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UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO FELIPE RAMON AUGUSTO

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(1)

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

FELIPE RAMON AUGUSTO

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

São Caetano do Sul

2016

(2)

FELIPE RAMON AUGUSTO

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

Monografia

apresentada

para

conclusão do Curso de Direito da

Universidade Municipal de São

Caetano do Sul, como requisito

parcial para a obtenção do Título de

Bacharel em Direito.

Orientador: Me. Robinson Nicácio de

Miranda

São Caetano do Sul

2016

(3)

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

FELIPE RAMON AUGUSTO

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E O ORDENAMENTO

JURÍDICO BRASILEIRO

Data de Aprovação: _____/__________/_____. Nota:__________

Área de concentração: Direito Internacional Público

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________

Professor Me. Robinson Nicácio de Miranda

Universidade Municipal de São Caetano Do Sul

________________________________

Professor (a)_________________

Universidade Municipal de São Caetano Do Sul

_________________________________

Professor (a)_________________

Universidade Municipal de São Caetano Do Sul

(4)

REITOR DA UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL

Prof. Dr. Marcos Sidnei Bassi

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO

Prof. Me. Marcos Antonio Biffi

GESTOR DA ESCOLA DE DIREITO

Prof. Dr. Robinson Henriques Alves

(5)

Dedicatória

A Deus pela fé concedida em todos os momentos, e aos meus

familiares, namorada, amigos pelo apoio incondicional e

orientador pelos conselhos dados.

(6)

Agradecimentos

Inicialmente а Deus, qυе em toda a minha vida tem olhado para

mim e tem sido meu real ajudador, permitindo

qυе eu alcançasse

mais esta vitória.

À minha mãe Débora, à minha irmã Beatriz, à minha namorada

Camila e amigos, os quais têm me fortalecido em todos estes

anos, com muito apoio, carinho, companheirismo e amor.

Aos professores, por proporcionarem algo que não é palpável, e

que só se alcança através deles, o conhecimento.

Ao meu orientador Ms. Robinson Nicácio, pela paciência e

sabedoria apresentada.

A todos que me acompanharam e ajudaram no decorrer deste

curso.

(7)

“A história deve ter um começo, um

meio

e

um

fim,

mas

não

necessariamente nessa ordem. ”

(8)

Resumo

O Tribunal Penal Internacional é considerado uma grande vitória da sociedade

no âmbito internacional, pois, diferentemente dos antigos Tribunais ad hoc, foi criado

de forma permanente e complementar às jurisdições nacionais, assim respeitando o

princípio da complementaridade, mas não deixando de imputar a responsabilidade

criminal de agentes que cometem crimes contra os direitos humanos.

A grande questão reside na compatibilidade das normas previstas no Estatuto

de Roma com a Constituição Federal brasileira, as quais, em algumas hipóteses,

aparentemente contrastam com nosso ordenamento jurídico.

Palavras-chave: Tribunal Penal Internacional. Estatuto de Roma. Tribunais ad

hoc. Direitos Humanos. Constituição Federal brasileira de 1988. Ordenamento

jurídico brasileiro.

(9)

Abstract

The International Criminal Court is considered a great victory for society at the

international level because, unlike the old ad hoc tribunals, was established

permanently and complementarily to national jurisdictions, thus respecting the principle

of complementarity, but not failing to impute criminal liability agents who commit crimes

against human rights.

The big issue is the compatibility of the rules laid down in the Rome Statute with

the Brazilian Federal Constitution, which, in some cases, apparently contrast with our

legal system.

Key-words:

International Criminal Court. Rome Statute. ad hoc tribunals. Human

rights. Brazilian Federal Constitution of 1988. Brazilian Legal system.

(10)

Sumário

1

INTRODUÇÃO ... 13

2

ANTECEDENTES HISTÓRICOS ... 15

2.1

Caso Peter von Hagenbach ... 15

2.2

Primeira Guerra Mundial ... 15

2.3

Segunda Guerra Mundial ... 16

2.4

Tribunal de Nuremberg ... 17

2.5

Tribunal de Tóquio... 18

2.6

Tribunal ad hoc para a antiga lugoslávia ... 19

2.7

Tribunal ad hoc para Ruanda ... 20

3

CRIAÇÃO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL... 21

3.1

Estrutura do Tribunal... 22

4

PRNCÍPIOS QUE REGEM O ESTATUTO DE ROMA ... 23

4.1

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ... 23

4.2

Princípio da irretroatividade e imprescritibilidade... 24

4.3

Princípio da cooperação ... 24

4.4

Princípio da complementariedade... 25

5

JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL PENAL

INTERNACIONAL ... 26

5.1

Crimes de competência do Tribunal Penal Internacional ... 26

5.1.1 Crime de genocídio... 27

5.1.2 Crimes contra a humanidade ... 27

5.1.3 Crimes de guerra ... 28

5.1.4 Crime de agressão ... 29

6

A RATIFICAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PELO

BRASIL ... 31

7

IMPACTO

DO

ESTATUTO

DE

ROMA

NO

DIREITO

INTERNO

BRASILEIRO ... 33

7.1

Os (aparentes) conflitos entre o Estatuto de Roma e o texto constitucional

brasileiro ... 33

7.2

A entrega de nacionais ao Tribunal Penal Internacional ... 34

7.3

A pena de prisão perpétua ... 35

(11)

7.5

Reserva legal ... 37

7.6

Respeito à coisa julgada material ... 38

8

EFICÁCIA INTERNA DAS DECISÕES E SENTENÇAS PROFERIDAS PELO

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ... 39

8.1

Falta de competência do STJ para homologar as sentenças proferidas

pelo TPI ... 39

8.2

Competência para a execução de decisões do TPI no Brasil ... 40

CONCLUSÃO ... 41

REFERÊNCIAS ... 42

(12)

1.

INTRODUÇÃO

Há tempos que a sociedade sonhava com a instituição de uma justiça penal

em caratér internacional, com competência para investigar e julgar proporcionalmente

os assoladores da dignidade humana.

Já se vislubrou a instituição de um Tribunal, de caráter permanente e com

jurisidição universal desde a época que os primeiros atentados aos direitos humanos

começaram a surgir no mundo. Contudo, neste momento, este “sonho” se tornou

realidade.

Foi a base de muito sangue inocente e sofrimento, porém finalmente

conseguiu-se criar uma Justiça Internacional , com o nascimento em 1998, do Tribunal

Penal Internacional, regido pelo Estatuto de Roma, foi um marco histórico no Direito

Inernacional e das Relações Internacionais.

O presente estudo pretende analisar os principais aspectos e as

características predominantes do Tribunal Penal Internacional que foi criada a partir

da aprovação, em 17 de julho de 1998, do Estatuto de Roma.

Ainda que existam algumas recusas isoladas por motivos individuais, esse

Estatuto contou com grande aceitação da comunidade internacional e, em um curto

espaço de tempo, alcançou as 60 ratificações necessárias para sua entrada em vigor.

