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GEOGRAFIA, REPRESENTAÇÃO E ENSINO: UM OLHAR SOBRE A DIMENSÃO CONCEITUAL

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Academic year: 2021

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GEOGRAFIA, REPRESENTAÇÃO E ENSINO: UM OLHAR SOBRE A DIMENSÃO CONCEITUAL

Salete Kozel-UFPR skozel@ufpr.br

Ao refletirmos sobre o Espaço de Representação na escola podemos vislumbrar diversas perspectivas, como: a representação espacial construída pelos educando e educadores sobre espaço físico da escola e seus arredores, o espaço de representação gerado a partir da relação estabelecida entre os agentes sociais que desenvolvem a gestão da escola (docentes, discentes e gestores administrativos), a representação do espaço elaborada pelo educador/educandos a respeito dos espaços local/global perpassando pelas categorias de análise e conceitos, entre outras. É importante destacar que devido a amplitude de enfoques possíveis elegemos enfocar a representação espacial sob a perspectiva conceitual e pedagógica, refletindo sobre as dimensões conceitual e de escala estabelecidas na relação docente/discente.

O complexo contexto histórico que vivenciamos nos leva a rever padrões e valores assim como o papel da instituição escola, o fazer pedagógico e nosso papel como docente/pesquisador. E nesse aspecto a abordagem geográfica nos currículos e a relação estabelecida entre educando, educador e conhecimento geográfico se tornam o cerne da questão.

Atualmente a Geografia se depara com o desafio de entender e explicar o espaço num contexto em constante transformação. O avanço tecnológico, a acelerada circulação de mercadorias, de homens e idéias faz com que os seres humanos redimensionem significativamente as relações espaciais, pois sempre estiveram atreladas ao processo produtivo e à vida social. O predomínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, como fonte de poder material e social leva a uma compreensão e uma vivência de espaço e

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de tempos relativos, sobretudo por serem realidades construídas individual e coletivamente.

A preocupação com as representações sempre esteve presente, tanto no cotidiano dos grupos sociais como na pesquisa geográfica estruturando as vertentes; representação cartográfica e representação social/cultural (incorporando valores, significados, ideologias, simbolismos).

Essa vertente de análise propõem entender os processos que submetem o comportamento humano, tendo como premissa que este é adquirido por meio de experiências (temporal, espacial e social), existindo uma relação direta e indireta entre essas representações e as ações humanas, ou seja, entre as representações e o imaginário, revolucionando a gênese do conhecimento, permitindo compreender a diversidade inerente às práticas sociais, às mentalidades e aos vividos.(Kozel,2002)

A escola, neste contexto é um referencial no espaço e um tempo de construção histórica, social e geográfica (construído na vivência e na representação cultural). O tempo de escola não é uma mera realidade objetiva e a escola não é apenas o lugar objetivo onde se aprende. É o tempo-espaço subjetivo, vivido culturalmente onde aprendemos a nós mesmos de forma objetiva e subjetiva, individual e coletiva.(Moraes, 2006).

E diante a esse panorama como gerenciar e entender uma nova instituição para os novos tempos?

Desde a fase da vida infanto-juvenil, os anseios do ser humano se constituem em tomar conhecimento e entender o mundo, desde as questões naturais e humanas as questões mais complexas. A televisão e demais mídias apresentam um mundo que é próximo e ao mesmo distante, sem dúvida um mundo mais complexo daquele apresentado nas “salas de aula”. Geralmente nas escolas se tenta esclarecer as dúvidas que surgem no processo de construção e apreensão do conhecimento, porém limites são estabelecidos para a possibilidade de pensar, sobretudo não permitindo que as

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diferentes escalas espaciais possam ser ultrapassadas e relacionadas com a realidade.

A prática pedagógica da geografia segundo Santos (1977), acontece de acordo com duas abordagens: a sintética que apresenta a realidade como ponto de partida e a analítica que parte do estudo da superfície terrestre no seu conjunto, para posteriormente se chegar ao lugar de convivência. Nas últimas décadas se tem procurado desenvolver a abordagem sintética, sobretudo por priorizar a ação do indivíduo como agente social sobre o objeto, fundamental para a construção do conhecimento.

