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3 Metodologia Coleta dos dados

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Academic year: 2021

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A presente pesquisa – qualitativa e de cunho exploratório - buscou a variedade de pontos de vistas acerca da temática escolhida tentando identificar e compreender quais seriam as principais motivações de empreendedores já realizados no mundo dos negócios para continuar a abrir – de forma recorrente - novos empreendimentos.

O principal objetivo de uma pesquisa exploratória é investigar um problema visando fornecer critérios para a sua compreensão (VERGARA, 2004). Ao mesmo tempo, Denzin e Lincoln (2000) afirmam que a pesquisa qualitativa está interessada em estudar as coisas em seu ambiente natural, procurando dar sentido aos fenômenos ou interpretá-los de acordo com o significado que as pessoas lhes atribuem. Assim, acredita-se ser fundamental que o pesquisador investigue essas perspectivas complexas e variadas, ao invés de reduzir significados em poucas categorias ou idéias (CRESWELL, 2007).

A estratégia utilizada para atingir esse objetivo foi a adoção de uma pesquisa onde o que se deseja é a compreensão de significados, ou seja, percepções e concepções que o sujeito tem acerca do empreendedorismo a partir do discurso do próprio sujeito (MARTINS BICUDO, 1989), tornando consciente, explicito e objetivo algo que, para muitos, era inconsciente, implícito e subjetivo (SANDERS, 1982).

3.1.

Coleta dos dados

A técnica de coleta de dados utilizada para a construção do corpus de pesquisa foi a entrevista em profundidade. Para que esta análise trouxesse contribuições para o meio acadêmico foi vital que o pesquisador não se envolvesse no processo, evitando impor sua visão de forma que ele pudesse perceber e entender a perspectiva do entrevistado. Segundo Ashworth (1996 apud LYRA, 2008), um importante princípio metodológico a ser seguido por qualquer

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pesquisa baseada na tentativa de descrever a visão de mundo de outra pessoa, é o isolamento e distanciamento do pesquisador das suas próprias pressuposições em relação ao fenômeno sendo estudado.

De acordo com Lyra (2008), essa questão de distanciamento das visões do entrevistador é uma questão crucial no processo de pesquisa, podendo, inclusive, representar uma limitação ao presente estudo, visto que o método de coleta de dados utilizado caracterizou-se pela interação entre entrevistador e entrevistado, onde o primeiro tem por objetivo a obtenção de informação por parte do segundo (HAGUETTE, 1992 apud LYRA, 2008). Esta interação viola a premissa da dissociabilidade entre pesquisador e objeto de estudo (LYRA, 2008).

Lyra (2008) também coloca que outras questões podem atrapalhar a entrevista e gerar a omissão ou distorção de informação: 1) o desconforto emocional e psicológico do entrevistado, posto que muitos indivíduos sentem-se mal ao serem questionados sobre suas atitudes; 2) receio em compartilhar informação, já que muitos entrevistados podem ficar medindo suas palavras e até censurarem-se com medo de ser mal interpretado; 3) falta de disposição e vontade de responder, uma vez que muitos dos respondentes não entram no processo e acabam por considerar a entrevista sem sentido ou importância para ele; e 4) desconforto com a presença do entrevistador, na medida em que muitos pesquisados travam na presença de alguém que ele queira impressionar (LYRA, 2008).

Reforçando essa idéia, Valles (apud GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO & SILVA, 2006) afirma que existem duas ordens de fatores inibidores ao processo. Segundo ele, os primeiros fatores estão associados à própria falta de vontade, ou disponibilidade comportamental ou emocional como falta de tempo; a ameaça do eu; a autocensura psicossocial ou o sentimento desagradável que se revive ao rememorar algumas experiências. A outra ordem de fatores está associada à incapacidade relativa do entrevistado para comunicar a informação seja por confusão cronológica, esquecimento, excesso de generalidade ou falta de realismo no relato. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1112879/CA

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Portanto, esta pesquisa caracteriza-se por ter caráter descritivo e natureza qualitativa, onde o que se deseja é compreender os fatores que levam o indivíduo a empreender a partir da própria fala deste individuo. Segundo Gaskell (2008), a entrevista é essencialmente uma técnica para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos, além daqueles que o entrevistador espera. Assim, o seu objeto de investigação foi a vida e a visão de mundo do entrevistado, o que envolve experiências, idéias, valores e estrutura simbólica desse indivíduo (GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO & SILVA, 2006).