É de suma importância compreender o processo de criação, a estrutura, a

jurisdição, a competência, o funcionamento em si do Tribunal Penal Internacional,

contudo, a análise não pode ficar condicionada restritivamente as implicações desse,

ou seja, devemos compreender as implcações do Tribunal dentro do ordenamento

jurídico dos Estados-partes, qual no caso será do ordenamento jurídico brasileiro.

Quando tratamos de direito internacional penal não se pode enxergar as

normas da mesma forma como se pensa em se tratando de direito interno, pois muitos

dos conceitos podem não serem totalmente compreendidos e assim não se

alcançando o objeto do Tribunal, ou seja, a punição dos responsáveis pelo

cometimento dos crimes mais bárbaros contra o ser humano.

O entusiasmo que circundou os primeiros momentos de existência do

Tribunal refletiram a importância de sua criação e os anseios de toda a humanidade

na salvaguarda dos direitos mais básicos ao ser humano.

(13)

Em continuidade, serão estudados a estrutura do Tribunal, o procedimento,

para, então, realizar a análise entre o Estatuto de Roma e a Constituição Federal

brasileira, buscando apresentar eventuais conflitos e incompatibilidades, sobretudo no

tocante à entrega de nacionais, à pena de prisão perpétua, às regras de imunidades,

à reserva legal, à eficácia interna das decisões e sentenças proferidas pelo Tribunal.

Esses conflitos acabaram surgindo em virtude da coexistência de normas,

com idêntica natureza, que aparentemente conferiram tratamentos jurídicos diversos

às mesmas situações de fato.

É importante lembrar que o Estatuto de Roma possui a natureza jurídica de

convenção de direitos humanos, pois, ao estabelecer o procedimento para a apuração

e punição dos crimes de transcendência internacional, visa principalmente proteger

todos os seres humanos e evitar o cometimento de novas atrocidades.

Por outro lado, o ordenamento jurídico brasileiro, ao estabelecer, no §2º do

artigo 5º da Constituição Federal de 1988, que os direitos e garantias nela expressos

não excluem outros decorrentes dos tratados internacionais que a República

Federativa do Brasil seja parte, passou a reconhecer os tratados internacionais de

direitos humanos como normas constitucionais.

Assim, tendo em vista o reconhecimento, pela Constituição Federal

brasileira, da natureza constitucional das normas expressas no Estatuto de Roma é

que nos cabe analisar a compatibilidade de suas regras com nosso ordenamento

jurídico brasileiro.

(14)

2.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Mesmo antes da criação de um Tribunal Penal Internacional existem relatos

que demonstram que os criminosos de guerra são julgados desde os tempos da

Grécia antiga, ou até mesmo antes desta época, pois estas sociedades tinham

consigo a ideia de que devem existir padrões de respeito ao ser humano, mesmo em

situações extremas de guerra. (SCHABAS, 2001)

2.1.

Caso Peter von Hagenbach

O primeiro julgamento legitimamente internacional foi estabelecido em

1474 em Breisach, Alemanha, onde 28 juízes do Sacro Império Romano julgaram e

condenaram Peter von Hagenbach, à época governador da cidade de Breisach, por

violações das “leis de Deus e do homem”, pois este permitia que seus soldados

cometessem estupros, saques, assassinatos etc. (BASSIOUNI, 1991)

Após a retomada da cidade, Peter Von Hagenbach foi condenado pelos

crimes que haviam sido cometidos, o que significou a sua decapitação. (JAPIASSÚ,

2004)

2.2.

Primeira Guerra Mundial

Com a I Guerra Mundial, a humanidade teve de passar por um conflito que

nunca havia conhecido antes. A inovação de técnicas de combates, equipamentos e

artifício de destruição em massa, conduziram todos os lados envolvidos no conflito a

uma degradação sem precedentes. Os crimes de guerra passaram a ter grande

amplitude a partir deste conflito. (GONÇALVES, 2004)

Um dos grandes acontecimentos referentes ao Direito Penal Internacional

ocorreu logo após o término da Primeira Guerra Mundial, quando as potências

(15)

vencedoras, Grã-Bretanha e França, revelaram o anseio de punir os responsáveis

pelos atos contra as leis da humanidade que levaram à morte mais de 15 milhões de

pessoas pelo uso indiscriminado de armamentos letais e de destruição em massa.

(KEEGAN, 1995, p. 370)

Com tantas mortes e sofrimento, os aliados, vencedores da guerra, se

dispuseram levar a julgamento o imperador da Alemanha (Kaiser Wilhelm II), e até

mesmo conseguiram incluir o Art. 227 no Tratado de Versalhes, com o intuito de punir

de uma forma eficaz o Imperador:

"As potências aliadas e associadas acusam Guilherme II de Hohenzollern, ex-imperador da Alemanha, por ofensa suprema contra a moral internacional e a autoridade sagrada dos tratados. Um tribunal especial será formado para julgar o acusado, assegurando-lhe garantias essenciais do direito de defesa. Ele será composto por cinco juízes, nomeados por cada uma das potências, a saber: Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, França, Itália e Japão. O tribunal julgará com motivos inspirados nos princípios mais elevados da política entre as nações, com a preocupação de assegurar o respeito das obrigações solenes e dos engajamentos internacionais, assim como da moral internacional. Caberá a ele determinar a pena que estimar que deve ser aplicada.

As potências aliadas e associadas encaminharão ao governo dos Países Baixos uma petição solicitando a entrega do antigo imperador em suas mãos para que seja julgado."

Assim foi criado um Tribunal para julgá-lo por tantas mortes e atrocidades

cometidas contra a humanidade. Porém, o imperador somente foi condenado ao

pagamento de uma indenização, a qual nunca foi paga integralmente. (BAZELAIRE e

CRETIN, 2004)

2.3.

Segunda Guerra Mundial

A 2ª Guerra Mundial é vista como a mais cruel sob todos os aspectos, mas

principalmente referente à violação dos direitos humanos. O crescimento da

intolerância ideológica realizada pela Alemanha Nazista no período da guerra, onde

não havia respeito à dignidade da pessoa humana, barbáries e atrocidades cometidas

a milhares de seres humanos acabaram dando causa a ideia da criação de uma

instância penal internacional capaz de julgar os criminosos que cometeram tantas

crueldades. (MAZZUOLI, 2004)

A devastação ocorrida fez com que as potências vencedoras buscassem

meios de responsabilizar individualmente os criminosos de guerra nazistas. Em 1943,

(16)

Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética denunciaram os massacres

perpetrados pelos nazistas e sinalizaram que os grandes criminosos, seriam punidos

por decisão conjunta dos aliados. (SCHABAS, 2001)

Marco importante para a concepção de uma instância penal internacional

que julgasse os criminosos de guerra foi a criação da Declaração de Moscou publicada

por Estados Unidos, URSS e Reino Unidos, a qual estabeleceu princípios para à

serem adotas pelas Nações unidas para julgar os criminosos:

“(...) ao acordar qualquer armistício com qualquer governo que possa ser estabelecido na Alemanha, os oficiais e praças alemães e membros do Partido Nazista que sejam responsáveis pelas atrocidades, massacres e execuções descritas acima ou nelas tomarem parte consentânea, serão reconduzidos aos países onde seus abomináveis atos foram cometidos, a fim de que possam ser julgados e punidos conforme as leis destes países libertados e dos governos livres que ali sejam estabelecidos.

