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OS PADRÕES DE POVOAMENTO MENONITA NO BRASIL: ANÁLISE DA COLÔNIA WITMARSUM 1

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Academic year: 2021

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OS PADRÕES DE POVOAMENTO MENONITA NO BRASIL: ANÁLISE DA COLÔNIA WITMARSUM1

LUZ, Ana Gabriela Bueno da GOMES, Ingrid Aparecida LÖWEN SAHR, Cicilian Luiza Introdução

O Brasil, no início do século XIX, recebeu uma leva de imigrantes menonitas. Este grupo etno-religioso enfrentava dificuldades políticas na Rússia na época stalinista. Devido ao movimento antireligioso e contra agricultores empreendedores, estes se viram obrigados a abandonar aquele país vivenciando um processo de diáspora.

Nesta situação, um grupo de menonitas chegou ao Brasil em 1930 de forma concentrada no estado de Santa Catarina. Gradativamente foram se instalando 141 famílias em Ibirama ao longo do rio Krauel na região do Alto Vale Itajaí. Três núcleos de povoamento foram formados: Witmarsum, cujo nome rememorava o lugar de nascimento do líder Menno Simons; Waldheim (=Lar da Floresta) e Gnadental (=Vale de Graças) (PAULS JR., 1980i, apud SAHR e LÖWEN SAHR, 2010). Um segundo grupo fundou a Colônia Auhagen, estabelecendo-se a uma distância de 35 km do primeiro, no alto de um morro na região do Stoltz-Plateau (=Planalto do Stoltz) (PENNER, GERLACH, QUIRING, 2010ii apud SAHR e LÖWEN SAHR, 2010). Nesta colônia se estabeleceram 103 famílias (PAULS, 1980 apud SAHR e LÖWEN SAHR, 2010).

Os problemas nestes núcleos de povoamento logo apareceram. Já em 1931, moradores da Colônia de Auhagen do Stoltz-Plateau, dado as dificuldades de exploração e acesso de suas terras, passaram a buscar novas alternativas. Aos poucos vários membros da comunidade foram se transferindo para os arredores da cidade de Curitiba no Paraná (PAULS JR., 1980, apud SAHR e LÖWEN SAHR, 2010). Nos campos de Curitiba, os menonitas encontraram uma paisagem semelhante a da região dos Estepes russos de onde provinham, além disso, podiam conviver com outros imigrantes alemães também de origem russa. As semelhanças culturais e ambientais com a antiga pátria incentivaram uma crescente emigração para Curitiba, não só do núcleo de Auhagen, mas também das outras aldeias de Santa Catarina.

A partir de 1934, várias famílias de Santa Catarina chegaram à Vila Guaíra, na periferia de Curitiba, iniciando a formação de uma comunidade religiosa significativa no meio urbano. Em 1936 e 1937 surgiram, distantes sete quilometros da cidade, três aldeias de caráter rural com enfoque na produção leiteira, estas se localizavam na antiga Fazenda do Boqueirão e no Xaxim (KLASSEN, 1998, apud SAHR e LÖWEN SAHR, 2010).

Nos anos 1950, a crise agrícola e social dos moradores que permaneceram nos núcleos de Santa Catarina agravou-se tanto, que eles também passaram a buscar novas perspectivas. Segundo Penner, Gerlach e Quiring (2010), citados em Löwen Sahr (2013), as famílias do grupo ligado à Mennoniten-Brüdergemeinde (=Comunidade Irmão Menonitas) se mudam para a região fronteiriça do Uruguai. Isto resultou na fundação da Colônia Nova em Bagé (hj. Aceguá), no Rio Grande do Sul, em 1950 com 90 famílias. O restante do grupo de Santa Catarina, pertencentes à Mennonitengemeinde (=Comunidade Menonita) e a Frei

Evangelische Mennonitengemeinde (=Comunidade Menonita Evangélica Livre), comprou

1 Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa: Entre integrações sociais e sistêmicas: translocalidades

menonitas na América Latina, coordenado pela Profa. Dra. Cicilian Luiza Löwen Sahr que conta com apoio financeiro e bolsa de Iniciação Científica do CNPq.

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uma área de 8.000 hectares, distante cerca de 70 km de Curitiba, onde instalou-se uma segunda colônia de nome Witmarsum, esta agora no município de Palmeira, estado do Paraná. Estas colônias foram pensadas, como uma possibilidade de novamente viver em povoamentos fechados, como viviam outrora seus pais.

