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Uma Contribuição da Matemática Chinesa:

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Academic year: 2021

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(1)

Uma Contribui¸c˜ao da Matem´atica Chinesa:

O M´etodo da ´

Area para Demonstra¸c˜oes

Autom´aticas de Teoremas em Geometria

Plana Afim

Humberto Jos´e Bortolossi

A B C P SP BC SP AB

=

BCAB P Q A M B SP AB SQAB

=

P MQM

II Bienal da SBM

Universidade Federal da Bahia

25 a 29 de outubro de 2004

(2)

Sum´

ario

1 Introdu¸c˜ao 1

2 Segmentos orientados e ´areas com sinal 7

2.1 Segmentos orientados . . . 7 2.2 Areas com sinal . . . .´ 9

3 Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 16

3.1 O teorema do co-lado . . . 16 3.2 Exemplos: os teoremas de Ceva e Menelau . . . 19 3.3 Exemplos: outras categorias de problemas . . . 25

4 Paralelismo 40

4.1 Caracteriza¸c˜ao de paralelismo via ´areas com sinal . . . 40 4.2 Exemplos com paralelismo . . . 41

5 Mecaniza¸c˜ao dos teoremas de interse¸c˜ao pura de Hilbert 51

5.1 Descri¸c˜ao dos enunciados . . . 52 5.2 Eliminando pontos de ´areas com sinal . . . 56 5.3 Eliminando pontos de raz˜oes de segmentos orientados . . . . 58 5.4 Pontos livres e coordenadas de ´areas . . . 61 5.5 M´etodo de decis˜ao . . . 63

(3)

Agradecimentos

Dedicado a Josel´ı Maria Silva dos Santos.

Este texto ´e fruto de um ciclo de semin´arios realizados na Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilh´eus, BA) sobre as t´ecnicas desenvolvidas pela escola chinesa (S.-C. Chou, X. Shan-Gao e J.-Z. Zhang) na ´area de meca-niza¸c˜ao de demonstra¸c˜oes de teoremas em geometria, mais especificamente, sobre o m´etodo da ´area como algoritmo de decis˜ao para a classe de teore-mas de interse¸c˜ao pura de Hilbert. Agrade¸co a Maria L´ıdia Coco Terra que participou e registrou tudo em seu “di´ario de bordo”.

Os semin´arios seguiram, de perto, o livro [13]: Machine Proofs in

Geo-metry : Automated Production of Readable Proofs for GeoGeo-metry Theorems, Series on Applied Mathematics, vol. 6, World Scientific, 1998.

O interesse pelo assunto, contudo, come¸cou bem antes, com os estudos realizados com Carlos Tomei e Silvana Marini Rodrigues no Departamento de Matem´atica da PUC-Rio em 2002. Gostaria de agradecˆe-los tamb´em!

Todas as figuras do texto foram produzidas com o excelente (e gratuito)

software de geometria dinˆamica “R´egua e Compasso” [21]. Obrigado a Ren´e Grothmann, autor do programa!

Finalmente, gostaria de agradecer ao Departamento de Matem´atica da Universidade Federal do Esp´ırito Santo (que forneceu as condi¸c˜oes de infra-estrutura necess´arias para a confec¸c˜ao deste texto) e a comiss˜ao organizadora da II Bienal da SBM (em especial, a professora Elinalva Vasconcelos, coor-denadora do evento).

Vit´oria, 15 de agosto de 2004 Humberto Jos´e Bortolossi

Departamento de Matem´atica, UFES (hjbortol-ufes@pop.com.br)

(4)

Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

Em 8 de agosto de 1900, por ocasi˜ao do Segundo Congresso Internacional de Matem´atica, realizado em Paris, David Hilbert apresentou 23 problemas em aberto com o intuito de apontar temas promissores para a investiga¸c˜ao em matem´atica no s´eculo XX. Em um dos problemas, Hilbert perguntou se a teoria dos n´umeros era completa, no sentido que ´e sempre poss´ıvel deter-minar atrav´es de uma demonstra¸c˜ao se uma senten¸ca l´ogica em aritm´etica ´e verdadeira ou falsa. Em uma teoria incompleta, uma afirma¸c˜ao sem contra-exemplos n˜ao ´e necessariamente demonstr´avel a partir dos axiomas.

Figura 1.1: David Hilbert (1862–1943).

Kurt G¨odel, em 1931, forneceu uma resposta negativa [18, 19]: existem verdades na aritm´etica que ela pr´opria desconhece, pior, n˜ao pode conhecer.

(5)

2 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Mais precisamente, um sistema de axiomas para a aritm´etica n˜ao conse-gue nem demonstrar nem negar determinadas afirma¸c˜oes sobre os n´umeros, ainda que essas afirma¸c˜oes sejam sintaticamente corretas e desprovidas de contra-exemplos. Este resultado ´e conhecido como o Primeiro Teorema de

Incompletude de G¨odel. Uma vez que a aritm´etica ´e incompleta, tudo que a ela se reduza ser´a incompleto.

Figura 1.2: Kurt G¨odel (1906–1978) e Albert Einstein (1879–1955).

Por outro lado, Alfred Tarski, em 1951, demonstrou que a teoria de ´algebra elementar dos n´umeros reais e, portanto, tamb´em a teoria de geometria

ele-mentar ´e completa [29]. Na verdade, Tarski demonstrou que estas teorias s˜ao decid´ıveis, isto ´e, existe um algoritmo que em um n´umero finito de passos consegue determinar se cada uma das senten¸cas da teoria ´e verdadeira ou falsa.

O ponto t´ecnico fundamental no argumento de Tarski ´e a elimina¸c˜ao de quantificadores que, em princ´ıpio, simplifica uma f´ormula l´ogica ao obter outra equivalente com um quantificador a menos. Infelizmente, o algoritmo original de Tarski tem mais interesse te´orico do que pr´atico. Ele nunca foi implementado, devido a sua alt´ıssima complexidade: um teorema com algumas dezenas de vari´aveis levaria milh˜oes de anos para ser demonstrado. Aprimoramentos subseq¨uentes melhoraram de muito seu desempenho, mas

(6)

Introdu¸c˜ao 3

Figura 1.3: Alfred Tarski (1902–1983).

ainda assim, praticamente n˜ao existe (e parece que nem pode existir) um programa de demonstra¸c˜ao em geometria completo e r´apido (o algoritmo do tipo Tarski mais r´apido que se conhece atualmente ´e a decomposi¸c˜ao alg´ebrica cil´ındrica [3, 4], cuja complexidade computacional ´e da ordem de

een

, onde n ´e o tamanho dos dados de entrada [5]). Para mais detalhes sobre o m´etodo de Tarski, al´em do trabalho original [29], o leitor pode consultar as referˆencias: [20, 27, 30, 31, 32].