Esta Declaração é feita sem prejuízo dos casos dos principais criminosos de guerra, cujos delitos não tenham definição geográfica particular e que serão castigados por decisão comum dos governos aliados.” (GONÇALVES, 2004)

Após o término da guerra, os três países mencionados acima, mais a

França, firmaram, em agosto de 1945, a Carta do Tribunal de Nuremberg

1

, com o

propósito de julgar e punir os causadores de tantas brutalidades. No documento, se

instituíram os parâmetros de atuação e foram definidos os crimes sob que seriam

julgados.

2.4.

Tribunal de Nuremberg

A partir dos acontecimentos cruéis ocorridos na Segunda Guerra nasce a

ideia do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, o qual neste momento adquire

um caráter indispensável para os Aliados na obtenção de reais punições aos

criminosos nazistas. Expõem Jean-Paul Bazelaire e Thierry Cretin o funcionamento

do Tribunal Militar de Nuremberg:

O tribunal assim constituído é composto por quatro membros. Cada país aliado envia um titular e um suplente com a missão de garantir um processo e uma punição justos e rápidos para os principais criminosos de guerra nazistas. Os juízes não são contestáveis e cabe a cada signatário dos acordos substituir o juiz e o seu suplente no caso de problemas de saúde. A

1 Carta do Tribunal de Nuremberg: http://www.refworld.org/cgi-in/texis/vtx/rwmain?docid=3ae6b39614

(17)

presidência é assegurada sucessivamente pelas quatro potências, seja por acordo interno no tribunal, seja por voto da maioria de pelo menos três juízes. As decisões são tomadas pela maioria e, no caso de empate, o voto do presidente é decisivo. (BAZELAIRE e CRETIN, 2004, p. 21)

Nos termos do Estatuto, artigo 6º a competência do Tribunal estava limitada

a três crimes, a saber: os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra

a humanidade:

Art. 6º. (...) os atos a seguir, ou qualquer um deles, são os crimes submetidos à jurisdição do Tribunal e levam a uma responsabilidade individual:

a) os crimes contra a paz: isto é, a direção, a preparação, o desencadeamento ou a continuidade de uma guerra de agressão, ou de uma guerra violando tratados, garantias ou acordos internacionais, ou a participação em um plano orquestrado ou em um complô para o cumprimento de qualquer um dos atos anteriores;

b) os crimes de guerra: isto é, as violações das leis e costumes de guerra. Essas violações compreendem, entre outras, o assassinato, os maus tratos e a deportação para trabalhos forçados ou com qualquer outro objetivo das populações civis nos territórios ocupados, o assassinato ou os maus tratos dos prisioneiros de guerra ou das pessoas no mar, a execução dos reféns, a pilhagem dos bens públicos ou privados, a destruição sem motivo das cidades e dos vilarejos ou a devastação que não se justifiquem pejas exigências militares;

c) os crimes contra a humanidade: isto é, o assassinato, o extermínio, a escravização, a deportação e qualquer outro ato desumano cometido contra qualquer população civil, antes ou durante a guerra ou as perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos, quando esses atos ou perseguições, quer tenham constituído ou não uma violação do direito interno do país onde foram perpetrados, tenham sido cometidos em decorrência de qualquer crime que faça parte da competência do Tribunal, ou estejam vinculados a esse crime.

Em outubro de 1945, 24 (vinte e quatro) réus foram levados julgamento.

Um ano depois foram finalizados com a condenação de 19 (dezenove) dos acusados,

e imposição de pena de morte em 12 (doze) casos. (SCHABAS, 2001)

2.5.

Tribunal de Tóquio

Com a mesma lógica do Tribunal de Nuremberg, foi criado em 1946 um

Tribunal Penal Internacional para o Extremo Oriente, com sede em Tóquio, onde 28

(vinte e oito) criminosos de guerra japoneses que são julgados de um total de oitenta

detidos na época. (BAZELAIRE e CRETIN, 2004)

(18)

Apenas foram levados ao Tribunal de Tóquio os japoneses que haviam

cometidos crimes contra a paz, enquanto os que haviam cometido crimes de guerra e

crimes contra a humanidade foram julgados por Tribunais Militares de vários outros

países. (LIMA, 2006)

2.6.

Tribunal ad hoc para a antiga Iugoslávia

Seguindo neste contexto, o Conselho de Segurança, principal órgão

executivo das Nações Unidas, em face das competências dispostas no Capítulo VII

da Carta da ONU

2

, enxergou a possibilidade de atuar como instituição com autoridade

suficiente para perseguir e punir os responsáveis por violações contra os direitos

humanos.

O Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (“TPIY”) foi criado

pelo Conselho de Segurança, com o objetivo de julgar os responsáveis por graves

violações do Direito Internacional Humanitário, principalmente a prática de limpeza

étnica, cometidas no território Iugoslavo entre janeiro de 1991 até alcançada a paz.

(LIMA, 2006)

O referido Tribunal possuía capacidades para julgar, violações de leis e

costumes de guerra, graves violações à Convenção de Genebra, genocídio e crimes

contra a humanidade. (DELGADO e MARTINEZ, 2001)

Diferente dos demais tribunais internacionais até então existentes,

ressalta Kittichaisaree:

“O TPIY considerou-se o primeiro tribunal internacional verdadeiramente instalado pelas Nações Unidas para determinar a criminalidade penal individual dentro do direito humanitário, enquanto os Tribunais de Tóquio e Nuremberg eram considerados multilaterais em natureza, representando apenas parte da comunidade mundial”. (KITTICHAISAREE, 2001)

(19)

Desta forma, resta demonstrado quão grande foi a importância da criação

do TPIY por parte do Conselho de Justiça, em relação a punibilidade dos indivíduos e

a criação de precedentes a partir do caso.

2.7.

Tribunal ad hoc para Ruanda

Pouco após a constituição do TPIY, como consequência de um processo

similar, novamente o Conselho de Segurança da ONU interviu, e criou o Tribunal

Penal Internacional para Ruanda (“TPIR”), em resposta ao genocídio ruandense, que

tinha mais uma vez ideologia de ódio étnico. (KITTICHAISAREE, 2001)

Buscando alcançar a reconciliação nacional e a contribuição para o

restabelecimento e a manutenção da paz, TPIR ficou encarregado de julgar as

pessoas responsáveis pelas graves violações de Direito Internacional Humanitário,

cometidas no território de Ruanda e Estados vizinhos, entre 1º de janeiro e 31

dezembro de 1994. (FERNANDES, 2006)

Mais de setenta pessoas foram acusadas, das quais cinquenta detidas e

transferidas. Além disso, nove casos foram julgados, oito condenados e um absolvido,

onde englobam penas de prisões perpétuas e até mesmo à morte. (APTEL, 1997)

Após o TPIR se viu maior a necessidade da criação de um Tribunal permanente

com competência internacional para o julgamento de crimes contra a ordem

humanitária, e desta forma, como abordaremos mais a frente, o TPIR foi um

precedente para a criação do Tribunal Penal Internacional.