Estas novas colônias, agora localizadas em áreas planas aptas à produção de trigo e à criação de gado leiteiro, possibilitaram o desenvolvimento de uma agricultura mais mecanizada e moderna, tão desejada pelos colonos (PAULS, 1980, apud LÖWEN SAHR, 2013). A criação destas colônias possibilitou também reduzir as divergências religiosas internas. Os membros do grupo Irmãos Menonitas queriam afastar-se dos processos da secularização que alegavam existir dentro da comunidade catarinense e, por isso, preferiram afastar-se para um contexto isolado no Rio Grande do Sul. Já os membros da Igreja Menonita buscaram a comunidade e vizinhança com os seus correligionários urbanos em Curitiba (KLASSEN, 1998).

Xaxim e Boqueirão, hoje bairros de Curitiba, têm atualmente mais de 90 anos de existência. Witmarsum e Colônia Nova, que mantem-se como povoados rurais, já completaram 60 anos. Cada uma dessas colônias trilhou seu próprio caminho, marcado por semelhanças e diferenças entre si. Desta forma, o artigo analisa o padrão de povoamento planejado para a colônia de Witmarsum, bem como, as transformações que este sofreu ao longo dos anos.

Objetivos Objetivo Geral:

- Analisar o padrão espacial de povoamento da colônia menonita de Witmarsum no Paraná. Objetivos específicos:

- Identificar o padrão de povoamento planejado originalmente pelos menonitas para sua colônia.

- Identificar elementos culturais menonitas e não menonitas no padrão de povoamento seguido.

- Analisar as transformações ocorridas ao longo dos anos nesse padrão de povoamento.

Metodologia

Para operacionalizar a presente investigação foi desenvolvido levantamento, leitura e fichamento de bibliografia relacionada à história menonita no Brasil e, sobretudo, à história da Colônia Witmarsum. Foram também realizadas entrevistas informais com moradores locais, buscando entender a estrutura espacial da colônia. Paralelamente foi realizado levantamento no acervo do Museu Heimat dessa colônia, buscando material cartográfico que permitisse uma análise do padrão espacial de povoamento idealizado na fase inicial, bem como, suas transformações.

Material e métodos

Com base no material cartográfico do acervo do Museu Heimat e a utilização do programa Quantum Gis, foi elaborado um cartograma com a demarcação dos limites da Colônia de Witmarsum e suas cinco aldeias, bem como, sua hidrografia e arruamento. Um detalhamento

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foi necessário, indicando a delimitação dos lotes, núcleos das aldeias e também a sede da colônia. Pode-se, assim, ilustrar e analisar a estrutura do povoamento para dois momentos: a de 1950, quando da criação da colônia, e a atual, que incorpora transformações radicais já ocorridas em 1957.

Resultados e discussão

A instalação da Colônia Menonita de Witmarsum ocorreu em terras da Fazenda Cancela, que pertencia ao Senador Coronel Roberto Glasser. (WITMARSUM, 2001). Para obter recursos para a compra da fazenda, os colonos venderam suas propriedades e a cooperativa Krauel em Santa Catarina, além de fazer um empréstimo junto a Conferência Geral Menonita. (WITMARSUM, 2001).

A região formada por planícies, com formação rochosa e pouca floresta apresentava uma cobertura de gramínia e abundância em água, sendo propicia a criação de gado. As terras não eram aptas ao trigo, fazendo com que a criação de gado e a produção leiteira se tornassem uma melhor opção. (WITMARSUM, 2001). A fazenda Cancela era uma fazenda de criação do período do tropeirismo, vivenciado na região dos Campos Gerais do Paraná durante os séculos XVIII e XIX.

A Fazenda possuía uma estrutura de vias internas que interligavam seus diferentes criadouros. Quando do planejamento da colônia, segundo relatos de moradores, idealizou-se as aldeias em antigos criadouros da fazenda. Estes núcleos populacionais deveriam seguir o modelo vivenciado por seus pais no período em que viveram na Rússia. Esse modelo, conhecido como Strassendorf, caracteriza-se por aldeias lineares com lotes em um ou ambos os lados da estrada.

Os moradores relatam que as aldeias 1 a 4 foram ocupadas já na fase inicial (Figura 1), ficando a aldeia 5 planejada para uma expansão futura. Desta forma, tinha-se inicialmente uma estrutura de quatro aldeias lineares (circulo em linha vermelha). Cada família recebia um lote onde construía sua casa, estrebaria e onde plantava alimentos para o próprio consumo. Os animais eram criados semi-extensivamente nas terras da colônia, que eram de uso comum. Essas terras constituíam grande parte da colônia, excluindo apenas as terras das aldeias e as da sede da colônia.

