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Sumário. Texto Integral

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 348/18.8Y3BRG-A.G1 Relator: ALDA MARTINS

Sessão: 22 Abril 2021 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE

ACIDENTE DE TRABALHO JUNTA MÉDICA PRESENÇA DO SINISTRADO

Sumário

Sumário (elaborado pela Relatora):

O exame pericial por junta médica exige a presença e observação clínica do sinistrado, e se, excepcionalmente, houver fundamento para o dispensar, a decisão cabe exclusivamente ao juiz, que à mesma preside.

Alda Martins

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Guimarães: 1. Relatório

Os presentes autos de acção declarativa de condenação, com processo especial emergente de acidente de trabalho, em que é sinistrada G. F. e responsável Companhia de Seguros X Portugal, S.A., referem-se a um acidente de trabalho de que aquela foi vítima, ocorrido em 31/08/2017, quando prestava a sua actividade de praticante de carnes, mediante a

retribuição anual de 9.489,00 €, em função da qual se encontrava transferida para a seguradora a responsabilidade infortunística do empregador.

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Na fase conciliatória, o perito médico foi de parecer que a sinistrada ficou afectada de IPP de 3%.

A conciliação das partes frustrou-se apenas em virtude de ambas não terem aceitado a incapacidade permanente reconhecida no exame médico.

A sinistrada e a seguradora requereram perícia por junta médica, que se realizou em 12/12/2019, finda a qual foi proferida sentença em 13/01/2020. A A. interpôs recurso da sentença, que veio a ser julgado por Acórdão desta Relação de Guimarães de 25 de Junho de 2020, nos seguintes termos:

«Deste modo, tendo sido proferida decisão final alicerçada no resultado da perícia por junta médica, importa anular e repetir tal exame, a fim de a junta médica se pronunciar, fundamentadamente, sobre a incapacidade permanente a fixar à sinistrada, face ao exame objectivo, ao relatório da perícia médica singular, aos relatórios juntos pela sinistrada com o requerimento de junta médica, ao exame radiológico constante dos autos, etc., indicando quais os elementos em que radica o seu entendimento e as razões de os acolher e não atender aos demais de sentido diverso.

(…)

Nestes termos, acorda-se em julgar procedente a apelação, e, em

consequência, anula-se parcialmente a sentença recorrida, a fim de a junta médica efectuar perícia fundamentada nos sobreditos termos, seguindo-se a prolação de nova decisão quanto à questão da incapacidade permanente que tenha em conta o que dali resulte.»

Nessa sequência, volvido o processo à 1.ª instância, foi designada nova data para exame por junta médica, tendo a sinistrada sido notificada para

comparecer, sob pena de multa.

Em 26/11/2020, a sinistrada compareceu no tribunal para intervir na referida diligência, mas esta realizou-se sem a sua presença, tendo a sinistrada

apresentado requerimento no mesmo dia, a pugnar pela anulação do exame, por preterição da presença e observação da sinistrada, e designação de nova data para a sua repetição.

Notificado às partes o resultado do exame por junta médica, a sinistrada apresentou de imediato novo requerimento em termos semelhantes. Em 5/01/2021, foi proferido o seguinte despacho:

«Pese embora seja repetido que a sinistrada não esteve presente na repetição da junta médica, do respectivo auto não consta que tivesse faltado.

Por isso, deverá a secretaria esclarecer a referida contradição.»

Em 07/01/2021, a secretaria concluiu o processo com a informação «(…) de que a sinistrada compareceu neste Tribunal, mas não foi de novo examinada

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pelos Senhores Peritos Médicos, por acharem não ser necessário voltar a fazê-lo, porque estava em causa a fundamentação à resposta aos quesitos

respondidos anteriormente», tendo sido proferido o seguinte despacho: «Tendo em conta que o objectivo da repetição da junta médica se pretendia exclusivamente com a fundamentação das respostas dadas aos quesitos e que os peritos concluíram que era desnecessária nova observação da sinistrada, é totalmente ilegítimo concluir que a junta médica é nula.

Por isso, sem mais, vai indeferido o requerimento em apreço.»

A sinistrada veio interpor recurso deste despacho, formulando as seguintes conclusões:

«A. Vem o presente recurso interposto do douto despacho que indeferiu a arguição de nulidade da repetição da perícia (Exame por Junta Médica), admitindo-a como meio de prova.

B. Uma vez que o despacho em mérito indeferiu o requerimento de arguição de nulidade apresentado pela recorrente e admitiu a prova produzida (auto de Exame por Junta Médica), é admissível recurso nos termos do art. 79º-A nº.2 d) do CPT.

C. Não pode a recorrente conformar-se com tal entendimento, porquanto padece de nulidade o Exame Por Junta Médica (Repetição) realizado. D. Encontra-se ferido de falsidade o Auto de Exame por Junta Médica (Repetição) de 26.11.2020, uma vez que do mesmo consta que a sinistrada esteve presente na realização do Exame por Junta Médica.

