Gerenciamento de Resíduos de
Laboratórios
Prof. Dr. Marco Tadeu Grassi
Laboratório de Química Ambiental e de Materiais - LabQAM Departamento de Química
Universidade Federal do Paraná - C.P. 19081 81531-990 Curitiba PR
Fone: 041-361-3297 / Fax: 041-361-3186
VII Encontro Nacional sobre Métodos de Laboratório EMBRAPA
Ementa
• Aspectos gerais de um programa de gestão de resíduos; • Inventário do passivo;
• Caracterização de resíduos não identificados; • Tratamento do ativo;
• Segregação de resíduos;
• Exemplos de tecnologias clássicas e emergentes;
• O Programa de Gerenciamento de Resíduos do Departamento de Química da UFPR.
Resíduos: cenário mundial atual
Problema de natureza global:
Aumento das atividades extrativistas, de produção e consumo gera uma grande quantidade de resíduos.
Momento atual caracterizado por uma postura global voltada para a preservação ambiental;
ISO 14000: reflexo de que o movimento não é efêmero ou muito menos um modismo.
Postura dos centros e institutos de
pesquisa
Não podem adotar uma postura de incoerência quanto a questão dos resíduos gerados
Centros, institutos e universidades têm sido
favorecidos quanto à fiscalização. Até quando??? Gerenciamento de resíduos é um dever para com a sociedade
Importância da minimização e
prevenção na produção de resíduos
i. Responsabilidade (ética) ambiental;
ii. Mudança de mentalidade na formação de novos
cidadãos;
iii. Encorajamento da segurança nos laboratórios; iv. Economia de recursos;
Antes da implementação do Programa...
Ter a garantia de que o Programa tem o apoio da Instituição.
Contabilizar os recursos humanos.
Fazer uma avaliação preliminar do passivo.
Fazer uma estimativa das fontes e quantidades do ativo.
Implementando um programa de
gerenciamento de resíduos (i)
PESSOAL
• Mudança de hábitos e de atitudes, por parte de todo o quadro de funcionários;
• Sacrifício de alguns em benefício de muitos;
• Ampla divulgação das atividades a serem cumpridas, das metas propostas e dos resultados.
Implementando um programa de
gerenciamento de resíduos (ii)
TECNOLOGIA
• Escolha da melhor tecnologia:
– Custo/benefício e risco/benefício.
• Reavaliação continuada do programa :
– atualização,
– processos emergentes.
• É uma atividade que representa um desafio constante para um pesquisador.
A hierarquia na gestão de resíduos
Reduzir a produção de resíduos na fonte.
Recuperar e reusar resíduos on-site (reciclar).
Reciclar off-site.
Tratar os resíduos gerados, reduzindo volume e toxicidade. Dispor o resíduo de maneira segura.
Mais desejável
Praticando a minimização
• Reavaliação de novos procedimentos.
• Ajuste daqueles usados rotineiramente (FIA).
• Responsabilizar agentes geradores de resíduos. • Nos projetos de pesquisa,
contemplar uma nova rubrica: RESÍDUOS
Praticando o reciclo
e o reuso
• Reciclar: utilizar um resíduo ou seu conteúdo energético. • Candidatos Naturais – Solventes – Combustíveis – Óleos – Metais – Catalisadores
• Reusar: utilizar um
insumo sem que haja
necessidade de
qualquer tratamento.
• Exemplos
– Soluções de NaOH – Resíduos a base de Cr(VI) – Resíduos orgânicosCompra de reagentes e suprimentos
• Comprar apenas o que é estritamente necessário.
– Estimativa da ACS: produtos não utilizados compõem até 40% do total de resíduos gerados.
• A compra em maior quantidade (descontos) não passa de um mito.
• Estratégias
– padronização das compras; – centralização das compras.
Gerenciando o estoque
Centralização do almoxarifado:
– minimização dos riscos de acidentes;
Algumas atitudes importantes:
• materiais incompatíveis devem ser estocados separadamente;
• cuidados com temperatura e ventilação; • acesso deve ser restrito;
Substituindo reagentes
“Lavagem de material”
• Será que um tratamento drástico é realmente necessário???
• Que tipo de impurezas eu desejo remover?
• Uma limpeza mais periódica não resolveria o problema?
