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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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Nº 2544/2014 - PGGB

RECLAMAÇÃO Nº 18.091/RO

RECLTE : UNIÃO

RECLDO : JUIZ FEDERAL DA 6ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

: ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

INTERESSADO: FRANCISCO CHAGAS DA SILVA ARAÚJO

RELATOR : MINISTRO ROBERTO BARROSO - PLENÁRIO

Reclamação. Correção monetária de débito da Fazenda Pública. Sentença que determinou a utilização do IPCA-E e da SELIC em substituição ao índice de remuneração da caderneta de poupança, previsto na Lei n. 9.494/97. Afronta ao quanto decidido cautelarmente pelo STF nas AADDI ns. 4357 e 4425/DF.

A União ajuizou reclamação contra decisão do Juízo da 6ª Vara do

Juizado Especial Federal de Rondônia, que determinou a incidência de juros e

correção monetária de débito fazendário segundo índices distintos dos previstos

na Lei n. 9.494/97. No dispositivo se lê:

(…) Deverão incidir sobre os valores atrasados a atualização monetária pelo IPCA-E até o ajuizamento da ação e, a partir de então, incidência de juros e correção monetária pela taxa SELIC.

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A reclamação sustenta que a sentença, ao determinar a adoção do

IPCA-E como índice de correção monetária, afrontou a autoridade da medida

cautelar deferida nos autos da ADI n. 4357/DF. Afirma que o Supremo Tribunal

Federal determinou a adoção, até a modulação dos efeitos da citada ação de

controle concentrado, da sistemática anteriormente aplicável ao pagamento de

precatórios. Alega, ainda, que a decisão reclamada usurpou a competência da

Suprema Corte para modular os efeitos de suas decisões.

- II -

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar, em conjunto, as AADDI ns.

4357 e 4425/DF, declarou a inconstitucionalidade parcial do § 12 do art. 100 da

CF e, por arrastamento, do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, na redação dada pela Lei

n. 11.960/09. O acórdão da ADI n. 4425/DF tem a seguinte redação:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA MEDIANTE PRECATÓRIO. (…) IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CF, ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO

MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.

INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS MORATÓRIOS DOS CRÉDITOS INSCRITOS EM PRECATÓRIOS, QUANDO ORIUNDOS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CF, ART. 5º, CAPUT). (...)

5. A atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o índice oficial de

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remuneração da caderneta de poupança viola o direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII) na medida em que é manifestamente incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o cidadão. A inflação, fenômeno tipicamente econômico-monetário, mostra-se insuscetível de captação apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneração da caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do período).

6. A quantificação dos juros moratórios relativos a débitos fazendários inscritos em precatórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança vulnera o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput) ao incidir sobre débitos estatais de natureza tributária, pela discriminação em detrimento da parte processual privada que, salvo expressa determinação em contrário, responde pelos juros da mora tributária à taxa de 1% ao mês em favor do Estado (ex vi do art. 161, §1º, CTN). Declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução da expressão “independentemente de sua

natureza”, contida no art. 100, §12, da CF, incluído pela EC nº

62/09, para determinar que, quanto aos precatórios de natureza tributária, sejam aplicados os mesmos juros de mora incidentes sobre todo e qualquer crédito tributário.

7. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos vícios de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se revela inconstitucional por arrastamento, na mesma extensão dos itens 5 e 6 supra. (ADI n. 4425/DF, Rel. para o acórdão o Ministro Luiz Fux, DJe 18.12.2013).

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A leitura do acórdão permite concluir que o Supremo Tribunal

rejeitou a utilização do índice de remuneração da caderneta de poupança como

critério de correção monetária dos débitos fazendários, bem como vedou a

aplicação dos juros da poupança para compensação da mora, no caso de débitos

fazendários de natureza tributária.

Enquanto não se delibera, na Corte, sobre a modulação dos efeitos

da decisão, o Ministro Luiz Fux concedeu medida cautelar, determinando que os

Tribunais de Justiça continuem realizando o pagamento de precatórios segundo

os procedimentos adotados anteriormente ao julgamento das ações diretas em

comento. A medida foi referendada pelo Tribunal Pleno (DJe 8.11.2013),

apresentando a seguinte redação:

“(...) A decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade parcial da Emenda Constitucional nº 62/09, assentando a invalidade de regras jurídicas que agravem a situação jurídica do credor do Poder Público além dos limites constitucionalmente aceitáveis. Sem embargo, até que a Suprema Corte se pronuncie sobre o preciso alcance da sua decisão, não se justifica que os Tribunais Locais retrocedam na proteção dos direitos já reconhecidos em juízo. Carece de fundamento, por isso, a paralisação de pagamentos noticiada no requerimento em apreço.