O uso efetivo de computadores para produzir demonstra¸c˜oes de teoremas em geometria come¸cou no in´ıcio da d´ecada de 1950 com o trabalho de Ge-lerntner (trabalhando na IBM), J. R. Hanson e D. W. Loveland [17], que tentaram usar a abordagem sint´etica apresentada por Euclides em Os Ele-mentos (e a primeira que aprendemos no col´egio). Apesar do seu sucesso inicial, este tipo de t´ecnica se mostrou inadequada para automatiza¸c˜ao em computadores. De fato, programas que usam a abordagem sint´etica n˜ao conseguem demonstrar teoremas mais sofisticados em geometria.

Em 1977, o matem´atico chinˆes Wu Wen-Ts¨un introduziu um m´etodo alg´ebrico com o qual ele e seus disc´ıpulos da escola chinesa — Chou Shang-Ching, Xiao Shan-Gao e Zhang Jing-Zhong — demonstraram uma grande variedade de teoremas em geometria, cujas provas tradicionais s˜ao conside-radas muito dif´ıceis [10, 11, 12, 13, 34].

(7)

4 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Figura 1.4: Wu Wen-Ts¨un.

O m´etodo de Wu demonstra teoremas cuja hip´otese e tese podem ser convertidas em equa¸c˜oes polinomiais com coeficientes racionais (o m´etodo entretanto permite (e emprega) nega¸c˜oes de igualdades). Uma vez que a convers˜ao para a linguagem alg´ebrica ´e feita, o m´etodo verifica se o polinˆomio

g associado `a tese ´e identicamente nulo no conjunto dos pontos que anulam

simultaneamente todos os polinˆomios hi, i = 1, . . . , n associados `a hip´otese:

h1 = 0 ∧ h2 = 0 ∧ · · · ∧ hn = 0 ⇒ g = 0.

Isto pode ser feito empregando bases de Gr¨obner [15, 16] ou pseudo-divis˜oes sucessivas [11, pp. 12–13].

Por outro lado, as demonstra¸c˜oes geradas pelo m´etodo de Wu (ou bases de Gr¨obner) s˜ao dif´ıceis de acompanhar. Dependendo do teorema que se quer provar, as demonstra¸c˜oes produzidas pelo m´etodo usam polinˆomios com centenas de parcelas e mais de uma d´uzia de vari´aveis!

Neste curso estudaremos um dos m´etodos que geram demonstra¸c˜oes que s˜ao leg´ıveis aos olhos humanos: o m´etodo da ´area. Como veremos, o m´etodo ´e realmente muito simples. Ele se estabelece a partir do conceito de ´area com sinal e da rela¸c˜ao entre as ´areas (orientadas) de dois triˆangulos com um lado comum.

(8)

Introdu¸c˜ao 5

O m´etodo da ´area tradicional ´e muito antigo. A demonstra¸c˜ao de Eucli-des para o teorema de Pit´agoras, por exemplo, faz o uso de ´areas [25, livro I, proposi¸c˜ao 47]. De maneira curiosa, o emprego de ´areas para se resol-ver problemas em geometria n˜ao ´e um h´abito ocidental. De fato, a ferra-menta padr˜ao que estamos acostumados a usar ´e semelhan¸ca ou congruˆencia de triˆangulos. Contudo, em muitos casos, n˜ao ´e evidente quais triˆangulos considerar. Para que isto aconte¸ca, constru¸c˜oes n˜ao-intuitivas de retas au-xiliares s˜ao necess´arias. Como o leitor poder´a perceber ao longo do curso, triˆangulos com um lado em comum aparecem muito mais naturalmente em um enunciado de um teorema em geometria do que triˆangulos semelhantes ou congruentes.

Exerc´ıcios

[01] Obtenha uma demonstra¸c˜ao do teorema de Pit´agoras a partir da fi-gura 1.5.

(9)

6 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

[02] Trˆes moedas de ouro de mesma espessura mas com diˆametros diferentes foram colocas sobre os trˆes lados de um triˆangulo retˆangulo ∆ABC, conforme a figura 1.6. O que vocˆe prefere? Ficar com as duas moedas menores ou apenas com a moeda maior? E se as moedas fossem subs-titu´ıdas por pe¸cas de ouro no formato do “Daruma-sama” indicado na figura 1.7?

B C

A

Figura 1.6: Uma conseq¨uˆencia do teorema de Pit´agoras.

B C

A

Figura 1.7: Uma conseq¨uˆencia do teorema de Pit´agoras.

(10)

Cap´ıtulo 2

Segmentos orientados e ´

areas com

sinal

Os conceitos de segmentos orientados e ´areas com sinal permitem simplifi-car em muito o enunciado e a demonstra¸c˜ao de teoremas em geometria. Com eles, casos que tradicionalmente seriam estudados um a um s˜ao tratados de uma vez s´o.

2.1

Segmentos orientados

Defini¸c˜ao 2.1 (Segmento orientado) Um segmento orientado nada mais ´e do que um segmento de reta onde se atribui uma es-colha para as extremidade inicial e final do segmento. Usaremos a nota¸c˜ao AB para designar o segmento orientado cuja a extremidade inicial ´e A e a extremidade final ´e B. A medida de um segmento ori-entado AB que, por abuso de nota¸c˜ao, tamb´em ser´a denotada por AB ´e definida da seguinte maneira: se A e B s˜ao dois pontos de uma reta orientada l, ent˜ao

AB =



+|AB|, se AB tem a mesma orienta¸c˜ao da reta l,

−|AB|, caso contr´ario,

onde |AB| representa a medida euclidiana convencional do segmento de reta com extremidades A e B (figura 2.1).

(11)

8 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

A B l

Figura 2.1: O segmento orientado AB.

Note que

AB = −BA e AB = 0 se, e somente se, A = B. (2.1)

Se A, B, C e D s˜ao quatro pontos de uma reta l em que A = B, podemos considerar a raz˜ao

t = CD AB,

de modo que CD = t · AB. Note que AB e CD tˆem a mesma orienta¸c˜ao se t > 0 e orienta¸c˜oes diferentes se t < 0 (figura 2.2), independentemente da orienta¸c˜ao escolhida para a reta l.

A C D B l

Figura 2.2: CD/AB ≥ 0 pois CD e AB possuem a mesma orienta¸c˜ao.

Cuidado: este tipo de compara¸c˜ao s´o ´e poss´ıvel se os quatro pontos esti-verem sobre uma mesma reta, pois o sinal de AB depende da orienta¸c˜ao da reta que passa por A e B!

Se P ´e um ponto da reta ←→AB, vale que

AB = AP + P B, (2.2) ou ainda, que AP AB + P B AB = 1. (2.3)

(12)

Segmentos orientados e ´areas com sinal 9

Note a vantagem de trabalharmos com segmentos orientados: se tiv´ es-semos que relacionar os comprimentos euclidianos habituais |AB|, |AP | e

|P B|, ter´ıamos que considerar trˆes situa¸c˜oes: (1) P entre A e B, (2) B entre A e P e (3) A entre P e B (exerc´ıcio [01]). A equa¸c˜ao 2.2 incorpora de uma

vez s´o todas estas trˆes situa¸c˜oes!