(20)

3.

CRIAÇÃO E ESTRUTURA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

De fato, a ideia de se criar uma Tribunal Penal Internacional com

propriedade de julgar e punir os autores de tantas atrocidades no âmbito de combates

internacionais, já havia sido sugerida pelas Nações Unidas desde o fim dos anos 40,

já que em 1947 a Assembléia Geral solicitou à Comissão de Direito Internacional que

analisasse a possibilidade de se criar um órgão judiciário penal para julgar autores de

genocídios e de outros crimes relevantes. (LIMA, 2006)

A busca por justiça, e mais precisamente pela punição dos responsáveis

de tamanhas barbáries cometidas durante os conflitos mundiais, visto a impunidade

de criminosos de guerra, os quais se viam livres de quaisquer sanções, juntamente

com o anseio da sociedade internacional, no sentido de se criar uma corte criminal de

competência internacional, finalmente veio à tona a criação do Tribunal Penal

Internacional, regido pelo Estatuto de Roma de 1998. (MAZZUOLI, 2009)

A Conferência de Plenipotenciários Sobre o Estabelecimento do Tribunal

Penal Internacional iniciou em Roma, em 1998, com o intuito de discutir e criar

formalmente a instituição. Ao final da conferência, e acordadas as principais

divergências sobre os procedimentos, foi aprovado em 17 de julho de 1998, o Estatuto

de Roma. (MIRANDA, 2011)

Todavia, para a entrada em vigor do Estatuto de Roma eram necessárias

60 ratificações, conforme exposto no artigo 126 do próprio Estatuto:

Art. 126. O presente Estatuto entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao termo de um período de 60 dias após a data do depósito do sexagésimo instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão junto do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.

As 60 ratificações necessárias foram alcançadas somente em abril do ano

de 2002, fazendo assim que o Estatuto de Roma entrasse em vigor em julho do

mesmo ano. (FERNANDES, 2006)

Desta forma, em julho de 2002 alcançava-se a consolidação de um Tribunal

Penal Internacional permanente e garantidor de um sistema de justiça, e não de

vingança, preenchendo um vácuo legal do sistema internacional com a investigação

e julgamento dos responsáveis de violações dos direitos humanos em combates, bem

como inibindo a realização de crimes futuros.

(21)

3.1.

Estrutura do Tribunal

O Tribunal Penal Internacional é considerado uma entidade totalmente

independente da Organização das Nações Unidas, com sede em Haia, nos Países

Baixos, conforme art. 3º do Estatuto.

3

O Estatuto do Tribunal Penal Internacional é composto por 128 artigos,

contendo um preâmbulo e outros 13 capítulos, os quais versam acerca da criação do

Tribunal; competência, admissibilidade e direito aplicável; princípios gerais de direito

penal; composição e administração do Tribunal; inquérito e procedimento criminal;

julgamento; penas; recurso e revisão; cooperação internacional e auxílio judiciário;

execução da pena; assembleia dos Estados-partes; financiamento e cláusulas finais.

De acordo com o Capítulo IV do Estatuto, o qual trata da Composição e

Administração do Tribunal, esse será composto por quatro diferentes órgãos: a

Presidência, as Seções, o Gabinete do Promotor e a Secretaria. Sendo que todos os

referidos órgãos são independentes, mas integram uma estrutura comum, compondo

a base sobre a qual se assenta todo o funcionamento do TPI. (LIMA, 2006)

Cumpre esclarecer que a Presidência e as Seções operam como órgãos

de natureza judicial, o Gabinete do Promotor (denominado pelo Estatuto de

“Procurador”) como órgão acusador e a Secretaria como administrativo. (MAZZUOLI,

2004)

(22)

4.

PRINCÍPIOS QUE REGEM O ESTATUTO DE ROMA

Neste capítulo analisaremos brevemente alguns princípios que orientam a

atuação do Tribunal Penal Internacional, como a legalidade, a complementaridade, o

ne bis in idem, o juiz natural, a independência, a irrelevância da função oficial, a

responsabilidade penal individual, a imprescritibilidade, a irretroatividade da lei penal

e a anterioridade da lei.

O art. 21 do Estatuto de Roma expõe que existem duas fontes secundárias

de princípios, sendo primeiramente os Princípios de Direito Internacional e, na falta

desses, os Princípios Gerais de Direito.

4

A fonte principal de direito aplicável ao Tribunal Penal Internacional é o

próprio Estatuto de Roma, sendo uma lei positivada e promulgada.

4.1.

Princípio da Legalidade

O princípio legalidade é considerado uma das bases do Estado de direito,

e também de todo Direito Penal que aspire à segurança jurídica. Esse princípio

garante a todos os cidadãos que tais não serão submetido a coerção penal diferente

daquela prevista em lei. (BATISTA, 2001, p. 67)

Um dos princípios basilares do Estatuto de Roma é o da legalidade,

também visto como pacta sunt servanda, o qual está previsto no art. 26 da Convenção

de Viena de 1969, e salienta que: “todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser

cumprido por elas de boa fé”.

4Art. 21. O Tribunal aplicará:

a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os Elementos Constitutivos do Crime e o Regulamento Processual; b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e os princípios e normas de direito internacional aplicáveis, incluindo os princípios estabelecidos no direito internacional dos conflitos armados;

c) Na falta destes, os princípios gerais do direito que o Tribunal retire do direito interno dos diferentes sistemas jurídicos existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno dos Estados que exerceriam normalmente a sua jurisdição relativamente ao crime, sempre que esses princípios não sejam incompatíveis com o presente Estatuto, com o direito internacional, nem com as normas e padrões internacionalmente reconhecidos.

(23)

O referido artigo, em poucas palavras, revela o caráter vinculante dos

tratados, o que significa dizer que aqueles países que ratificarem o Estatuto de Roma

ficam obrigados a cumpri-lo.

4.2.

Princípio da Irretroatividade e Imprescritibilidade

Se tratando de conflito de leis penais no tempo, a irretroatividade da lei

penal é regra predominante, já que tal proporciona segurança ao princípio já citado, o

da legalidade. (FERNANDES, 2006)

O princípio da Irretroatividade vem exposto no art. 24, I do Estatuto de

Roma, o qual traz a definição que o tribunal só terá competência para investigar e/ou

jugar crimes ocorridos após a entrada em vigor do Tribunal Penal Internacional.

Em sentido conexo a este princípio, o Estatuto determina ainda, em seu art.

29, que os crimes de competência do Tribunal não prescrevem. Este fundamento está

baseado na gravidade dos crimes previstos pelo Estatuto.

