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Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Agência financiadora Capes.

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Academic year: 2021

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Título: Doença mental e Estado Novo: a construção social da doença mental no discurso médico, do doente e do familiar – nota de pesquisa

Janis Alessandra Pereira Cassília* Resumo: Este trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa que analisa a construção social da doença mental pelo cruzamento dos discursos médico-psiquiátrico, do paciente e de seu familiar. Utiliza como fontes primárias documentos clínicos de internos femininos e masculinos da Colônia Juliano Moreira no início dos anos de 1940, cujas internações estão relacionadas a delírios, confabulações e/ou alucinações sobre os acontecimentos políticos do Estado Novo e da Segunda Guerra mundial, e publicações da área psiquiátrica sobre temas e diagnósticos encontrados na documentação analisada. Em nosso estudo de caso é possível verificar a existência tanto de concepções opostas quanto de correlações entre os discursos dos personagens envolvidos.

Palavras-chaves: História, Psiquiatria, Estado Novo.

Abstract: This paper presents partial results of research that examines the social construction of mental illness through the intersection of discourses medical-psychiatric patient and his family. Utilizes clinical documents as primary sources of internal male and female of Juliano Moreira Colony in the early 1940s, whose admissions are related to delusions, confabulations and / or hallucinations about the political events of the New State and the Second World War, and publications area about issues and psychiatric diagnoses found in the documents examined. In our case study is possible to verify the existence of both opposing views regarding the correlation between the speeches of the characters involved.

Keywords: History, Psiquiatry, New State.

Introdução

Este trabalho analisa a construção social da doença mental através do cruzamento do discurso médico, do doente e do familiar. Utilizamos como fontes primárias os documentos clínicos de internos de ambos os sexos da Colônia Juliano Moreira (CJM) no início dos anos de 1940, cujas internações estão relacionadas a delírios, confabulações e/ou alucinações sobre os acontecimentos políticos do Estado Novo e da Segunda Guerra mundial, bem como publicações da área psiquiátrica.

* Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS), Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Agência financiadora Capes.

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Nossa finalidade é apresentar os resultados parciais de pesquisa de mestrado em andamento. Os documentos clínicos dos internos da CJM investigados são aqueles cuja entrada ocorreram nos anos de 1937, 1940, 1941 e 1942, sendo analisados 36 documentos clínicos†.

A análise realizada é qualitativa, privilegiando aspectos que permitem investigar uma das faces da relação entre política e psiquiatria, isto é, o adoecimento correlacionado aos eventos da época. A decisão de analisar apenas essa face parte do pressuposto que cada período produz alucinações, confabulações e delírios específicos, que podem ser instrumento de investigação sobre sua época.

Segundo Roy Potter, “o que o louco diz é esclarecedor porque apresenta um mundo através de um espelho, refletindo a lógica (e a psico-lógica) da sociedade sã” (PORTER, 1987: 9). Para ele, os escritos dos loucos são uma comunicação coerente em si mesma, apresentando uma integibilidade, pois são produtos de seu tempo e de sua situação, revelando (ainda que em uma linguagem distorcida e não-convencional), as idéias, valores, aspirações, esperanças e medos de seus contemporâneos (PORTER, op. cit.: 8).

Durante o Estado Novo estabeleceu-se uma nova política psiquiátrica assistencial brasileira: ocorreram reestruturações da assistência à saúde por parte do governo federal com a criação do Serviço Nacional de Doenças Mentais (SNDM), criado em 1941e responsável pela execução da expansão da assistência psiquiátrica para todo o território nacional.

Fundada em 1924, como colônia agrícola para atendimento a pacientes masculinos crônicos, a CJM nas décadas de 1930 e 1940 foi alvo da intervenção direta do SNDM, tornando-se lugar privilegiado da aplicação das novas políticas assistenciais, sofrendo ampliação estrutural e incremento nas suas formas de atendimento com o atendimento a pacientes crônicos e agudos de ambos os sexos‡.

Estão sendo analisados 23 documentos clínicos de internos da CJM e 13 documentos clínicos de internas. Para a pesquisa o recorte temporal analíticos são os anos de 1942 e 1943, época em que ocorreu o maior número de entrada de pacientes na CJM. Também utilizamos alguns casos de 1937, 1940 e 1941, pois apresentam elementos essenciais para nossa análise.

