & Chiaradia, 1990). O nível d'água na costa e nos estuários é determinado pelas chuvas e pelo vento. O vento do nordeste predomina ao longo do ano, e causa maré baixa. Períodos com vento do quadrante sul são frequentes no inverno e causam maré alta na praia e represamento das águas estuarinas. A Ilha dos Lobos é a única ilha costeira da região. A plataforma continental da Região Subtropical tem largura de 100 a 170 km. No inverno, a influência das águas subantárticas da Corrente das Malvinas, e das águas costeiras do Rio da Prata, estende-se sobre a plataforma continental de toda a região, enquanto águas tropicais da Corrente do Brasil ocorrem na superfície fora da plataforma. A zona de transição na margem externa da plataforma, entre as águas subantárticas e costeiras oriundas do sul, e as águas tropicais da Corrente do Brasil, constitui o limite oeste da Convergência Subtropical. Durante o verão, esta Convergência recua para o sul, e a Corrente do Brasil determina as condições hidrográficas nas águas costeiras e oceânicas da região (Garcia, 1997).

A Região Tropical Sul

A Região Tropical Sul, entre as latitudes de 06º 00' S e 28º 30' S, inclui a costa dos estados de Santa Catarina até Rio Grande do Norte. O limite sul da região corresponde com o limite austral da distribuição geográfica de feições ambientais tropicais tais como, a vegetação do manguezal, e a nidificação das aves marinhas Fregata magnificens e Sula leucogaster. A costa dos estados de Santa Catarina, metade norte de São Paulo, Rio de Janeiro, e Bahia até Rio

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Grande do Norte, inclui feições rochosas, interspersas com praias arenosas, reentrâncias, baías, sistemas lagunares e estuários. A costa dos estados de Paraná, metade sul de São Paulo, Espírito Santo e o sul da Bahia, é predominada por extensas praias arenosas. Importantes complexos de estuários, lagunas e reentrâncias existem nos estados de Santa Catarina (Lagoa do Imaruí), Paraná (região de Paranaguá), São Paulo (região de Cananéia), Rio de Janeiro (Baía de Sepetiba, Baía de Guanabara, Lagoa de Araruama), Bahia (Baía de Camamú, região de Valença, Baía de Todos os Santos), Alagoas (Lagoa de Mundaú, Lagoa Manguaba), Pernambuco (região de Itamaracá) e Paraíba (Barra do Mamanguape). As áreas abrigadas das reentrâncias e baías são orladas de manguezais. Ilhas costeiras são numerosas entre as latitudes de 20º S a 30º S. Somente para o estado de São Paulo, são catalogadas 106 ilhas, 23 ilhotas e 20 lajes (Ângelo, 1989). Não existe catálogo das ilhas costeiras dos outros estados. Somente para 41 ilhas da Região Tropical Sul existem informações sobre a avifauna. Estas ilhas são representadas nas Figs. 2, 5 a 12.

Entre as latitudes de 02º N e 20º S, a Corrente Sul-equatorial flui na direção oeste desde a África até a costa nordeste do Brasil. Ao atingir esta costa, a corrente bifurca-se em torno da latitude de 10º S, frente à costa dos estados de Pernambuco e Alagoas. O ramo Sul é a Corrente do Brasil que flui para o Sudoeste ao longo de toda a costa da Região Tropical Sul. O ramo Norte da Corrente Sul-equatorial flui na direção noroeste ao longo da costa da Região Equatorial (Raymont, 1976). A plataforma continental entre as latitudes de 24º 00' S e 28º 30' S é larga, estendendo-se até a distância entre 100 e 220 km da costa. Entre as latitudes de 22º S e 05º S a plataforma é estreita, com largura de 50 a 90 km. Na latitude de 21º S, uma série de bancos denominada Cadeia Vitória Trindade estende-se no sentido perpendicular à costa sobre a distância de 1100 km até as ilhas de Trindade e Martin Vaz. Nas latitudes de 16º 00' S a 19º 30' S existe um alargamento da plataforma, até a distância de 220 km da costa, e que inclui o Arquipélago dos Abrolhos.

A Região Equatorial

A Região Equatorial, entre as latitudes de 06º S e 05º N, inclui a costa dos estados de Rio Grande do Norte a Amapá. Nas latitudes de 03º S a 06º S, a costa dos estados de Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí é principalmente de praias arenosas. O litoral dos estados de Maranhão, Pará e Amapá, nas latitudes de 03º S a 05º N, é de manguezal com numerosas reentrâncias, e inclui o estuário do Rio Amazonas. A plataforma continental entre estas latitudes é larga, estendendo-se até 300 km da costa. Ao longo da costa do Ceará, a distância em torno de 140 km do continente, entre as posições de 39º W, 02º S e 32º W, 04º S, estende-se a cadeia dos Bancos de Ceará, que tem sua extremidade leste no Arquipélago de Fernando de Noronha. A hidrografia das águas costeiras e oceânicas é determinada pela Corrente Sul-equatorial e pelo aporte das águas da foz do Rio Amazonas.

As Ilhas Oceânicas

Seis ilhas ou arquipélagos constituem o conjunto das Ilhas Oceânicas do Brasil: Ilha da Trindade, Ilhas Martin Vaz, Arquipélago dos Abrolhos, Arquipélago de

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Fernando de Noronha, Atol das Rocas, Penedos de São Pedro e São Paulo. Na extremidade leste da Cadeia Vitória Trindade são situadas a Ilha da Trindade e as Ilhas Martin Vaz. Trindade situa-se na posição de 20º 30' S, 29º 19' W, a distância de 1150 km da costa do continente. A ilha tem maior dimensão horizontal em torno de 6 km, e altitude de 600 m. Situado 50 km ao leste desta, na posição de 20º 15' S, 28º 55' W, Martin Vaz é um grupo de três pequenas ilhas e vários rochedos, com altitude de até 175 m. Trindade é de fácil acesso, e conta com a presença permanente de um destacamento da Marinha do Brasil. As Ilhas Martin Vaz são inacessíveis e desabitadas (Marinha do Brasil, 1992). A isóbata de 4000 m é situada a distância de 20 a 30 Km da costa das ilhas. As ilhas situam-se na margem Sul da Corrente Sul-equatorial.

O Arquipélago dos Abrolhos situa-se na Região Tropical Sul, na posição de 17º 55' S, 38º 40' W, a distância de 60 km da costa do continente, e no meio da plataforma continental. Consiste de cinco ilhas, das quais a maior tem comprimento de 1560 m, largura de 250 m, e altitude de 36 m (Telles, 1998).

