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PODER JUDICIÁRIO SÃO PAULO

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PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL Décima Câmara

APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº 526.256-0/0 - JUNDIAÍ Apelante: Benedito Batista da Silva

Apelado : Instituto Nacional do Seguro Social

ACIDENTE DO TRABALHO. DISACUSIA CONDUTIVA. Comprovados o nexo etiológico e a redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitualmente executava, o que equivale à necessidade de mudar de função, o segurado deve receber o benefício de prestação continuada.

Voto nº 3.755

Visto.

BENEDITO BATISTA DA SILVA, qualificado nos autos, propôs Ação de Prestações por Acidente do Trabalho contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, alegando ser portador de disacusia neurossensorial contraída no exercício de suas funções.

Encartados o laudo e os esclarecimentos firmados pelo Perito Judicial e, vencida a instrução, houve entrega da prestação jurisdicional sendo julgada improcedente a pretensão (folhas 249/252).

Recorreu o Autor. Pediu a apreciação de Recurso de Agravo de Instrumento retido, estendendo o tema preambular, e persegue a reforma da decisão, enfatizando que a perda auditiva bilateral por ruído encontra-se comprovada.

O Recorrido INSS apresentou contra-razões sustentando o acerto da decisão (folhas 268/269).

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A PROMOTORIA DE JUSTIÇA manifestou-se pelo não provimento. A PROCURADORIA DE JUSTIÇA opinou por nova perícia e pela não acolhida do apelo.

O julgamento foi suspenso para exame médico e vistoria no local de trabalho, com nomeação de Perita. O Apelado indicou Assistente Técnico. Eles apresentaram laudos distintos, aquela, inclusive, de vistoria. O Apelante deixou transcorrer in albis o prazo para manifestação. O INSS criticou o trabalho pericial. A Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório, adotado no mais o da r. sentença.

O Segurado é portador de disacusia condutiva nos ouvidos direito e esquerdo, inclusive perfuração membrana timpânica no ouvido direito. Concluiu a Perita:

“A vistoria feita no local de trabalho do Autor comprova a exposição potencial de surdez profissional, portanto concluímos que o Autor apresenta disacusia condutiva que pode ter sido agravada devido ao tempo de exposição ao ruído sendo de concausa profissional”.

“A perda auditiva neste caso foi agravada pelo ambiente de trabalho, e, embora possa não se caracterizar como perda induzida por ruído, não há dúvida que se trata de concausa”.

“Faz jus a Auxílio Acidente 50% (Lei 9032 de 28/4/95)” (folhas 355/356).

A vistoria comprovou que o Segurado não recebia equipamento de proteção individual. Para mensuração a Perita utilizou um decibelímetro1 digital na altura do ouvido do trabalhador, operado no circuito de compensação “A”, na posição “Slow” para ruídos

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contínuos, e “Fast” para ruídos de médio impacto. Os resultados foram os seguintes:

“FAROL OU PONTO = 74 A 76 dB A

SUBVIDA = 94 dB (existe 2 no trajeto)

ANDANDO TRAJETO VIA = 86 a 87 Db a

Estrada de terra = semelhante ao trajeto via

Ônibus Thanco = carroceria – chassis Mercedes motor frente” (folha 359).

“Obs. Esta vistoria é diferente das demais porque foi preciso fazer a mensuração com o veículo em movimento. O trajeto dura aproximadamente 2h dependendo do horário de pico (2 vezes/dia) e número de passageiros nos pontos de ônibus”.

“O barulho dos ônibus é mais intenso no ouvido esquerdo que o ouvido direito e mais intenso quando o vidro está fechado, que mais empregado para segurança do motorista, principalmente em dias de chuva”.

“O barulho é mais intenso com o ônibus em movimento e diminui nas paradas de farol e de ponto de ônibus” (folhas 359/360).

O laudo pericial firmado pela Perita encontra-se subsidiado por outro, de vistoria, e pelos demais elementos constantes dos autos. Supera com propriedade o parecer firmado pelo Assistente Técnico do Apelado, que concluiu “... É portador de disacusia neuro

sensorial2 bilateral que acusa o ruído do motor dos ônibus que dirigia como

responsável (...). Em não havendo causa única embora ligada ao trabalho conclui-se que todo o histórico e patologia não foram impeditivos para o exercício da atividade de motorista ...”(folha 364).

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Perda e redução têm o mesmo significado. Audição (do

latim auditione), consiste na percepção dos sons pelo ouvido. É a

capacidade de ouvir. Perda (do latim perdita) é a privação da audição. Redução, do latim reductione, é a diminuição, é a restrição, é a

limitação. Redução da audição cifra-se na restrição ou na diminuição da capacidade de ouvir.