Tais considerações sobre o atendimento prestado na Colônia Juliano Moreira na década de 1940 são resultados da pesquisa de Iniciação Científica no qual participei dentro do Departamento de Pesquisa (DEPES/COC/Fiocruz) sob orientação de Ana Teresa A. Venancio. Estas pesquisas foram realizadas nos períodos de 2006-2007 e 2007-2008, com os respectivos títulos: “Colônia Juliano Moreira: suas unidades assistenciais e pacientes (1944-1955)” e “Doença Mental e Gênero Feminino: as internas da Colônia Juliano Moreira (1940-1941)”. Maiores informações ver VENANCIO, Ana T. A.; CASSILIA, Janis A. P. Política assistencial psiquiátrica e o caso da Colônia Juliano Moreira: exclusão e vida social (1940-1954) In: WADI, Yonissa M; SANTOS, Nádia Maria W.. (Org.). História e Loucura: saberes, práticas e narrativas. Uberlândia: EDUFU, 2010 (no prelo); VENANCIO, Ana T. A. ; CASSÍLIA, Janis Alessandra Pereira . História da política

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Para este trabalho temos como objetivo: investigar a visão médica a respeito dos pacientes internados na Colônia Juliano Moreira que proferiam narrativas sobre os acontecimentos políticos da época; investigar a narrativa destes pacientes sobre sua própria doença e sobre os acontecimentos políticos da época; investigar a presença e discurso de familiares destes pacientes ao longo de suas histórias de internação.

O discurso médico

A primeira observação constatada são as sintéticas informações encontradas nos casos de doentes mulheres. Essa diminuta documentação existente nos casos femininos se comparados aos casos masculinos, também foi constatada por Engel (2001). Para a autora, esta postura seria reflexo da concepção sobre o feminino como inferior ao masculino, mais predisposto à doença mental e relacionada à sua condição mais fisiológica. Para o saber médico, os casos de doença mental feminina ofereciam menos desafios, já que a disseminação da doença mental na mulher era condicionada à sua própria predisposição, enquanto no homem seria reflexo de situações mais complexas. (ENGEL, 2001)

O diagnóstico que será aqui analisado é a esquizofrenia, que em suas diversas formas (parafrênica, hebefrênica e paranóide) é o diagnóstico mais encontrado nos documentos.§

A esquizofrenia é o diagnóstico mais comum, reunindo todas as referências à fisiologia feminina e masculina. A puberdade é a idade em que os sintomas de esquizofrenia se manifestariam, coincidindo com o início das práticas de onanismo, com a menstruação e com os distúrbios dos ovários e testículos. (ROXO, 1946: 19)

M. L., casada, branca, 41 anos, doméstica, internada em 1942, falecida em 1944, diagnóstico esquizofrenia – forma paranóide. Trata-se de uma paciente internada na CJM por aderir à campanha nazista, após alucinações visuais e auditivas. Segundos os médicos:

Menarca aos 12 anos, com catamênios posteriores normais. Tem 5 filhos vivos e fortes. Dois filhos falecidos na 1º infância. Um aborto.

assistencial à doença mental (1941-1956): o caso da Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro. In: XXIV

Simpósio Nacional de História, 2007, São Leopoldo. XXIV Simpósio Nacional de História . História e

Multidisciplinaridade - territórios e deslocamentos - Anais complementares, 2007.

§ Segue o número de ocorrência dos diagnósticos, para homens e mulheres: paranóia (n=1/homem), epilepsia (n= 1/homem, n=2/mulheres), demência paralítica (n=1/homem), esquizofrenia (n=4/homens, n=1/ mulher), esquizofrenia- forma paranóide (n=3/homens, n=3/mulheres), esquizofrenia-forma parafrênica (n=2/homens), esquizofrenia-forma hebefrênica (n=2/homens), psicose maníaco-depressiva (n=2/homens, n=1/mulher), debilidade mental (n=1/homem), parafrenia (n=1/homem, n=1/mulher), desajustado social (n=1/homem), sífilis cerebral ou neuro-sífilis (n= 4/homens, n=1/mulher), sífilis (n=1/homem) e não consta diagnóstico (n=1/homem, n=4/mulheres).

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(...) Afirma ser protetora de Hitler e Mussolini, sendo por esse motivo perseguida pela 5º coluna.