Entretanto, nas complexas inter-relações educador/educando e conhecimento geográfico ainda prevalecem um fazer pedagógico pautado na hierarquização linear e mecânica do espaço. Geralmente se apresenta primeiramente a família, em seguida a escola, a rua, o bairro, a cidade, o campo, o município, o estado, a nação, o continente e, por fim o mundo. E essa seqüência raramente transgredida, não permite uma maior compreensão do espaço, tornando o conhecimento geográfico desestimulante. Almeida e Passini (1991) referendam essa reflexão apontando que: ...“os avanços tecnológicos dos meios de comunicação e circulação proporcionam a aproximação dos espaços por estabelecer ligações entre as diferentes escalas espaciais o que raramente é considerado nas práticas pedagógicas em geografia”.

E nesse aspecto é interessante ressaltar ainda que essa situação também é reforçada por grande parte dos materiais didáticos de apoio onde cada escala espacial é apresentada de forma isolada, sem a preocupação em estabelecer relação entre o espaço imediato, próximo e o distante.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais - MEC (Brasil, 1998) também se pode encontrar um alerta aos educadores para que não trabalhem hierarquicamente do local ao mundial (...) “A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante

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toda a escolaridade de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais”.

Nesse sentido, as diferentes escalas não podem ser compreendidas de forma descontextualizadas e isoladas, sobretudo quando a televisão, Internet e as diferentes mídias apresentam em tempo real todos os acontecimentos mundiais.

Não se espera que o estudante possa compreender toda a complexidade das relações do seu lugar com o mundo e vice-versa, mas não se deve privá-lo de estabelecer hipóteses, observar, elaborar as suas explicações.

E nessa perspectiva é importante que o educador tenha em mente que os conteúdos referendam o conhecimento geográfico e são apenas ferramentas e não o foco central para as ações pedagógicas.

O currículo reflete a sociedade e o momento histórico vivido, portanto, as noções e experiências espaço-temporais perpassam o cotidiano da educação tanto na organização escolar quanto na totalidade dos conteúdos e vivências. E nesse sentido Castrogiovani (2000) evidencia que...

“assim como o tempo, o espaço é visto apenas do ponto de vista da forma e da estrutura, ou seja, do visível, não tem significações e tampouco desperta os alunos para possíveis “emoções”. Todo trabalho espacial deve conter o sentimento da provocação dos “porquês”, “para quês” e “para quem”.

As relações do indivíduo com o espaço geográfico construído no cotidiano, os microespaços (que são os territórios do indivíduo) devem ser incorporados aos conteúdos formais apresentados na prática da geografia. Essa correlação entre a vida real concreta e as demais informações permitirá análises mais pertinentes e “um ressignificar” da abordagem geográfica. Pode-se constatar que muitas vezes essas questões deixam de ser consideradas por desconhecimento e ingenuidade quanto a sua importância.

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O descompasso entre a prática pedagógica e a ânsia em descobrir o mundo também é apontado por Rubens Alves (2004) quando diz :

“A curiosidade é a voz do corpo fascinado com o mundo. A curiosidade quer aprender o mundo. A curiosidade jamais tem preguiça! Por amor às criança – e ao corpo – não seria possível pensar que o nosso dever primeiro seria satisfazer essa curiosidade original, que faz com que a aprendizagem do mundo seja um prazer? (...) O fato é que existe um descompasso inevitável entre os programas escolares e a curiosidade”.

No seu dia a dia é importante que se possa perceber que o seu território e o seu município são construídos pelo movimento dos seres humanos que envolvem interesses que podem ser localizados, reconhecidos e entendidos no processo dinâmico da vida cotidiana. Isso fará com que se compreenda o lugar ou território onde se insere como “espaço total”, construído por diferentes temporalidades, territorialidades e representações.

Assim, se pode não apenas estabelecer relações socioculturais ao funcionamento da natureza às quais historicamente pertence, como também compreender e refletir de forma singular sobre a realidade sob a lente do conhecimento geográfico.