A disacusia neurossensorial bilateral é uma lesão

irreversível e progressiva que, evidentemente, virá a agravar-se dia-a-dia, mesmo que o operário use equipamento individual de proteção contra ruído, que não protege a via óssea por onde atuam as vibrações mecânicas sempre presentes nos ambientes industriais ruidosos, visto serem produzidas pelas próprias fontes emissoras do ruído, e continuam a agredir ao ouvido humano, tornando mais grave as lesões já existentes.

O segurado vítima de acidente do trabalho ou de doença profissional ou do trabalho, que perde porcentual3 de sua audição, sem dúvida passa a ser portador de deficiência para o resto da vida. O benefício acidentário de prestação continuada é o pouco que o INSS pode retribuir-lhe porque, como segurado obrigatório, já pagou por isto.

A perda da audição, de qualquer grau, autoriza a concessão do auxílio acidente, uma vez comprovados o nexo etiológico e a incapacidade parcial que impede o segurado de exercer a atividade habitual.

Trata-se de entendimento que foi prestigiado pela Lei nº 9.528, de 10.12.97, que restabeleceu os artigos 34, 35, 98 e 99, e

3 - O mesmo que percentagem. Do lat. Per centum, ‘por cento’, + agem. Parte proporcional calculada sobre uma quantidade de 100 unidades.

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alterou os artigos 12, 22, 25, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 38, 39, 45, 47, 55, 69, 94 e 97 da Lei nº 8.212, de 24.7.91, e restabeleceu o § 4º do

artigo 86 e o artigo 122, e alterou os artigos 11, 16, 18, 34, 58, 74, 75,

86, 94, 96, 102, 103, 126, 130 e 131 da Lei nº 8.213, de 24.7.91,

Art. 86. ...

§ 4º. A perda da audição, em qualquer grau, somente proporcionará a concessão do auxílio-acidente, quando, além do reconhecimento de causalidade entre o trabalho e a doença, resultar, comprovadamente, na redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia (Grifou-se).

Esta norma põe por terra a questão do porcentual de incapacidade da Tabela de Fowler, de 1940, quando o homem não ia à lua, o rádio e a televisão iniciavam os primeiros passos, o centro industrial era outro, a metrópole não tinha a poluição sonora dos dias atuais, entre outras conseqüências naturais da evolução que salta aos olhos de todos. É evidente que o meio ambiente e/ou centro de trabalho, industrial ou não, era bem diferente.

No caso é imperioso o dever de conceder-se e manter-se o benefício de prestação continuada – auxílio acidente -, diante da existência de perda auditiva decorrente do ambiente de trabalho, porque o segurado apresenta lesão que o impede da prática da mesma atividade profissional. E, agora, pode-se afirmar com

tranqüilidade: Há dispositivo legal que assim o autoriza!

Comprovados o nexo etiológico e a redução ou perda da capacidade para o trabalho que habitualmente executava, o que equivale à necessidade de mudar de função, o segurado deve receber o benefício de prestação continuada.

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“Faz jus a benefício acidentário o obreiro acometido de moléstia auditiva, desde que comprovada a perda da capacidade laborativa, o nexo entre a doença e o trabalho e a necessidade de mudança de função 4”.

Em face ao exposto, dá-se provimento ao recurso, julga-se procedente o pedido e condena-se o INSS aos pagamentos de:

1- Auxílio acidente de 50% sobre o salário de benefício, a partir do dia seguinte ao da citação (26.7.96 - folha 21 vº).

2- Abono anual.

3- Juros de mora, devidos desde a citação, incidindo de forma decrescente, mês a mês.

4- Despesas em reembolso.

5- Honorários de Advogado de 15% sobre as parcelas vencidas até a data da r. sentença de primeiro grau e mais doze vincendas.

6- A atualização se fará na seguinte forma: a partir de julho de 1996 incide o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna - artigo 8º da Medida Provisória nº 1.415/96) até o que for determinado pela legislação posterior.

Cada critério se aplicará ao período da sua vigência, sem que o mais recente implique inobservância do anterior. O total assim apurado será convertido em UFIR, nos termos do artigo 18, da

4 - 2º TACivSP - Ap. s/ Rev. 476.764-00/2 - 10ª Câm. - Rel. Juiz GOMES VARJÃO - J. 30.6.99. No mesmo sentido: Ap. s/ Rev. 356.265 - 6ª Câm. - Rel. Juiz GAMALIEL COSTA - J. 8.2.94; Ap. s/ Rev. 358.906 - 3ª Câm. - Rel. Juiz GOMES VARJÃO - J. 15.3.94; Ap. s/ Rev. 412.948 - 4ª Câm. - Rel. Juiz CARLOS STROPPA - J. 27.9.94; Ap. s/ Rev. 526.258 - 3ª Câm. - Rel. Juiz JOÃO

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Lei nº 8.870/94. Esse o critério de atualização que atenta à legislação de regência e à jurisprudência predominante.

IRINEU PEDROTTI Relator

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