E. Por requerimento apresentado via citius no mesmo dia (refª: 37290043), a recorrente alegou a nulidade do acto, por preterição de uma formalidade essencial: a sua presença e observação da sinistrada.

F. Em 07.01.2021, a Secretaria veio reconhecer a falsidade contida no Auto.: "07-01-2021, com a informação a V. Exª de que a sinistrada compareceu neste Tribunal, mas não foi de novo examinada pelos Senhores Peritos Médicos, por acharem não ser necessário voltar a fazê-lo, porque estava em causa a

fundamentação à resposta aos quesitos respondidos anteriormente. G. A presença e observação da sinistrada são imprescindíveis para a realização do Exame por Junta Médica. (veja-se o acórdão do TRL de 09.11.2011)

H. Apenas a requerimento da sinistrada, tem o Tribunal poderes para

dispensar a sua presença na tentativa de conciliação ou no exame médica se se mostrar impossível a presença, o que não ocorreu no caso em mérito. I. É processualmente inadmissível e, portanto, ilegal que os Srs Peritos dispensem a observação da sinistrada e ainda mais incompreensível que fundamentem o seu parecer médico, como fizeram, sem verificar fisicamente

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as lesões e constatar as queixas da sinistrada.

J. Não deu igualmente o Tribunal recorrido cumprimento ao ordenado pelo Tribunal da Relação de Guimarães.

K. Ao contrário do que sustenta o despacho recorrido, o douto acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães não ordenou apenas que os Senhoras

peritos fundamentassem as respostas dadas ou que a Junta Médica se prendia "exclusivamente com a fundamentação das respostas dadas aos quesitos". L. O acórdão proferido ordenou a anulação do exame anterior e a repetição do Exame por Junta Médica e, bem assim, a repetição do Exame Por Junta Médica impõe que seja efectuada um novo exame à sinistrada, ainda que para

fundamentação das resposta ou para a sua alteração, querendo.

M. Ficou a constar expressamente do acórdão proferido pelo Tribunal de 2ª instância que "Deste modo, tendo sido proferida decisão final alicerçada no resultado da perícia por junta médica, importa anular e repetir tal exame, a fim de a junta médica se pronunciar, fundamentadamente, sobre a

incapacidade permanente a fixar à sinistrada, face ao exame objectivo, ao relatório da perícia médica singular, aos relatórios juntos pela sinistrada com o requerimento de junta médica, ao exame radiológico constante dos autos, etc., indicando quais os elementos em que radica o seu entendimento e as razões de os acolher e não atender aos demais de sentido diverso."

N. Olvidou o Tribunal recorrido que o douto acórdão proferido anulou o exame anteriormente realizado e ordenou a repetição da Junta médica, com o exame objectivo da sinistrada, e atendendo a todos os relatórios e exames

radiológicos juntos aos autos.

O. Até porque não se lembrarão os Srs Peritos médicos o que a sinistrada disse há 1 ano atrás na junta médica realizada, ou as queixas que apresentava, nem a sua observação física, sendo que, o recurso aos relatórios juntos não é de todo suficiente para que se cumpra a repetição da Junta Médica.

P. Para a fundamentação das respostas aos quesitos é imprescindível a observação da sinistrada e o exame objectivo das lesões que a mesma apresenta naquela data.

Q. Resulta claro que, o Exame por Junta Médica (ainda que em repetição) apenas pode ser realizada com a presença e observação da sinistrada. R. O ato praticado - auto de junta médica e consequente relatório - sem a presença e observação da sinistrada encontra-se ferido de nulidade, não podendo o mesmo ser admitido como meio de prova.

S. É jurisprudência unânime que a presença do sinistrado é indispensável na repetição de exame por Junta Médica: "Tendo-se determinado a realização de uma junta médica, a realização do exame torna-se indispensável e não é possível valorar as conclusões dos peritos médicos apenas com base nos

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elementos anteriores já constantes dos autos, sem realização do exame médico, mesmo que o sinistrado se encontre ausente..."(...)"Imperativo era, pois, que o sinistrado fosse examinado pela junta, sob pena de tudo se passar como se não existisse o supra citado n° 2 do artigo 71° e 73º do CPT, com a sua inerente violação, bem como com a violação do princípio do contraditório e do direito de defesa enquanto corolário do princípio da igualdade entre as partes." (Ac. No processo n.º 334/2011 in http://www.court.gov.mo/sentence/ pt/7855)

T. Andou mal o Tribunal recorrido ao indeferir o requerimento da recorrente a o admitir como meio de prova a Junta Médica realizada.

U. Encontra-se ferido de nulidade o Exame por Junta Médica realizado por preterição da presença e observação da sinistrada.»

A seguradora não apresentou resposta ao recurso.

