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Anais do IV Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte

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Academic year: 2021

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AS MODIFICAÇÕES CORPORAIS DEMARCANDO TRIBOS DE ONTEM E DE HOJE

Josiane Vian Domingues Acadêmica do curso de Educação Física Licenciatura-Universidade Federal do Rio Grande Bolsista voluntária do GESE (Grupo de pesquisa Sexualidade e Escola) Alessandra Amaral da Silveira Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências: Química da vida e Saúde Linha Educação Científica: Implicações das Práticas Científicas na constituição dos sujeitos

RESUMO

Desde o início dos tempos o corpo tem sido espaço de construção de identidades culturais. É nele que estão inscritas as marcas bio-histórico-culturais de cada sociedade. Em função disso esse trabalho tem como objetivo analisar diferentes formas de manifestação focada na modificação corporal dentro de tribos primitivas e modernas. Para isso buscamos identificar diversos significados e alguns grupos que utilizam determinadas práticas de metamorfoses para auxiliar na sua constituição. Foram analisadas três tribos, sendo duas primitivas e uma moderna: uma tribo que realiza a circuncisão, a cultura chinesa voltada para a sexualidade e uma tribo moderna que se utiliza de métodos primitivos.

ABSTRACT

The body has been place of cultural identities construction. It is in the body that each society expresses trademarks bio-historical and cultural features. As a result this work aims to analyze different forms of expression focused on modification body within primitive and modern tribes. We aim to identify different meanings and seek some groups who use certain practices of metamorphosis to assist in its constitution. We examined three tribes, two primitives and one modern: a tribe that performs the circumcision, the Chinese culture geared towards sexuality and a modern tribe that is used primitive methods.

Tudo se reduz a este princípio: o corpo é seu, joga com ele! Vejo que as pessoas têm uma necessidade desesperada destes ritos;

eis porque renascem o piercing e a tatuagem. De um modo ou de outro, as pessoas precisam de uma cultura tribal.

Fakir Musafar

 

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1. Informações preliminares:

Para melhor compreendermos de que forma e quais as modificações corporais que fazem parte da cultura/tradição das tribos, é preciso, primeiramente, situarmos o que seria uma tribo. Segundo Queiroz (2003, p. 242), tribo é uma “organização social que tem em comum o território que ocupa, as manifestações culturais e o idioma. O termo designa também grupo da mesma faixa etária e nível sócio-econômico que mantém atividades e hábitos sociais comuns”. A partir disso, podemos considerar que uma tribo é constituída por um grupo de pessoas que dividem o mesmo lugar e que mantém os mesmos hábitos, costumes, cultura, crença, diferenciando-se, enfim, do modo de vida da sociedade em geral.

Um fator comum entre as tribos primitivas e as modernas é o ato de cultuar os seus corpos, seja cobrindo-os ou despindo-os por completo seja ornamentando-os com pinturas, perfurações, queimaduras, cortes, extirpando órgãos ou, ainda, com ações ligadas à sexualidade ou aos ritos de passagem. A prática de modificar a silhueta dos corpos demarca assim uma identidade cultural e temporal de determinado grupo de pessoas.

Para Pires (2005, p. 77), modificar os corpos “reporta-se ao uso de técnicas que possibilitam ao indivíduo adquirir características não similares às inatas, aplicadas ao corpo por meio de perfurações, cortes, queimaduras e cirurgias”. Afirma ainda que “podemos agrupar os elementos resultantes das técnicas as características que surgem como reação do organismo a determinados procedimentos, tais como as cicatrizes”. Em outras palavras, podemos dizer que pintar, cortar, furar e/ou queimar os corpos são práticas recorrentes tanto das tribos primitivas quanto das modernas.

A partir disso, o objetivo dessa escrita é discutir como as modificações corporais são tidas como peças fundamentais para a constituição de identidades das tribos em diferentes épocas. Para isso, estruturamos esse texto em duas partes, em que na primeira buscaremos verificar como as modificações corporais se fizeram presentes na cultura de algumas tribos primitivas e no segundo momento como elas se constituem nas tribos modernas.

