A Contribuição Sírio-Libanesa para o Desenvolvimento de Anápolis –
1907 a 1949.
LUPPI, Sheila Cristina Alves de Lima 1 POLONIAL, Juscelino Martins 2 Palavras-chave: Anápolis, árabe, desenvolvimento, comércio.
1 Introdução
A história de Anápolis é, desde sua origem, marcada pela presença árabe. Em 1880, quando a cidade não passava de um povoado, já circulava nas fazendas da região, vendendo suas mercadorias o libanês Charrud Spir, conhecido como “Joaquim Turco”.
O objetivo geral desse projeto foi investigar a contribuição da colônia sírio-libanesa para o desenvolvimento de Anápolis entre 1907 - quando da emancipação política da cidade - até 1949, período este que coincide com a decadência das atividades da ferrovia em Anápolis, a consolidação de Goiânia e o fim da II Guerra Mundial, quando tem início uma nova onde de imigração para a cidade. Foram analisados aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais; Os objetivos específicos foram: buscar esclarecer os motivos que levaram grupos étnicos tão distintos um do outro a escolherem Anápolis para viver com suas famílias; investigar uma forma de divisão de trabalho comum entre os árabes: a familiar; e ainda, elaborar uma fonte de pesquisa, que possibilitasse novos estudos sobre o tema.
A falta de estudos mais aprofundados sobre o tema, somada ao grande número de árabes e descendentes que vivem em Anápolis, evidencia a relevância deste projeto.
2 Metodologia
A trajetória dos árabes na cidade pode ser acompanhada através dos jornais da época e que hoje fazem parte do acervo do Museu Histórico de Anápolis, ainda que o primeiro destes tenha sido fundado em 1929. Também foram usados arquivos públicos e particulares, como da igreja Santana e de cartórios e bibliografia relacionada ao tema. Entretanto, mediante à escassez dessas fontes, foi feito uso da História Oral, que
1 Bolsista do PBIC – Curso de História 2 Professor Mestre – Curso de História
possibilitou um melhor entendimento dos dados levantados. Usou-se de entrevistas, dirigidas e abertas, que permitissem ao entrevistado estar livre para falar de suas experiências e contar histórias de sua família e sua própria vivência. Não se adotou como critério a idade, escolaridade, estado civil, condição social ou sexo. O critério utilizado na seleção dos entrevistados foi o de ser este um descendente dos “pioneiro”, ou seja, que veio sozinho, sem o auxílio de ninguém que já estivesse na cidade, entre 1907 e 1949, período estudado.
Fatores econômicos e sociais são os que melhor evidenciam a contribuição sírio-libanesa para o desenvolvimento de Anápolis durante o período aqui analisado. Não obstante, também foram observados aspectos políticos e culturais. Todos esses aspectos estão inter-relacionados, como um todo articulado. Daí a opção pelo método Dialético como abordagem capaz de fornecer uma melhor compreensão desta realidade.
3 Resultados e discussões
Fatores econômicos e sociais são os que melhor evidenciam a contribuição sírio-libanesa para o desenvolvimento de Anápolis durante o período aqui analisado. Não obstante, também foram observados aspectos políticos e culturais, pois todos esses estão inter-relacionados, como um todo articulado. Daí a opção pelo método dialético, que possibilita a abordagem do tema em sua totalidade, fornecendo uma melhor interpretação desta realidade.
A contribuição econômica dos árabes para o desenvolvimento de Anápolis é bem significativa até os dias de hoje. Eles iniciaram suas atividades comerciais como mascates, depois como lojistas varejistas e depois com vendas no atacado. Foram eles que introduziram no comércio local a venda à prazo. Os árabes dinamizaram as atividades comerciais em Anápolis e cumpriram com uma fase importante para a industrialização da cidade – a de acumulação de capitais. As contribuições de caráter social – construção de praças, igrejas, hospitais, clubes e escolas - foi o que legitimou a presença desses “estrangeiros” na comunidade local.
Politicamente, a participação dos árabes no período estudado foi pouco significativa, por dois motivos. Primeiro, porque havia a preocupação de comprometer os interesses da colônia, apoiando um ou outro grupo político. A política do árabe era a de manter boas relações com todos. Segundo, a época coincidiu com o período em que estava
restrita a participação de estrangeiros em funções político-administrativas. Entretanto, com o fim da Era Vargas (1930- 1945) o árabe começa a participar da vida política da cidade, o que acontece até os dias de hoje.