Ainda com rela¸c˜ao `a equa¸c˜ao 2.2, ´e claro que para dois n´umeros s e t satisfazendo s + t = 1, existe um ´unico ponto P na reta ←→AB que satisfaz

AP /AB = t e P B/AB = s.

Em particular, M ´e o ponto m´edio do segmento AB se, e somente se,

AM/AB = MB/AB = 1/2.

Exerc´ıcios

[01] Sejam A e B dois pontos pontos distintos e seja P um ponto sobre a reta l que passa por A e B. Relacione os comprimentos euclidianos

|AB|, |AP | e |P B| de acordo com a posi¸c˜ao relativa do ponto P .

[02] Sejam B, C, D e H quatro pontos colineares, com B = C. Mostre que

se BH/HC = BD/DC, ent˜ao D = H.

[03] Sejam A, B e C trˆes pontos colineares. Mostre que (AB)2 + (BC)2 = (AC)2 + 2· AB · CB.

[04] Sejam A, B, C e D quatro pontos colineares. Mostre que AB · CD +

AC · DB + AD · BC = 0.

[05] Dizemos que quatro pontos colineares A, B, C e D formam uma

se-q¨uˆencia harmˆonica se AC/BC = −AD/BD. Mostre que quatro pontos

colineares A, B, C e D formam uma seq¨uˆencia harmˆonica se, e somente se, AB/CB + AB/DB = 2.

[06] Mostre que quatro pontos colineares A, B, C e D formam uma seq¨uˆencia harmˆonica se, e somente se, MC · MD = (MA)2, onde M ´e o ponto m´edio de AB.

2.2

Areas com sinal

´

(13)

10 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

B e C n˜ao-colineares ´e definida por

∇ABC = b · h

2 ,

onde h ´e a medida de uma altura relativamente a uma base de medida b do triˆangulo.

Defini¸c˜ao 2.2 ( ´Area com sinal de um triˆangulo) Sejam A, B e C trˆes pontos do plano. Se A, B e C forem colineares, definimos a

´

area com sinal SABC do triˆangulo (degenerado) ∆ABC como sendo 0. Se, por outro lado, A, B e C forem n˜ao-colineares, ent˜ao definimos

SABC = +∇ABC

se A, B e C est˜ao dispostos no sentido anti-hor´ario e

SABC = −∇ABC

se A, B e C est˜ao dispostos no sentido hor´ario, onde∇ABC representa a ´area convencional do triˆangulo ∆ABC.

B C A b h SABC = +∇ABC = + b · h 2 B C A b h S ABC =−∇ABC = −b · h2

(14)

Segmentos orientados e ´areas com sinal 11

Segue imediatamente da defini¸c˜ao de ´area com sinal de um triˆangulo que

SABC = SBCA = SCAB = −SACB = −SBAC = −SCBA. (2.4) Se ∆ABC ´e um triˆangulo, um ponto P no plano determina outros trˆes triˆangulos: ∆P AB, ∆P BC e ∆P CA (figura 2.4). Com a no¸c˜ao de ´areas com sinal, podemos relacionar as ´areas destes quatro triˆangulos atrav´es de uma ´unica express˜ao:

SABC = SP AB + SP BC + SP CA. (2.5)

B C

A P

Figura 2.4: SABC = SP AB+ SP BC+ SP CA e ∇ABC = +∇P AB + ∇P BC + ∇P CA.

Se estiv´essemos trabalhando com ´areas convencionais, seriam necess´arias outras seis rela¸c˜oes, dependendo da posi¸c˜ao do ponto P (figura 2.5)!

Usando geometria anal´ıtica, ´e f´acil obter uma f´ormula expl´ıcita para SABC em termos das coordenadas dos v´ertices A, B e C: se A = (xA, yA), B = (xB, yB) e C = (xC, yC), ent˜ao SABC = 1 2 · det ⎛ ⎝ ⎡ ⎣ xxBA yyBA 11 xC yC 1 ⎤ ⎦ ⎞ ⎠ (2.6) = 1 2 · (xA − xB)· (yB − yC)− (yA − yB)· (xB − xC) .

Note que, com a express˜ao 2.6, ´e poss´ıvel demonstrar a rela¸c˜ao 2.5 dire-tamente, sem a necessidade de considerar separadamente cada um dos sete casos das figuras 2.4 e 2.5.

(15)

12 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica B C A P B C A P

∇ABC=+∇P AB+∇P BC−∇P CA ∇ABC=+∇P AB−∇P BC+∇P CA

B C A P B C A P

∇ABC=−∇P AB+∇P BC+∇P CA ∇ABC=−∇P AB−∇P BC+∇P CA

B C A P B C A P

∇ABC=+∇P AB−∇P BC−∇P CA ∇ABC=−∇P AB+∇P BC−∇P CA

(16)

Segmentos orientados e ´areas com sinal 13

Mais f´acil ainda: verificar a validade de 2.5 ´e verificar se um polinˆomio nas duas vari´aveis xP e yP ´e identicamente nulo. Se o fizermos para xP e yP em um aberto, isto ´e, se demonstrarmos que este polinˆomio se anula em um conjunto aberto, concluiremos que ele se anula sempre!

Dito de outra maneira: se demonstrarmos que a rela¸c˜ao 2.5 ´e verdadeira para apenas um dos sete casos das figuras 2.4 e 2.5, estaremos demonstrando que ela ´e verdadeira para todos os casos! Usaremos esta id´eia com muita freq¨uˆencia neste curso!

Podemos tamb´em definir a ´area de quadril´ateros orientados. Dados quatro ponto A, B, C e D no plano, existem 6 maneiras de percorrer estes v´ertices. Assim, existem seis orienta¸c˜oes poss´ıveis para um quadril´atero (figura 2.6).

Defini¸c˜ao 2.3 ( ´Area com sinal de um quadril´atero) A ´area (com sinal) SABCD de um quadril´atero orientado ABCD ´e definida

por

SABCD = SABC + SACD. (2.7)

A D

B C

A partir da rela¸c˜ao 2.5, n˜ao ´e dif´ıcil de se mostrar (exerc´ıcio [01]) que a ´area com sinal SABCD est´a bem definida, isto ´e, ela independe da escolha inicial do v´ertice que comp˜oe o ciclo A → B → C → D → A:

SABCD = SBCDA = SCDAB = SDABC.

Observe que a ´area com sinal pode ser generalizada para um pol´ıgono com um n´umero arbitr´ario de lados.

(17)

14 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica A D B C A D B C A → B → C → D → A A → B → D → C → A A D B C A D B C A → C → B → D → A A → C → D → B → A A D B C A D B C A → D → B → C → A A → D → C → B → A

(18)

Segmentos orientados e ´areas com sinal 15

Exerc´ıcios

[01] Prove que

SABCD = SBCDA = SCDAB = SDABC =

− SDCBA = −SCBAD = −SBADC = −SADCB.

Em particular, conclua que a ´area com sinal de um quadril´ateroABCD

independe da escolha inicial do v´ertice que comp˜oe o ciclo A → B →

C → D → A.