2. Métodos rudimentares e o primitivismo das tribos

Em diversas culturas, ao redor do mundo, métodos de modificações corporais são utilizados para demarcar o pertencimento em determinados grupos sociais e, também, em alguns casos, como forma de materializar o divino. Sendo assim, podemos caracterizar tais atos de duas maneiras: primeiro como valor simbólico e em segundo pela implicação social. No caso das tribos primitivas, as transformações corporais estão mais associadas ao significado simbólico, pois é constituída de ritos e com isso há a formação de novas

 

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identidades. Para exemplificar, podemos destacar duas das inúmeras modificações corporais realizadas em tribos primitivas: a circuncisão e o enfaixamento dos pés das chinesas, com seus minúsculos sapatos.

A circuncisão é uma intervenção cirúrgica que consiste na remoção do prepúcio – prega cutânea que recobre a glande do pênis. Essa

remoção, chamada também exérese do prepúcio ou

peritomia (do grego peri, "em torno", e tomia, "corte"). É uma prática realizada pelas tribos africanas a mais de 5 mil

anos, sendo símbolo de aliança divina para alguns ou

ritual de iniciação para outros. Chebel (2008) aponta a sua importância por ser “um ritual que soube agregar em

torno de si uma quantidade de significados de alcance universal: religiosos, iniciáticos, profiláticos, estéticos e

medicinais”. Com isso, a sua perpetuação se consolida e se expande para outras regiões, pelo fato de estar associada à higiene do corpo, sendo esse, atualmente, um dos motivos que levam os judeus há praticarem-na.

Outra modificação que foi realizada por um longo período e demarcava entre outros fatores a questão da sexualidade eram as mulheres chinesas com os pés minúsculos, sendo símbolo de beleza feminina. Esta prática envolvia, além disso, a garantia de obter um marido. Durante a infância, essas mulheres tinham seus pés fortemente enfaixados, interrompendo o seu crescimento e causando fortes dores as meninas. Tudo isso acontecia com o objetivo de se tornarem atraentes aos olhos masculinos.

Em ambas as modificações apresentadas são visíveis que os envolvidos, na maioria das vezes, ainda crianças, não tinham a opção de não realizar tais práticas, por ser uma questão cultural imposta pelo grupo social que estavam inseridos, por atribuírem significados grandiosos a essas modificações.

3. Nas tribos do primitivismo moderno

Como apresentado anteriormente, as tribos não estão limitadas a um tempo histórico. Elas se fazem presentes até hoje, com certa modernização, porém, com os mesmos ideais de marcar o corpo, a fim de constituir uma identidade e se inserirem a um ou mais grupos. Nesse mundo contemporâneo, existe uma série de tribos ditas urbanas que procuram romper com os padrões definidos pela sociedade vigente. Em outras palavras, são classificados como undergruonds. Essas pessoas procuram se estabelecer em ambientes que fogem dos padrões. Dentre essas tribos destacamos os homossexuais, os Cyerpunks1 e os Moderns primitives, sendo que daremos ênfase a esse último.

A tribo dos Modern primitives teve a sua origem em meados da década de 60 e determinou um modo de vida diferente da sociedade contemporânea,

 

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5. Os cyberpunks implantam chips que ligam o sistema nervoso à internet, instalam câmeras e filmam o interior do corpo e substituem osso e carne por metal e plástico. Ou seja, buscam confundir as fronteiras entre homem e máquina.

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utilizando técnicas de modificação corporal como piercings, tatuagens, escarificações, suspensões, como forma de marcar a identidade daquele grupo de indivíduos. Mas, além disso, esses adeptos buscam realizar intervenções de maneira alternativa, semelhantes, assim, aos métodos utilizados nas tribos primitivas.