Ainda de acordo com Gaskell (2008), este tipo de entrevista ajuda na percepção do mundo social das pessoas, permitindo um entendimento da realidade do entrevistado. Esse mesmo autor coloca ainda que o emprego da entrevista qualitativa em profundidade é o ponto de partida para mapear e compreender o mundo dos respondentes e fornecer os dados básicos para o desenvolvimento e compreensão detalhada das relações entre os atores sociais e a situação estudada. Essa compreensão pode fornecer informações contextuais esclarecedoras de achados específicos e inicialmente sem sentidos (GASKELL, 2008).

No caso da presente pesquisa, o objetivo das entrevistas foi o de captar a percepção dos empreendedores em relação às motivações e fatores que os influenciaram a empreender – de forma geral – e a empreender em série – de forma mais específica. Buscou-se ainda, identificar, quais os fatores, na opinião desses indivíduos, que facilitaram ou dificultaram no processo de iniciar um novo empreendimento.

Vale ressaltar, como coloca Sierra (1998 apud GODOI, C. & MATTOS, P., 2006), que a função intersubjetiva da entrevista coloca o entrevistador como participante e construtor das produções discursivas da conversação. Fato que faz com que o êxito da entrevista não se fundamente apenas no desenho da investigação, mas também na destreza e habilidade do entrevistador e na relação que ele mantém com o entrevistado.

Para subsidiá-la, optou-se por um roteiro de entrevista semi-estruturado (Anexo 1), uma vez que este valoriza a presença do investigador; oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias de forma a enriquecer a investigação; possibilita que o entrevistado discorra sobre suas experiências, a partir do foco principal proposto pelo pesquisador; ao mesmo tempo em que, permite respostas livres e espontâneas

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do informante (TRIVIÑOS, 1987). Além disso, a entrevista semi-estruturada, por ser baseada em roteiro, fornece ao entrevistador flexibilidade para ordenar e formular as perguntas durante a entrevista (GODOI, C. & MATTOS, P., 2006).

O roteiro da entrevista foi desenvolvido visando responder aos objetivos do presente estudo e, para tanto, dividido em três blocos. O primeiro bloco constituiu um conjunto de questões situacionais e introdutórias, com objetivo de conhecer o entrevistado, entendendo ainda de modo introdutório quem ele é e o que ele faz.

O segundo bloco foi construído voltado ao entendimento das motivações empreendedoras do entrevistado e foi dividido em três partes de acordo com as três teorias motivacionais que foram estudadas: (a) uma parte voltada a questões relativas às referencias e necessidades do entrevistado (inspirada pela teoria motivacional de McClelland); (b) uma parte com questões que investigam expectativas envolvidas no ato de empreender explorando mais a fundo tanto as expectativas do entrevistado quanto outros indivíduos em relação a ele (inspirada pela teoria motivacional de Vroom); e (c) uma terceira parte abordando a importância das metas, desafios e sucesso alcançados quando se realiza algo (inspirada pela teoria motivacional de Locke).

O terceiro, e último bloco, foi pensado para ser o momento em que se introduz a questão do empreendedor serial, conversa-se sobre o tema, para então fazer o fechamento da entrevista. Cabe ressaltar que o roteiro foi submetido a um pré-teste para que possíveis adequações fossem realizadas.

Com relação à seleção e o número final de entrevistados, como coloca Valles (apud GODOI, C. & MATTOS, P., 2006), não há à disposição do pesquisador, no âmbito qualitativo, as habituais fórmulas matemáticas de cálculos do tamanho amostral para universos grandes ou pequenos, níveis de confiança, erro amostral ou cálculo de variância. Na visão qualitativa, o investigador está impedido de determinar previamente o número de entrevistas necessárias a sua investigação. A definição desse número é flexível e depende do desenvolvimento teórico do trabalho. O pesquisador se quiser, e considerar necessário, pode voltar ao campo e ampliar o número ou aprofundar a conversação com os entrevistados. (GODOI, C. & MATTOS, P., 2006)

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Godoi e Mattos (2006) sugerem como critério orientador do trabalho de campo a evolução da compreensão analítica do tema que está sendo investigado. Com base nessa argumentação, para realizar essa pesquisa, utilizou-se a técnica metodológica snowball sampling. Como colocam Baldin e Munhoz (2011), a técnica Bola de Neve é uma forma de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que, por sua vez, indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto ou o ponto de saturação - momento no qual os novos entrevistados passam a repetir os conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem acrescentar novas informações relevantes a pesquisa (WHA, 1994).

