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O Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian. e a reabilitação do património arquitectónico português em países estrangeiros

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Academic year: 2021

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O SERVIÇO INTERNACIONAL é o departamento da Fundação que apoia a difusão da Cultura Portuguesa no estrangeiro, particularmente nos domínios da Arte, da His-tória, da Literatura e da Linguística.

O Serviço tem cinco funcionários (um director, um técnico e três funcio-nários administrativos) e um consultor permanente (a Senhora D. Maria Helena Mendes Pinto) e outro para a área da reabilitação do Património Histórico Português (o Arq.º João Campos).

O último orçamento do Serviço, respeitante a 2002, foi de cerca de €1,450,000. Nesse ano, no domínio das actividades directas, organizou duas exposições e editou duas publicações, e relativamente ao apoio a terceiros concedeu 114 subsídios (27 no domínio da Arte e 87 no da Educação) e atribuiu 26 bolsas de estudo.

Além das actividades directas que consistem essencialmente, como atrás se mencionou, na organização de exposições e na edição de livros ou catálogos de exposições, o Serviço apoia as actividades de terceiros nos domínios seguintes: o restauro do património histórico português; a concessão de bolsas de estudo em Portugal a investigadores estrangeiros; o apoio à edição de obras de autores por-tugueses ou sobre Portugal; a oferta de livros porpor-tugueses e de equipamento infor-mático e audiovisual a instituições com papel relevante na cultura portuguesa; o apoio a manifestações sobre cultura portuguesa (conferências, congressos, semi-nários, colóquios; exposições de artes plásticas; festivais de música, teatro e cine-ma), nomeadamente através do pagamento de passagens aéreas de participantes ou do apoio à edição dos respectivos catálogos ou actas).

O objecto do presente texto é a acção da Fundação no domínio da recupe-ração do Património Histórico Português no estrangeiro e em particular no respei-tante ao património construído. Trata-se certamente de uma das áreas de intervenção do Serviço Internacional com maior visibilidade. A Fundação só intervém a pedido das autoridades competentes (Estado, autarquias, entidades religiosas, etc.) dos países onde se encontra o monumento a restaurar e normalmente é-lhes também

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João Pedro Garcia| Director do Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian

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da uma comparticipação financeira, mesmo que simbólica, como prova de seu em-penho na prossecução da iniciativa.

A intervenção da Fundação pode ser de cariz técnico ou financeiro, e tam-bém consistir apenas na oferta de um projecto que os “donos da obra” poderão de seguida executar. No primeiro dos casos e antes da reabilitação propriamente dita, há um período de conversações de ordem técnica, uma vez que se procura utilizar, sempre que possível, pessoal especializado, materiais e técnicas locais. A Fundação cessa a sua intervenção após a cerimónia da inauguração do monumento, ficando a sua manutenção por conta das respectivas autoridades.

O primeiro dos projectos apoiados teve lugar entre 1958 e 1960, quando o Quénia era ainda colónia britânica, o restauro do Forte de Jesus, em Mombaça, cons-truído no ano de 1593. Uma placa colocada no interior assinala a presença na inau-guração de Pedro Theotonio Pereira, então Ministro da Presidência de Portugal e antigo Embaixador em Londres. A placa menciona especificamente o seguinte: «(…) The Fortress was declared open on the 29thOctober 1960 by H.E. Dr. Pedro Theotonio Pereira, Presidency Minister to the Government of Portugal and sometime Ambassador to the Court of Saint James».

O Forte de Jesus foi ainda objecto de intervenções subsequentes, a última das quais ficou concluída em 2001, com o restauro das muralhas, o arranjo paisagís-tico envolvente e a iluminação exterior.