Portanto, podemos afirmar que não há perda do direito de punir do Tribunal

pelo decurso de tempo em relação aos crimes abrangidos por esse.

4.3.

Princípio da Cooperação

Observando o princípio da legalidade, maiormente a sua característica de

pacta sunt servanda, o Estado que ratificar o Estatuto de Roma fica obrigado a cumprir

o que dispõe o tratado, e deste princípio nasce a característica da cooperação.

O princípio da cooperação vem expresso no Art. 86 do Estatuto, o qual trata

da obrigação geral de cooperar. Tal princípio é muito importante para a efetividade

das decisões e para o exercício da jurisdição do Tribunal, já que esse não possui

(24)

polícia própria e depende dos Estados para a apuração dos casos, a detenção dos

acusados e o cumprimento de suas decisões.

5

Este princípio compreende o dever assumido pelos Estados-Partes de

atender a todos os pedidos formulados pelo Tribunal.

4.4.

Princípio da Complementaridade

O princípio da complementaridade, qual está disposto no artigo 1º do

Estatuto de Roma pode ser apontado como a mais importante característica do

Tribunal Penal Internacional.

6

De acordo com o princípio da complementaridade, a responsabilidade

primária para a resolução dos conflitos é conferida aos Estados. A jurisdição do

Tribunal é exercida apenas subsidiariamente, em caso de clara incapacidade ou falta

de disposição do Estado para o processamento dos crimes. Também cabendo quando

a tamanha gravidade do crime justifique o exercício da função pelo Tribunal Penal

Internacional. (LIMA, 2006)

Por conta disso, o artigo 18, §1º, do Estatuto de Roma obriga o Procurador

a notificar o Estado, a título confidencial, sempre que entender presentes os

fundamentos para a investigação de um caso perante o Tribunal.

7

Assim, o Tribunal Penal Internacional somente realizará investigações em

casos de ocorrência de omissão do Estado, por sua incapacidade ou por falta de

5Art. 88. Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto, cooperar

plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da competência deste.

6Art. 1º. criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma

instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto.

7Art. 18, §1º. Se uma situação for denunciada ao Tribunal nos termos do artigo 13, parágrafo a), e o Procurador

determinar que existem fundamentos para abrir um inquérito ou der início a um inquérito de acordo com os artigos 13, parágrafo c) e 15, deverá notificar todos os Estados Partes e os Estados que, de acordo com a informação disponível, teriam jurisdição sobre esses crimes. O Procurador poderá proceder à notificação a título confidencial e, sempre que o considere necessário com vista a proteger pessoas, impedir a destruição de provas ou a fuga de pessoas, poderá limitar o âmbito da informação a transmitir aos Estados.

(25)

vontade, ou até mesmo pela gravidade dos crimes ocorridos. Esse mecanismo, que

institui uma ordem de preferência no julgamento dos crimes de competência da Corte,

tem a finalidade de evitar a sobreposição do Tribunal internacional aos órgãos

nacionais.

5.

JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

De acordo com o disposto no Artigo 1º do Estatuto de Roma, a competência

do Tribunal em relação às jurisdições de seus estados partes é subsidiária, ou seja, o

TPI não pode interferir indevidamente nos sistemas judiciários nacionais, os quais

permanecem com a responsabilidade primária de investigar e processar os crimes

cometidos por seus habitantes.

Contudo, se esses Estados não demonstrarem vontade de punir estes

criminosos ou se mostrem incapazes de puni-los, o TPI tem competência para

fazê-lo. (MAZZUOLI, 2009)

O Tribunal possui personalidade e capacidade jurídica internacional, o que

lhe permite exercer seus poderes e funções em qualquer Estado Parte, ou por acordo

especial no território de qualquer outro Estado, conforme exposto no art. 4º do referido

Estatuto.

8

5.1.

Crimes de competência do Tribunal Penal Internacional

A competência internacional do TPI é o elemento que irá definir o momento

e as circunstâncias sob as quais este Órgão exercerá a jurisdição que lhe foi atribuída.

(LIMA, 2006)

8Art. 4º. §1º. O Tribunal terá personalidade jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica

necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos.

§2º. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do presente Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outro Estado.

(26)

O TPI, dentro de seu escopo, é competente para julgar, com caráter

independente e permanente, os crimes graves que afetam a sociedade internacional

dos Estados e que ultrajam o direito humanitário. (MIRANDA, 2011)

Todavia, é importante frisar que conforme o princípio da irretroatividade, a

competência do Tribunal em relação aos referidos crimes só se aplica aos crimes

cometidos depois da entrada em vigor do Estatuto.

Desta forma, conforme exposto no Art. 5º, o TPI tem competência para

investigar e julgar, os seguintes crimes: crime de genocídio, crimes contra a

humanidade, crimes de guerra e crime de agressão, crimes os quais deve-se salientar

que não prescrevem.

5.1.1.

Crime de Genocídio

O termo genocídio, em sua essência significa o extermínio consciente de

um grupo nacional ou étnico-religioso. (COMPARATO, 1999)

O crime de genocídio sempre foi considerado uma das principais

preocupações dos defensores dos direitos humanos, principalmente após o período

pós Segunda Guerra, o que levou ao entendimento de ser o genocídio um crime de

caráter internacional e a mais grave espécie de crime contra a humanidade.

(SCHABAS, 2001)

Tal crime vem expresso no art. 6º do Estatuto de Roma, onde entende-se

por "genocídio", o ato praticado com intenção de destruir (física ou culturalmente), no

todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.

5.1.2.

Crimes Contra a Humanidade

A primeira definição de “crimes contra a humanidade” de modo conciso e

articulado ocorreu no Estatuto do Tribunal de Nuremberg, e posteriormente seguido

pelo Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Tóquio. (MAIA, 2001)

(27)

Entretanto, para serem considerados como crimes contra a humanidade

esses deveriam ser conexos aos crimes contra paz e crimes de guerra, assim os

tornando simplesmente uma figura complementar em relações aos dois crimes

descritos. (MIRANDA, 2011)

A aplicação definitiva deste delito foi determinada no Art. 7º do Estatuto de

Roma, onde fica estabelecido que os crimes contra a humanidade são aqueles

praticados no âmbito de um ataque generalizado ou sistemático contra qualquer

população civil, incorporando qualquer ação que envolva a prática dos atos referidos

no parágrafo 1º do artigo em questão.

O termo “amplo” significa que os referidos atos deverão ser cometidos por

um certo número de pessoas ou sobre um amplo território; já o termo “sistemático”

significa que deve haver planejamento e organização no ataque. (CHOUKR e

AMBOS, 2000)

Em suma

“crimes contra a humanidade” nos remete a quaisquer

atrocidades e violações de direitos humanos cometidos em larga escala, perpetrada

contra grande número de pessoas.

5.1.3.

