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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE PINHÃO

VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE PINHÃO - PROJUDI Rua XV de Dezembro, 157 - Pinhão/PR - CEP: 85.170-000 - Fone: (42) 3677-1204

Autos nº. 0002817-80.2015.8.16.0134

Trata-se de mandado de segurança impetrado por Sebastião Almir Caldas de Campos em face do Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Reserva do Iguaçu, Juarez Aramis Senoski Pinto, alegando, em síntese, que, tendo sido prefeito do Município em comento de 2005 até 2012, sendo que o processo administrativo de julgamento de suas contas relativas ao exercício financeiro de 2005 padece de ilegalidades, pois quando o Legislativo local recebeu do Tribunal de Contas do Estado (TCE) a recomendação pela desaprovação de suas contas, as contas foram submetidas a julgamento em regime de urgência e consequentemente votadas rapidamente, em total desrespeito às regras processuais e procedimentais, sem que fosse assegurado seu direito de defesa. Em razão de tal ilegalidade o próprio Poder Legislativo Municipal entendeu por bem anular o primeiro decreto de desaprovação das contas do ano de 2005. Entretanto, novamente foram desrespeitadas as regras processuais fundamentais, pois teve acesso ao conteúdo do processo apenas após escoado o prazo para apresentação de defesa. Desse modo, aduz que a deliberação da Presidência da Casa Legislativa lhe feriu direito líquido e certo. Argumenta ainda uma série de supostas ilegalidades no procedimento que tramitou no Tribunal de Contas do Estado culminando com a recomendação pela desaprovação das contas do impetrante. Em razão desses fatos, aduz que ajuizou ação declaratória de nulidade de ato administrativo em face do Estado do Paraná, por ato administrativo praticado pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná, que tramita perante a 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, objetivando a declaração de nulidade do acórdão nº 358/2013, do Pleno do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, aclarado pelo acórdão nº 456/2013, bem como dos atos deles decorrentes. Assevera a necessidade da concessão da liminar, consoante dispõe o inciso III, do art. 7º, da Lei nº 12.016/2009, ante a possibilidade de ineficácia da medida caso haja a concessão da segurança apenas ao final, pois se não for deferida a medida liminar e o processo de votação das contas for concluído, haverá a perda de seus direitos políticos, e em consequência haverá a violação de direito líquido e certo (sufrágio). Argumenta que as contas já estão sendo submetidas a julgamento junto ao Legislativo Municipal, tendo ocorrido a primeira votação em 30.11.2015, ocasião em que houve 5 (cinco) votos a 0 (zero) pela desaprovação das contas.

No mov. 11.1, restou determinada a emenda da petição inicial para

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que o autor juntasse o ato administrativo tido por lesivo, no prazo de 10 (dez) dias. No mov. 14.1 houve manifestação do autor e nos mov. 15.1 a 15.7 a juntada de documentos.

A decisão inicial indeferiu a concessão de liminar, por considerar a impossibilidade de verificar a existência de violação de direito líquido e certo de ampl defesa no procedimento administrativo da Câmara Municipal, determinou a notificação da autoridade coatora e abriu vista ao Ministério Público.

Devidamente citado, o impetrado apresentou manifestação (mov. 22.1), alegando, preliminarmente, a ilegitimidade, vez que ocupou o cargo no exercício de 2014, sendo eleito Diego Antônio Dangui para o ano de 2015, e, posteriormente, em virtude da nomeação de Diego para o cargo de secretário municipal de viação, transporte e obras, quem assumiu o cargo foi Alcione Nunes Felix; e, a decadência e a falta de interesse processual. No mérito, alegou que a questão da ilegalidade, ou não, no parecer, já está sendo julgada na ação mencionada em trâmite. Requereu o acolhimento das preliminares ou que seja denegada a segurança. Juntou documentos (mov. 22.2 a 22.12).

O Ministério Público se manifestou (mov. 27.1), requerendo fosse dada a oportunidade de a parte impetrante emendar a inicial, a fim de indicar a autoridade coatora.

No mov. 29.1, o impetrado requereu o reconhecimento de sua ilegitimidade, ante o conteúdo do parecer ministerial.