O Arquipélago de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas situam-se na Região Equatorial, na extremidade leste da cadeia dos Bancos do Ceará, e na extremidade oeste da Corrente Sul-equatorial. Fernando de Noronha, na posição de 03º 50' S e 32º 30' W, a distância de 360 km da costa do continente, é formado por 21 ilhas e rochedos, e tem área total de 26 km2. A ilha principal mede em torno de 7 km de comprimento e 3 km de largura, tem altitude de 323 m e conta com uma população humana permanente (Oren, 1982; PED, sem data). Na distância de 240 km da costa continental, o Atol das Rocas situa-se na posição de 03º 50' S e 33º 40' W. O Atol tem diâmetro em torno de 3 km, e na sua laguna existem duas ilhas com área de superfície de 6 ha em conjunto. Em uma destas ilhas existe um farol automático e a casa do guarda do Atol (Maia, 1994b).

Os Penedos de São Pedro e São Paulo, ultimamente chamados de "Arquipélago", é um conjunto de cinco ilhotas e quatro rochedos, situado na Região Equatorial, na posição de 00º 55' N e 29º 21' W, a distância de 986 km do continente. A maior das ilhotas tem 100 m de comprimento, 60 m de largura e altitude de 17 m, e nela existe desde o ano de 1998 uma estação de pesquisa com frequente presença humana. Ao redor dos Penedos, o fundo do mar desce abruptamente para a profundidade de 4000 m da planície abissal. Os Penedos são o pico emerso de um monte submarino situado no caminho da Corrente Sul-equatorial e na margem norte da Corrente Equatorial Submersa (Lubbock & Edwards, 1981; Brusque et al., 1998).

CAPÍTULO 3

Biodiversidade e Status das Espécies

Biodiversidade em geral

Cento e quarenta e oito espécies de aves marinhas e costeiras constituem em conjunto 8,8% do total das 1680 espécies de aves registradas por Sick (1997) para o Brasil (Tabela 1). Nove ordens e 29 famílias de aves marinhas e costeiras são representadas. Ao total das 148 espécies, três ordens contribuem em conjunto com 81% como segue: Procellariiformes (albatrozes e petréis)

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26%; Pelecaniformes (fragatas, atobás e afins) 9%; Charadriiformes-Subordem Charadrii (maçaricos, batuíras e afins) 24%; Charadriiformes-Subordem Lari (gaivotas, trinta-réis e afins) 22% (Tabela 2). Em cifras redondas, de cada uma destas ordens, entre uma quinta e uma terça parte das espécies que existem no mundo, ocorre no Brasil. Do total mundial de espécies destas três ordens, 28% ocorre no Brasil. Das famílias Diomedeidae (albatrozes), Phaetontidae (rabos-de-palha), Fregatidae (fragatas), Sulidae (atobás), Sternidae (trinta-réis) e Stercorariidae (gaivotas-rapineiras ou skuas), 46 a 100% das espécies contidas nelas, têm sido registradas no Brasil, e do total mundial das 87 espécies de Scolopacidae (maçaricos), 26% ocorre no país (Tabela 3). Estas cifras são evidência da elevada importância do Brasil com relação a conservação das aves marinhas e costeiras a nível mundial. O Brasil abriga uma grande parcela da biodiversidade das aves marinhas e costeiras do mundo como um todo.

"Status" das espécies

O "status" de uma espécie é a maneira na qual ela ocorre no Brasil (Tabelas 4 e 5). Uma espécie que reproduz no país tem status R, ao qual é acrescentado o símbolo que indica se a ave reproduz na costa continental (CC), em ilhas costeiras e/ou oceânicas (IL) ou no interior do país (IN). Larus maculipennis e Himantopus himantopus melanurus nidificam em pântanos, ocorrem na praia oceânica fora da sua época de reprodução, e têm status RIN. Sterna hirundinacea nidifica em ilhas costeiras, com status RIL. Haematopus palliatus nidifica na praia oceânica, e Eudocimus ruber em manguezais, estas aves têm status RCC. Uma espécie que não nidifica no país e que ocorre somente como ave migratória tem status M, acrescentando-se o símbolo N para aves que nidificam no hemisfério norte, e S para aves que nidificam no hemisfério sul. Por exemplo, Calidris canutus tem status MN, e Catharacta chilensis tem status MS. O status M indica que a ave ocorre regularmente e periodicamente, e aplica-se também àquelas aves que ocorrem em pequeno número, ou em poucas localidades, porém habitualmente. Phoenicopterus chilensis, que ocorre de maneira habitual somente na Lagoa do Peixe no Rio Grande do Sul, e Zonibyx modestus que ocorre em pequeno número, porém habitualmente, no sul do país, são exemplos de aves pouco abundantes, com status MS. Tais aves são componentes normais do ambiente costeiro do Brasil, e dependem das condições ambientais desta região para sua sobrevivência a nível de população ou espécie. A terceira grande categoria são as espécies que ocorrem esporadicamente e de maneira imprevisível no tempo e no espaço. Tais aves tem status E, acrescentando-se o símbolo S ou N, o que indica proveniência de regiões de reprodução no hemisfério sul ou norte, respectivamente. Exemplos desta categoria são Sterna paradisea, cuja presença no país foi registrada três vezes e que tem status EN, e Thinocorus rumicivorus que foi visto apenas uma vez, na Lagoa do Peixe, e que tem status ES. Tais aves não são componentes normais do ambiente costeiro, e não dependem do ambiente costeiro do Brasil em termos da sua sobrevivência como populações ou espécies.

Do total de 148 espécies, 29 espécies têm duas ou três entradas na coluna "status" da Tabela 5. O status de tais espécies varia entre as três regiões biogeográficas. Por exemplo, Fregata magnificens ocorre

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esporadicamente (ES) na Região Subtropical, e nidifica nas ilhas (RIL) nas regiões Tropical Sul e Equatorial. Sterna maxima nidifica em ilhas (RIL) ao largo do estado de São Paulo, ocorre no sul do país como migrante proveniente de ninhais no Uruguai e Argentina (MS) e ocorre esporadicamente na costa do Pará como EN. Nyctanassa violacea foi vista uma vez (ES) no Rio Grande do Sul, mas reproduz em manguezais (RCC) ao longo da costa tropical e equatorial do país. Podiceps major reproduz somente no Rio Grande do Sul (RIN) mas ocorre como migrante sazonal (MS) na Região Tropical Sul. Estas variações regionais do status de certas espécies refletem a diversidade das condições ambientais ao longo do gradiente latitudinal da costa do Brasil. As espécies: ocorrência, migração e nidificação

Do total das 148 espécies de aves costeiras e marinhas registradas no Brasil, 37 espécies ocorrem esporadicamente com o status de EN ou ES no país como um todo (Tabela 6). O número de espécies EN ou ES por região é como segue: Região Subtropical, 23; Região Tropical Sul, 19; Região Equatorial, 17. Esta variação regional é relacionada com o fato de que das 37 espécies esporádicas, 23 espécies são ES, e destas, 14 espécies são albatrozes, petréis e pingüins que nidificam nas ilhas subantárticas e na Antártica e que não alcançam as latitudes tropicais. Das 17 espécies esporádicas da Região Equatorial, 12 são EN. Das 14 espécies EN do Brasil como um todo, 6 são maçaricos da família Scolopacidae, e 6 são gaivotas e trinta-réis das famílias Stercorariidae, Laridae e Sternidae.

