OS IMPACTOS DA ADOÇÃO DA
PRODUÇÃO MAIS LIMPA COMO
ESTRATÉGIA DE GESTÃO AMBIENTAL
EM UMA INDÚSTRIA
SUCROALCOOLEIRA
Thales Botelho de Sousa (UNIVEM)thaleseafsal@yahoo.com.br
Vania Erica Herrera (UNIVEM)
vania.erika1@terra.com.br
Douglas Taroco (EESC-USP)
douglas_taroco@hotmail.com
Carolina Belotti (UFSCAR)
carol_belotti@hotmail.com
Rafael Nobuishi Miyabara (UNIVEM)
miyabaraf@hotmail.com
Presente na economia brasileira desde a época da colonização do país pelos portugueses, o setor sucroalcooleiro sempre teve grande importância no agronegócio nacional. Com as crescentes exportações de açúcar, a crescente demanda interna porr combustíveis renováveis e o estímulo à produção de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, o setor vem se expandindo continuamente em todo o país. Por ser um grande utilizador de recursos naturais e gerar impactos significativos no meio ambiente, a gestão ambiental é uma área de grande importância nesse setor. O presente trabalho apresenta um estudo de caso realizado em uma indústria sucroalcooleira situada no oeste do estado de São Paulo, e tem por finalidade analisar e apresentar os impactos da adoção da Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental na indústria, destacando principalmente a relação dos seus níveis estruturais com as medidas mitigadoras dos impactos ambientais.
Palavras-chaves: Produção mais Limpa, Indústria Sucroalcooleira, Gestão Ambiental
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1. Introdução
As indústrias sucroalcooleiras do Brasil atualmente se encontram em posição de destaque, por exercerem papéis fundamentais na economia, sendo agentes responsáveis pela geração de empregos e renda, bem como, por realizar o fornecimento de produtos e subprodutos considerados essenciais no cotidiano, tais como açúcar, álcool, energia elétrica, dentre outros.
O processamento da cana-de-açúcar e a produção de seus subprodutos acarreta diversos impactos no meio ambiente, tais como geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, emissão de substâncias odoríferas e gases poluentes na atmosfera, bem como outros que; se não forem armazenados, tratados, depositados ou reaproveitados de maneira adequada; acarretam sérios prejuízos a curto, médio e longo prazos ao meio ambiente.
Aliadas a todos os fatores abordados anteriormente, as indústrias sucroalcooleiras nos últimos anos vêm concentrando enormes esforços para se adequar aos padrões ambientais, pois a legislação ambiental está cada vez mais severa ante a implantação e ampliação de unidades industriais do setor, tendo em vista os significativos impactos ambientais decorrentes de sua atuação.
Atualmente, é relevante e crescente, tanto em âmbito nacional quanto internacional, a preocupação com os impactos ambientais decorrentes das atividades industriais, tendo surgido diversas técnicas e estratégias de gestão ambiental, com o objetivo de minimizar estes impactos, dentre as quais podemos citar a Produção mais Limpa, a qual pode ser definida como uma aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos relevantes aos seres humanos e ao ambiente natural e que provoca mudanças na produção industrial com a diminuição dos impactos negativos ao meio ambiente, por meio de medidas que têm como prioridade a utilização mínima de insumos e a diminuição de resíduos e emissões durante todo o processo produtivo (CNTL, 2003; PHILIPPI, 2009).
Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo verificar e analisar através de um estudo de caso, a aplicação da Produção mais Limpa como estratégia de gestão ambiental de uma indústria sucroalcooleira do interior do estado de São Paulo, demonstrando de forma geral, os principais impactos ambientais gerados nos processos da indústria, as medidas mitigadoras para controlá-los e a correlação destas medidas com os níveis estruturais da Produção mais Limpa.
2. Referencial teórico
Neste item do presente trabalho são apresentadas algumas definições básicas acerca dos termos gestão ambiental e Produção mais Limpa, tendo em vista embasar a análise a que os mesmos se propõem e possibilitar uma melhor compreensão do estudo de caso.
2.1 Gestão ambiental
Segundo Barbieri (2007), gestão ambiental pode ser definida como as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento, direção, controle, alocação de recursos, dentre outras, realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre
3 o meio ambiente, com o propósito de reduzir, eliminar ou evitar os danos causados pelas ações humanas no mesmo.