O recurso foi admitido como apelação, para subir imediatamente, em separado, com efeito meramente devolutivo.

Recebidos os autos neste Tribunal da Relação, pelo Ministério Público foi emitido parecer no sentido da procedência do recurso.

Vistos os autos pelas Exmas. Adjuntas, cumpre decidir. 2. Objecto do recurso

Sendo o âmbito do recurso delimitado pelas conclusões do recorrente – arts. 635.º, n.º 4 e 639.º, n.º 1 do Código de Processo Civil –, a única questão que se coloca a este Tribunal é a da anulação do exame por junta médica, por ter sido realizado sem a presença e observação da sinistrada.

3. Fundamentação de facto

Os factos relevantes para a decisão são os que resultam do Relatório supra. 4. Apreciação do recurso

Estabelece o art. 139.º, n.º 1 do Código de Processo do Trabalho que a perícia por junta médica, constituída por três peritos, tem carácter urgente, é secreta e presidida pelo juiz.

Por seu turno, o art. 388.º do Código Civil esclarece que a prova pericial tem por fim a percepção ou apreciação de factos por meio de peritos, quando

sejam necessários conhecimentos especiais que os julgadores não possuem, ou quando os factos, relativos a pessoas, não devam ser objecto de inspecção judicial.

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Do exposto resulta que, por natureza e por lei, o exame pericial por junta médica exige a presença e observação clínica do sinistrado.

Nos presentes autos, a sinistrada foi examinada em junta médica realizada em 12/12/2019, porém, por Acórdão desta Relação de 25 de Junho de 2020,

entendeu-se «(…) anular e repetir tal exame, a fim de a junta médica se pronunciar, fundamentadamente, sobre a incapacidade permanente a fixar à sinistrada, face ao exame objectivo, ao relatório da perícia médica singular, aos relatórios juntos pela sinistrada com o requerimento de junta médica, ao exame radiológico constante dos autos, etc., indicando quais os elementos em que radica o seu entendimento e as razões de os acolher e não atender aos demais de sentido diverso.»

Nessa sequência, foi designada nova data para exame por junta médica, sem qualquer ressalva quanto à necessidade de a sinistrada estar presente, tendo a mesma sido notificada para comparecer, sob pena de multa.

Não obstante, apesar de a sinistrada ter comparecido no tribunal para intervir na referida diligência, esta realizou-se sem a sua presença e «(…) não foi de novo examinada pelos Senhores Peritos Médicos, por acharem não ser

necessário voltar a fazê-lo, porque estava em causa a fundamentação à resposta aos quesitos respondidos anteriormente».

O teor dos despachos de 5/01/2021 e 7/01/2021 confirma que a falta de presença e de observação clínica da sinistrada foi decidida pelos senhores peritos, sem conhecimento do senhor juiz a quo, apesar de – estranhamente – este e a própria sinistrada constarem do respectivo Auto como estando

presentes.

Ora, sendo a perícia por junta médica presidida pelo juiz, só este podia ter dispensado a sinistrada de estar presente e ser reexaminada, em face do teor do Acórdão, o que se constata que não ocorreu.

Acresce que o Acórdão em causa, ao determinar que a junta médica efectuasse perícia fundamentada nos sobreditos termos, ou seja, que na sequência de anulação e repetição do exame se pronunciasse

fundamentadamente sobre a incapacidade permanente a fixar à sinistrada, face ao exame objectivo e outros elementos clínicos, enunciados a título exemplificativo, também não autorizava que fosse proferido despacho a dispensar a comparência e reexame clínico da sinistrada. E muito menos

autorizava que fosse proferido tal despacho a posteriori e em contradição com a tramitação processual antes observada, de designação de data para junta médica sem qualquer ressalva quanto à presença da sinistrada e notificação da mesma para comparecer, sob pena de multa.

Ou seja, ainda que não se rejeite, em absoluto, a possibilidade de haver fundamento atendível para dispensar a presença e observação clínica do

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sinistrado, tal não é o caso na situação em apreço, atendendo a que o decidido no Acórdão proferido não tem o sentido restritivo que é considerado no

despacho recorrido, sendo certo que, de qualquer modo, e como já referido, a decisão tinha de ser tomada pelo juiz que presidia ao exame por junta médica. A preterição da formalidade em causa é, sem dúvida, susceptível de influir no exame ou na decisão da causa, produzindo a nulidade do acto – art. 195.º, n.º 1 do Código de Processo Civil.

Procede, pois, o recurso da sinistrada. 5. Decisão

Nestes termos, acorda-se em julgar procedente a apelação, e, em

consequência, revoga-se o despacho recorrido e anula-se o exame por junta médica realizado em 26/11/2020, devendo o mesmo ser repetido com a presença e observação clínica da sinistrada.

Custas pela Recorrida. Em 22 de Abril de 2021 Alda Martins

Vera Sottomayor Maria Leonor Barroso

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