Recebe ordens de Mussolini no sentido de se agitar e dar por paus e por pedras que assim conseguirá tudo que desejar. Conheceu o Funher Adolf Hitler em Nova Iguassú, que estava com uma capa de borracha preta. Não achando tão mal como o pintavam resolveu tomar a sua defesa. Foi dona da Light que é uma companhia atmosférica particular cujos pontes estão sujeitos aos furacãos.

(CASO Nº 1, ano 1942, caixa 9, envelope 1).

Assim nas análises de Engel (1997, 2001, 2008), Nunes (1991) e Wadi (2003), sobre a psiquiatria do século XIX e início do XX, a importância da fisiologia ainda é muito presente dentro do pensamento psiquiátrico. A sexualidade é um dos elementos principais para o acometimento da doença mental em mulheres (Cf. Nunes, 1991; Engel, 1997; Wadi, 2003). Na observação da paciente a menção ao período menstrual, a regularidade dos catamênios, aos abortos e aos filhos são expressões da preocupação com a fisiologia feminina e da importância do papel da maternidade para uma concepção do que deveria ser o feminino na década de 1940.

A.C., 21 anos, branco, solteiro, estudante, internado por “Serviço Aberto” em 1940, recebendo alta logo após. Sua internação foi ocasionada pela sua periculosidade (agredir pessoas), e pelos discursos sobre a “mística integralista”. Em sua observação destacam-se as referências à sua sexualidade: “mantem-se sempre a esfregar os orgãos genitais e quando se coincide lhe aproximar algum doente de idade juvenil ele o domina e procura beijar-lhe a boca, chupando-lhe, bestialmente, os lábios”. (CASO Nº2, ano 1940, caixa 1, envelope 3).

Na narrativa de M.L., podemos perceber o descrédito do médico considerando o delírio como sintoma da loucura. O prontuário é uma construção médica, portanto os relatos ali descritos são selecionados pelos médicos. As referências aos eventos da época, à modernidade, à religião, à personalidades políticas e à violência, convivem com o modo de vida da paciente (“dar por paus e por pedras que assim conseguirá tudo o que quiser”), tornando-se para o saber médico expressões de sua doença mental. Ainda que outros fatores tenham sido importantes para a definição deste diagnóstico, como a perda da afetividade e do declínio do nível intelectual, o discurso dos doentes se mostrou de valor majoritário para a configuração do diagnóstico.

Sobre a terapêutica empregada nos casos de esquizofrenia, os medicamentos e tratamentos utilizados são os mais variados. O Luminal como sedativo e o Choque por Cardiazol são os mais utilizados.

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Quanto a categoria raça, até o presente momento não há associação entre raça/doença mental, porém no caso de A.S., negro, 49 anos, pedreiro, internado em 1940, há a descrição detalhada do fenótipo e da constituição do doente, o que não ocorre em casos de brancos ou estrangeiros. (CASO Nº 1, ano 1940, caixa 1, envelope 1)

O discurso do doente

Assim como os discursos médicos psiquiátricos, os doentes apresentam tanto visões sobre a doença mental, suas internações e a sociedade.

A.O., homem, internado em1942, 42 anos, branco, casado, mecânico, com procedência da polícia, diagnóstico esquizofrenia e alta experimental em 1943, enviou uma carta ao médico responsável:

Meu bom Sr° Dr.

Esta minha Dôr de Cabêça, eu não sei o que será, mas, eu tinha mais ou menos 22 anos, quando sofri uma gripe muito forte, (...) e em 37 tomei uma engeção Demelcs com estomago um pouco cheio e a reação foi uma fébre fórmidavel, que comecei a congestíonar e dôr de cabeça, foi orrivel, e dahi para cá nunca mais fíquei sem dôr de cabeça.(CASO Nº 4, ano 1942, caixa 1, envelope 54)

Esse doente apresenta uma noção de doença mental como consequência de tratamento inadequado, ao contrário da noção médica de doença mental expressa no diagnóstico de esquizofrenia.

Sobre suas internações, os pacientes apresentam diversas visões, desde a idéia de prisão e inferno até a internação como benefício social.

Este é o caso de P.F, mulher, alemã, solteira, doméstica, 49 anos, branca e internada em 1942 por “Serviço Fechado”. A sua justificativa para continuar sua internação é que “já trabalhou uns tempos, mas agora diz que o governo é obrigado a sustentá-la”. (CASO Nº 10, ano 1942, caixa 10, envelope 4) Nesse trecho fica explicito a nova ideia construída pelo Estado Novo e bem aceita pela população em geral: a saúde é um dever estatal. (FONSECA, 2001) A paciente interpretou a sua maneira esse aspecto da política à saúde inaugurada no Estado Novo.