Para se estabelecer a representação espacial esse conhecimento deve ser considerado tanto em sua dimensão conceitual como na dimensão instrumental.

A dimensão conceitual permite conhecer e aplicar conceitos como: espaço, território, lugar, região, paisagem, ambiente, rede bem como estabelecer relações entre eles. A dimensão instrumental refere-se às competências relacionadas com a observação direta, com a utilização, a elaboração e a interpretação de representações cartográficas e gráficas, visando integrar diferentes características espaciais permitindo o desenvolvimento de um processo de conhecimento.

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A construção dos conceitos lugar, paisagem, território, região entre outros é imprescindível para que se possa decifrar o espaço geográfico. De acordo com Suertegaray (2002)

“(...) quando pensamos o espaço geográfico, compreendemo-lo como a conjunção de diferentes categorias, quais sejam: natureza, sociedade, espaço-tempo. Essas categorias transformam-se com a histórica mudança do mundo; por conseqüência, transforma-se o espaço geográfico, bem como o conceito de espaço geográfico.”

Quando optamos por trabalhar com um determinado conceito estabelecemos a dimensão desse olhar. Por exemplo: o conceito de território permite uma análise do político, o conceito de região aponta para o econômico e o cultural, a paisagem para a compreensão de natureza e cultura, o lugar como reflete a subjetividade humana. Os exemplos nos indicam a pertinência do que fundamenta a análise geográfica, ou seja, a relação sociedade natureza, embora nem sempre compreendida, pois os diferentes filtros proporcionam olhares e significados diferenciados.

Pensar o espaço geográfico é considerar a multiplicidade de olhares integrando o individual, particular ao coletivo, social. Poderemos ler o espaço geográfico a partir das lentes proporcionadas pelos diferentes conceitos de lugar, paisagem, região, território. Considerando que cada uma das análises contém as demais, isso porque todas contem a complexidade da dimensão ampla do Espaço geográfico.

Como habitantes do espaço do planeta Terra convivemos com múltiplas relações e a Geografia se constitui numa das lentes que permite a sua leitura e o desencadeamento de ações reflexivas e significativas. Não são apenas as explicações sobre o mundo os objetos de estudo ou o foco do processo educacional, mas particularmente a capacidade de ação dos sujeitos nesse processo.

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Referências:

- Almeida R. D E Passini, E O espaço geográfico: ensino e representação.São Paulo: Contexto, 1991.

- Alves,R. Entre a ciência e a sapiência. O dilema da Educação.São Paulo: Loyalo, 2004

- BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história, geografia, Brasília, DF: MEC/SEF, 1997

- Castrogiovani,A C. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano (org) Porto Alegre:Mediação,2000 - Cavalcanti,L.S.Geografia, escola e construção do conhecimento. Campinas: Cortez,1997

- Claval P. Mondialisation et enjeux geo-culturels. Texto apostilado, 2006

- Kozel,S e Filizola, R. Memórias da Terra: o espaço vivido.São Paulo: FTD,1996

- Kozel,S. As representações no geográfico IN: Mendonça,F. e Kozel,S. Elementos de Epistemologia da Geografia contemporânea.Curitiba:Editora da UFPR,2002

- Moraes,G R. A chave do tamanho abre o conhecimento do espaço geográfico. Porto Alegre, 2006 138 p (Dissertação de mestrado em Geografia) Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

- Morin,E.Ciência com consciência.Porto Alegre:Sulina,1996 - Moscovici,S. As representações sociais. Actes du se coloque sur la didactique de l’histoire et de la géographie. Paris: INRP. - Rego,N;Moll,J;Aigner,C;Heindrich,A (orgs) Saberes e práticas na construção de sujeitos e espaços sociais.Porto Alegre:Editora da UFRGS,2006

- Santos, M.Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n 54,1977

- Suertegaray, D.Geografia física(?) ou Geografia e ambiente(?).IN:Mendonça,F. e Kozel,S. Elementos de Epistemologia da Geografia contemporânea.Curitiba: Editora da UFPR,2002

Referências

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