As espécies de aves marinhas e costeiras que nidificam ou ocorrem habitualmente como migrantes sazonais em, no mínimo, uma das três grandes regiões biogeográficas do país são em número de 111 (Tabela 6). São estas as espécies a serem consideradas em termos do manejo ambiental e da biodiversidade. Destas espécies, 53 nidificam no país, e este número inclui 8 espécies que ao mesmo tempo ocorrem como migrantes, a saber: Phalacrocorax olivaceus, Podiceps major, Larus dominicanus, Sterna hirundinacea, Sterna maxima, Sterna eurygnatha e Charadrius falklandicus, todos eles MS provenientes de sítios de reprodução no Uruguai e/ou Argentina, e Charadius wilsonia, MN proveniente da costa atlântica dos Estados Unidos. Do total das 53 espécies que reproduzem, 24 são Pelecaniformes e Lari (Tabela 7). Poucas Procellariiformes e Charadrii nidificam no Brasil. Destes grupos, do total das 54 espécies que ocorrem habitualmente no ambiente costeiro do Brasil, apenas 9 nidificam no país. Das 19 espécies da categoria "outros" entre as 52 espécies que nidificam, 11 são Ciconiiformes (garças, socós e afins), e as 8 espécies restantes são Podicipediformes (um mergulhão), Gruiiformes (duas saracuras), Phoenicopteriformes (um flamingo), Falconiformes (três gaviões) e Coraciiformes (um martim-pescador). Das 53 espécies que nidificam no país, 20 (ou 38% do total) o fazem exclusivamente em ilhas (Tabela 7). Esta cifra é evidência da elevada importância das ilhas marítimas do Brasil, em relação com biodiversidade e conservação das aves marinhas. Das 20 espécies que nidificam em ilhas, 4 são petréis da família Procellariidae, 8 são da ordem Pelecaniformes e 8 são da família Laridae. Treze espécies nidificam somente nas ilhas oceânicas, 5 nidificam somente em ilhas costeiras e 2 nidificam em ambas as categorias de ilhas.

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31 são migrantes MS, e 19 destes são albatrozes e petréis provenientes das latitudes frias entre as Ilhas de Tristão da Cunha e o continente Antártico. Os migrantes MN são em número de 35, e 21 destes são espécies das famílias Scolopacidae e Charadriidae.

Nidificação nas ilhas oceânicas

Quinze espécies de aves marinhas nidificam nas ilhas oceânicas do Brasil, e deste total, 13 o fazem no país somente nestas 6 ilhas ou arquipélagos. O número das espécies que nidificam varia entre 3 nos Penedos de São Pedro e São Paulo, e 11 no Arquipélago de Fernando de Noronha (Tabela 8). Fora das águas brasileiras existem nas Regiões Equatorial e Tropical Sul do Oceano Atlântico apenas 3 sítios de nidificação para 9 das espécies listadas na Tabela 8.

Do petrel Pterodroma hasitata outrora abundante no Mar do Caribe, o único sítio atual com nidificação confirmada é uma localidade na Hispaniola, Haiti. Esta espécie é classificada como ameaçada de extinção. Ela foi encontrada em Trindade e Martin Vaz, e isto é indício de que a espécie provavelmente nidifica nestas ilhas. Por este motivo, a espécie tem status R na Tabela 5.

Da espécie nominal Pterodroma arminjoniana arminjoniana, os conhecidos locais de nidificação no mundo são três ilhas apenas, a saber, Round Island (próximo a Mauritius) e Reunión, ambos no Oceano Índico, e Trindade, que é o único local de nidificação no Oceano Atlântico.

Segundo Harrison (1989), Puffinus assimilis é na metade sul do Oceano Atlântico distribuído na zona temperada entre as latitudes de 30º S e 40º S, com reprodução nas ilhas Tristão da Cunha e Gough. Os registros da nidificação desta espécie em Fernando de Noronha citados por Sick (1997) ficam fora da área habitual da sua distribuição, e correspondem mais com uma possível ocorrência de Puffinus lherminieri que tem sua área de distribuição nos oceanos tropicais (Harrison, 1989).

Fregata ariel e Fregata minor têm em Trindade e Martin Vaz seus únicos sítios de nidificação no Oceano Atlântico, e ocorrem ali como as subespécies endêmicas Fregata ariel trinitatis e Fregata minor nicolli. As espécies nominais F. a. ariel e F. m. minor são distribuídas nos Oceanos Índico e Pacífico. Na metade Sul do Oceano Atlântico, Fregata magnificens nidifica somente nas ilhas oceânicas e costeiras do Brasil. Fora destas ilhas, Sula leucogaster, Sula dactylatra e Sula sula contam com apenas um único sítio de nidificação, Phaeton lepturus e Gygis alba com dois sítios, e Phaeton aethereus, Sterna fuscata, Anous stolidus e Anous minutus com três sítios (Tabela 8). Para 13 espécies de aves marinhas, os seis sítios oceânicos do Brasil constituem entre a metade e o total dos seus sítios de nidificação no Atlântico Sul. Estas cifras são evidência da elevada importância das ilhas oceânicas do Brasil para a biodiversidade do país e do Oceano Atlântico como um todo.

Nidificação em ilhas costeiras

Nidificação de 10 espécies de aves marinhas tem sido registrada em 26 pequenas ilhas ou arquipélagos da Região Tropical Sul, na costa dos estados de Espírito Santo (3 sítios), Rio de Janeiro 6 (sítios, incluindo-se um

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arquipélago e as ilhas da Baía de Guanabara como dois sítios), São Paulo 10 (sítios, incluindo um arquipélago), Paraná 3 (sítios) e Santa Catarina 5 (sítios). Para as espécies individuais, o número de ilhas ou arquipélagos onde cada uma nidifica é como segue: 1 para Puffinus lherminieri, Casmerodius albus, Haematopus palliatus e Sterna maxima, 2 para Nycticorax nycticorax, 8 para Larus dominicanus; 10 para Fregata magnificens e Sterna eurygnatha; 15 para Sula leucogaster e Sterna hirundinacea (Tabelas 7 e 9, Figs. 2, 5 a 12). Na listagem das ilhas costeiras do estado de São Paulo constam 149 ilhas, lajes e rochedos (Ângelo, 1989), mas não existe informação publicada sobre as aves que ali vivem. Tais listagens não existem para os outros quatro estados supracitados, mas é provável que também nestes casos, apenas uma pequena proporção do número total de ilhas tem sua avifauna citada na literatura. Por outro lado, o estudo faunístico das aves vem sendo desenvolvido no Brasil desde o século 16 (Oliveira Pinto, 1979), e já no ano de 1925, tinha sido registrado o total das 1680 espécies atualmente conhecidas no país (Teschauer, 1925; Sick, 1997). Conclui-se que importantes concentrações de aves em ilhas costeiras dificilmente tenham escapado à atenção dos ornitólogos, e que os 26 sítios supracitados constituem, senão a totalidade, então certamente a grande maioria dos ninhais insulares de aves marinhas na costa do Brasil.