[02] Quantas orienta¸c˜oes diferentes podemos atribuir a um pol´ıgono com n lados?

[03] Prove as identidades abaixo.

(a) SABCD = SABC − SADC = SBCD − SBAD. (b) SABBC = SABCC = SAABC = SABCA = SABC.

[04] Prove que se A, B, C, P e Q s˜ao cinco pontos em um mesmo plano, ent˜ao SP AQB + SP BQC = SP AQC.

(19)

Cap´ıtulo 3

Proposi¸

oes b´

asicas e exemplos

Duas proposi¸c˜oes b´asicas sustentam o m´etodo da ´area. Apesar de sua simplicidade, veremos que estas proposi¸c˜oes, por si s´o, j´a s˜ao suficientes para demonstrar v´arios teoremas n˜ao-triviais em geometria.

3.1

O teorema do co-lado

Proposi¸c˜ao 3.1 Sejam A, B e C trˆes pontos colineares distintos. Se P ´e um ponto que n˜ao est´a na reta ←→AB, ent˜ao

SP BC SP AB =

BC

AB (3.1)

ou, se t ∈ R ´e tal que BC = t · AB, ent˜ao SP BC = t· SP AB.

A B C

P

(20)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 17

Demonstra¸c˜ao: Considere o caso ilustrado na figura 3.1, com B entre A e C

e os triˆangulos ∆P AB e ∆P BC orientados no sentido anti-hor´ario. Dado que ∆P AB e ∆P BC possuem a mesma altura h, temos que

SP BC SP AB = ∇P BC ∇P AB = |BC| · h 2 |AB| · h 2 = |BC| |AB| = BC AB.

Os demais casos (A entre B e C, C entre A e B, os triˆangulos orientados no sentido hor´ario ou no sentido anti-hor´ario) s˜ao tratados analogamente (ou, se preferir, basta usar o argumento dado na p´agina 13: um caso prova todos os demais).

Observac¸ ˜ao.

Na configura¸c˜ao geom´etrica descrita na proposi¸c˜ao 3.1, com A, B e C pon-tos colineares e P um ponto n˜ao-colinear com A, B e C, a equa¸c˜ao 3.1 nos diz que podemos substituir uma divis˜ao de ´areas com sinal que envolve o ponto P por uma raz˜ao de segmentos orientados onde P n˜ao aparece, isto ´e, podemos usar a equa¸c˜ao 3.1 para eliminar o ponto P da express˜ao SP BC/SP AB! Evi-dentemente, o resultado continua v´alido mesmo quando, nesta express˜ao, P n˜ao aparece no in´ıcio: SBP C SAP B = SBCP SABP = SP BC SP AB = BC AB.

O pr´oximo teorema tamb´em tem um car´ater “eliminat´orio”. Ele nos ensina, sob certas condi¸c˜oes, como eliminar um ponto que ´e interse¸c˜ao de duas retas.

Proposi¸c˜ao 3.2 (o teorema do co-lado) Seja M a interse¸c˜ao das retas ←→AB e ←→P Q. Se Q = M, ent˜ao

SP AB SQAB =

P M

(21)

18 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

P

Q

A M B

Figura 3.2: O teorema do co-lado: SP AB/SQAB = P M /QM .

Demonstra¸c˜ao 1: Temos SP AB SQAB = SP AB SP AM · SP AM SQAM · SQAM SQAB (∗) = AB AM · P M QM · AM AB = P M QM,

onde, em (∗), usamos a proposi¸c˜ao b´asica 3.1.

Demonstra¸c˜ao 2: Seja N um ponto sobre a reta ←→AB tal que MN = AB.

P

Q

(22)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 19 Desta maneira, SP AB SQAB = SP MN SQMN (∗) = P M QM,

onde, em (∗), usamos a proposi¸c˜ao b´asica 3.1.

Observac¸ ˜ao.

A ferramenta b´asica que aprendemos no ensino m´edio para atacar pro-blemas de geometria ´e semelhan¸ca (ou congruˆencia) de triˆangulos. Contudo, nem sempre ´e ´obvio identificar quais triˆangulos s˜ao semelhantes na confi-gura¸c˜ao geom´etrica descrita pelo problema. Para obter triˆangulos semelhan-tes, lan¸ca-se m˜ao de retas auxiliares nada intuitivas!

Nestas configura¸c˜oes geom´etricas, ´e muito mais f´acil encontrar triˆangulos com um lado em comum do que triˆangulos semelhantes (veja, por exemplo, a configura¸c˜ao geom´etrica na figura 3.2).

3.2

Exemplos: os teoremas de Ceva e Menelau

Teorema 3.1 Sejam ∆ABC um triˆangulo e P um ponto qualquer do plano. Seja D o ponto de interse¸c˜ao das retas ←→AP e ←→CB:

D = ←→AP ∩←→CB.

Analogamente, considere as interse¸c˜oes:

E = ←→P B ∩←→AC e F = ←→CP ∩←→AB (figura 3.3). Vale ent˜ao que

P D AD + P E BE + P F CF = 1 (3.3)

(23)

20 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica B C P A D E F

Figura 3.3: P D/AD + P E/BE + P F /CF = 1.

Note o aspecto construtivo da hip´otese deste teorema, onde cada ponto ´e definido ou constru´ıdo por vez!

1. Os pontos A, B, C e P s˜ao definidos livremente.

2. Os pontos D, E eF s˜ao constru´ıdos, respectivamente, como a in-terse¸c˜ao da reta ←→AP com a reta ←→CB, da reta ←→P B com a reta ←→AC e da reta ←→CP com a reta ←→AB, retas estas que, por sua vez, dependem dos pontos livres A, B, C e P introduzidos anteriormente.

A id´eia da demonstra¸c˜ao ´e eliminar os pontos constru´ıdos do lado esquerdo

P D AD + P E BE + P F CF

da tese (equa¸c˜ao 3.3) do teorema, em ordem contr´aria a que eles foram introduzidos, at´e que somente pontos livres apare¸cam na express˜ao. Esta express˜ao final ser´a igual ou facilmente redut´ıvel ao lado direito da tese (no caso, o n´umero 1).

(24)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 21 E e F . Assim, ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ D = ←→AP ∩←→BC e D = A ⇒ SP BC SABC = P D AD, E = ←→BP ∩←→AC e E = B ⇒ SP AC SBAC = P E BE, F = ←→CP ∩ ←→AB e F = C ⇒ SP AB SCAB = P F CF. Sendo assim, P D AD + P E BE + P F CF = SP BC SABC + SP AC SBAC + SP AB SCAB (∗) = SP BC SABC + −SP CA −SABC + SP AB SABC = SP BC + SP CA+ SP AB SABC (∗∗) = SABC SABC = 1,

onde, em (∗) usamos a propriedade de permuta¸c˜ao 2.4 (p´agina 11) e, em (∗∗) a propriedade de decomposi¸c˜ao 2.5 (p´agina 11).

Observac¸ ˜ao.

