I Seminário Internacional de Análise e
Prevenção de Acidentes
Escolhas econômicas como determinantes dos
riscos à saúde dos trabalhadores
João Roberto Lopes Pinto
29.08.2014
Questão/Problema
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), principal agente do financiamento ao
desenvolvimento brasileiro, encontra-se associado aos
interesses de grandes grupos econômicos, favorecendo
uma crescente concentração/oligopolização da
economia em setores com graves passivos sociais e
ambientais, gerando tensões entre o Banco e outros
entes públicos.
Desembolsos do BNDES 2003-2013
Evolução do estoque do Investimento Brasileiro
Distribuição setorial dos dez maiores projetos em volume
contratado pelo BNDES – 2008 a 2013
Distribuição setorial da Carteira de Investimentos da
BNDESPAR, em 31.12.2013
BNDESPAR
• BNDESPAR, subsidiária integral do BNDES, responsável pelas
aplicações do Banco em ações e participações. O BNDESPAR
fechou o ano de 2013 com uma carteira de ações
compreendendo 141 empresas, totalizando US$ 33 bilhões.
• Em 31.12.2013, o BNDESPAR possuía representantes em 13
Conselhos Fiscais e 40 Conselhos de Administração no
universo de 141 empresas em que mantinha participação
acionária. Adicionalmente, possuía Acordo de Acionistas em
Vinte maiores beneficiários dos financiamentos do
BNDES de 2008 a 2013
Vinte maiores investimentos do
BNDEPAR por empresa
BNDESPAR (Gráfico 1 – fonte:
www.proprietariosdobrasil.org.br)
Quem são as corporações mais beneficiadas?
• Os dados revelam apenas parcialmente quem são as corporações mais beneficiadas. Isso porque, muitos dos clientes, embora com personalidades jurídicas próprias, integram um mesmo grupo econômico. Exemplo disso é o caso da Petrobras que figura com duas identidades jurídicas: PETROLEO BRASILEIRO S/A e PETROBRAS NETHERLANDS B.V.
• Há também consórcios, que reúnem diferentes empresas: NORTE ENERGIA S/A – constituído pela Vale, Cemig/Light, Eletrobras e pelos
fundos de pensão da Previ, Petros e do Funcef; SANTO ANTONIO ENERGIA S/A – composto por Odebrecht, Cemig, Andrade Gutierrez, Furnas ; e
ENERGIA SUSTENTAVEL DO BRASIL S/A – formado por GDF Suez,
Eletrobras, Camargo Correa, Mitsui. Ou, ainda, no caso das Refinarias Suape e Abreu Lima, ambas controladas pela Petrobras.
•A maioria das empresas listadas possui em sua estrutura societária outras empresas como suas controladoras. A exemplo da Braskem, gigante da
petroquímica, controlada pela Odebrecht; da Transportadora Associada de Gás, controlada pela Petrobras; da Vale controlada pelo Banco Bradesco e pela
Previ; ou, ainda, da Eldorado Celulose e Papel, controlada pelo Grupo JBS, maior exportador de proteína animal do mundo.
• Sobre a carteira do BNDEPAR: a Vigor integra o Grupo JBS. A CPFL é
controlada pelo Grupo Camargo Correa. A Fibria é controlada pelo Grupo
Votorantim, gigante também no setor de cimento e mineração. Controladora
da Renova, a Light é controlada pela Cemig, que, por sua vez, é controlada pelo Governo de Minas Gerais e pelo Grupo Andrade Gutierrez. Já a Tupy é também controlada pela Previ. A Gerdau é maior siderúrgica do país, líder em aços
longos nas Américas. A ALL, maior empresa ferroviária do Brasil, está sob o controle da Cosan, maior do País na produção do etanol e que, em 2011, estabeleceu uma joint venture com a Shell, constituindo a Raizen.
Participação da diretoria do BNDES em conselhos de
administração de empresas – 2013
O BNDES se internacionaliza
• abertura em 2009 de representação em Montevidéu e da
subsidiária BNDES Limited em Londres: captação de recursos,
apoio a investimentos brasileiros no exterior e possível
administrador do Fundo Soberano.
• criação em 2013 da Diretoria para América Latina, Caribe e
África e da representação em Johannesburgo. Luciano
Coutinho, vice-presidente do Clube Internacional de
Financiamento ao Desenvolvimento (IDFC), voltado ao
Cinco maiores desembolsos Pós-Embarque por
Empresa Exportadora no período 2009 a 2013
Fonte: Site BNDES
Empresa
Valor Total Contratado (em US$ milhões)
CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT S/A 4.898
EMBRAER S/A 4.800
CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A 754
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVAO S/A 246
CONSTRUCOES E COMERCIO CAMARGO CORREA S/A 216
TOTAL 10.914
Exemplos de passivos sociais e ambientais por grupos
apoiados pelo BNDES
Reforma e construção de estádios para a Copa do Mundo, favorecendo
as “quatro irmãs”: número elevado de mortes, superfaturamentos e suspeita de fraude em licitações.
No setor do etanol, a Brenco/Odebrecht e Cosan foram autuadas por
trabalho análogo à escravidão.
Em Belo Monte, condicionantes da licença de instalação não são
cumpridos pela Norte Energia.
Na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, a CSA (Tyssen e Vale)
responsável pela “chuva de prata”.
No caso do Complexo Petroquímico do Rio (COMPERJ), greve dos
trabalhadores, violações de direitos dos pescadores e desrespeito à legislação ambiental.
Questões quanto à atuação do BNDES
privilegiamento dos setores de commodities (energia,
agronegócio, mineração e siderurgia, papel e celulose,
etanol), com graves impactos sociais e ambientais.
financiamento em favor de um padrão de
desenvolvimento que favorece a oligopolização da
economia (Ex. apoio a fusões e aquisições: Perdigão/Sadia,
Votorantim/Aracruz, Oi/Telemar – conflitos com o CADE).
fragilidade na prestação de informação, forte resistência
em abrir a carteira de projetos como verificado nos recursos
do Banco em relação ao MPF, à FSP e também à CGU.
ausência de contrapartidas econômicas, sociais e
ambientais nos financiamentos (Ex: logo após a crise
de 2008, a Vale realiza um programa de demissões).
fragilidade dos mecanismos de acompanhamento
dos projetos: identificação de eventuais passivos
sociais e ambientais baseia-se, normalmente, na
auto-declaração do mutuário.
a política sócioambiental do Banco é frágil, aquém
do que determina a própria legislação (conflito com o
IBAMA).
ausência de critério e transparência na aplicação
pelo Banco do fundo social – não reembolsável (Ex:
em 02.01.2014, o BNDES aprova um repasse de 8,8
milhões para o Instituto Camargo Correa).