O Arquipélago de Itatiaia, na costa do estado de Espírito Santo, é o único sítio confirmado de nidificação de Puffinus lherminieri na metade sul do Oceano Atlântico. Sula leucogaster e Fregata magnificens alcançam nas ilhas costeiras do estado de Santa Catarina o limite sul da sua distribuição geográfica no Oceano Atlântico (Shuntov, 1972).

Sterna hirundinacea, Sterna eurygnatha, Sterna maxima e Larus dominicanus nidificam em Uruguai e Argentina no período de primavera e verão austrais, ou seja, nos meses de setembro a janeiro (Escalante, 1968, 1970a, 1970b, 1973a, 1973b, 1985). Pelo cronograma sazonal da abundância e das plumagens destas espécies na Região Subtropical do Brasil, onde elas não nidificam, conclui-se que nesta região as aves ocorrem como migrantes austrais (Vooren & Chiaradia, 1990). Por outro lado, nas ilhas costeiras da Região Tropical sul do Brasil, estas aves nidificam no outono e inverno austrais ou seja, nos meses de abril a agosto, e seu cronograma sazonal de plumagens corresponde com isto (Escalante, 1973a, 1973b; Maciel & Teixeira, 1984; Moure et al., 1985; Bege & Pauli, 1988; Escalante et al., 1988; Musso et al., 1997; Sick, 1997). As populações brasileiras destas espécies são, portanto, geneticamente isoladas das populações uruguaias e argentinas e são, por este motivo, elementos distintos e de especial interesse em termos de biodiversidade e conservação. Este é um dos motivos que justificam a preservação das ilhas costeiras da Região Tropical Sul do país. Fora da Região Tropical Sul existem poucas ilhas costeiras. Eudocimus ruber, Casmerodius albus, Egretta thula, Nycticorax nycticorax e Nyctanassa violacea nidificam na Ilha Canelas, na costa do Estado do Pará (Roma, 1996).

Nidificação na costa continental e no interior

Trinta e três espécies nidificam na costa continental (RCC) e/ou no interior (RIN) (Tabela 7). A nidificação esporádica de cinco destas espécies em ilhas costeiras, citada na Tabela 7, não é considerada na presente análise. Treze

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espécies nidificam somente na costa e 9 espécies nidificam tanto na costa como no interior. Do total das 22 espécies da costa, 14 têm o manguezal como habitat, e 7 nidificam nas praias oceânicas e estuarinas. Sobre a nidificação de Larus cirrocephalus existe somente evidência circunstancial, e o habitat de nidificação da espécie é desconhecido (Sick, 1997). Sete espécies ocorrem exclusivamente na costa de mangue: Nyctanassa violacea, Egretta caerulea, Eudocimus ruber, Phoenicopterus ruber, Buteogallus aequinoctialis, Aramides mangle e Ralllus longirostris. Seis espécies nidificam na praia: os quatro Charadrii Haematopus palliatus, Charadrius falklandicus, Charadrius colaris e Charadrius wilsonia, e as duas Sternidae Gelochelidon nilotica e Phaetusa simplex. Vinte espécies nidificam no interior, e 9 destas o fazem também na costa, a maioria destas (sete espécies) na costa de mangue.

No Rio Grande do Sul, 7 espécies nidificam no interior e vivem nas praias costeiras durante seu período não-reprodutivo. Himantopus himantopus melanurus e Larus maculipennis nidificam em pântanos, e Sterna trudeaui, Sterna superciliaris e Rhynchops nigra intercedens nidificam em praias ribeirinhas e lacustres (Vooren & Chiaradia, 1990; Belton, 1994). Estas cinco espécies são migrantes de curta distância com variação sazonal da sua abundância na costa no sentido de valores máximos no outono e inverno, e valores mínimos na primavera, quando reproduzem no interior. Larus maculipennis, Sterna trudeaui e Sterna superciliaris associam-se na praia com os bandos dos migrantes austrais Larus dominicanus, Sterna eurygnatha, Sterna maxima e Sterna hirundinacea, repartindo com estas aves os recursos de alimento e de espaço durante o outono e inverno. Gelochelidon nilotica ocorre na costa em pequenos números de novembro à março (Belton, 1994). Em Uruguai, esta ave nidifica nas dunas frontais da costa marítima (Escalante, 1970) e infere-se que isto acontece também no sul do Brasil, embora não há registros disto. No estado do Pará, esta espécie nidifica em praias estuarinas do Rio Amazonas (Sick, 1997). Phaetusa simplex nidifica em praias lacustres desde Amazônia até Rio Grande do Sul, onde nidificação foi também registrada no ambiente costeiro da Lagoa do Peixe (Lara Resende & Leeuwenberg, 1987). No Rio Grande do Sul, Rhynchops nigra intercedens pousa em bandos em praias marítimas e estuarinas durante os meses de dezembro a setembro. Sítios fixos de pouso com constante presença de bandos da ordem de centenas de aves, foram localizados na Lagoa do Peixe e na desembocadura da Lagoa dos Patos (Vooren & Chiaradia, 1990; Belton, 1994; Vooren, 1997; Naves, 1999). Esta espécie nidifica em praias ribeirinhas e ilhas fluviais do interior desde Amazônia até Rio Grande do Sul (Sick, 1997; Naves, 1999). Himantopus himantopus melanurus ocorre no sul do país, onde nidifica em pântanos (Oliveira Pinto, 1964, 1978; Belton, 1994). A nidificação desta ave em costas de mangue citada por Sick (1997), possivelmente refere-se a Himantopus himantopus mexicanus, que segundo Oliveira Pinto (1964, 1978) ocorre nas Regiões Equatorial e Tropical Sul do Brasil.

Para a maioria das espécies de aves costeiras que nidificam na costa continental e no interior do Brasil, a informação publicada sobre os locais de nidificação carece de detalhe e consiste de registros a nível de tipo de habitat e grandes áreas geográficas. Somente quatro espécies do total de 20 da categoria RCC tem distribuição geográfica restrita e bem definida, citada por Sick (1997). Charadrius falklandicus nidifica somente na Lagoa do Peixe. Eudocimus ruber é distribuído sobre a costa de mangue dos estados do

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Amapá, Pará e Maranhão, e desde o ano de 1982 existe uma pequena população nos manguezais de Cubatão, no estado de São Paulo (Olmos & Silva e Silva, 1998). Ninhais desta espécie existem na Ilha de Marajó (Sick, 1997), na Ilha Canelas (Roma, 1996), na foz do Rio Gurupí no estado do Pará, e no trecho entre as cidades de Guimarães e Turiaçu no estado do Maranhão (Morrison et al., 1987) e na Ilha de Cajual, Baía de São Marcos (Ferraz & Bacon, 1987; Rodrigues et al., 1994; Hass, et al., 1999). Nidificação de Phoenicopterus ruber foi registrada somente na costa do estado de Amapá, e para Charadrius wilsonia e Haematopus palliatus são citadas indicações de sua reprodução no litoral dos estados de Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia (Lima et al., 1996; Sick, 1997). Para as espécies que nidificam no interior do país e que migram para a costa, tais como Rhynchpos nigra intercedens, Sterna trudeaui, Sterna superciliaris, Larus maculipennis e Himantopus himantopus melanurus, não se sabe de onde vêm os indivíduos que aparecem sazonalmente nas praias costeiras.