As iniciativas da colônia árabe visando à manutenção da cultura fracassaram, pelo menos em Anápolis. Um fator que certamente contribuiu para isso foi a diversidade étnica dos elementos que compunham a comunidade árabe local – sírios, libaneses e palestinos e, após a década de 1950, jordanianos e egípcios.
Os árabes pioneiros que aqui se estabeleceram deixaram muitos descendentes que ainda vivem na cidade. A colônia continua trabalhando pelo progresso da cidade. Conquistaram espaço na política, e suas atividades econômicas não se restringem mais ao comércio.
4 Conclusão
Os dados levantados e analisados até aqui confirmaram a hipótese elaborada no início deste trabalho: os árabes participaram ativamente da constituição da cidade. O comércio foi um lócus privilegiado dessa comunidade, tanto o atacadista quanto o varejista. Suas lojas concentraram-se na Rua Joaquim Inácio, que acabou ficando conhecida como “Rua dos Turcos”.
Acompanhando a ascensão econômica ocorrem as iniciativas de ordem social, que favoreceu a comunidade local como um todo. Quando não era uma iniciativa dos árabes, eles participavam com verba para construção de escolas, hospitais, praças ou benfeitorias, principalmente no centro da cidade.
A participação do árabe na política é significativa a partir do fim do Estado Novo, em 1945. Também surgem nomes em funções administrativas, como na Associação do Comércio e Indústria, bancos e outras instituições.
Questões econômicas, como a decadência das atividades da ferrovia e a consolidação de Goiânia e construção de Brasília, levou muitos árabes a irem embora da cidade, em busca de novas oportunidades em outros lugares. Ainda assim, a presença desses em Anápolis se faz evidente até hoje nas atividades comerciais, industriais, na liderança de organizações e também na vida pública da cidade.
5 Referencias Bibliográficas
BERTAZZO, Giuseppe. De Veneza a Nova Veneza. Imigrantes Italianos em Goiás – 1912. 1992. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Filosofias (FCHF) Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
BORGES, Humberto Crispim. História de Anápolis. Goiânia: Cerne, 1975.
BRITO, Maria Helena de Oliveira. A Colônia Alemã de Uvá (1924 – 1954). Uma Tentativa de Colonização em Goiás. Goiânia: Cegraf, UFG, 1992. Coleção Documentos Goianos nº. 20.
FERREIRA, Haydée Jaime. Anápolis, Sua Vida, Seu Povo. Goiânia: Cerne, 1979. FREITAS, Revalino. Anápolis, Passado e Presente. Anápolis: Ed. Voga, 1995. JAIME, Sisenando. Goiás: Humorismo e Folclore. Goiânia, 1990.
NUNES, Heliane Prudente. A Imigração Árabe em Goiás. Goiânia: UFG, 2000.
MAGALINSKI, Jan. Deslocados de Guerra em Goiás – Imigrantes Poloneses em Itaberaí. Goiânia: Ed. UFG, 1980. Coleção Documentos Goianos nº. 8.
MAGALINSKI, Júlia. Imigração em Goiás. 1987. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Filosofias (FCHF). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1987. PETRONE, Maria Thereza Schorer. O Imigrante e a Pequena Propriedade (1824 – 1930). 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. Coleção Tudo é História, nº. 38.
POLONIAL, Juscelino. Anápolis nos Tempos da Ferrovia. Anápolis: AEE, 1995.
SILVA, Júlia Bueno de Morais. O Interior e sua Importância no Projeto Centralizador do Brasil: Anápolis Anos 20 e 30. 1997. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Humanas e Filosofias (FCHF). Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
TRUZZI, Oswaldo M. S. Sírios e Libaneses e seus Descendentes na Sociedade Paulista. In. FAUSTO, Boris (organizador). Fazer a América. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2000.
Revistas:
Imagem Atual. p.17, ano: 1993, mês: janeiro, nº 52: Anápolis.
A Cinqüentenária. Edição única em comemoração aos cinqüenta anos da cidade de Anápolis, 1957.
Anápolis: Ontem – Hoje. Sem número, 1973.
Voz do Sul O “X”
Correio de Anápolis O Verbo