Crimes de Guerra

Já não é de hoje que os crimes cometidos em tempos de guerra trazem

preocupações para os povos, tanto que até mesmo o Código de Manu

9

, o qual foi

escrito entre os séculos II a.C. e II d.C., já continha normas relativas aos prisioneiros

de guerra. E apesar da sua antiga caracterização, a regulamentação do crime de

guerra no âmbito internacional é recente, e o Estatuto de Roma, dedicou o seu art. 8º

para abordar tal violação. (LIMA, 2006, p. 115)

9 Escrito em sânscrito, língua clássica da Índia antiga, constituiu-se na legislação do mundo indiano no período

(28)

Em sua obra, Cassese define o crime de guerra como: “sérias violações de

guerra costumeiras ou, quando aplicáveis, de regras pactuadas que dizem respeito às

leis internacionais humanitárias de conflitos armados”. (CASSESE, 2003, p. 47)

Kittichaisaree, seguindo a mesma linha de Cassese, define o delito como:

“crimes cometidos em violação de leis internacionais humanitárias aplicáveis durante

conflitos armados”. (KITTICHAISAREE, 2001, p. 129)

Cumpre ressaltar que da mesma forma que os crimes contra a

humanidade, os crimes de guerra também figuraram no Tribunal de Nuremberg.

Os crimes de guerra estão expressos no art. 8º do Estatuto de Roma, o

qual em primeiro momento restringe o exercício de sua competência para julgar os

casos mais significativos, ou seja, atos identificados com um plano ou de uma política,

ou quando praticados em larga escala.

É de suma importância salientar que o art. 8º do Estatuto de Roma traz em

seu texto um rol exemplificativo dos crimes de guerra previstos.

5.1.4. Crime de Agressão

O quarto e último crime do rol de crimes de competência do Tribunal Penal

Internacional é “crime de agressão”, o qual diferente dos crimes demonstrados

anteriormente não tem uma definição expressa da sua caracterização.

A inexistência de um significado para o crime de agressão que

fundamentasse a responsabilidade penal internacional dos agentes dificultou a

incorporação deste crime ao Estatuto de Roma. (MAZZUOLI, 2009, p. 65)

Contudo, ainda havia o desejo em assegurar a punição do crime, porém

nas negociações para a inserção deste crime no Estatuto de Roma não foi possível

chegar a um acordo no sentido de se definir a agressão cometida por indivíduos, muito

menos seus elementos constitutivos ou condições que seria empregada a jurisdição

do Tribunal Penal Internacional com relação ao crime. (LIMA, 2006, p. 123)

Se mostra claramente evidenciada uma lacuna no texto do art. 5º do

Estatuo de Roma, pois em seu parágrafo 2º, determina que o exercício de

(29)

competência do Tribunal em relação ao crime se dará somente com a estipulação de

conceito do crime, bem como das condições de aplicação da jurisdição pelo Tribunal.

10

Ou seja, dos quatro crimes expostos no Estatuto de Roma o único ainda

não foi tipificado é o crime de agressão. Contudo, a definição foi postergada a uma

etapa posterior, conforme os arts. 121 e 123 do Estatuto. Ou seja, o preenchimento

dos requisitos necessários para a definição do crime poderá ocorrer por emenda (art.

121)

11

ou por revisão (art. 123)

12

. (MAZZUOLI, 2004, p. 66)

Resta neste momento a tipificação do crime de agressão, para que assim

tenhamos de vez a caracterização plena do crime.

10 Art. 5º, §2º. 2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de agressão desde que, nos

termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

11 Art. 121. Expirado o período de sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, qualquer Estado

Parte poderá propor alterações ao Estatuto. O texto das propostas de alterações será submetido ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, que o comunicará sem demora a todos os Estados Partes.

12 Art. 123. Sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, o Secretário-Geral da Organização das

Nações Unidas convocará uma Conferência de Revisão para examinar qualquer alteração ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir nomeadamente, mas não exclusivamente, sobre a lista de crimes que figura no artigo 5º. A Conferência estará aberta aos participantes na Assembléia dos Estados Partes, nas mesmas condições.

(30)

6.

A RATIFICAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL PELO BRASIL

Preliminarmente, cumpre ressaltar que o Estatuto de Roma tem natureza

jurídica de convenção internacional de direitos humanos. Isso porque, como bem

ressaltado por André de Carvalho Ramos, esse instrumento legal não se resume

apenas ao conjunto de regras materiais e processuais relativos à Corte Internacional

Criminal, pois, como o próprio preâmbulo revela, há também grande preocupação do

Estatuto com a proteção das vítimas dos crimes considerados como de maior

gravidade na história da humanidade. (RAMOS, 2013)

Nesse sentido, é que o Estatuto em seu preâmbulo estabeleceu que os

Estados signatários,

“conscientes de que todos os povos estão unidos por laços

comuns e de que suas culturas foram construídas sobre uma herança que partilham,

e preocupados com o fato deste delicado mosaico poder vir a quebrar-se a qualquer

instante”, bem como “tendo presente que, no decurso deste século, milhões de

crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que

chocam profundamente a consciência da humanidade”, decidiram “garantir o respeito

duradouro pela efetivação da justiça

internacional”, criando o “Tribunal Penal

Internacional com caráter permanente e independente, no âmbito do sistema das

Nações Unidas, e com jurisdição sobre os crimes de maior gravidade que afetem a

comunidade internacional no seu conjunto”

Portanto, resta inegável que as disposições contidas no Estatuto de Roma

visam proteger os seres humanos, buscando evitar que as atrocidades cometidas no

passado, venham a ser novamente praticadas.

Como já observado, o Estatuto de Roma é o tratado multilateral que criou

o Primeiro Tribunal Penal internacional de caráter permanente. O documento entrou

em vigor em julho de 2002, porém no Brasil passou a vigorar a partir de setembro do

mesmo ano. (MIRANDA, 2011) Desta forma, neste capítulo abordaremos o processo

de ratificação do Estatuto de Roma junto ao ordenamento jurídico brasileiro.

Acerca do tema ressalta Mazzuoli que “o corpo diplomático brasileiro, que

já participava, mesmo antes da Conferência de Roma de 1998, de uma Comissão

Preparatória para o estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional, teve

(31)

destacada atuação em todo o processo de criação do Tribunal”. (MAZZUOLI, 2009, p.

40)

E podemos afirmar que isto foi devido, em grande parte, em virtude do que

expõe o art. 7º dos Atos das Disposições Transitórias, da Constituição brasileira de

1988, que declara que “o Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional

dos direitos humanos”.