Os migrantes costeiros: os Charadrii do norte

Do total das 44 espécies das famílias Charadriidae e Scolopacidae que segundo Hayman et al. (1986) nidificam na América do Norte, 21 espécies, ou 48% deste total, migram sazonalmente para a costa do Brasil (Tabela 10), e constituem ao mesmo tempo 19% do total das 111 espécies de aves marinhas e costeiras que ocorrem habitualmente no país. O ambiente costeiro do Brasil tem papel essencial para o aspecto aves da biodiversidade da América do Norte, e vice-versa. Das 21 espécies de Charadriidae e Scolopacidae envolvidas, 17 nidificam exclusivamente nas zonas boreal e ártica, e são conhecidas na literatura como "aves costeiras neárticas" ("nearctic shorebirds"), e somente Charadrius wilsonia, Tringa melanoleuca, Actitis macularia e Phalaropus tricolor nidificam na zona temperada. Sobre um trecho de 16 km da Praia do Cassino, no extremo sul do Brasil, aves costeiras neárticas, principalmente Calidris canutus, Calidris fuscicollis e Calidris alba contribuíram nos meses de fevereiro a abril dos anos de 1982 a 1986 mensalmente de 43 a 66% ao número total de aves de todas as espécies na praia, e de 77 a 91% ao número total de indivíduos de todas as espécies de Charadrii (Fig. 2 em Vooren & Chiaradia, 1990). Regionalmente e sazonalmente, Charadriidae e Scolopacidae que nidificam na América do Norte constituem a grande maioria das aves presentes na zona litoral da costa do Brasil, em termos de número de indivíduos.

Informação detalhada sobre números e distribuição espacial das aves costeiras neárticas na América do Sul como um todo, foi coletada mediante censo aéreo de toda a costa do continente nos meses de janeiro e fevereiro dos anos de 1982 a 1986 por Morrison et al. (1989). O número de aves presentes na costa do Brasil foi de 398 212 indivíduos, perfazendo 14% do número total de aves encontradas na costa do continente como um todo. A área mais importante do Brasil foi a costa equatorial entre as latitudes de 00º e 03º S, dos estados de Pará e Maranhão, entre a Baía de Marajó e a Baía de São Marcos. Neste trecho de costa, denominada como Região-Norte-Central, ocorreram 326 891 aves (Tabela 11). Esta cifra constituiu 82% da abundância numérica das aves neárticas da costa do Brasil, e 11% das aves neárticas da costa da América do Sul, nos meses de janeiro e fevereiro. As espécies

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principais da Região-Norte-Central foram Calidris pusilla e Calidris minutilla, que constituíram a grande maioria das 192 204 "aves pequenas não-identificadas" que em conjunto constituíram 9% do total desta categoria na América do Sul. Para quatro espécies, os números presentes na Região-Norte-Central constituíram proporções do total da América do Sul como segue: Arenaria interpres 76%, Pluvialis squatarola 54%, Numenius phaeopus hudsonicus 44%, Catoptrophorus semipalmatus 49%. Estes resultados são evidência de que a costa equatorial do Brasil é uma das principais áreas de invernada das aves costeiras neárticas. Os maiores números ocorrem no trecho de aproximadamente 500 km de costa do estado de Maranhão entre as cidades de Viseu, na foz do Rio Gurupí, e a cidade de Guimarães, na Baía do Cuma. Esta área é conhecida pelo nome de Reentrâncias Maranhenses.

A costa do Rio Grande do Sul é uma praia arenosa que estende-se sobre 640 km entre as latitudes de 29º 18' S e 33º 48' S, no extremo sul do Brasil. Nesta costa, a maré lunar tem amplitude em torno de 50 cm apenas, e pequenas moluscos bivalves, crustáceos e poliquetas ocorrem com alta densidade na zona de varrido (Gianuca, 1983). Morrison et al. (1989), nos censos aéreos supracitados no mês de janeiro do ano de 1982, constataram que esta região foi a segunda mais importante da costa do Brasil, com o total de 25 847 aves. Calidris fuscicollis, Calidris alba e Pluvialis dominica foram as principais espécies identificadas (Tabela 11). No mês de janeiro, Calidris canutus não foi encontrado nesta região, mas ocorreu em número de cerca de 150 000 na costa da Patagônia (Harrington, 1982). Trata-se da subespécie Calidris canutus rufa que nidifica na zona de tundra do Ártico da América do Norte. Harrington, Antas & Silva (1986), em censos aéreos e terrestres em abril de 1984, encontraram grandes números desta espécie na praia de Lagoa do Peixe (31º 21' S), por exemplo 11 000 exemplares no dia 29 de abril. Vooren & Chiaradia (1990) contaram 8900 indivíduos da espécie no trecho de 16 km de praia ao sul do Balneário do Cassino (32º 30' S) no dia 17 de abril de 1983. Em ambas estas praias, as aves realizaram no mês de abril a muda pré-nupcial e logo em seguida aumentaram seu peso corporal médio de 120 g para 200 g pela deposição de gordura subcutânea. As aves desapareceram no início de maio. Harrington (1982) cita que Calidris canutus aparece na costa sudeste dos Estados Unidos em meados de maio. Pelo conjunto destes resultados, conclui-se que para Calidris canutus rufa, a costa do Rio Grande do Sul é uma das "áreas de condicionamento" ("staging areas" na literatura internacional) da rota migratória na direção norte entre a região de invernagem na Patagônia, e os locais de nidificação no Ártico do Canadá. Isto quer dizer que na costa do Rio Grande do Sul existem condições ecológicas adequadas para que a ave em aproximadamente um mês realize a muda pré-nupcial e acumule reservas energéticas suficientes para o vôo migratório sem escalas até a próxima área de condicionamento na costa sudeste dos Estados Unidos. Para outras espécies, tais como, Calidris fuscicollis e Calidris alba, esta costa tem a mesma importância estratégica na migração de retorno ao Ártico (Harrington et al., 1986, 1991).

