Biomarine 2018
Cascais – 2 de outubro de 2018 Discurso Ministra do Mar
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais,
Exmas. Senhoras e Senhores,
Benvindos a Portugal, benvidos a Cascais, benvindos ao
Biomarine 2018.
O mar é o novo horizonte económico deste século, pois dele
brotarão novas oportunidades para crescer com os seus recursos
geológicos e biológicos.
Os números falam por si: a OCDE estima que o sector da
bioeconomia azul representa quase 3 mil milhões de dólares e
que possa crescer até aos 5 mil milhões até ao início da próxima
Por isso, é com enorme entusiasmo que Portugal acolhe um dos
eventos de maior prestígio mundial no desenvolvimento
empresarial da bioeconomia azul, o Biomarine.
Portugal tem a perspetiva de se tornar na 5ª maior área oceânica
do mundo e a 2ª maior área marítima da União Europeia.
É este o horizonte de desafio e de oportunidade que se nos
apresenta: mais de 97% do nosso território é mar, sendo este de
natureza profunda e ultra-profunda, com um perfil muito
diversificado de biodiversidade:
Em Portugal Continental, temos águas mais frias a norte e mais tépidas a sul, de mar profundo, o que confere uma
diversidade biológica assinalável;
Na Região Autónoma dos Açores, o «umbigo» do Atlântico Norte, temos um dos ecossistemas de mar profundo e
ultra-profundo mais fascinantes do planeta, com as fontes
hidrotermais e as estranhas formas de vida que as povoam.
Portanto, existe uma enorme oportunidade de crescimento azul
em Portugal, em que a bioeconomia desempenhará e já
desempenha um papel estratégico: a nossa ambição é aumentar
de 3% para 5% a contribuição da economia do mar na economia
nacional até 2020.
Mas se, por um lado, a bioeconomia do mar é uma abundante
fonte de novas oportunidades, por outro lado, os ativos biológicos
têm sido alvo do impacto negativo da atividade humana.
Por isso, é imperativo assentar o desenvolvimento sustentável
numa política marítima integrada que promova a economia
Esta foi uma das mensagens centrais do Oceans Meeting 2018
realizado em Lisboa, há 2 semanas, como também nas reuniões
em que participei, em representação do governo português, na
semana passada focadas no cumprimento do Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável 14, nas Nações Unidas, no âmbito
do High Level Panel on Sustainable Ocean Economy e na
Sustainable Ocean Business Action Platform do UN Global
Compact.
O desafio central da economia circular azul é conseguir construir
um modelo económico gerador de riqueza, abundância e bons
empregos que em simultâneo não depaupere a sustentabilidade
ambiental do ecossistema marinho, crítico para o suporte da vida
no nosso planeta, devendo inclusive recuperar ecossistemas em
É esta a razão pela qual o Programa do Governo que estamos a
implementar assenta estrategicamente no conceito da economia
circular, baseado na:
Prevenção; Redução; Reutilização; Recuperação; e
Reciclagem de materiais e energia.
Substituindo o conceito de «fim-de-vida» da economia linear por
novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação,
num processo integrado, a economia circular é vista como um
elemento-chave para promover a dissociação entre o
crescimento económico e o aumento no consumo de recursos,
Procura-se o desenvolvimento de novos produtos e serviços
economicamente viáveis e ecologicamente eficientes, radicados
em ciclos idealmente perpétuos de reconversão a montante e a
jusante.
Com esta abordagem pretende-se:
A minimização da extração de recursos; A maximização da reutilização;
O aumento da eficiência; e,
O desenvolvimento de novos modelos de negócios.
Assim, a economia circular azul assenta numa abordagem
integrada, interdisciplinar e intersectorial para maior cooperação,
coordenação e coerência política em vários níveis de forma a
Por isso, a primeira linha de ação para potenciar a bioeconomia
azul é a implementação de estratégia agressiva contra os
plásticos no mar. São cada vez mais conhecidos os casos
associados à poluição marinha, com especial foco no plástico,
multiplicando-se os relatos, as formas de poluição e as suas
estatísticas:
O aumento do lixo marinho - destruidor da qualidade da água e das fontes de alimentação dos animais, que por sua
vez afetam a alimentação e saúde humana;
O aumento da produção de ruído perturbador da vida marinha;
O aumento da poluição química das águas;
O aumento da acidificação dos oceanos em resultado das alterações climáticas; e
A implementação desta política pode ter um impacto negativo no
início, mas segundo dados da Comissão Europeia e de estudos
independentes, a longo prazo, os lucros serão superiores aos
custos.