Destarte, determino, ad cautelam, que os Tribunais de Justiça de todos os Estados e do Distrito Federal deem imediata continuidade aos pagamentos de precatórios, na forma como já vinham realizando até a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em 14/03/2013, segundo a sistemática vigente à época, respeitando-se a vinculação de receitas para fins de quitação da dívida pública, sob pena de sequestro. (...)” (Ministro Luiz Fux, DJe 15.4.2013, grifos acrescidos).

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O sentido e alcance dessa medida cautelar está exposto em decisão

monocrática do Ministro Teori Zavascki:

Essa medida cautelar, deferida pelo relator, foi ratificada pelo Plenário da Corte na sessão de julgamento de 24/10/2013, a significar que, enquanto não revogada, continua em vigor o sistema de pagamentos de precatórios “na forma como vinham sendo realizados”, não tendo eficácia, por enquanto, as decisões de mérito tomadas pelo STF nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 4357 e 4425. [grifos acrescidos] (Ministro Teori Zavascki, decisão liminar na Rcl n. 16.707/DF)

A fixação de índice de correção monetária diverso daquele previsto

no art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, portanto, afronta a decisão cautelar tomada pelo

Supremo Tribunal Federal nas AADDI ns. 4357 e 4425/DF. Isso é o que também

afirmou o eminente Ministro Celso de Mello, ao apreciar pedido cautelar em caso

análogo:

Possível, desse modo, enquanto não sobrevier definitiva decisão plenária do Supremo Tribunal Federal sobre a modulação temporal de eficácia do julgamento declaratório de inconstitucionalidade proferido nos processos de ação direta já referidos, extrair-se a premissa, sustentada pela parte reclamante, segundo a qual a fixação de índices diversos daqueles vigentes em momento que precedeu ao julgamento das ADIs 4357/DF, 4.372/DF e 4425/DF, para efeito de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, tratando-se de condenações impostas à Fazenda Pública por sentenças irrecorríveis, transgrediria a autoridade do julgado ora invocado como parâmetro de confronto. [grifos acrescidos] (Rcl n. 18469-MC/DF, Rel. Ministro Celso de Mello, DJe 9.9.2014).

A mesma inteligência tem sido prestigiada por vários eminentes

Ministros do Supremo Tribunal Federal, como se vê dessas recentes decisões

monocráticas: Rcl n. 18093-MC/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio, DJe

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28.8.2014; Rcl n. 17.951-MC/DF, Rel. Ministro Dias Toffoli, DJe 1º.8.2014

(relator deste feito); Rcl n. 17.342-MC/DF, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe

3.6.2014; e Rcl n. 17.506-MC/DF, Rel. Ministra Cármen Lúcia, DJe 2.4.2014.

A circunstância de a decisão reclamada ter sido adotada na fase de

conhecimento, não afasta a ofensa à medida cautelar concedida pelo STF. Ao

declarar a inconstitucionalidade, sem redução de texto, do art. 1º-F da Lei n.

9.494/97, a Suprema Corte assentou que o índice de remuneração da poupança “é

manifestamente incapaz de preservar o valor real do crédito de que é titular o

cidadão”. Não se depreende do julgado que a Corte Suprema tenha limitado a

extensão da inconstitucionalidade apenas à correção monetária dos débitos da

Fazenda Pública já inscritos em precatórios. A sentença que adota índice de

correção, no processo de conhecimento, distinto daquele admitido, pelo STF,

para pagamento por meio de precatório, colide com o que o Supremo Tribunal

Federal estabeleceu. Afinal é esse comando da sentença que informará o

conteúdo do precatório.

O parecer é pela procedência da reclamação, cassando-se o acórdão

quanto ao índice de correção monetária aplicado ao débito fazendário.

Brasília, 1º de outubro de 2014.

Paulo Gustavo Gonet Branco

Subprocurador-Geral da República

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