Evidentemente, o teorema que acabamos de demonstrar n˜ao ´e v´alido para qualquer escolha dos pontos A, B, C e P . Por exemplo, o triˆangulo ∆ABC deve ser n˜ao-degenerado (isto ´e, SABC = 0) e o ponto P deve ser tal que as interse¸c˜oes D, E e F sejam todas normais (isto ´e, existe apenas um ponto de interse¸c˜ao entre cada par de retas, de forma que D, E e F estejam bem defi-nidos). Estas condi¸c˜oes s˜ao denominadas condi¸c˜oes de n˜ao-degenerescˆencia

do teorema. Trataremos deste assunto, com detalhes, mais adiante.

Teorema 3.2 (Ceva) Sejam ∆ABC um triˆangulo, P um ponto qual-quer do plano, D = ←→AP ∩←→CB, E = ←→P B ∩←→AC e F = ←→CP ∩←→AB, como no teorema 3.1 (figura 3.3). Vale ent˜ao que

AF F B · BD DC · CE EA = 1. (3.4)

(25)

22 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Este teorema foi demonstrado pelo matem´atico italiano Giovanni Ceva (1648-1734). Com ele, ´e poss´ıvel unificar v´arios outros resultados, como a concorrˆencia das medianas, bissetrizes e alturas de um triˆangulo. Infeliz-mente, o teorema de Ceva n˜ao costuma ser tratado em cursos de geometria elementar.

Aplica¸c˜oes do teorema de Ceva (como tamb´em uma demonstra¸c˜ao usando semelhan¸ca de triˆangulos) podem ser encontradas na referˆencia [6]. Lembra-mos tamb´em que, por conta do teorema de Ceva, retas em um triˆangulo que ligam um v´ertice com um ponto do lado oposto s˜ao denominadas cevianas (assim, medianas, bissetrizes e alturas s˜ao cevianas). Desta maneira, o te-orema de Ceva estabelece uma condi¸c˜ao necess´aria para que trˆes cevianas de um triˆangulo sejam concorrentes (veremos que esta condi¸c˜ao ´e tamb´em suficiente).

Demonstra¸c˜ao: Vamos novamente usar o teorema do co-lado para eliminar

os pontos D, E e F . Assim, ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ D = ←→BC ∩←→AP e D = C ⇒ SBAP SCAP = BD CD, E = ←→CA ∩←→BP e E = A ⇒ SCBP SABP = CE AE, F = ←→AB ∩←→CP e F = B ⇒ SACP SBCP = AF BF, de modo que AF F B = AF BF = SACP SBCP, BD DC = BD CD = SBAP SCAP e CE EA = CE AE = SCBP SABP. Conseq¨uentemente, AF F B· BD DC· CE EA =  SSACP BCP  ·  −SSBAP CAP  ·  −SSCBP ABP  = −SACP SCAP· SBAP SABP · SCBP SBCP.

Agora, pela propriedade de permuta¸c˜ao 2.4, sabemos que SACP = −SCAP,

SBAP = −SABP e SCBP = −SBCP. Assim,

AF F B · BD DC · CE EA =  −SSACP ACP  ·  −SSBAP BAP  ·  −SSCBP CBP  = 1.

(26)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 23

Teorema 3.3 (Menelau) Sejam F , D e E trˆes pontos sobre os la-dos ←→AB, ←→BC e ←→AC de um triˆangulo ∆ABC, respectivamente. Os pontos D, E e F s˜ao colineares se, e somente se,

AF F B · BD DC · CE EA = −1. (3.5) B C A D E F

Figura 3.4: O teorema de Menelau: (AF /F B)· (BD/DC) · (CE/EA) = −1.

Este teorema foi demonstrado pelo matem´atico Menelau de Alexandria, por volta do s´eculo I, em seu livro Sphaerica (um tratado sobre triˆangulos esf´ericos e suas aplica¸c˜oes `a astronomia). Enquanto que o teorema de Ceva estabelece condi¸c˜oes para que trˆes cevianas de um triˆangulo sejam

concor-rentes, o teorema de Menelau estabelece condi¸c˜oes para que trˆes pontos, um sobre cada lado de um triˆangulo, sejam colineares. De fato, pode-se demons-trar que eles s˜ao equivalentes (veja, por exemplo, as referˆencias [7, 8, 28]).

Demonstra¸c˜ao: Existem duas possibilidades: apenas dois dos trˆes pontos D,

E e F est˜ao nos segmentos AB, BC e AC (figura 3.4) ou os trˆes pontos est˜ao

fora destes segmentos (figura 3.5). A prova que daremos, usando o m´etodo da ´area, funciona para os dois casos.

(⇒) Suponha que E, F e G sejam colineares. Ent˜ao, pelo teorema do co-lado,

(27)

24 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica B C A D E F

Figura 3.5: O teorema de Menelau: (AF /F B)· (BD/DC) · (CE/EA) = −1.

⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ D = ←→BC ∩←→EF e D = C ⇒ SBEF SCEF = BD CD = BD DC, E = ←→CA ∩←→EF e E = A ⇒ SCEF SAEF = CE AE = CE EA, F = ←→AB ∩←→EF e F = B ⇒ SAEF SBEF = AF BF = AF F B,

Sendo assim, conclu´ımos que

AF F B · BD DC · CE EA =  SSAEF BEF  ·  −SSBEF CEF  ·  −SSCEF AEF  = −1.

(⇐) Reciprocamente, sejam E, F e D pontos sobre ←→AC, ←→AB e ←→BC tais que a equa¸c˜ao 3.5, AF F B · BD DC · CE EA = −1,

seja v´alida. Seja H a interse¸c˜ao das retas ←→EF e ←→BC. Para mostrar que E,

F e D s˜ao colineares, basta mostrar que D = H. Dado que D, E e H s˜ao

colineares, pelo que demonstramos na parte (⇒),

AF F B · BH HC · CE EA = −1.

(28)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 25

BH HC =

BD DC,

Assim, pelo exerc´ıcio [02] na p´agina 9, conclu´ımos que D = H.

3.3

Exemplos: outras categorias de problemas

Teorema 3.4 Seja ∆ABC um triˆangulo e sejam D e E pontos sobre os lados ←→AC e ←→AB. Defina os n´umeros u e v pelas rela¸c˜oes

CD = u · AD e AE = v · BE. Se P ´e a interse¸c˜ao das retas ←→BD e ←→CE, ent˜ao

P D P B = u · v u − 1. (3.6) C A B D E P

Figura 3.6: Se CD = u· AD e AE = v · BE, ent˜ao P D/(P E) = u · v/(u − 1).

Demonstra¸c˜ao: Como P = ←→BD ∩←→CE, pelo teorema do co-lado, P D P B = DP BP = SDCE SBCE.