De acordo com os estudos efetuados, a mudança nos hábitos de
consumo e nas tecnologias de produção do plástico permitirão:
Um aumento de 86% na qualidade de vida;
Um aumento de 80% no crescimento económico; Um aumento de 78% no emprego;
Uma redução de 50% nos custos associados aos resíduos industriais e domésticos;
Uma poupança de 51% dos custos associados à reciclagem de resíduos industriais e domésticos.
Neste sentido, o Ministério do Mar tem atualmente em curso 12
iniciativas e projetos que promovem o paradigma da economia
circular azul, tais como:
Identificação, prevenção e recolha do lixo marinho nos portos de pesca e comerciais;
Literacia do oceano (iniciativa Escola Azul, Kit do Mar, IPMA-Escolas);
Projetos científicos para identificar o impacto dos microplásticos na vida marinha e para definir metodologias
para sua mitigação.
A segunda linha de ação é a promoção da bioeconomia azul, um
dos pilares dos novos modelos de negócio da economia circular
azul.
saúde, farmacêutica, veterinária, processos industriais e
energéticos.
Nas aplicações de saúde e de farmacêutica, a biotecnologia azul
está a levar à descoberta e desenvolvimento de medicamentos,
terapias, diagnósticos e vacinas inovadoras.
Por exemplo, estão surgir aplicações biotecnológicas para
tratamento de doenças relacionadas com o crescimento,
metabolismo, artrite reumatoide, cancro e até a doença de
Alzheimer.
No sector agrícola, os ativos biológicos marinhos têm sido
aplicados na melhoria da qualidade e da sustentabilidade da
alimentação animal, na produção de vacinas para a pecuária e na
melhoria dos diagnósticos de doenças como a BSE e
Também têm surgido aplicações para usar enzimas azuis que
tornam muito mais eficiente o processamento alimentar e o
cultivo de plantas com determinadas características.
No sector industrial, a biotecnologia azul tem levado à aplicação
do uso de enzimas na produção de detergentes, de pasta de
papel, de têxteis e de biomassa.
Ao usar processos enzimáticos de biocatálise de fermentação em
substituição da química de síntese convencional, é possível obter
processos com eficiência mais elevada, diminuindo o consumo
de energia e de água, conduzindo assim a uma redução do lixo
tóxico.
No sector energético, também há um enorme potencial a explorar
na produção de biocombustível e de biogás através do cultivo e
refinação de macro e micro-algas. São vias industriais que ainda
Mas, apesar de todas estas oportunidades e potencialidades, o
grande problema do desenvolvimento da bioeconomia azul
continua a ser o financiamento.
Por isso, tem sido uma das nossas prioridades apoiar o
empreendedorismo. O Ministério do Mar de Portugal tem
disponíveis 600M€ distribuídos entre três instrumentos financeiros:
O Mar 2020, com 508M€ de fundos comunitários para apoiar iniciativas da aquacultura e pescas;
O Fundo Azul, com 54M€ até 2020, com capacidade de financiar projetos empresariais e de I&D na biotecnologia
azul;
capacidade também para financiar projetos de inovação e
empresariais na biotecnologia azul.
Todavia, o panorama é que o investimento disponível está
espalhado por diversas fontes e é preciso envidar esforços na
constituição de plataformas que congreguem estes recursos,
privados e públicos. Por exemplo, a Comissão Europeia vai
avançar com a constituição da Plataforma Blue Invest, que visa
não só o financiamento da biotecnologia azul, mas também dos
restantes setores.
Portanto, tendo em conta o perfil especial da biotecnologia azul – falta de histórico de investimento, ciclos de desenvolvimento do
produto muito longos, mercados de procura difusos –, é necessário que os setores público e privado juntem esforços na
constituição de mecanismos de financiamento focados no
Outros instrumentos a serem estudados para estimular o sector
são políticas fiscais, de normalização industrial e regulatória que
potenciem uma procura pelos produtos inovadores derivados da
bioeconomia azul.
Estes temas serão discutidos durantes os dias do Biomarine e
espero que as conclusões representem um passo em frente
nesta atividade.
Mas o tema não ficará por aqui. Com efeito, é uma linha política
que deverá aproveitar a oportunidade da realização em Lisboa da
Conferência do Oceano da ONU em 2020, para promover a
realização de medidas concretas que acelerem o seu
desenvolvimento.
Contamos com a vossa energia empreendedora e inovadora para
Podem dizer que é impossível e muito difícil. Pois digo-vos,
citando Mandela: tudo é impossível, até ser feito!