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A sede da antiga Fazenda se transformou na sede da colônia (Círculo com fundo vermelho). Esta assumiu já na fase inicial a função de lugar central, reforçando ao longo dos anos esta centralidade (cooperativa, escola, banco, museu, igrejas). Segundo nos contam os moradores, um loteamento com características urbanas foi idealizado na sede. Este seria ocupado por membros da comunidade que não desenvolvessem atividades agropecuárias (pastor, professores).

Segundo Klassen (1998), a Fazenda era totalmente cercada e dividida em 11 invernadas, já que originou-se das sesmarias. Em sua sede encontravam-se 21 construções, além de horta, pomar e uma usina hidroelétrica própria. A área da colônia foi dividida entre os menonitas em 128 chácaras, onde até 1954 apenas 75 eram ocupadas, sendo o tamanho destas entre 50 e 100 hectares, mais por acordo, cada colono recebia apenas 10 hectares para uso familiar, ficando o restante para uso comum.

Esta estrutura constituída de terras de uso familiar nas aldeias e terras de uso coletivo para o pastoreio nas demais áreas da colônia se manteve nos anos iniciais. Todavia, segundo relatos dos moradores, para expandir as atividades produtivas foi necessário buscar financiamento bancário. Esta possibilidade de financiamento tencionou o sistema de uso comum da terra, uma vez que se tornava necessário a penhora da propriedade, que precisava ser individualizada.

Foi, assim, que por volta de 1957 as terras da colônia foram novamente subdivididas entre seus proprietários, procurando-se manter a contiguidade aos lotes familiares das aldeias. Tal critério levou a elaboração da divisão das terras de uso comum em lotes como se apresenta na Figura 1. O resultado, elaborado em gabinete, trouxe serias consequências para o uso posterior das terras em virtude de não se levarem em consideração aspectos como hidrografia e curvas de nível.

Considerações finais

O padrão espacial de povoamento da Colônia de Witmarsum segue lógicas diferenciadas:

a) Inicialmente a estrutura de povoamento é pensada aos moldes das colônias menonitas da Rússia, que tinham as unidades de povoamento como unidades religiosas. Witmarsum foi assim projetada para ser uma comunidade apenas de famílias menonitas. A estrutura de povoamento seguia o modelo de Aldeias Lineares, as

Strassendorfs, assim como na Rússia. As áreas destinadas às famílias eram pequenas,

existindo uma grande área comum para o pastoreio do gado. Tem-se, assim, elementos culturais menonitas translocados do seu passado em terras russas para o Brasil.

b) Como a fazenda adquirida para a concretização da nova colônia era uma fazenda surgida na fase do tropeirismo, ela se constituía de diversas invernagens para o gado. Aproveitando esta estrutura existente formaram-se as aldeias ao longo das estradas internas da fazenda. No espaço da sede da fazenda se consolidou o núcleo da colônia. Tem-se, assim, elementos culturais não-menonitas (tropeiros) integrados a sua estrutura de povoamento.

c) Rapidamente as lógicas coletivistas foram deixadas de lado e a grande área comum foi individualizada procurando manter áreas contiguas aos pequenos lotes familiares iniciais. Esta lógica não levou em consideração a topografia do terreno o que traz problemas de uso até os dias de hoje. Tem-se, dessa forma, a dissolução da ideia de comunidade cristã coletiva em detrimento de uma lógica de cunho capitalista.

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Referências

KLASSEN, P. P. Die russlanddeutschen Mennoniten in Brasilien. Band 2: Siedlungen, Gruppen und Gemeinden in der Zerstreuung. Bolanden-Weiherhof: Mennonitischer Geschichtsverein, 1998.

LÖWEN SAHR, C. L. A estruturação socioespacial da Colônia Menonita de Witmarsum In: LLERA, F.J.; BAUTISTA, E. (Org.). Comunidades menonitas de México y Brasil: influencia y aportaciones. Ciudad Juárez: Universidade Autononoma Ciudad Juárez, 2013, v. 1, p. 148-164.

SAHR, W.-D.; LÖWEN SAHR, C.L. (2000): Menonitas Brasileiros às margens do mundo nacional. Um estudo de geografia social e cultural. Rae´ga, Curitiba, v. 4, p. 61-84, 2000. WITMARSUM. A história da Colônia: a atuação menonita – os Pioneiros. Curitiba: Cidade Clima, 2001.

NOTAS FINAIS

iPAULS JÚNIOR, P. P. Urwaldpioniere. Persönliche Erlebnisse Mennonitischer Siedler aus

den ersten Jahren am Krauel und vom Stoltzplateau, S.C. Curitiba: Festkomitee für die Jubiläumsfeier, 1980.

iiPENNER, H.; GERLACH, H.; QUIRING, H. Weltweite Bruderschaft. Ein mennonitisches

Referências

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