No mov. 32.1, foi determinada a notificação da autoridade impetrada para prestar informações pertinentes, sendo que no mov. 33.2 o representante da Câmara Municipal informou concordar com a suspensão do processo, por entender que a demora na entrega da documentação necessária para a elaboração da tese defensiva foi prejudicial para o contraditório do impetrante. Requereu a extinção do processo sem resolução do mérito. Juntou documentos (mov. 33.1 e 33.3).

No mov. 34.1, o ora impetrado, manifestou-se pela extinção do feito, nos termos do artigo 485m, VI, do Código de Processo Civil, tendo em vista a anulação do decreto legislativo que reprovou as contas de 2005 do impetrante.

Intimada a parte autora para se manifestar (mov. 37.1), insistiu na concessão de liminar para suspender os efeitos do decreto legislativo nº 07/2015, que desaprovou suas contas.

O parecer ministerial do mov. 43.1 manteve a posição acerca da

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denegação da ordem.

O impetrado, no mov. 45.1, reiterou a alegação de ilegitimidade e requereu a alteração do polo passivo, fazendo constar Alcione Nunes Felix.

Vieram os autos conclusos. É o relatório.

Decido.

Fundamentação:

Para ser concedido o mandado de segurança há a necessidade de existência de direito líquido e certo, conforme ensina Hely Lopes Meireles:

“Direito Líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua existência for duvidosa, se sua extensão ainda não estiver delimitada, se seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros meios juduciais.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança e Ações Constitucionais. 35. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 37.)

O interesse de agir dos membros do Poder Legislativo municipal é cristalino na medida que suas demandas mandamentais discutem a regularidade dos procedimentos da respectiva Casa. Deve-se expor, inicialmente, que o escopo da ação intentada é o de desconstituir atos administrativos supostamente eivados de nulidade, por infringência de uma série de preceitos legais pertinentes ao direito do contraditório e da ampla defesa.

O caso em comento versa sobre mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por Sebastião Almir Caldas de Campos em face

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do presidente da Câmara Municipal de vereadores de Reserva do Iguaçu - PR. Conforme dito, na inicial o impetrante alegou que: (i) foi prefeito municipal no Município na gestão de 2005 a 2012; (ii) no exercício financeiro de 2005 encaminhou suas contas ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná que entendeu pela aprovação delas; (iii) posteriormente a Corte mudou o posicionamento, recomendando sua desaprovação e enviou as contas para apreciação da Câmara Municipal; (iv) quando retornou à Câmara Municipal o processo foi julgado rapidamente, ferindo o contraditório, nos termos do Decreto Legislativo nº 001/2015 que, em seu artigo 1º, desaprovou "as Contas do Poder Executivo Municipal de Reserva do Iguaçu, referente ao Exercício Financeiro de 2005, conforme o parecer prévio acórdão nº 4237/14 do Tribunal de Contas do Estado do Paraná".

Acerca dos pareceres do Tribunal de Contas, utilizo-me dos ensinamentos de Hely Lopes Meireles:

"Pareceres administrativos são manifestações de órgãos técnicos sobre assuntos submetidos à sua consideração. O parecer tem caráter meramente opinativo, não vinculando a Administração ou os particulares à sua motivação ou conclusões, salvo se aprovado por ato subseqüente. Já, então, o que subsiste como ato administrativo não é o parecer, mas, sim, o ato de sua aprovação, que poderá revestir a modalidade normativa, ordinatória, negocial ou punitiva. O parecer, embora contenha um enunciado opinativo, pode ser de existência obrigatória no procedimento administrativo e dar ensejo à nulidade do ato final se não constar do processo respectivo, como ocorre, p.ex., nos casos em que a lei exige a prévia audiência. Nesta hipótese, a presença do parecer é necessária, embora seu conteúdo não seja vinculante para a Administração, salvo se a legitimidade do ato final, caso em que o parecer se torna impositivo para a Administração." (MEIRELES, 2006, p.176).