Já Bursztyn e Bursztyn (2006) definem gestão ambiental como um conjunto de ações que envolvem políticas públicas, o setor produtivo e a comunidade, tendo em vista o uso sustentável e racional dos recursos naturais. Essas ações podem ser de caráter político, executivo, econômico, de ciência, de tecnologia e inovação, de formação de recursos humanos, de informação e de articulação entre diferentes atores e níveis de atuação.
A gestão ambiental diz respeito ao conjunto de políticas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente por meio da eliminação ou mitigação de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida do produto (ROHRICH e CUNHA, 2004).
A gestão ambiental é um processo adaptativo e contínuo, por meio do qual as organizações definem seus objetivos e metas relacionados ao meio ambiente, à saúde de seus empregados, clientes e comunidade, e selecionam estratégias para atingir esses objetivos em um determinado tempo, através de constante avaliação de sua interação com o ambiente externo (SEIFFERT, 2007 apud ANDRADE, TAKESHY e CARVALHO, 2000).
A gestão ambiental requer, como premissa fundamental, um comprometimento da alta administração da organização em definir uma política ambiental clara e objetiva, que norteie as atividades da organização com relação ao meio ambiente e seja apropriada à finalidade, escala e impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços (VALLE, 2004).
Para Barbieri (2007), a expressão gestão ambiental aplica-se a uma grande variedade de iniciativas relativas a qualquer tipo de problema ambiental. Para o mesmo autor (2007), qualquer proposta de gestão ambiental inclui no mínimo três dimensões, a saber:
1) a dimensão espacial que concerne à área na qual espera-se que as ações de gestão tenham eficácia;
2) a dimensão temática que delimita as questões ambientais às quais as ações se destinam;
3) a dimensão institucional relativa aos agentes que tomaram as iniciativas de gestão. Segundo Ferreira (2003), a finalidade principal da gestão ambiental é proporcionar benefícios à empresa, visando à superação, anulação ou redução dos custos das degradações provocados pelas atividades da empresa, principalmente as da área produtiva.
2.2 Produção mais Limpa
Segundo Barbieri (2007), Produção mais Limpa (Cleaner Production) é uma estratégia ambiental preventiva aplicada a processos, produtos e serviços, que visa minimizar os impactos sobre o meio ambiente e que vem sendo desenvolvida desde a década de 1980 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), fazendo parte dos esforços para instrumentalizar os conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável.
Produção mais Limpa foi definida, em um seminário realizado pelo PNUMA em 1990, como uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo
4 de manufatura ou ciclo de vida do produto, tendo como objetivo prevenir e minimizar os riscos para os seres humanos e o meio ambiente a curto e longo prazos. Essa abordagem requer ações para minimizar o consumo de energia e matéria-prima, e a geração de resíduos e emissões. A Produção mais Limpa envolve produtos e processos e estabelece uma hierarquia de prioridades de acordo com a seguinte sequência: prevenção, redução, reuso e reciclagem, tratamento com recuperação de materiais e energia, tratamento e disposição final (BARBIERI, 2007).
A decisão de se adotar um programa de Produção mais Limpa depende diretamente da relação custo-benefício que o investimento terá. Quando há investimentos em Produção mais Limpa, verifica-se que os custos decrescem significativamente com o tempo, resultado dos benefícios gerados a partir do aumento da eficiência dos processos, do uso eficiente de matérias-primas, água e energia, e da redução de resíduos e emissões gerados (CNTL, 2003).
A Figura 1 ilustra os níveis de intervenção da Produção mais Limpa, baseada em um estudo elaborado pela CNTL (2003), o qual traz um delineamento e fluxo sequencial de trabalhos a serem realizados para a implementação do programa.
Housekeeping Substituição de materiais Mudanças na tecnologia Modificação no processo Modificação no produto
Redução na fonte Reciclagem interna
Nível 1 Nível 2
Minimização de resíduos e emissões
Estruturas Materiais
Reciclagem externa Ciclos biogênicos
Nível 3
Reutilização de resíduos e emissões
Produção mais limpa
Figura 1 - Produção mais Limpa - Níveis de intervenção Fonte: CNTL, 2003
5 Fazendo uma análise da Figura 1, é possível classificar os níveis de intervenção da Produção mais Limpa com base em seus objetivos, o que pode ser visualizado na Figura 2:
Figura 2: Níveis de intervenção da Produção mais Limpa e seus objetivos Fonte: Domingues, 2007
Segundo Silva e De Medeiros (2006), a Produção mais Limpa pode ser implantada em qualquer setor de atividade e constitui-se de análises técnica, econômica e ambiental detalhadas do processo produtivo, tendo como objetivo identificar as oportunidades que possibilitem a melhoria da eficiência, sem acréscimo de custos para a empresa.