Foi em setembro do ano de 2000 que o Brasil assinou o tratado

internacional referente ao Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, o qual

foi aprovado pelo Parlamento brasileiro, por meio do Decreto Legislativo 112, de junho

de 2002, e posteriormente promulgado pelo Decreto presidencial 4.388 de setembro

de 2002, momento em que o Brasil passou a se tornar Estado-parte do referido

tratado. (LIMA, 2006, p. 152)

A partir deste marco, e por força do art. 5º, §2º da Constituição de 1988,

que salienta que “Os direitos e garantias expressas nesta Constituição não excluem

outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”, o Estatuto de

Roma integrou-se ao ordenamento jurídico brasileiro com status de norma

constitucional. (MAZZUOLI, 2002, p. 233)

No mesmo sentido, a autora Flávia Piovesan afirma que

“a Constituição assume expressamente o conteúdo constitucional dos direitos constantes dos tratados internacionais dos quais o Brasil é parte. Ainda que esses direitos não sejam enunciados sob a forma de normas constitucionais, mas sob a forma de tratados internacionais, a Carta lhes confere o valor jurídico de norma constitucional, já que preenchem e complementam o catálogo de direitos fundamentais previsto pelo Texto Constitucional”, sendo

que os direitos internacionais integram o “chamado ‘bloco de

constitucionalidade’, densificando a regra constitucional positivada no §2º do art. 5º, caracterizada como cláusula constitucional aberta”. (PIOVESAN, 2011)

Em razão disso, por força do disposto no artigo 5º, §2º, da Constituição

Federal, os tratados internacionais de direitos humanos possuem natureza

materialmente constitucional, sendo que os demais têm natureza supralegal.

E foi a partir de dezembro de 2004, em virtude da entrada em vigor da

Emenda Constitucional 45, foi acrescido o §4º no art. 5º da Constituição Federal de

(32)

1988, momento em que o Brasil passou a reconhecer formalmente o a jurisdição do

Tribunal Penal Internacional em seu ordenamento.

13

7.

IMPACTO DO ESTATUTO DE ROMA NO DIREITO INTERNO BRASILEIRO

7.1.

Os (aparentes) conflitos entre o Estatuto de Roma e o texto constitucional

brasileiro

Uma leitura não detalhada do Estatuto de Roma, em relação as regras

penais e procedimentos, pode pressupor ao leitor algumas incompatibilidades com o

direito constitucional brasileiro, mais especificamente acerca dos seguintes tópicos

fundamentais: a entrega de nacionais ao Tribunal; a pena de prisão perpétua; a

imunidades e o foro por prerrogativa de função; a reserva legal; e a coisa julgada.

Esta matéria está ligada ao que se denomina no Direito dos Tratados de

inconstitucionalidade intrínseca dos tratados internacionais, e Mazzuoli afirma que:

“Esta tem lugar quando o trato, apesar de formalmente ter respeitado todo o procedimento constitucional de conclusão estabelecido pelo direito interno, contém normas violadoras de dispositivos constitucionais(...)” (MAZZUOLI, 2009, p. 75)

Contudo, pode-se afirmar de antemão, que tal inconstitucionalidade é

meramente aparente, conforme será demonstrado nos tópicos abaixo.

13Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(33)

7.2.

A entrega de nacionais ao Tribunal Penal Internacional

O primeiro conflito aparente entre o Estatuto de Roma e a Constituição

Federal de 1988 advém do disposto no art. 89 do Estatuto, o qual prevê a prerrogativa

de o Tribunal encaminhar pedidos de detenção e entrega de indivíduos a qualquer

Estado em que esse se encontrar, e ainda, utilizando-se do princípio da cooperação,

solicitar ao Estado-parte a detenção do agente e a entrega de tal indivíduo,

respeitando as disposições do Estatuto e os procedimentos internos.

Contudo, a Constituição brasileira em seu art. 5º, LI e LII

14

, veda a

extradição de nacionais, sendo que tal disposição está inserida no Título dos Direitos

e Garantias Fundamentais. Ressaltando que os direitos fundamentais estão

acobertados pelo art. 60, §4º, IV,

15

da Carta Magna.

O Estatuto de Roma, levando em consideração disposições semelhantes

de vários textos constitucionais, distingue claramente o que se entende por “entrega”

e por “extradição em art. 102, alíneas “a” e “b”. Sendo que se entende por “entrega”,

o ato do Estado entrega um indivíduo ao tribunal “nos termos do presente Estatuto”, e

por “extradição”, entende-se a entrega de uma pessoa por um estado a outro Estado.

Em razão disso, as normas constitucionais relativas à

“extradição” não

podem ser aplicadas aos casos de entrega requeridas pelo Tribunal Penal

Internacional.

Ademais, o fundamento para a previsão da não extradição de nacionais

nas Constituições contemporâneas reside no fato de que um tribunal estrangeiro

14 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

15 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV - os direitos e garantias individuais.

(34)

poderia agir sem imparcialidade, realizando um julgamento injusto, o que não ocorre

no Tribunal Penal Internacional, pois este possui normas processuais que garantem a

imparcialidade nos julgamentos. (CACHAPUZ DE MEDEIROS, 2000, p. 14)

Diante do exposto, a previsão de entrega disposta no Estatuto de Roma

não incide em desconformidade com a Constituição Federal de 1988, assim não

havendo nenhum tipo de inconstitucionalidade neste sentido.

7.3.

A pena de prisão perpétua

Outra questão que gerou dúvidas acerca da incompatibilidade foi a

previsão, no Estatuto de Roma, da possibilidade de imposição de pena de prisão

perpétua.

O Estatuto de Roma, diferentemente dos Tribunais de Nuremberg e de

Tóquio, trouxe o elemento de não estabelecer a pena de morte, e instituir em seu art.

77 a pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30

anos ou a pena de prisão perpétua apenas para os casos mais graves, ou seja, para

os condenados pelos crimes previstos em seu artigo 5º, os quais são o genocídio,

crimes contra a humanidade, crimes de guerra e agressão.

No entanto, como a Constituição Federal em seu art. 5º, inciso XLVII, alínea

“b”, veda expressamente, a imposição de pena de prisão perpétua em nosso

ordenamento jurídico.

Por outro lado, ressalta-se que o art. 80 do Estatuto de Roma previu

importante regra de interpretação, ao dispor que suas normas em nada prejudicarão

a aplicação, pelos Estados, das penas previstas em seus respectivos direitos internos

ou a aplicação da legislação de Estados onde não haja a previsão das penas referidas

no Estatuto.

Portanto, a previsão constitucional de vedação de pena de prisão perpétua

dirige-se somente ao legislador interno brasileiro, não alcançando os legisladores

estrangeiros como também os legisladores internacionais, ou seja, não há afronta ao

Estatuto de Roma. (CACHAPUZ DE MEDEIROS, 2000, p. 15)

(35)

Desta forma, pode-se afirmar que não há qualquer incompatibilidade a ser

declarada também nesse tópico.

7.4.

Imunidades e o foro por prerrogativa de função

Outro conflito que pode surgir é referente às imunidades em geral e às

prerrogativas de foro por exercício de função. No ordenamento jurídico brasileiro

essas regras são aplicadas, por exemplo, ao Presidente da República, seus Ministros

de Estado, Deputados, Senadores, etc. Contudo, deve-se salientar que tais

imunidades e privilégios são de ordem interna e variam de Estado para outro.

