EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 76ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO.
PROCESSO nº 00013904320105020076
EDITORA GLOBO S/A, já qualificada nos autos em epígrafe, da AÇÃO ANULATÓRIA que move em face da DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO DE SÃO PAULO, por seus advogados e procuradores que esta subscrevem, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar suas CONTRA-RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO, requerendo a juntada das anexas razões, bem como seu regular processamento na forma da lei.
1. A recorrida destaca que o presente recurso é tempestivo, pois a intimação para contra-arrazoar Recurso Ordinário ocorreu no dia 03.08.202012, enquanto a imposição se deu dentro dos oito dias seguintes.
Termos em que, P. Deferimento,
São Paulo, 13 de agosto de 2012.
CARLOS VIEIRA COTRIM CAMILA ZANGIACOMO COTRIM OAB/SP 69.218 OAB/SP 261.882
CONTRA-RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO RECORRIDA: EDITORA GLOBO S/A.
RECORRENTE: UNIÃO
Egrégio Tribunal,
Doutos Judicantes!
1. Insurge-se a recorrente contra a r. sentença a quo que cancelou a multa imposta à recorrida, em razão do fiscal do trabalho ter extrapolado a sua competência.
2. O fiscal do trabalho extrapolando a sua competência autuou a empresa sob o fundamento de existência de relação de emprego, nos moldes de art. 3º da CLT, aplicando multa e determinando que a ora recorrida depositasse o FGTS de pessoas que jamais teve qualquer relação de emprego.
3. Como sabido, apenas a Justiça do Trabalho é que tem a competência para a declaração da existência de vinculo empregatício, tendo o juiz de origem decidido pelo cancelamento da multa com o devido acerto.
4. Assim, não merecem guarida as alegações da recorrente, visto que inócuas e despropositadas, tendo a decisão de origem sido brilhante em todos os seus termos.
Poderes dos Agentes Fiscais na Inspeção do Trabalho.
5. Como a aventado na inicial, bem como analisado de forma brilhante pelo magistrado a quo, o agente fiscal do trabalho, ao decidir pela incidência do FGTS na prestação de serviço vislumbrada, acabou por enquadrar a relação jurídica de prestação de serviços, fundada no direito civil, em relação emprego, sem ter,
6. O art. 18 do Regulamento da Inspeção do Trabalho é claro nesse sentido:
Art. 18. Compete aos Auditores-Fiscais do Trabalho, em todo o território nacional:
I - verificar o cumprimento das disposições legais e regulamentares, inclusive as relacionadas à segurança e à saúde no trabalho, no âmbito das relações de trabalho e de emprego, em especial:
7. Incumbe, portanto, ao agente fiscal apenas velar pelo cumprimento das normas de proteção do trabalho, sendo apenas do Poder Judiciário a competência exclusiva de declarar o direito ao caso concreto. Inadmissível, portanto, essa tentativa do Poder Executivo de invadir a competência nos demais poderes do Estado, especialmente do Judiciário, em clara usurpação de atividade jurisdicional.
8. Os auditores fiscais do trabalho têm por atribuição assegurar cumprimento das disposições legais e regulamentares no âmbito das relações de trabalho, sendo que esta atribuição obedece ao principio da legalidade.
9. Dessa forma, ao contrário do que suscitado pela recorrente, os agentes fiscais não têm competência para lavrar autos de infração assentados em declaração de existência de contrato de emprego, derivada unicamente de sua apreciação da situação fática.
10. A transmutação da natureza jurídica dos diversos tipos de contrato de trabalho que envolvam prestação de trabalho, como por exemplo, locação, empreitada, temporários e outros, depende de declaração expressa, que se constitui em atividade jurisdicional, exclusiva do Poder Judiciário.
11. Assim, foge a competência do agente fiscal a declaração do vínculo empregatício, pois a declaração de existência de tal relação, nos moldes do artigo 3º da CLT, depende de produção de prova robusta, cuja análise e valoração são feitas apenas pelo Poder Judiciário, nunca por agente fiscal, que não possui competência para tanto.
12. Nesse sentido:
Ementa AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO. FISCALIZAÇÃO DO TRABALHO. ATRIBUIÇÃO FUNCIONAL. LIMITES. Não constitui atribuição do Fiscal do Trabalho a declaração de existência de vínculo empregatício, quando controvertida a natureza da relação laboral, sob pena de usurpação da competência do Poder Jurisdicional. Recurso conhecido e provido. (Dados Gerais Processo: RO 147001620095070011 CE 0014700-1620095070011- Relator(a): MANOEL ARÍZIO EDUARDO DE CASTRO - Julgamento: 17/05/2010 - Órgão Julgador: TURMA 1 -
Publicação: 30/06/2010 DEJT - Parte(s):
0014700-16.2009.5.07.0011: Recurso Ordinário)
13. Ainda, incumbe destacar que nenhum destes supostos funcionários listados, ingressaram com reclamação trabalhista, a fim obter a declaração de existência de relação empregatícia com a recorrida, inclusive porque operou a prescrição de eventuais direitos.
14. Então, não há como a DRT impor o recolhimento do FGTS para pessoas que não são empregados da recorrida, e, repita-se, nunca reivindicaram, tal condição. A DRT não pode estabelecer vínculo de emprego entre a recorrida e empregados de empresas terceirizadas impondo obrigações trabalhistas, como bem decidido pelo magistrado a quo.
15. Destaque-se ainda que as autuações feitas pelo fiscal do trabalho gozam de presunção relativa, não podendo subsistir após demonstrada a ausência de vínculo entre as partes.
16. Nesse sentido destacamos:
Ementa AGRAVO DE PETIÇAO DA UNIÃO. EXECUÇAO FISCAL DA DÍVIDA ATIVA. Presunção de veracidade da autuação, lavrada por Auditor Fiscal do Trabalho, que foi elidida no caso concreto. Prova suficiente da inexistência de vínculo empregatício entre a agravada e os profissionais que lá atuavam no momento da fiscalização (profissionais liberais). Adequado, pois, o acolhimento dos embargos e conseqüente extinção do crédito inscrito em dívida ativa, decorrente da multa por suposta infração a dispositivos da CLT. Recurso desprovido. (...)
(Dados Gerais Processo: AP 873004620075040251 RS 0087300-46.2007.5.04.0251 - Relator(a): FRANCISCO ROSSAL DE ARAÚJO - Julgamento: 11/02/2010 - Órgão Julgador: 1ª Vara do Trabalho de Cachoeirinha)
15. Por todo exposto, requer a recorrida a manutenção da decisão de origem, nos termos e razões acima mencionadas.
16. Ante o exposto, requer seja negado provimento ao recurso interposto pela recorrente, mantendo a r. sentença a quo, em todos os seus termos, fazendo-se, assim, a mais pura e lídima Justiça!
CARLOS VIEIRA COTRIM CAMILA ZANGIACOMO COTRIM OAB/SP 69.218 OAB/SP 261.882