Compulsando os autos observa-se a seguinte ordem cronológica dos atos preconizados acerca do objeto dos presentes autos:

- Acórdão nº 2.037/2008 (12 de novembro de 2008), do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, com parecer prévio de recomendação pelo

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julgamento pela regularidade com ressalvas das contas do executivo municipal de Reserva do Iguaçu, quanto ao exercício de 2005;

- Acórdão nº 358/2013 (05 de setembro de 2013), do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, com reforma da decisão, para o fim de emitir novo parecer prévio recomendando a irregularidade das contas do município de Reserva do Iguaçu, relativas ao exercício financeiro de 2005;

- Parecer nº 022/2014 (17 de dezembro de 2014), da Comissão de Finanças, Orçamento e Fiscalização da Câmara Municipal de Reserva do Iguaçu, recomendando a desaprovação das contas do Poder Executivo relativo ao exercício financeiro de 2005, por maioria absoluta dos votos de seus membros;

- Decreto Legislativo nº 001/2015 (23 de junho de 2015), da Câmara Municipal de Reserva do Iguaçu, desaprovando as contas mencionadas; e,

- Decreto Legislativo nº 004/2015 (11 de agosto de 2015), da Câmara Municipal de Reserva do Iguaçu, declarando a nulidade do decreto legislativo de nº 001/2015, ante a verificação de vícios de legalidade na sua aprovação.

Pois bem. Certamente a Câmara Municipal, por seu turno, não possui personalidade jurídica, mas possui personalidade judiciária para defender seus direitos institucionais vinculados com sua independência e funcionamento, vez que constituem órgãos da Administração Direta.

Nesse sentido é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIÇOS ADICIONAIS DITOS PRESTADOS E NÃO PAGOS.

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DEMANDA MOVIDA EM FACE DA CÂMARA MUNICIPAL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA "AD CAUSAM". PROCESSO EXTINTO, DE OFÍCIO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. RECURSO PREJUDICADO. A Câmara Municipal não possui personalidade jurídica, apenas judiciária para a defesa, em juízo, de seus direitos institucionais vinculados com sua independência e funcionamento. Quando a lide versar sobre direitos patrimoniais, a legitimidade passiva "ad causam" é do Município, pois é quem suportará os efeitos de eventual condenação judicial. (TJPR 5ª C.Cível AC 8874440 Engenheiro Beltrão Rel.: Adalberto Jorge Xisto Pereira -Unânime - - J. 14.08.2012)

Sobreleva consignar que, em observância ao Princípio da Legalidade, a atuação da Administração Pública deve se pautar, estritamente, aos comandos da lei. Justamente com supedâneo no Princípio da Legalidade, aliás, à Administração Pública é conferido o poder de autotutela, incumbindo-lhe, assim, o dever de rever os seus atos, quando eivados de nulidades, anulando-os e observando, em qualquer caso, o correspondente processo administrativo e as garantias individuais.

É sabido que o Poder Legislativo exerce o controle político-administrativo dos atos e negócios do Executivo, sendo que, na esfera municipal, essa prerrogativa decorre do poder fiscalizatório que lhe foi atribuído pela Constituição Federal, nos seguintes termos:

"Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, n a f o r m a d a l e i .

§ 1º - O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. § 2º - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. § 3º - As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias,

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anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei. § 4º - É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais."

Ocorre que o pedido principal dos presentes autos se pauta na suspensão integral do trâmite do processo de prestação de contas até julgamento definitivo da ação ordinária nº 009754-45.2014.8.16.004, a qual foi sentenciada

em 1º de agosto de 2016. improcedente

Portanto, cabe ao Poder Legislativo, tendo em vista o poder instituído pela Constituição Federal, fiscalizar as contas dos administradores e demais responsáveis por bens, dinheiro e demais valores públicos da administração direta e indireta, observando, todavia, o contraditório e a ampla defesa.

Assim, indiscutível é a competência da Câmara Municipal para o julgamento das contas, relativas ao exercício financeiro, à função de ordenador de despesas ou a de gestor, nos termos do artigo 31, §1º da Constituição Federal, não sendo vinculativo o parecer do Tribunal de Contas, vez que lhe cabe, apenas, a emissão de parecer prévio, salvo nos casos em que se tratar de contas atinentes a convênios, cabendo à Corte, então, decidir e não somente opinar.

Diante do exposto, DENEGO A SEGURANÇA postulada no presente mandado de segurança. Condeno o impetrante ao pagamento das despesas processuais. Honorários advocatícios incabíveis, com fundamento na Súmula 105 do Superior Tribunal de Justiça.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Pinhão, 21 de setembro de 2016.

Gabriel Leão de Oliveira Juiz de Direito

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