Os migrantes costeiros: os Charadrii do Sul

Três espécies de Charadriidae nidificam na Patagônia. Oreopholus (Eudromias) rufficollis nidifica no interior. Esta espécie ocorre no inverno no

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interior do Rio Grande do Sul (Belton, 1994) e não é considerada como ave do ambiente costeiro. Charadrius falklandicus nidifica nas Ilhas Malvinas e na costa sul da Patagônia. A população das Malvinas é sedentária, mas aves da Patagônia invernam nas costas do Uruguai e do sul do Brasil (Hayman et al., 1986). No Rio Grande do Sul a espécie ocorre na praia oceânica de março a agosto. As aves são solitárias e distribuem-se como indivíduos separados ao longo da margem superior da zona de varrido em baixa densidade, com média de uma ave por 1,7 km de praia e máximo de sete aves por km. As aves realizam em agosto a muda pré-nupcial na área (Vooren & Chiaradia, 1990). Zonibyx modestus nidifica no interior do sul da Patagônia, ocorre na costa do Rio Grande do Sul de março a agosto, nas margens de lagunas costeiras e em pântanos salgados, e faz a muda pré-nupcial em julho. As aves desta espécie são também solitárias e ocorrem em pequenos números, mas não existem cifras a respeito (Vooren & Chiaradia, 1990; Belton, 1994). As baixas densidades populacionais de Charadrius falklandicus e Zonibyx modestus nas suas regiões de invernada são indício de que as populações mundiais destas espécies são pequenas, da ordem de poucos milhares de indivíduos. As aves não se concentram em locais distintos de invernada e de condicionamento, e ocorrem esparsamente distribuídas sobre toda sua região de invernada. Este padrão de distribuição espacial é interpretado como indício de baixa densidade de alimento durante o inverno na costa como um todo. Para a conservação destas duas espécies, trechos da costa do Rio Grande do Sul com extensão da ordem de centenas de quilômetros devem ser preservadas.

Os migrantes costeiros: os Lari do norte

Sete espécies da subordem Lari ocorrem como migrantes sazonais provenientes do hemisfério norte. Stercorarius parasiticus, S. longicaudus e S. pomarinus nidificam na tundra do Ártico com distribuição circumpolar, e invernam no hemisfério sul, onde vivem nas praias ou como aves pelágicas em águas costeiras. As três espécies tem sido registradas ao longo da costa do Brasil, e os registros incluem indivíduos de S. parasiticus anilhados como ninhegos na Europa. A região de invernada estende-se até o sul da Argentina (Cooke & Mills, 1972). No Brasil, S. pomarinus foi avistado na costa do Pará (Sick, 1997) e no mar ao largo do Rio Grande do Sul (Vooren, registros fotográficos em dezembro de 1995, não publicados). Stercorarius parasiticus ocorre habitualmente na Baía de Guanabara e, junto com S. longicaudus, na costa do Rio Grande do Sul (Sick, 1997; Vooren & Chiaradia, 1989, 1990). Nesta última região as aves vivem no mar, mas indivíduos solitários permanecem ocasionalmente na praia, praticando o cleptoparasitismo sobre bandos de trinta-réis ali pousados. Sterna hirundo nidifica em regiões temperadas do hemisfério norte. A sub-espécie S. hirundo hirundo nidifica na América do Norte, na Europa e no Oriente Médio. A população norte-americana faz invernagem na costa da América do Sul até Peru e a Província de Buenos Aires (Lara Resende & Leeuwenberg, 1987; Harrison, 1989). No Brasil, grandes números ocorrem na Região Sul, onde as aves pousam na praia oceânica e em praias nas desembocaduras de lagunas costeiras. As aves vivem em bandos, pescam no mar, e pousam na praia, onde elas cuidam da plumagem, descansam, e dormem durante a noite. Para estas funções vitais, as aves precisam de sítios em lugares fixos e conhecidos, para onde elas

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podem retornar sempre após suas saídas para o mar, e reunir-se com seu bando. Sterna dougalli nidifica na zona temperada do Velho Mundo e da América do Norte. Sterna antillarum (considerada por alguns autores como sub-espécie de S. albifrons) e Larus atricilla nidificam na costa atlântica dos Estados Unidos e nas costas do Golfo do México e dos Mar do Caribe (Harrison, 1989). No Brasil, estas três espécies ocorrem como migrantes sazonais na Região Equatorial, e esporadicamente ao sul desta. Não há informação na literatura sobre a abundância numérica e os sítios de pouso destas aves.

Os migrantes costeiros: os Lari do sul

Seis espécies da Subordem Lari ocorrem no Brasil como migrantes sazonais provenientes de regiões ao sul do país. Este número inclui a categoria Catharacta sp., que é referência à ocorrência de C. antarctica e/ou C. maccormicki. Estas duas espécies nidificam na costa antártica e em ilhas subantárticas, e aves ali anilhadas foram encontradas no Brasil mas não identificadas a nível de espécies. Catharacta chilensis nidifica na costa sul de Argentina e Chile. Um exemplar desta espécie coletado na costa do Rio Grande do Sul existe na coleção de aves da Fundação Universidade do Rio Grande (Vooren, não publicado). Aves do gênero Catharacta ocorrem regularmente durante o inverno como indivíduos solitários no mar ao largo do sul do país e na Baía de Guanabara. Pela sazonalidade desta ocorrência infere-se que estas aves são das espécies austrais de Catharacta, as quais são por este motivo classificadas como migrantes de inverno no Brasil (Belton, 1994; Sick, 1997). As aves são pelágicas, mas aparecem esporadicamente na praia desde a região sul do país até o estado do Pará (Oliveira Pinto, 1964; Sick, 1997). Larus dominicanus, Sterna hirundinacea, S. eurygnatha e S. maxima reproduzem no inverno em ilhas costeiras da Região Tropical Sul do Brasil, e populações austrais destas espécies nidificam na primavera nas costas do Uruguai e Argentina (Escalante, 1970a, 1970b, 1973). Aves destas populações ocorrem como migrantes de inverno nas Regiões Subtropical e Tropical Sul do Brasil. As aves pousam nas praias oceânicas em bandos multiespecíficos que também incluem três espécies que nidificam no interior do Brasil, a saber, Larus maculipennis, Sterna trudeaui e Sterna superciliaris (Escalante, 1968, 1970a; Vooren & Chiaradia, 1990; Rosário, 1996; Novelli, 1997; Sick, 1997).