• Que tal tentar uma simples
lavagem com acetona e depois secar a 200 oC
Banindo a famigerada sulfocrômica
Uma lavagem com NaOH alcoólico resolveria o problema? Lista de produtos disponíveis no mercado:
– Aquet (deterg. líquido) – Liqui-nox (sem fosfato) – Neutral
– Det-o-jet (ultrassom) – Nochromix
– Cra-zsoap (odor)
Inventário do Passivo
• Passivo é todo aquele estoque de resíduos já existente na unidade geradora (UG).
– Em muitos casos a UG não apresenta este tipo de estoque.
• A caracterização do passivo visa o reaproveitamento, o reciclo e a destinação final adequada.
Dificuldades no inventário
• Rótulos deteriorados ou produtos sem qualquer identificação
• Misturas não caracterizadas • Misturas com várias fases • Resíduos sólidos
Como classificar o resíduo estocado?
Importante: os resíduos radioativos são descartados segundo normas da CNEN.
Os resíduos contendo patogênicos ou material bioativo devem ser tratados segundo normas do Ministério da Saúde (Vigilância Sanitária).
No caso de resíduos químicos de laboratórios de
ensino e pesquisa, não há uma norma clara quanto a classificação, tratamento e descarte dos mesmos.
Protocolo para caracterização de
resíduos não identificados (i)
Reatividade com água
– Uma gota de água de observar se há formação de chama, geração de gás ou reação violenta.
Presença de cianetos
– Uma gota de cloramina-T e uma gota de ácido barbitúrico em 3 gotas do resíduo. Cor vermelha indica teste positivo.
Presença de sulfetos
– Acidificar a amostra com HCl. Papel embebido em acetato de chumbo fica enegrecido.
pH
– Papel indicador ou pHmetro.
Resíduo oxidante
Resíduo redutor
– Descoloração de papel umedecido em 2,6-dicloro-indofenol ou azul de metileno.
Inflamabilidade
– Introduzir um palito de cerâmica no resíduo, deixar escorrer o excesso e levar a chama.
Presença de halogênios
– Colocar um fio de cobre limpo e previamente aquecido ao rubro no resíduo. Levar a chama e observar a coloração. Chama verde
Resíduos sólidos não identificados
Identificação: fluorescência de raios-X
1. Para sais de metais não perigosos (Fe, Ca, Mg, etc), pode-se
descartar a solução dos mesmos na pia. Pode-se ainda reaproveitá-los.
2. Para metais pesados (Pb, Cr, Hg, etc) existem duas
possibilidades:
i. Reaproveitamento ii. isolamento
Tratando o ativo
Mesmo sob um programa de gerenciamento bem elaborado, ainda há produção de resíduos (ativo).
Estes resíduos deverão ser segregados de acordo
com o tratamento e a destinação final.
Processos Oxidativos Avançados
(POA) - TiO
2/ UV
hv -+ A A-.E
BC BV . 2 2 2 2 . 2 ads. 2 2 2O
TiO
O
)
(e
TiO
H
OH
TiO
O
H
)
(h
TiO
)
h
(e
TiO
TiO
− − + + + −+
→
+
+
+
→
+
+
+
↔
+
h
υ
Processos Oxidativos Avançados
TiO
2/ UV
Resultados para VOCs
C o m po sto C in . (pp m v) D eg rad ação (%)* t1/2 (m in)
M etanol 550 > 95 0,14
Tricoloetileno 538 99,9 0,17
Acetona 590 98,5 0,19
M etil etil cetona 441 97,1 0,22
Isooctano 492 98,9 0,24
D iclorom etano 398 90,4 0,66
C lorofórm io 442 69,5 0,89
Degradação fotoquímica de
corante azul QR-19
Sistema: UV-H2O2 (reator contínuo) Corante: 50 mgl-1 (20L), H2O2: 20 mL (30%) 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 A b s /A b s0Resíduos aquosos:água + acetonitrila
• Método 1: Hidrólise básica
CH3CN → CH3CONH2 → CH3COOH + NH3(g)
– emprega-se um grande excesso de base (refluxo por 6 H) que ao reagir com a acetonitrila gera amônia e ácido
acético, que pode ser incinerado sem problemas. – A queima da acetonitrila gera cianeto;
– A queima do ácido acético gera apenas CO2 e H2O.