A internação como prisão pode ser vista em casos como o de A.M., internada em 1942, diagnóstico de epilepsia, branca, viúva, doméstica e com procedência da CGR. A paciente compreende que não possui doença mental e que sua internação é uma prisão, tanto que envia um telegrama para o Presidente Getúlio Vargas, pedindo sua “liberdade”. Tal carta suscitou uma troca de correspondências entre o governo e a CJM, já que o primeiro

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interrogava sobre a possibilidade da paciente, enquanto o segundo argumentava que não. O envio da carta denota a interiorização da paciente do discurso governamental de acessibilidade do presidente com o povo. Sobre as missivas encaminhadas a Getúlio Vargas, José Reis, diz que ao manusearem as políticas de controle e organização social do Estado Novo, a população a interpretou segundo seus interesses, procurando alcançar seus objetivos, como a realização de justiça, que parece ser o caso da paciente. (REIS, 2002: 3) Ainda que tenha utilizado este recurso, A.M. não ganhou “sua liberdade”, vindo a falecer em 1975. (CASO Nº 01, ano 1941, caixa 01, envelope 38)

O gênero, até o momento, parece ser uma categoria de influencia na constituição dos discursos dos doentes. Para as pacientes mulheres é corriqueira a presença de narrativa que descreva parentesco com pessoas importantes à época, e também de casamentos ou proteção perante a figura de Getúlio Vargas. Essas pacientes procuravam apresentar não apenas que detinham uma posição favorável e de importância social, mas também de proteção; não por membros de suas famílias, muitas vezes os requerentes da internação, mas sim de figura de destaques à época, como o “protetor dos pobres”: o presidente da república.

Já para os pacientes masculinos há grande ênfase nas questões sobre trabalho, alcoolismo e vadiagem, configurando seus discursos procurando ressaltar ou negar a presença destes três elementos em seus passados. Na maioria dos casos, ainda que sua internação tenha sido provocada pela prática da vadiagem, os pacientes procuram descrever seus empregos anteriores, e negar o uso abusivo de bebida alcoólica. Em alguns casos, a tríade trabalho-alcoolismo-vadiagem está associada com as preocupações com a guerra e com personalidades da época, porém num nível de demonstração de importância social, e não de proteção.

O discurso do familiar

O discurso familiar compreende a visão dos parentes sobre o paciente, seu modo de vida, sua doença e, nos casos de internação por “Serviço Aberto”, a justificativa da internação.

Para as internas mulheres, o cumprimento dos deveres de esposa e de mãe eram o necessário para que a família as considerassem “normais”. M.G., 42 anos, parda, casada, brasileira, com entrada na CJM em 1942 e com procedência do 26º Distrito Policial. Inquirido pelo Serviço de Assistência Social, onze dias após a internação de M.G., seu marido comparece à CJM e declara que a doença já havia se manifestado antes por razão do primeiro

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parto e “dizia coisas desencontradas, via uma coisa e outra, falava sozinha, e conversava com pessoas que não estavam presentes” (sic). Diz o informante que passada esta crise, “ficou boa”, não notando qualquer anormalidade.(CASO Nº 6, ano 1942, caixa 10, envelope 19)

Segundo o marido, a doença já havia se manifestado antes, e que após a “cura”, M.G. havia desempenhado seu papel de mãe, pois criou 6 filhos, como afirma o próprio, “vivos e sadios”. O início da doença em 1942 impossibilitou a continuidade desse papel, e o marido, questionado pelos médicos, aponta para outras características da esposa que inicialmente não havia comentado: seu temperamento calado, seu impacto pela guerra, sua menstruação constante, a frigidez sexual e a não obediência ao marido, pois freqüentava o “baixo espiritismo” sem seu consentimento. Assim, para o marido a “doença da cabeça” estaria relacionada à suspensão das regras e ao puerpério, onde a paciente não poderia desempenhar suas atividades de mãe e esposa.

Para os internos homens, nos discursos dos familiares, a normalidade estava relacionada ao cumprimento do papel de provedor da família, em uma clara associação entre trabalho/normalidade e vadiagem/doença mental.