Analisando estas práticas corporais contemporâneas, Pires (2005, p. 102) afirma que: mesmo sendo membros de uma sociedade que se desenvolve baseada na razão e na lógica, se guiam pela intuição e colocam o corpo físico como o centro de suas experiências. Esses indivíduos que associam o conhecimento às sensações, respondendo a impulsos primitivos e se utilizando do conhecimento obtido pelas sociedades que há milhares de anos praticavam modificações corporais, se permitem sofrer qualquer tipo de manipulação corporal.

Um fator importante para alguns membros do Modern primitives é o fato deles não se importarem com as marcas deixadas no corpo, uma vez que “o enfrentamento da dor permite o acesso a um estado de consciência desconhecido nas

sociedades ocidentais, onde tudo se faz para combater o sofrimento físico” (LIOTARD, 2001, p. 23). Em outras palavras, a procura pela dor é um componente importante entre os integrantes do grupo Modern primitives.

Para Pires (2005), os elementos que guiam os

adeptos das modificações corporais é o caráter místico que tais práticas apresentam, pois eles se pautam pela busca da

transcendência e o rompimento dos limites do corpo, como forma de fortalecer a alma. Por isso que para realizar tais procedimentos os adeptos passam por uma série de rituais de iniciação, que os preparam para essa nova identidade assumida.

Em suma, ao realizar intervenções no corpo espontaneamente, os adeptos do primitivismo moderno buscam construir um “elo que unifica a dualidade entre o corpo físico e o corpo espiritual/ mental” (PIRES, 2005, p. 159).

4. Enfim...

Em diferentes grupos sociais – alternativas ou não – o corpo, dentro de suas inúmeras representações, sempre foi cultuado e utilizado como uma forma de demarcar pertencimento a um grupo social ou para fortalecer laços e tradições da cultura a que pertence. No corpo estão os registros de uma cultura e de um tempo. Nesse sentido, outro elemento de intersecção entre as práticas corporais de modificação corporal das tribos primitivas ou modernas é que elas utilizam o corpo como uma espécie de manifestação do sagrado, em que há a materialização ou a aproximação do divino.

No entanto, um fator importante a ser destacado e que diferencia as práticas de modificação corporal entre os integrantes das tribos primitivas das modernas é a relação estabelecida com a dor. Nas tribos antigas pouco importava o sentir dor, o objetivo era a preservação da cultura e, para tanto, fazia com que os integrantes daquele grupo fizessem as

 

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modificações, querendo ou não, pois era considerada fundamental, seja para demarcar a sexualidade ou para definir a questão de status social.

Já em algumas tribos urbanas a relação com a dor se altera, ou seja, os praticantes das modificações corporais afirmam que a dor é o elemento fundamental destas ações, pois eles buscam subverter a relação tradicional que a sociedade estabelece com dor, vendo-a como algo a ser evitado, negativo. Para estes, a dor está intimamente relacionada com o prazer, com a transcendência, com o rompimento entre as fronteiras do material e do espiritual. Além da inversão com relação à dor, outro elemento característico, na modernidade, refere-se a que estas práticas e determinadas marcadas corporais produzidas se estabelecem como símbolos de pertencimento a um ou outro grupo social. Assim, a questão de aceitação a um grupo vai além da superação da dor, pois a necessidade de se “enquadrar”, de estabelecer uma identidade é uma busca incessante para a realização pessoal dos indivíduos.

5. Referências bibliográficas

CHEBEL, Malek. Circuncisão a tradição do corte. http://www.cleofas.com.br/virtual/ texto.php?doc=SEITA&id=sei0010, acessado em Julho de 2008.

LIOTARD, Philippe. O ideal perdido: a bricolagen corporal. In Ivan Briscoe et al. O Correio da Unesco. São Paulo: FGV, 2001.

PIRES, Beatriz Ferreira O corpo como suporte da arte. São Paulo: Senac, 2005. QUEIROZ, Tânia Dias. Dicionário prático de pedagogia. São Paulo: Ridel, 2003.

Referências

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