Os migrantes pelágicos do norte

Do total das 111 espécies de aves marinhas e costeiras que ocorrem habitualmente no país, 24 são encontradas somente no habitat aquático das águas costeiras e oceânicas, e são classificadas como aves "pelágicas" que ocorrem como migrantes sazonais e que não nidificam no país. A categoria é constituída por 4 albatrozes, 19 petréis e um pingüim. Quatro petréis nidificam no Hemisfério Norte, e as outras 20 espécies são migrantes austrais. Os migrantes do norte são Puffinus puffinus, Calonectris diomedea borealis, Calonectris diomedea edwardsii e Oceanodroma leucorhoa. Estas aves nidificam em ilhas da zona temperada entre as Ilhas de Cabo Verde a Islândia. Puffinus puffinus faz invernagem ao largo da Argentina e na sua migração para

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esta região, as aves passam pelas águas costeiras do sul do Brasil nos meses de setembro a novembro. Indivíduos mortos são encontrados frequentemente na praia durante estes meses (Jehl, 1974; Vooren & Fernandes, 1989). Infere-se que isto é sintoma de mortalidade natural que ocorre durante a migração. Calonectris diomedea borealis nidifica nas Ilhas Selvagens, nos Açores, nas Ilhas Canárias e Arquipélago da Madeira. A região de invernagem desta ave estende-se desde o sudeste do Brasil até o norte da Patagônia (Jehl, 1974; Harrison, 1989; Vooren & Fernandes, 1989). No Brasil, a espécie ocorre nas águas oceânicas fora da plataforma continental. Aves anilhadas nas Ilhas Selvagens foram registradas no Brasil (Sick, 1997). Calonectris diomedea edwardsii, nidifica no Arquipélago de Cabo Verde (Harrison, 1989). No Brasil, esta ave tem sido registrada nas costas dos estados de Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul (Lima et al., 1997a; Olmos & Martuscelli, com. pess.; Petry, Bugoni & Fonseca, com. pess.). Oceanodroma leucorhoa leucorhoa nidifica no norte do Oceano Atlântico e inverna no Golfo de Guiné e ao largo de Brasil, Namíbia e África do Sul (Harrison, 1989). No Brasil, a espécie ocorre nas Regiões Equatorial e Tropical Sul, entre Amapá e Rio de Janeiro (Sick, 1997). Os migrantes pelágicos do sul: albatrozes e petréis

Com base nos mapas de distribuição das aves marinhas em Harrison (1989), foi elaborada a Tabela 12. Os locais de nidificação das Procellariiformes no sul do Oceano Atlântico são agrupados em quatro regiões. A costa sul da Patagônia e as Ilhas Malvinas são relativamente próximas uma às outras, são semelhantes na sua ornitofauna marinha, e são por estes motivos agrupadas em uma região. O mesmo argumento justifica agrupar as ilhas de Geórgia, Sandwich e Orcadas do Sul em uma região, e as ilhas de Tristão da Cunha e Gough em outra região. A quarta região é a Península Antártica e as costas continentais e ilhas adjacentes. Trinta-e-três espécies de Procellariiformes nidificam nas quatro regiões em conjunto, e deste total de espécies, 18 (ou 55%) ocorrem regularmente nas águas costeiras e oceânicas do Brasil. Para cada uma das quatro regiões em separado, o número de espécies que ocorre habitualmente no Brasil é como segue: Costa Sul da Patagônia e Malvinas, 7 do total de 12; Península Antártica e adjacências, 6 do total de 7; Geórgia, Sandwich e Orcadas do Sul, 10 do total de 16; Tristão da Cunha e Gough, 8 do total de 14. As águas brasileiras são uma parte importante do espaço de vida da maioria dos albatrozes e petréis que nidificam nas ilhas subantárticas e na costa antártica, no Sul do Oceano Atlântico. Ao mesmo tempo, as 18 espécies de albatrozes e petréis destas regiões que ocorrem habitualmente no Brasil, constituem 29% do total das 62 espécies de aves que frequentam as águas costeiras e/ou oceânicas do país como um todo (habitat AO na Tabela 13). Aves subantárticas e antárticas constituem um elemento importante na biodiversidade do ambiente costeiro do Brasil. Da categoria das Procellariiformes com status MS, o número de espécies dentro do total das aves do ambiente marítimo varia regionalmente como segue: Região Subtropical, 16 em 39, ou 41%; Região Tropical Sul, 17 em 57, ou 30%; Região Equatorial, 4 em 28, ou 14%. (ver categorias S, T e E na Tabela 12, e coluna AO na Tabela 13).

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Albatrozes e petréis do sul: os migrantes de inverno

A contribuição das Procellariiformes austrais à biodiversidade das águas costeiras e oceânicas diminui de sul para norte: das 18 espécies que nidificam no Atlântico Sul, apenas 4 alcançam a Região Equatorial, 2 destas esporadicamente (Tabelas 5 e 12). Do total das 19 Procellariiformes austrais com status MS, que inclui Diomedea epomophora que nidifica no Oceano Pacífico, 9 espécies ocorrem no Brasil principalmente ou exclusivamente durante o inverno nas águas da plataforma continental: Diomedea melanophris, Procellaria aequinoctialis, Pachyptila desolata, Pachyptila belcheri, Macronectes giganteus, Macronectes halli, Fulmarus glacialoides e Daption capense. Todas estas espécies nidificam em, no mínimo, uma das três regiões mais austrais ou seja, SPM, PA e/ou GSO (Tabela 12). Para estas aves, a plataforma continental brasileira entre Cabo Frio e Chuí tem a função de área de invernagem (Tabela 5). A população mundial de D. melanophris está atualmente em torno de 3 000 000 indivíduos, e 682 000 casais nidificam anualmente. Da população mundial desta espécie, 80% nidifica nas Ilhas Malvinas, e 14% nidifica no Arquipélago de Geórgia do Sul. Fora do período reprodutivo, as aves de Geórgia do Sul ocorrem ao largo da África do Sul, enquanto as aves das Malvinas invernam na plataforma continental da América do Sul desde o sul da Argentina até as águas sul-brasileiras, onde a espécie é o albatroz mais abundante durante o inverno (Vooren & Fernandes, 1989; Gales, 1998; Prince et al., 1998).

Fregetta tropica e Fregetta grallaria nidificam no verão, nas regiões PA, GSO e TCG, e invernam nas latitudes tropicais do hemisfério sul (Harrison, 1989). No Brasil, estas duas espécies foram registradas entre Rio de Janeiro e os Penedos de São Pedro e São Paulo (Sick, 1997; Brusque, com. pess.), mas os dados são escassos e não permitem a descrição da distribuição espacial e temporal destas aves. Oceanites oceanicus e Puffinus griseus nidificam no sul do Oceano Atlântico e, segundo Harrison (1989), invernam no hemisfério norte. As águas brasileiras fazem parte da rota migratória e/ou da área de invernagem destas espécies (Tabela 5). Diomedea epomophora nidifica na região da Nova Zelândia e realiza migração circumpolar cuja rota inclui a costa atlântica da América do Sul até a latitude de 23º S na costa do Brasil (Harrison, 1989). Há vários registros da espécie durante o inverno nas costas dos estados de São Paulo até Rio Grande do Sul (Vooren & Fernandes, 1989; Sick, 1997). Um exemplar foi capturado pelo espinhel de atum em agosto de 1999 no Rio Grande do Sul (Vooren, não publicado). No mar, a espécie é difícil de distinguir de Diomedea exulans. Diomedea epomophora é provavelmente mais comum na costa sudeste e sul do Brasil do que parece ser pelos poucos registros de ocorrência, e Harrison (1989) afirma que esta espécie "é possivelmente a mais comum dos albatrozes com o dorso branco" nas costas da América do Sul. Por este motivo, a espécie é classificada como migrante do sul com ocorrência habitual no Brasil