E.C., internado por conta própria em 1937, alcoólatra, diagnosticado desajustado social, é um caso exemplar dessa associação: “não trabalhava (era intermediário comercial), e queria provar aos tios que queria se reabilitar”. (CASO Nº 3, ano 1937, caixa 2, envelope 31)

Já as justificativas da internação de pacientes pelos familiares tende a serem as mesmas: incapacidade de medicar o doente e a agitação que acomete o doente em seus períodos de excitação. Assim, a documentação confirma o argumento de Engel (2001) que para os familiares a internação é uma opção em que a entrega do doente, supõe a transferência das responsabilidades sobre o doente.

Como fonte médica, a Ficha de Observação tende a apresentar apenas os sintomas que se relacionam à doença mental. Assim, se está presente o discurso do familiar, esse está relacionado à doença do interno. Portanto, não foi possível encontrar visões e idéias dos familiares a respeito de sua sociedade e dos eventos da época.

Conclusão

Enquanto para o discurso médico, o adoecimento destes internos se deu principalmente pela fadiga, exaustão, a guerra e o Estado Novo, os mesmos relatos indicam uma noção de doença na ótica dos pacientes, contrária à da psiquiatria, assim como

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apresentam seus relatos como discursos sobre o seu meio e época, ainda que de forma não convencional. Assim, podemos perceber que a construção social da doença mental se dá em vários níveis da sociedade, sendo, neste trabalho, investigados três atores que compõem e constroem um documento clínico de ampla importância para a psiquiatria. As várias noções de doença mental estão associadas, interagindo e compartilhando algumas visões oriundas de outros níveis sociais. O discurso de gênero, sobre trabalho masculino e feminino e sobre casados e solteiros, não é o mesmo entre psiquiatras, doentes e familiares, porém seus traços fundamentais (como definição de trabalhador para homens que já trabalharam e de doméstica para mulheres, ainda que trabalhem fora) são compartilhados pelos três atores, e interpretados de modo diferenciado.

Referências Bibliográficas:

CUNHA, M. C. P. O espelho do mundo: Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

ENGEL, Magali G. “Psiquiatria e feminilidade” In Del Priori, M e Bassanezi, C. (org.) História das Mulheres no Brasil. SP, Contexto, 1997, p. 322-361.

_________. Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios. Rio de Janeiro, 1830-1930 Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2001.

_________. Sexualidades interditadas: loucura e gênero masculino. In: História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Vol. 15, suplemento, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext%pid=S0104-597... Acesso: 28/07/200

FONSECA, Cristina M. Oliveira. Saúde no Governo Vargas (1930-1945): dualidade institucional de um bem público. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2007.

NUNES, Sílvia A. “A Medicina Social e a questão feminina”. PHYSIS – Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, Vol. 1, n. 1, pp. 49-76, 1991.

PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura.[1987] Tradução Angela Melim. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990, 2º edição.

REIS, José Roberto Franco. “Não existem mais intermediários entre o governo e o povo: correspondencias a Getúlio Vargas – o mito e a versão (1937-1945). (Tese de doutorado), Campinas, Unicamp, 2002.

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VENANCIO, Ana Teresa A. Da colônia agrícola ao hospital-colônia: modelos para a assistência psiquiátrica no Brasil na primeira metade do século XX. Trabalho apresentado no Seminário Internacional Estado Filantropia e Assistência. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, novembro de 2009.

VENANCIO, Ana T. A.; CASSILIA, Janis A. P. Política assistencial psiquiátrica e o caso da Colônia Juliano Moreira: exclusão e vida social (1940-1954) In: WADI, Yonissa M; SANTOS, Nádia Maria W.. (Org.). História e Loucura: saberes, práticas e narrativas. Uberlândia: EDUFU, 2010 (no prelo);

__________. História da política assistencial à doença mental (1941-1956): o caso da Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro. In: XXIV Simpósio Nacional de História, 2007, São Leopoldo. XXIV Simpósio Nacional de História. História e Multidisciplinaridade - territórios

e deslocamentos - Anais complementares, 2007.:

http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Ana%20Teresa%20Venancio.pdf

WADI, Yonissa. A história de Pierina e as interpretações sobre saúde e doença no Rio Grande do Sul/Brasil, do início do século XX. Trabalho apresentado no 51° Congresso Internacional de Americanistas - Simpósio Ciencia, Salud Y Sociedade em América Latina y El Caribe. Siglos XIX y XX, Santiago – Chile, 2003.

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