(29)

26 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Precisamos agora eliminar os pontos E e D. Novamente, pelo teorema do co-lado, DC AC = SDCE SACE e AE BE = SACE SBCE,

dado que C = ←→AD ∩←→CE e E = ←→AB ∩←→CE, respectivamente. Desta maneira,

P D P B = SDCE SBCE = SDCE SACE · SACE SBCE = DC AC · AE BE = CD CA · EA EB. Mas CD = u· AD, CA = CD + DA = u · AD − AD = (u − 1) · AD e EA = v · EB. Conseq¨uentemente, P D P B = CD CA · EA EB = u · AD (u− 1) · AD · v · EB EB = u · v u − 1.

Corol´ario 3.1 (Concorrˆencia das Medianas) As trˆes medianas de um triˆangulo s˜ao concorrentes em um ponto P que divide cada mediana na propor¸c˜ao 2 por 1. Mais precisamente, dado um triˆ an-gulo ∆ABC, se D, E e F s˜ao, respectivamente, os pontos m´edios dos segmentos AC, AB e BC, ent˜ao as retas ←→BD, ←→CE e ←→AF s˜ao concorrentes em um ponto P e

BP = 2 · P D, CP = 2 · P E e AP = 2 · P F .

O ponto P ´e denominado baricentro ou centro de gravidade do triˆ an-gulo ∆ABC.

Demonstra¸c˜ao: Seja P a interse¸c˜ao das retas ←→BD e ←→CE. Como D e E s˜ao pontos m´edios dos segmentos AC e AB, respectivamente, vale que

CD = −AD e AE = −BE, isto ´e, u = v = −1 no teorema anterior. Portanto,

P D P B = u · v u − 1 = 1 2.

(30)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 27

passa pelo ponto P . Ora, se Q ´e a interse¸c˜ao das retas ←→BD e ←→AF , ent˜ao pelo teorema anterior, QD/QB = −1/2 = P D/P B. Pelo exerc´ıcio [02] na p´agina 9, conclu´ımos que, necessariamente, P = Q. Por simetria, isto, trocando-se os nomes dos v´ertices do triˆangulo ∆ABC, conclu´ımos que

CP = 2 · P E e AP = 2 · P F .

Teorema 3.5 Com as mesmas hip´oteses do teorema 3.4, vale que

SP BC SABC =

u

u − 1 − u · v. (3.7) Demonstra¸c˜ao: Pela propriedade de decomposi¸c˜ao 2.5 e pela propriedade de permuta¸c˜ao 2.4 (p´agina 11), temos que

SABC SP BC = SAP C SP BC + SABP SP BC + SP BC SP BC = SAP C SBP C SAP B SCP B + 1.

Agora, como E = ←→AB ∩←→P C e D = ←→AC ∩←→P B, pelo teorema do co-lado, temos que SABC SP BC = SAP C SBP C SAP B SCP B + 1 = AE BE AD CD + 1.

Mas AE = v · BE e CD = u · AD. Portanto,

SABC SP BC = v · BE BE + AD u · AD + 1 = −v − 1 u + 1 = u − 1 − u · v u .

Sendo assim, SP BC/SABC = u/(u− 1 − u · v).

Teorema 3.6 Considere trˆes pontos D, E e F sobre os lados ←→AC,

←→

AB e ←→BC de um triˆangulo ∆ABC. Defina os n´umeros u, v e w pelas

express˜oes u = CD AD, v = AE BE e w = BF CF .

(31)

28 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Temos ent˜ao que

SP QR SABC = (1 + u· v · w)2 (1− u + u · v) · (1 − v + w · v) · (1 − w + w · u). C A B D E F Q R P

Figura 3.7: Se CD = u AD, AE = v BE e BF = w CF , ent˜ao SP QR/SABC = (1 + uvw)2/((1 − u + uv)(1 − v + wv)(1 − w + wu)).

Demonstra¸c˜ao: Usando a propriedade de decomposi¸c˜ao 2.5 (p´agina 11) e o teorema anterior, temos que

SP QR = SABC − SP BC − SQCA− SRAB =  1 u u − 1 − u · v w w − 1 − w · u v v − 1 − w · v  · SABC = (1 + u· v · w) 2 (1− u + u · v) · (1 − v + w · v) · (1 − w + w · u) · SABC, de onde se segue o resultado.

Note, por exemplo, que se u = v = w = −1/2, isto ´e, se DA = 2 CD,

(32)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 29 SP QR = 1 7SABC. C A B D E F Q R P (1 3) jACjÁ (2 3) jACjÁ (1 3) jACjÁ (2 3) jACjÁ (1 3) jBCjÁ (2 3) jBCjÁ ABC (1 7) SÁ Figura 3.8: Se DA = 2 CD, EB = 2 AE e CF = 2 F B, ent˜ao SP QR = (1/7) SABC.

Corol´ario 3.2 (Vers˜ao forte do teorema de Ceva) Consi-dere trˆes pontos D, E e F sobre os lados ←→AC, ←→AB e ←→BC de um triˆangulo ∆ABC. Defina os n´umeros u, v e w pelas express˜oes

u = CD AD, v = AE BE e w = BF CF .

Ent˜ao as retas ←→AF , ←→BD e ←→CE s˜ao concorrentes se, e somente se,

SP QR = 0, isto ´e, se, e somente se, u· v · w + 1 = 0 ou

CD AD · AE BE · BF CF = −1.

Lema 3.1 (de eliminac¸ ˜ao) Seja L a interse¸c˜ao dos lados ←→AB e ←→CD de um quadril´atero ABCD. Ent˜ao

(33)

30 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica SBCD SBCAD = LB AB = SLBD SABD, (3.8) isto ´e, SLBD = SBCD · SABD SBCAD . (3.9) A B C D L

Figura 3.9: Se L = ←→AB ∩←→CD, ent˜ao SBCD/SBCAD = LB/AB = SLBD/SABD.

Note que este lema nos ensina como eliminar o ponto L, definido como a interse¸c˜ao de dois lados opostos do quadril´ateroABCD, na express˜ao

para a ´area com sinal SLBC.

Demonstra¸c˜ao: Vamos colocar os pontos A, B, C e D em uma posi¸c˜ao mais conveniente, como aquela indicada na figura 3.10 (naturalmente, os mesmos argumentos podem ser aplicados `a figura 3.9, pois um caso demonstra todos os demais). Agora, dado que B = ←→LA ∩ ←→BD, pelo teorema do co-lado, sabemos que

SLBD SABD =

LB AB.

Desta maneira, resta verificar que

SBCD SBCAD = SLDB SADB  = SLBD SABD 

(34)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 31 A B C D L

Figura 3.10: Se L =←→AB ∩←→CD, ent˜ao SBCD/SBCAD = LB/AB = SLBD/SABD.

ou ainda, que

SLDB + SLBC

SLDB + SLBC + SLCA+ SLAD =

SLBD SLBD + SLAD.

Mas esta ´ultima express˜ao ´e equivalente a SLBC · SLAD = SLDB · SLCA que, por sua vez, ´e equivalente a

SLDB SLAD = SLBC SLCA, ou ainda, SDLB SDLA = SCLB SCLA,

Mas, pela proposi¸c˜ao b´asica 3.1 na p´agina 16,

SDLB SDLA = LB LA = SCLB SCLA.