(MORAES, 2005)

Os crimes de competência do Tribunal Penal Internacional, são na maioria

das vezes cometidos por indivíduos que se ocultam atrás de imunidades e privilégios

que são conferidas por seus ordenamentos jurídicos. (MAZZUOLI, 2009, p. 85)

Visando inibir essa atitude, o Estatuto de Roma em seu art. 27, trata da

irrelevância da qualidade/cargo daqueles que cometem os crimes por eles abordados,

segundo o qual expõe:

Art. 27. “1. O presente Estatuto será aplicável de forma igual a todas as pessoas sem distinção alguma baseada na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo, de membro de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário público, em caso algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade criminal nos termos do presente Estatuto, nem constituirá de per se motivo de redução da pena. 2. As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de uma pessoa; nos termos do direito interno ou do direito internacional, não deverão obstar a que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa.

Assim, como o Estatuto de Roma visa proteger a dignidade humana, ao

garantir a efetiva punição aos agentes que cometem os crimes expressos em seu

texto, afasta qualquer possibilidade de invocação de imunidade e prerrogativas

jurisdicionais.

(36)

Portanto, referente às imunidades e prerrogativas, conclui-se que é

perfeitamente admissível a coexistência das normas previstas no Estatuto e no

ordenamento jurídico brasileiro.

7.5.

Reserva Legal

Uma quarta questão levantada acerca da incompatibilidade da Constituição

Federal de 1988 e o Estatuto de Roma, é referente à reserva legal.

A legalidade é um princípio do Estado democrático de direito, que foi

estabelecido no artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, onde

“ninguém será

obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Desse princípio nasce a reserva legal, prevista no artigo 5º, inciso XXXIX,

da Constituição Federal, onde fica exposto que “não há crime sem lei anterior que o

defina, nem pena sem prévia cominação legal”, segundo o qual a regulamentação de

determinada matéria deve ser feita por meio de lei formal (nullum crimem sine lege e

nulla poena sine lege).

Esse princípio encontra-se no Estatuto de Roma, artigos 22, §1º e 23,

segundo os quais, respectivamente, nenhuma

“pessoa será considerada

criminalmente responsável, nos termos do presente Estatuto, a menos que a sua

conduta constitua, no momento em que tiver lugar, um crime da competência do

Tribunal”, e “qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida em

conformidade com as disposições do presente Estatuto”.

Como foi possível verificar, o Estatuto deixa claro quais são os crimes de

sua competência. E como a reserva legal foi expressamente instituída, tanto no

ordenamento jurídico interno brasileiro, como no Estatuto de Roma, não há qualquer

incompatibilidade entre eles.

(37)

7.6.

Respeito à coisa julgada material

Com base no princípio da complementariedade, percebemos que a

jurisdição do Tribunal Penal Internacional é subsidiária à jurisdição estatal, não

existindo hierarquia. Ou seja, o Tribunal somente poderá atuar quando o Estado não

tiver capacidade de julgar o fato, ou quando a investigação e o processamento do

acusado demorar injustificadamente. (CHOUKR e AMBOS, 2000, p. 275)

A norma constitucional brasileira dispõe em seu art. 5º, XXXVI, que a “lei

não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Contudo, o art. 20, §3º do Estatuto de Roma, trata da regra do ne bis in

idem, segundo o qual o Tribunal Penal Internacional não poderá julgar uma pessoa

que já tenha sido julgada por outro tribunal.

Desta forma, não há o que se cogitar de eventual desrespeito a coisa

julgada forma, e tampouco ato de inconstitucionalidade.

(38)

8.

EFICÁCIA INTERNA DAS DECISÕES E SENTENÇAS PROFERIDAS PELO

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

8.1.

Falta de competência do STJ para homologar as sentenças proferidas

pelo TPI

Dentre as citadas aparentes incompatibilidades do Estatuto de Roma e o

ordenamento jurídico brasileiro, encontra-se a questão relativa à necessidade de

homologação da sentença proferida pelo Tribunal Penal Internacional para que tenha

validade no direito interno brasileiro. (MAZZUOLI, 2009, p. 90)

O artigo 105, inciso I, alínea “i”, da Constituição Federal estabelece a

competência do Superior Tribunal de Justiça para a “homologação de sentenças

estrangeiras”.

No ordenamento jurídico brasileiro, para que as sentenças estrangeiras

tenham validade em nosso direito e possam produzir efeitos em nosso país, devem

cumprir as formalidades exigidas no artigo supracitado da Constituição Federal.

No entanto, como esse dispositivo menciona apenas as sentenças

estrangeiras, que são as proferidas por Tribunais estrangeiros, acabam, de certa

forma, afetando à soberania de determinado Estado, enquanto as sentenças

internacionais, prolatadas pelos Tribunais internacionais, as quais que não se

vinculam à soberania de nenhum Estado, não se incluem nessa designação.

Conforme Valério Mazzuoli, os Tribunais internacionais não se vinculam à

soberania de nenhum Estado, pois têm jurisdição sobre o próprio Estado. Também

não há como se afirmar que o termo sentença estrangeira, disposto na Constituição

Federal, abrange todas as sentenças não nacionais, pois o direito internacional, que

disciplina a sociedade internacional, não tem como ser confundido com o direito

estrangeiro, afeto à jurisdição de determinado Estado. (MAZZUOLI, 2009, p. 99)

Por esse motivo é que se conclui que o Superior Tribunal de Justiça não

tem competência constitucional para homologar as sentenças proferidas pelo Tribunal

Penal Internacional.

(39)

8.2.

Competência para a execução das decisões do TPI no Brasil

Por outro lado, observa-se que o Superior Tribunal de Justiça também não

é competente para aprovar a execução interna das decisões do Tribunal Penal

Internacional (concessão de exequatur

– art. 105, I, “i”, CF), como, por exemplo, a

decisão que determina a entrega de nacionais para julgamento perante o Tribunal.

Portanto, pode-se dizer que as decisões do Tribunal Penal Internacional

são obrigatórias e não dependem de autorização do Superior Tribunal de Justiça para

serem aplicadas.

No entanto, essas decisões não são autoaplicáveis, e o processamento

dessas decisões será realizado, no território brasileiro, pelo Juiz Federal de primeira

instância do domicílio do acusado, de acordo com o disposto no artigo 109, inciso III,

da Constituição Federal, segundo compete aos juízes federais processar e julgar “as

causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou

organismo internacional”.

Portanto, observa-se que, apesar de não ser exigida a concessão de

exequatur, nossa legislação ainda não estabeleceu as balizas necessárias para a

aplicação das decisões proferidas pelo Tribunal Penal Internacional.

Desta forma, caberá, ao Estado brasileiro, a tarefa de implementar as

regras de execução das decisões do Tribunal Penal Internacional no ordenamento

jurídico brasileiro, já que se o Estado ratificou o Estatuto de Roma ele estará disposto

a obedecer aos princípios da complementariedade e da cooperação, e assim

pressupõe que este tenha a vontade e interesse em investigar e julgar criminalmente

aqueles que cometem os crimes dispostos no Estatuto.

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