Para De Medeiros et al. (2007), a Produção mais Limpa, como um instrumento que visa a melhoria da atuação ambiental das organizações, também pode proporcionar redução de custos de produção e aumento de eficiência e competitividade; redução de multas e penalidades por poluição; acesso facilitado a linhas de financiamento; melhoria das condições de saúde e segurança do trabalhador; melhoria da imagem da empresa junto a consumidores, fornecedores e poder público; melhor relacionamento com os órgãos ambientais e com a comunidade; e maior satisfação dos clientes.
Na Figura 3, tem-se um levantamento dos principais benefícios da implantação da Produção mais Limpa nas empresas.
6 Figura 3 - Resultados tangíveis e intangíveis da implantação da Produção mais Limpa
Fonte: Lemos (1998)
3. Metodologia
O presente trabalho pode ser classificado quanto aos seus objetivos como uma pesquisa exploratória. A pesquisa exploratória foi escolhida tendo em vista que a mesma tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses, e o seu planejamento é bastante flexível, de modo que possibilita a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2002).
Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Para a realização da pesquisa exploratória é necessário desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar (GIL, 2002; KÖCHE, 2009).
Com relação aos procedimentos técnicos utilizados para a realização do presente trabalho, o mesmo foi concebido através de um estudo de caso. Para Gil (2002), o estudo de caso consiste no estudo detalhado e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e minucioso conhecimento. Furasté (2008) afirma que para o desenvolvimento do estudo de caso é feito um estudo exaustivo de algum caso em particular, de pessoa ou de instituição, visando analisar suas circunstâncias envolventes.
Para a elaboração do estudo de caso, foram feitas pesquisas sobre os principais aspectos e impactos ambientais do setor sucroalcooleiro, elaborados questionários que foram enviados aos responsáveis pela área ambiental e feitas visitas técnicas na indústria objeto de
7 estudo. O estudo de caso ocorreu em uma indústria sucroalcooleira situada no interior do Estado de São Paulo, a qual solicitou sigilo quanto à sua identificação. Portanto, durante o decorrer do trabalho, a mesma será citada como Indústria X.
Atualmente, a Indústria X produz açúcar, álcool e energia elétrica proveniente da queima do bagaço de cana-de-açúcar. É importante ressaltar que parte da cana é de sua propriedade e parte é proveniente de fornecedores.
4. Perfil do setor canavieiro brasileiro
O cultivo da cana-de-açúcar no Brasil começou no início da colonização do país pelos portugueses, em 1533. Na época da colonização a cana era utilizada exclusivamente para a produção de açúcar, o qual era exportado para a Europa pelos portugueses, sendo uma atividade bastante rentável, pois na época o açúcar tinha um valor tão alto quanto o ouro (FURTADO, 2007).
Até o século XX, a cana-de-açúcar era utilizada exclusivamente para a produção de açúcar nas indústrias sucroalcooleiras nacionais. Porém, ao final do referido século, com a crise dos combustíveis fósseis, foi desenvolvida a tecnologia de produção de álcool combustível ou etanol, e do final do século XX até os dias atuais, algumas indústrias sucroalcooleiras passaram a produzir energia elétrica, proveniente da queima do bagaço da cana-de-açúcar (UNICA, 2009).
Bragato et al. (2008) destacam que o setor sucroalcooleiro no Brasil é considerado evidente propulsor de desenvolvimento, com expressiva dimensão social e base de sustentação econômica do país. De acordo com dados do MAPA (2011), na safra de 2009/2010, foram produzidas 602.254.167 toneladas de cana-de-açúcar no Brasil, 25.714.732.000 litros de álcool etílico e 33.068.261 toneladas de açúcar. No ano de 2011, o valor das exportações de açúcar e álcool etílico chegou a 16.432.000.000 de dólares, representando 6,4% do valor das exportações brasileiras no ano MDIC (2011).
5. Principais impactos ambientais da indústria X
De acordo com a Resolução CONAMA nº 01/1986, impacto ambiental é definido como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança e o bem estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
De acordo com a ISO 14001 (ABNT, 2004), impacto ambiental pode ser definido como qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, total ou parcialmente das atividades, produtos ou serviços de uma organização.