Teorema 3.7 (Construc¸ ˜ao com r´egua de uma seq¨uˆencia harmˆonica) Sejam L a interse¸c˜ao das retas←→AB e ←→CD, K a interse¸c˜ao de ←→AD e ←→BC, F a interse¸c˜ao de ←→BD e ←→LK e G a interse¸c˜ao de ←→AC e ←→KL. Ent˜ao LF KF = LG GK. (3.10)

(35)

32 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica A B C D L F K G Figura 3.11: LF /KF = LG/GK.

Demonstra¸c˜ao: Para eliminar o ponto F , usaremos o teorema do co-lado: F = ←→LK ∩←→BD, de modo que

LF KF =

SLBD SKBD.

Precisamos agora eliminar os pontos K e L que aparecem nas express˜oes SLBD e SKBD. Para isto, vamos usar o lema de elimina¸c˜ao 3.1:

SLBD = SBCD · SABD

SBCAD e SKDB =

SDCB · SADB

SDCAB = −SKBD

a que L ´e a interse¸c˜ao dos lados ←→AB e ←→CD do quadril´atero ABCD e K ´e

a interse¸c˜ao dos lados ←→AD e ←→BC do mesmo quadril´atero. Desta maneira

LF KF = SLBD SKBD = SBCD · SABD SBCAD −SDCBS · SADB DCAB = SBCD · SABD SBCAD −SBCDS · SABD DCAB = −SDCAB SBCAD.

Analogamente, demonstra-se que LG/GK = −SDCAB/SBCAD, de onde se obt´em a igualdade LF /KF = LG/GK desejada.

(36)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 33

Teorema 3.8 (Pappus) Sejam r e s duas retas, A, B e C pontos

em r e E, F e G pontos em s. Os pontos P = ←→AE ∩←→DB, Q = ←→AF ∩←→DC e R = ←→BF ∩←→EC s˜ao sempre colineares. A B C r D E F s P Q R

Figura 3.12: O teorema de Pappus.

Demonstra¸c˜ao: Uma maneira de se demonstrar que P , Q e R s˜ao colineares ´e definir X = ←→P Q ∩←→BF , Y = ←→P Q ∩←→EC e ent˜ao mostrar que X = Y . Mas, pelo exerc´ıcio [02] na p´agina 9, para mostrar que X = Y , basta mostrar que

P X QX = P Y QY , ou ainda, que P X QX · QY P Y = 1.

Podemos eliminar X e Y na express˜ao (P X/QX)· (QY /P Y ) usando o teo-rema do co-lado: P X QX · QY P Y = SP BF SQBF · SQCE SP CE. (*)

Precisamos agora eliminar os pontos P e Q nesta express˜ao. O pr´oximo passo ´e novamente aplicar o teorema do co-lado para obter as rela¸c˜oes

(37)

34 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ F = ←→QA ∩←→BF ⇒ SQBF SABF = QF AF ⇒ SQBF = QF AF · SABF, C = ←→QD ∩←→CE ⇒ SQCE SDCE = QC DC ⇒ SQCE = QC DC · SDCE, B = ←→P D ∩←→BF ⇒ SP BF SDBF = P B DB ⇒ SP BF = P B DB · SDBF, E = ←→P A ∩ ←→CE ⇒ SP CE SACE = P E AE ⇒ SP CE = P E AE · SACE.

Vamos agora usar o lema de elimina¸c˜ao 3.1 (considere a figura 3.10 na p´agina 31): ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ Q = ←→AF ∩←→DC (diagonal ←→AF de ACF D) ⇒ QF AF = SDCF SACF D, Q = ←→AF ∩←→DC (diagonal ←→DC de ACF D) ⇒ QC DC = SACF SACF D, P = ←→AE ∩←→DB (diagonal ←→DB de ABED) ⇒ P B DB = SABE SABED, P = ←→AE ∩←→DB (diagonal ←→AE de ABED) ⇒ P E AE = SDBE SABED.

Substituindo na equa¸c˜ao (∗), obtemos que

P X QX · QY P Y = SP BF SQBF · SQCE SP CE = SABE SDCF · SDBF SABF · SACF SDBE · SDCE SACE = SABE SACE · SDBF SDBE · SACF SABF · SDCE SDCF.

Mas, pela propriedade b´asica 3.1 (p´agina 16), temos que

SABE SACE = AB AC, SDBF SDBE = DF DE, SACF SABF = AC AB e SDCE SDCF = DE DF. Conseq¨uentemente, P X QX · QY P Y = 1.

(38)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 35

Teorema 3.9 Se R ´e um ponto sobre a reta ←→P Q, ent˜ao

SRAB = P R

P Q · SQAB + RQ

P Q · SP AB. (3.11)

para dois pontos A e B quaisquer.

A B

P

Q

R

Figura 3.13: SRAB = (P R/P Q)· SQAB + (RQ/P Q)· SP AB.

Demonstra¸c˜ao: Temos:

SRAB (1)= SP AB + SRAP + SRP B (2)= SP AB + P R P Q · SQAP + P R P Q · SQP B = SP AB + P R P Q · SQAP P R P Q · SBP Q = SP AB + P R P Q · (SQAP − SBQP) (3) = SP AB + P R P Q · (SAP B + SABQ) = SP AB P R P Q · SP AB + P R P Q · SABQ =  1 P R P Q  · SP AB + P RP Q · SABQ = P QRQ · SP AB + P QP R · SQAB,

onde, em (1) usamos a propriedade de decomposi¸c˜ao 2.5 (figura 3.14), em (2) o teorema do co-lado e, em (3), a propriedade de decomposi¸c˜ao mais uma vez (figura 3.15).

(39)

36 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

A B

P

Q

R

Figura 3.14: SRAB = (P R/P Q)· SQAB + (RQ/P Q)· SP AB.

A B

P

Q R

Figura 3.15: SRAB = (P R/P Q)· SQAB + (RQ/P Q)· SP AB.

Teorema 3.10 Seja ∆ABC um triˆangulo inscrito em uma circun-ferˆencia C de centro O e sejam

K = ←→AO ∩←→BC, L = ←→BO ∩←→AC e M = ←→CO ∩←→AB. Defina os pontos P , Q e R como os pontos sim´etricos com rela¸c˜ao ao centro O de C dos pontos A, B e C, respectivamente (figura 3.16).

KP AK + LQ BL + MR CM = 1 (3.12)

(40)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 37 O A B C K L M P Q R C Figura 3.16: KP /AK + LQ/BL + MR/CM = 1.

Demonstra¸c˜ao: Como M = ←→RC ∩←→AB, L = ←→QB ∩←→AC e K = ←→P A ∩←→BC, pelo

teorema do co-lado segue-se que

RM CM = SABR SABC, QL BL = SACQ SACB = SACQ SABC e P K AK = SBCP SABC, de modo que KP AK + LQ BL + MR CM = P K AK QL BL RM CM = −SABR+ SACQ− SBCP SABC .