Decorridos mais de vinte anos, a Fundação apoiou um novo projecto em África, desta vez no Benim, antigo Daomé, comparticipando nas várias fases da rea-bilitação do Forte de São João Baptista de Ajudá, construído em 1721 e que até 1960 foi um enclave Português. Como o Forte de Jesus, o de S. João Baptista é um monu-mento aglutinador das diversas comunidades da região e, no seu caso específico, um local de memória de um período trágico das relações euro-africanas – o da escra-vatura – pois Ajudá era um centro importante de tráfego, nomeadamente para o Brasil.

Posteriormente, ainda em África, a Fundação contribuiu com um vultuoso subsídio para a reabilitação da Torre de Menagem da Fortaleza de Arzila, em Mar-rocos, erigida em 1509 e onde D. Sebastião terá passado a última noite antes de Alcácer-Quibir. A parte superior da Torre ruiu com o terramoto de 1755 e o Arq.º Augusto Viana de Lima, consultor da UNESCO para questões do Património, conce-beu, a pedido da Fundação, um notável projecto em que foi reposta a cobertura, além de ter sido efectuado uma reabilitação global do monumento, inaugurado em

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1994 pelo Presidente da República Portuguesa e pelo então Príncipe Herdeiro e actual Rei de Marrocos.

Também na Europa a Fundação tem desempenhado um papel relevante nes-ta área: nos Países Baixos, a Biblioteca Ets-Haim, no edifício da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, criada em 1616, e que possui um conjunto de livros e manuscritos em português, beneficiou de um subsídio do Serviço Internacional, tendo o projecto global, que incluiu a recuperação da própria Sinagoga com o apoio financeiro do Governo holandês, sido inaugurado em 1993 pela Rainha dos Países Baixos.

Por sua vez, a República de Malta, que irá brevemente integrar a União Euro-peia, havia solicitado a colaboração da Fundação para o restauro do Pátio de Honra do Palácio dos Grãos-Mestres, mandado construir no século XVIII pelo Grão-Mestre Português António Manuel de Vilhena, em Mdina, a antiga capital do país. A inau-guração dos trabalhos de restauro teve lugar em 2002, com a presença do Presidente da República de Malta, tendo na respectiva cerimónia participado o Coro Gulbenkian. Na Ásia, concluíram-se dois importantes projectos, na Tailândia e no Ban-gladesh, países que nunca foram colónias portuguesas mas com relações muito próximas a nível comercial, religioso e, no caso da Tailândia, militar (soldados por-tugueses combateram ao lado da Tailândia contra os Birmaneses).

Na Tailândia (com quem mantemos contactos desde 1511) foram preser-vadas, em momentos sucessivos, as ruínas portuguesas de Ayuthaya, a antiga capital do país. Além da Igreja de São Domingos, construída em 1555 e uma das cinco igre-jas católicas que ali existiam, foi protegido o cemitério adjacente, (que guarda restos mortais de portugueses e tailandeses) com uma cobertura especialmente concebida para o efeito, e construído um cais que permite o acesso por via fluvial e a partir de Bangkok. A inauguração dos trabalhos finais decorreu em 1995, e nela participou a Princesa Galyani, irmã do Rei da Tailândia.

Em Dhaka, na capital do Bangladesh, foi restaurada a Igreja do Santo Ro-sário, construída em 1677 pelos missionários agostinhos portugueses. A Igreja havia anteriormente sido objecto de várias intervenções deficientes, e foi-lhe agora devol-vida a sua traça original que conjuga a arte e a arquitectura religiosas do Ocidente com as coloridas influências locais, muçulmanas e mogóis. Presidiu à celebração da inauguração o Cardeal Patriarca de Lisboa.