Com base nas respostas dos questionários aplicados e observações feitas nas visitas técnicas, os principais impactos ambientais da Indústria X apontados são listados a seguir: 1) contaminação do solo pela má disposição dos resíduos sólidos: de acordo com as informações prestadas pelos colaboradores, os resíduos sólidos gerados pela indústria X são proporcionais à quantidade de matéria-prima (cana-de-açúcar) processada, ou seja, quanto
8 mais produtiva for a safra, maior a quantidade de resíduos sólidos gerada nas atividades industriais. As principais fontes deste impacto são os resíduos gerados no escritório, refeitório, oficina, laboratório, áreas industriais, áreas de estocagem de matérias-primas e produtos; bagaço de cana; torta de filtro; esgoto sanitário; sucatas ferrosas e não-ferrosas; embalagens vazias de agrotóxicos e produtos químicos tais como graxas, óleos, lubrificantes, dentre outros; e cinzas provenientes da caldeira.
2) contaminação das águas superficiais e subterrâneas: as principais fontes causadoras desse impacto são as águas provenientes da lavagem dos gases da caldeira, a vinhaça e os esgotos sanitários.
3) poluição atmosférica: os principais poluentes do ar atmosférico são os materiais particulados provenientes dos processos industriais (queima do bagaço de cana para geração de energia elétrica) e das atividades agrícolas (queima de palha de cana nos canaviais); emissão de substâncias odoríferas provenientes do processamento industrial e do armazenamento de vinhaça em tanques; e emissão de gases poluentes emitidos pelos veículos movidos a combustíveis derivados de petróleo.
4) emissão de ruídos e vibrações: as principais fontes são os equipamentos utilizados no processamento industrial que emitem ruídos e vibrações, e o trânsito de máquinas e implementos agrícolas que são usadas nas áreas agrícolas para o transporte de cana e insumos. 5) efeitos sobre o sistema viário: os principais impactos desse tipo são a emissão de poeira e ruído, riscos de atropelamento da fauna, e espalhamento de cana nas estradas e rodovias durante o transporte da mesma da lavoura até a usina.
6) armazenamento do álcool: o álcool armazenado nas indústrias pode provocar sérios impactos ao meio ambiente e à segurança dos trabalhadores e das instalações industriais, tais como contaminação das águas e do solo, risco de explosões dos tanques com conseqüentes incêndios nas instalações.
6. Principais medidas mitigadoras dos impactos ambientais
A Indústria X procura sempre manter-se adequada dentro dos padrões ambientais, para dentre outros aspectos: atender as exigências da legislação ambiental e dos órgãos governamentais, atender às exigências do mercado consumidor, e evitar possíveis custos com a remediação dos passivos ambientais que o desenvolvimento de suas atividades podem gerar, e as autuações dos órgãos governamentais.
As principias medidas para minimização ou eliminação dos impactos ambientais da Indústria X, bem como o nível de intervenção da Produção mais Limpa associado podem ser visualizados na Tabela 1:
Principais impactos
ambientais Origem Medida mitigadora
Nível da Produção mais Limpa associado à mitigação
Resíduos gerados no escritório, refeitório, oficina, laboratório, áreas industriais, áreas de estocagem de matérias-Escritório, refeitório, laboratório e diversas áreas produtivas Acondicionamento em tambores e em locais fechados, para posterior envio para aterros sanitários devidamente licenciados
Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)
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primas e produtos pela CETESB.
Bagaço de cana Produção de
açúcar e álcool
Utilização como
combustível na caldeira para geração de energia elétrica.
Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)
Torta de filtro Produção de
açúcar e álcool
Utilização como fertilizante na lavoura de cana.
Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)
Esgotos sanitários Banheiros e
refeitório
Tratamento atendendo aos padrões estabelecidos no
Decreto Estadual nº
8468/1976 e Resolução
CONAMA nº 357/2005,
com posterior lançamento nas águas superficiais.
Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)
Sucatas ferrosas e não-ferrosas
Toda a indústria em geral
Venda e/ou doação a sucateiros intermediários que efetuem destinação final adequada.
Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)
Embalagens vazias de agrotóxicos e produtos
químicos tais como
graxas, óleos, lubrificantes, dentre outros. Processamento industrial e abastecimento dos veículos Acondicionamento em
tambores e posterior envio
para unidades
reprocessadoras ou de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.
Nível 3 (depósito e destinação dos resíduos em local apropriado)
Cinzas provenientes da queima de bagaço de cana na caldeira
Geração de
energia elétrica
Utilização como fertilizante na lavoura.
Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo)
Águas provenientes da lavagem dos gases da caldeira
Geração de
energia elétrica
Tratamento, com posterior reutilização no processo de lavagem de cana.
Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo) Vinhaça Produção de álcool Armazenamento em tanques impermeabilizados para posterior utilização no processo de ferti-irrigação da lavoura, por ser um composto rico em nutrientes.
Porém, é importante
ressaltar que para aplicação na lavoura, a indústria faz análises periódicas, visando atender o disposto na Norma
Técnica CETESB P
4231/2006.
Nível 2 (reintegração dos resíduos no processo produtivo) Materiais particulados provenientes da queima do bagaço de cana Geração de energia elétrica Implantação de lavadores de gases nas chaminés das caldeiras, visando recuperar esses materiais.
Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões) Materiais particulados provenientes da queima de cana-de-açúcar na lavoura Queima da cana-de-açúcar para colheita
A indústria vem diminuindo
gradativamente esse
impacto, com a aquisição de implementos agrícolas para colheita mecanizada da cana.
Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões) Emissão de substâncias odoríferas em geral Processos industriais e armazenamento e
Pelo fato de a indústria estar localizada em área rural, esse impacto não gera a
Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)
10 disposição de vinhaça e torta de filtro necessidade de medidas mitigadoras. Emissão de gases
poluentes emitidos pelos veículos da indústria Veículos transportadores de cana A indústria faz periodicamente a revisão de seus veículos.
Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)
Ruídos e vibrações Veículos e
equipamentos
Isolamento acústico dos equipamentos que emitem tais impactos.
Nível 1 (evitar geração de resíduos e emissões)
Efeitos sobre o sistema viário
Tráfego de
veículos no
transporte da cana
Parceria com as Prefeituras
dos municípios de
abrangência da indústria para manutenção do sistema viário
-
Armazenamento do álcool Estocagem do álcool
Utilização de bacias de contenção nos tanques que
armazenam o álcool
produzido.
-
Tabela 1 - Principais impactos da indústria, medidas mitigadoras de seus efeitos e nível de intervenção da Produção mais Limpa associado à mitigação
Fonte: Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa
7. Considerações finais
Através do presente trabalho pôde-se conhecer melhor a estrutura da aplicação da Produção mais Limpa, bem como compreender sua importância no ambiente produtivo da Indústria X, como uma eficiente estratégia de gestão ambiental.
Resultados extremamente positivos foram obtidos pela empresa com a adoção da Produção mais Limpa, os quais podem ser visualizados na Tabela 2.
Ações de Produção mais Limpa Benefícios Dimensão do desenvolvimento
sustentável
Acondicionamento dos resíduos
sólidos em locais apropriados Senso de organização na empresa Política Utilização do bagaço de cana como
combustível Geração de energia elétrica Econômica e ecológica
Utilização da torta de filtro como
fertilizante Reaproveitamento na lavoura Econômica e ecológica
Utilização da vinhaça no processo
de fertirrigação Reaproveitamento na lavoura Econômica, ecológica e territorial
Tratamento dos esgotos sanitários Adequação à legislação ambiental Ecológica, social e territorial Venda de sucatas ferrosas e
não-ferrosas
Destinação final adequada e
ganhos financeiros Econômica e ecológica
Destinação adequada de
embalagens vazias de agrotóxicos e produtos químicos
Destinação final adequada Ecológica
Utilização das cinzas da caldeira
como fertilizante Reaproveitamento na lavoura Ecológica
Tratamento e recirculação das águas de lavagem de gases e utilização de no máximo 1 m³ de água por tonelada de cana moída
Economia de água Econômica e ecológica
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nas chaminés ambientais territorial
Eliminação da queima de cana-de-açúcar
Atendimento às exigências ambientais, melhoria na qualidade de vida da população
Ecológica, social, política e territorial
Tabela 2 - Ações de Produção mais Limpa, benefícios e dimensão do desenvolvimento sustentável associado Fonte: elaborado pelos autores, a partir dos dados do estudo de caso
Durante o desenvolvimento do trabalho foi possível verificar a relação que a Produção mais Limpa tem com a eficiência dos processos industriais, gestão equilibrada do uso dos recursos naturais, gerenciamento eficaz dos impactos ambientais gerados no processamento industrial, substituição de materiais perigosos, bem como com o atendimento eficiente das rigorosas exigências ambientais impostas a uma indústria sucroalcooleira.
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