• Método 2: Reação de Fenton ou Ferrioxalato Fe(II) + H2O2
Fe(III) + H2O2 + ácido oxálico
Tratamento de resíduos com metais
pesados (Hg ou Pb)
Adicionar HNO3 à sol. contendo Hg ou Pb. Evaporar em capela. Adicionar água e tioacetamida. Filtrar o precipitado. Testar o filtrado repetidas vezes, se necessário.
Procedimento alternativo para Pb
Sais de Pb podem ser precipitados como silicatos.
Pb2+ + Na
2SiO3 → PbSiO3 + 2Na+
Para que a precipitação seja completa, o pH deve ser controlado (7-8). Adicionar uma sol. aquosa de metassilicato de sódio (17 g/100 mL de água) até não haver mais precipitação.
Tratamento de resíduos
contendo Cd e Sb
Estes metais podem ser precipitados de maneira similar ao chumbo, como silicatos.
Fe(II), Fe(III), Zn(II), Al(III), Cu(II), Ni(II), Mn(II) e Co(II) também podem ser precipitados como silicatos.
Rejeitos sólidos
Metais: • Processo de precipitação, filtração e descarte do resíduo aquoso. Exemplo: Solução sulfocrômica sólido solução Fe(OH)3, Cr(OH)3 Cr(III) Cr(VI) Fe metálico NaOH Filtrar Acertar o pH (neutro)Descarte de cianetos
Os cianetos podem ser tratados por oxidação com hipoclorito, em meio alcalino. CN- + ClO- → CNO- + Cl -Retirar alíquota de 2 mL testar c/ FeCl 60 - 70 mL de hipoclorito Água sanitária 5 mL de NaOH 10% sob agitação Alíquota de 50 mL de sol. conc. < 2% Atenção:
Tratamento para derramamentos
Usar uma mistura 1:1:1 de carbonato de sódio (neutraliza acidez e basicidade), areia para gato (absorve líquidos rapidamente) e areia (moderar as reações).
Quando todo o líquido for absorvido, recolher num balde. Na capela, adicionar o conteúdo cuidadosamente a outro balde contendo água gelada. Deixar em repouso por 24 h. Testar o pH e neutralizar. Descartar a sol. na pia.
Programa de Coleta e Tratamento de
resíduos do DQUI - UFPR
ALTERNATIVAS:
1. Disposição em aterro (Cidade Industrial de Curitiba
-CIC)
i. R$180,00 (classe II) e R$250,00 (classe I) / t ii. Transporte: R$900,00 / carga
2. Incineração (São Paulo ou Rio de Janeiro)
i. R$ 500 a 2000 / t
ii. Transporte: R$900,00 / carga
Coleta e Tratamento de Resíduos
DQUI – UFPR
• Custo: R$ 1.000,00 / ano
– Bombonas, baldes, reagentes, fichas.
• Resíduos especiais:
– A política no DQUI visa
desencorajar o uso de sais de Hg, Cd e Tl.
– Pequenas quantidades geradas têm sido recuperadas.
– Chumbo: recuperado e enviado p/ fábrica de baterias.
– Metais preciosos: recuperados nas UG. Neutralização Teste de Incompatibilidae Mistura em Bombona CO-PROCESSAMENTO TRANSPORTE LICENCIAMENTO ARMAZENAMENTO COLETA
Co-processamento em forno de cimento
• Consiste na adição de resíduos (na forma de sólidos, pastas ou líquidos) ao forno de cimento.
– Líquidos (solventes): misturados e queimados como combustível auxiliar.
– Sólidos e pastosos: adicionados na parte alta do forno. – Aquosos: são adicionados junto c/ água de refrigeração.
• No Paraná, o co-processamento é licenciado para tratar ácidos, bases, cianetos e arsenatos, sais de metais (exceto Hg, Cd e Tl), solventes halogenados ou não.
Bibliografia
M.A. Armour. “Hazardous Laboratory Chemicals. Disposal Guide”. CRC Press, Boca Raton, 1991. 464p.
P.A. Reinhardt, K.L. Leonard e P.C. Ashbrook. “Pollution Prevention and Waste Minimization in Laboratories”. Lewis Publ, Boca Raton, 1995. 480p.