Albatrozes e petréis do sul: a fauna de Tristão da Cunha e Gough

Quatro espécies nidificam em Tristão da Cunha e Gough durante o verão e ocorrem durante este período em grandes números no sul do Brasil, Diomedea chlororhynchos e Puffinus gravis na plataforma continental, e Pterodroma

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incerta e Procellaria conspicillata nas águas oceânicas fora da plataforma (Vooren & Fernandes, 1989; Vaske, 1991; Neves & Olmos, 1998). A distância entre Tristão da Cunha e a costa brasileira é de 3500 km aproximadamente. Albatrozes buscam habitualmente o alimento para o ninhego a grandes distâncias do ninho, da ordem de milhares de quilômetros (Prince et al., 1998). Isto justifica a hipótese de que as aves de Tristão da Cunha e Gough que ocorrem no Brasil durante o verão são reprodutoras. É também possível que se trata da presença de aves juvenis e/ou de aves adultas em repouso sexual. Durante o inverno, Diomedea chlororhynchos, Pterodroma incerta e Procellaria conspicillata pemanecem abundantes, enquanto Puffinus gravis torna-se escasso, e aparece Pterodroma mollis que também é oriunda de Tristão da Cunha e Gough (Vooren & Fernandes, 1989; Neves, 1999a). Schiavini et al. (1998) não menciona D. chlororhynchos para a Argentina, e esta espécie é pouco abundante ao largo de Uruguai (Stagi et al., 1998). Não há registros de Procellaria conspicillata em Uruguai e Argentina. Diomedea chlororhynchos nidifica somente nas ilhas de Tristão da Cunha e Gough, com uma população de 36 800 casais (Gales, 1998). Procellaria conspicillata é restrita a uma única ilha do Arquipélago de Tristão da Cunha, com uma população reprodutora em torno de apenas 1000 casais (Ryan, 1998). As águas brasileiras entre Chuí e Cabo Frio são de especial importância para as aves de Tristão da Cunha e Gough, particularmente para Procellaria conspicillata.

O caso de Diomedea exulans

Duas subespécies de Diomedea exulans nidificam no Oceano Atlântico. De Diomedea exulans dabbenena, a cada ano nidificam 1000 casais em Tristão da Cunha e Gough. Não há informações sobre o âmbito destas aves no oceano. Da subespécie Diomedea exulans exulans, a cada ano nidificam 8500 casais no mundo todo, e 2178 casais, ou 26 % do total mundial, nidificam em Geórgia do Sul (Gales, 1998). Durante o inverno, as aves reprodutoras de Geórgia do Sul buscam o alimento para o ninhego sobre toda a porção Sudoeste do Oceano Atlântico entre as latitudes de 55º S (extremo sul da Argentina) e 33º S (latitude da cidade de Porto Alegre, sul do Brasil). As fêmeas reprodutoras concentram seu esforço alimentar nas águas do talude continental do Uruguai e Rio Grande do Sul (Prince et al., 1998). Nestas mesmas águas ocorre no inverno o pico sazonal da abundância de Illex argentinus (Haimovici, 1998). Os albatrozes alimentam-se de calamares, e incluem Illex argentinus na sua dieta (Marchant & Higgins, 1990; Cherel & Klages, 1998). Em Uruguai e no sul do Brasil, D. exulans ocorre com maior frequência no inverno (Vooren & Fernandes, 1989; Stagi et al., 1998) e isto coincide com a atividade trófica supracitada das fêmeas reprodutoras nestas áreas. Durante o inverno, as águas sul-brasileiras são importante área alimentar para a população de Diomedea exulans exulans que nidifica em Geórgia do Sul.

Os migrantes pelágicos do sul: Spheniscus magellanicus

O pingüim-de-magalhães Spheniscus magellanicus nidifica nos meses de setembro a abril ao longo da costa do Cone Sul, com o limite norte em 37º S (norte de Chile) na costa Pacífica e em 43º S (Península de Valdéz) na costa

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Atlântica, e ainda nas Ilhas Malvinas. Durante o inverno, a espécie é abundante na plataforma continental do sul do Brasil e do Uruguai, e grande número de aves mortas ou moribundas aparecem nas praias. Esta mortalidade de inverno era já no ano de 1927 conhecida como fenômeno habitual, quando ainda não existia a poluição das águas costeiras por óleo e plásticos. A maioria das aves nas praias são juvenis, mas adultos ocorrem também em pequeno número. A composição dos bandos de aves sadias no mar, em termos das proporções de juvenis e adultos, não é conhecida. Aves anilhadas na Península de Valdéz foram recuperadas no Brasil (Escalante, 1970; Harrison, 1989; Azevedo, 1993; Vooren & Ilha, 1995; Sick, 1997). Conclui-se que as águas da plataforma do sul do Brasil, ao largo de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, são parte da área de invernada dos juvenis de Spheniscus magellanicus da população da Península de Valdéz, e possivelmente também para aves adultas. Isto pode estar relacionado com a elevada abundância do pequeno peixe pelágico Engraulis anchoita na referida área durante o inverno (Castello, 1998). Aves solitárias avançam para o norte e alcançam as águas tropicais do Nordeste do Brasil em pequeno número (Sick, 1997). As aves mortas nas praias do sul são sintoma da mortalidade natural normal das aves juvenis durante o inverno, mas há indícios de que em anos recentes a poluição por óleo vem causando mortalidade adicional.

CAPÍTULO 4

A Variação da Biodiversidade no Espaço

Os tipos de habitat

Sete diferentes tipos de habitat são reconhecidos no presente estudo, (Tabela 4). A maioria das espécies de aves ocorrem em mais de um destes tipos de habitat. Para cada habitat, o "número de espécies" é a cifra de biodiversidade contribuída pela categoria de aves considerada. Cada um dos cinco grandes grupos taxonômicos de aves contribui desta mesma maneira à biodiversidade dos sete tipos de habitat. As Tabelas 13 e 14, e o texto que segue abaixo, devem ser interpretados desta maneira, no sentido de que "número de espécies" no habitat significa "pontos de biodiversidade" contribuídos ao habitat pelo conjunto de espécies taxonômicas. Do total das 111 espécies que ocorrem habitualmente no país, 62 espécies (56% do total) utilizam o habitat das águas costeiras e oceânicas (AO), e 52 espécies (47%) utilizam a praia oceânica (PO). Quarenta e quatro espécies (40%) ocorrem em ilhas costeiras e/ou oceânicas (IO e IC), 35 espécies (32%) ocorrem em praias estuarinas (PE), e 28 espécies (25%) ocorrem na costa de mangue (MA) (Tabela 13). Estas cifras quantificam a importância das aves na biodiversidade destes habitats e, ao mesmo tempo, a importância de cada um destes habitats para a existência de aves como elemento da biodiversidade do país.

Grupos taxonômicos e habitats

As aves Procellariiformes ocorrem somente nas águas oceânicas, e contribuem com 44% à biodiversidade de aves neste tipo de habitat. Os maçaricos,

Referências

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