Na América Latina, a Fundação subsidiou, no Uruguai, em Colónia de Sacra-mento, a reconstrução de uma habitação portuguesa do século XVIII, conhecida por Casa de Nacarelo, e a criação de um Museu Português que regista as antigas relações

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entre os dois países. No Brasil, o restauro da Casa de Ópera de Vila Rica, em Ouro Preto (Minas Gerais), o mais antigo teatro em actividade da América Latina (data do reinado de D. José), e de uma pintura mural, descoberta em 1990 num sobrado de S. Luiz de Maranhão por um pedreiro que ali trabalhava, receberam o apoio finan-ceiro da Fundação. O painel de 1819/1820 representa o Terreiro do Paço em Lisboa e terá tido origem numa gravura da autoria de Carlos Mardel, representando o seu projecto para a actual Praça do Comércio, que foi preterido em favor do de Eugénio dos Santos. A descoberta do painel permitiu conhecer a cor original dos edifícios da Praça – o amarelo-torrado – que foi utilizada para a sua pintura actual.

Três importantes projectos oferecidos pela Fundação às respectivas autori-dades não foram ainda concluídos. No Brasil, o do Forte do Príncipe da Beira, em Rondónia, construído entre 1776 e 1783, posteriormente abandonado é só redes-coberto em 1914 pelo General Rondon. Trata-se de um extraordinário monumento que marca a fronteira ocidental do Brasil – e de onde nunca foi disparado um só tiro. O projecto, cuja execução ficaria a cargo das autoridades brasileiras, foi entre-gue ao Presidente José Sarney em 1985. No continente africano, a Fundação ofe-receu às autoridades tanzanianas um projecto de recuperação do Forte de Quiloa, construído por Vasco da Gama em 1505. Rezam as crónicas que o Forte foi edifica-do em 22 dias numa terra que ainda hoje diz muito a Portugal: foi de Quiloa que veio o ouro da Custódia de Belém. Finalmente, em Malaca, o Arq.º Viana de Lima, aliás também autor do projecto de Príncipe da Beira, realizou para a Fundação mais um trabalho notável, ligando a Porta de Santiago (o último vestígio da Fortaleza de Afonso de Albuquerque, mandada erguer em 1511 e destruída pelos holandeses em 1641 e pelos ingleses em 1807) à Igreja de S. Paulo, de 1541, integrada na Fortaleza e que, em 1553, acolheu por alguns meses os restos mortais de São Francisco Xavier. O projecto aguarda há vários anos a confirmação do interesse das autoridades locais para ser realizado.

Encontram-se actualmente em curso três projectos, em Marrocos, no Irão e na Indonésia. Relativamente ao primeiro daqueles países, está praticamente concluí-do o levantamento arquitectónico da Catedral Portuguesa de Safim, o mais grandio-so exemplar manuelino existente fora de Portugal, excluindo a arquitectura militar; quanto ao Irão, o Arq.º João Campos, que pôs em prática o projecto de Viana de Lima após o seu falecimento em 1991, para Arzila, e é o autor dos de Malta, Dhaka, Quiloa, Mombaça e Safim (e como se verá a seguir, de Yogyakarta), irá terminar brevemente o projecto de restauro da Fortaleza de Ormuz, construída por Afonso de

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Albuquerque, de 1507 a 1515, com interrupções para as tomadas de Goa (1510) e Malaca (em 1511), e de dois Fortes muito próximos e menos grandiosos, mas de grande importância estratégica: o de Qeshm – que fornecia água a Ormuz – e o de Laraque. Finalmente, foi recentemente aprovado um importante subsídio para a rea-bilitação do Palácio da Água (conhecido localmente por Tamansari) de Yogyakarta, na Indonésia, construído no século XVIII segundo os planos de um arquitecto de origem portuguesa (Deman Tuguis).

Como os Portugueses viajaram por todo o mundo e por todo o mundo dei-xaram rastos, é provável que outros pedidos de cooperação venham a surgir em breve. Como escreveu João Lobo Antunes, no prefácio do livro de Maria João Avillez significativamente intitulado Portugal: As Sete Partidas para o Mundo, «há tanto Portugal, tão longe». É este Portugal do passado que, com as técnicas do presente, a Fundação tem procurado salvaguardar, em favor das gerações futuras.NE

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Referências

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