Essa técnica é uma forma de usar cadeias de referência para coletar o máximo de informações sobre todos os membros da rede (ALBUQUERQUE, 2009). Segundo Albuquerque (2009) a vantagem dos métodos que utilizam cadeias de referencia é a identificação de população oculta mais facilmente identificada por outros membros dessa população. De acordo com Sanchez e Nappo (2002), a escolha de sujeitos por meio da técnica de bola de neve a partir de informantes chaves permite que se conheça a população investigada e se atinja diferentes grupos. Goodman (1961) coloca que os primeiros participantes contatados são as sementes e devem ter conhecimento sobre a comunidade a ser investigada. Assim alcança-se a maior diversidade e é possível ter uma maior compreensão sobre o universo estudado.

Por fim, foram feitas quinze entrevistas, entre setembro e dezembro de 2012, com empreendedores cariocas de diferentes setores conforme tabela 1 (Anexo 2). A escolha e o acesso a esses indivíduos foram feitas – primeiramente - por meio de contatos sociais e – posteriormente - por indicação dos próprios entrevistados. As entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e, posteriormente, submetidas à análise de conteúdo.

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3.2.

Análise dos dados

Por concordar com Gill (2008) de que a linguagem não é um meio neutro de reflexão ou descrição do mundo, mas sim algo que carrega consigo uma forma crítica de ver o mundo a partir da cultura, da história de cada um e das circunstâncias, o presente estudo utilizou o método de análise de conteúdo para dar sentido a tudo que foi dito nas entrevistas.

A análise de conteúdo, de acordo com Bardin (1994), é um conjunto de técnicas de análises das comunicações que tem por objetivo, através da descrição sistemática e objetiva do conteúdo das mensagens, obter indicadores e fazer inferências de conhecimento relativos às mensagens. Ainda segundo Bardin (1994), a análise de conteúdo busca inferir os significados que vão além das mensagens concretas. Corroborando Bardin (1994), Dallagnelo e Silva (2005) afirmam que a análise de conteúdo visa o conhecimento de ordem psicológica, sociológica e ou histórica, deduzindo com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens específicas. Enfim, a análise de conteúdo vai além do texto. Ela busca entender a mensagem, o significado transmitido pela mensagem e aquilo que pode estar implícito.

Para realizar a análise, segundo Bardin (1994), é preciso passar por três etapas: pré-análise, exploração ou análise e inferência e interpretação dos dados.

Pré-análise é a etapa de organização de material, escolha e leitura de documentos, formulação de hipóteses e definição de objetivos. Nessa fase se decide os materiais a serem coletados, define-se o que será pesquisado, quem serão os entrevistados. Nesta etapa é feito um mapa das informações relevantes.

Exploração e análise do material é a etapa onde o pesquisador escolhe a maneira como ele vai tratar os materiais coletados. É aqui que se define o caminho a ser explorado e decide-se sobre o melhor percurso a ser realizado. Como salienta Bardin (1994) esse é um momento fundamental na pesquisa, posto que as possibilidades de interpretações (destino) dependem das escolhas realizadas nessa etapa. Aqui é que se define o recorte definitivo da pesquisa. É nessa fase que os dados e informações obtidas ganham significados e podem ser agrupados e analisados dentro de um contexto.

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Interpretação, conforme coloca Dallagnelo e Silva (2005), é a fase da reflexão e da intuição com base nos materiais coletados e estudados, de forma a estabelecer relações, verificar contradições, compreender o fenômeno que está sendo estudado. É a hora de explicar os achados, responder às questões e gerar significância aos resultados obtidos. É o momento de fincar a bandeira. É o ponto chegada. O destino.

Enfim, essa forma de análise de conteúdo proposta por Bardin (1994) é simultaneamente metódico e flexível. Mas exatamente por não ser rígido, exige muito do pesquisador. Como um método qualitativo de análise, Dallagnello e Silva (2005) afirmam que ele requer julgamento e criatividade, o que o torna dependente, em grande parte, das habilidades, treinamentos, idéias e capacidades do pesquisador. É fundamental ter coerência entre suas escolhas, habilidades e criatividade, bem como é importante aprender e compreender que os discursos, muitas vezes, são contraditórios e precisam ser entendidos dentro de um contexto.

Vale ressaltar, conforme coloca Zikmund (2006), que, por se tratar de um método exploratório e qualitativo, não fornece resultados conclusivos capazes de determinar um caminho a ser seguido. Ele visa apenas conhecer mais um assunto trazendo novas questões a serem pensadas e estudadas.

Nesse sentido é preciso deixar claro que a pesquisa aqui apresentada está restrita à interpretação e análise da percepção que os empreendedores entrevistados têm sobre suas motivações, ambições e anseios, sem pretender esgotar o tema, e sim, trazer novas questões para reflexão.

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Referências

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