Agora, O ´e ponto m´edio dos segmentos AP , BQ e CR. Assim, pelo teo-rema 3.9,

SABR = CR

CO · SABO+ RO

CO · SABC = 2 SABO− SABC, SACR = BQ

BO · SACO + QO

BO · SACB = 2 SACO + SABC, SBCP = AP

AO · SBCO + P O

(41)

38 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Desta maneira, podemos escrever que

KP AK + LQ BL + MR CM =

−2 SABO+ SABC + 2 SACO + SABC − 2 SBCO + SABC

SABC

= −2 (SABO− SACO + SBCO) + 3 SABC

SABC (1)

= −2 (SABO+ SAOC + SBCO) + 3 SABC

SABC (2) = −2 SABC + 3 SABC SABC = SABC SABC = 1,

onde, em (1) usamos que SAOC = −SACO (propriedade de permuta¸c˜ao) e, em (2), que SABC = SABO+ SAOC+ SBCO (propriedade de decomposi¸c˜ao).

Exerc´ıcios

[01] Justifique cada uma das igualdades abaixo para obter uma outra de-monstra¸c˜ao do teorema 3.7. LF KF = SLBD SKBD = SLBD SKBL · SKBL SKBD = DA AK · LC DC = SDAC SAKC · SLAC SDAC = SLAC SAKC = LG GK.

[02] Dados trˆes pontos A, B e C colineares, realize as seguintes constru¸c˜oes geom´etricas:

(1) Escolha um ponto E que n˜ao seja colinear com A e B. (2) Trace as retas ←→EA, ←→EB e ←→EC.

(3) Escolha um ponto I aobre a reta←→EA e, em seguida, trace a reta ←IB.→ (4) Marque o ponto G que ´e a interse¸c˜ao de ←→EC e ←IB e, em seguida,→

trace a reta ←→GA.

(5) Marque o ponto F que ´e a interse¸c˜ao de ←→GA e ←→EB e, em seguida, e trace a reta ←IF .→

(6) Marque o ponto D que ´e a interse¸c˜ao de ←IF e ←→→ AB.

(42)

Proposi¸c˜oes b´asicas e exemplos 39

[03] Sejam A, B, C e D pontos em uma mesma reta. Suponha que P e Q sejam dois pontos tais que SP CQD = 0. Mostre que SP AQB/SP CQD =

AB/CD.

[04] Com as mesmas hip´oteses do teorema 3.1, mostre que

AP AD + BP BE + CP CF = 2.

[05] Seja ABCD um quadril´atero e O um ponto. Sejam E, F , G e H as

interse¸c˜oes das retas ←→AO, ←→BO, ←→CO e ←→DO com as diagonais ←→BD, ←→AC,

←→

BD e ←→AC do quadril´atero, respectivamente. Mostre que AH HC · CF F A · BE ED · DG GB = 1.

[06] (Ainda sobre o teorema do co-lado) Se M ´e a interse¸c˜ao das re-tas ←→AB e ←→P Q, mostre que

P M QM = SP AB SQAB, P M P Q = SP AB SP AQB e QM P Q = SQAB SP AQB.

[07] Se C e D s˜ao pontos que pertencem a reta ←→AB e P ´e um ponto que n˜ao pertence a reta ←→AB, mostre que

SP CD SP AB =

CD AB.

(43)

Cap´ıtulo 4

Paralelismo

4.1

Caracteriza¸

ao de paralelismo via ´

areas com sinal

Defini¸c˜ao 4.1 (Relac¸ ˜ao ) Dizemos que duas retas ←→AB e ←→CD s˜ao

paralelas se elas n˜ao possuem pontos em comum. Usaremos a nota¸c˜ao

AB CD

para representar o fato de que os pontos A, B, C e D satisfazem pelo menos uma das trˆes condi¸c˜oes seguintes:

(a) ←→AB e ←→CD s˜ao retas paralelas, (b) A = B ou C = D ou

(c) A, B, C e D s˜ao colineares.

Defini¸c˜ao 4.2 (Paralelogramo) Um paralelogramo ´e um qua-dril´atero ABCD orientado com AB CD, BC AD e tal que ne-nhuma escolha de trˆes de seus v´ertices resulte em pontos colineares.

Note que, se ABCD ´e um paralelogramo, ent˜ao AB e DC possuem a mesma dire¸c˜ao, independentemente da orienta¸c˜ao escolhida para ABCD. Com isto, podemos estabelecer a seguinte defini¸c˜ao.

(44)

Paralelismo 41

Defini¸c˜ao 4.3 (Raz˜ao de dois segmentos paralelos) Seja

ABCD um paralelogramo. Dados dois pontos P e Q em ←→DC,

defi-nimos

P Q AB =

P Q

DC (4.1)

como a raz˜ao dos dois segmentos paralelos P Q e AB.

Proposi¸c˜ao 4.1 Sejam A, B, C e D quatro pontos. Ent˜ao AB CD se, e somente se, SABC = SABD (ou, equivalentemente, SADBC = 0).

Demonstra¸c˜ao: (⇒) Se AB CD, ent˜ao (a) ←→AB e ←→CD s˜ao retas paralelas,

(b) A = B ou C = D ou (c) A, B, C e D s˜ao colineares. No caso (a), ∆ABC e ∆DBC s˜ao dois triˆangulos de mesma base (|BC|), mesma altura e mesma orienta¸c˜ao, de modo que SABC = SBCD. No caso (b), se A = B, ent˜ao SABC = SBBC = 0 = SBBD = SABD e, se C = D, ent˜ao, obviamente,

SABC = SABD. No caso (c), SABC = 0 = SABD, j´a que os quatro pontos s˜ao colineares. A demonstra¸c˜ao da rec´ıproca (⇐) fica como exerc´ıcio.

4.2

Exemplos com paralelismo

Teorema 4.1 Seja O a interse¸c˜ao das duas diagonais ←→AC e ←→BD de

um paralelogramo ABCD (figura 4.1). Ent˜ao AO = OC, isto ´e,

AO/OC = 1.

Demonstra¸c˜ao: Vamos reescrever o enunciado do teorema em termos

cons-trutivos:

1. Os pontos A, B e C s˜ao definidos livremente.

2. O ponto D ´e constru´ıdo pela condi¸c˜ao de que ←→AB e ←→CD sejam retas paralelas satisfazendo AB = DC.

(45)

42 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

A B

D C

O

Figura 4.1: No paralelogramo ABCD, AO = OC.

Usaremos as proposi¸c˜oes b´asicas para eliminar os pontos na equa¸c˜ao que representa a tese do teorema, na ordem inversa em que eles foram definidos, at´e obter uma express˜ao que ´e trivialmente verdadeira, envolvendo apenas os pontos livres. Assim, temos:

AO OC = AO CO (1) = −SABD SCBD = SABD SBCD (2) = SABC SBCA (3) = SABC SABC = 1,

onde em (1) usamos o teorema do co-lado (j´a que O = ←→AC ∩←→BD) e, em (2), usamos a proposi¸c˜ao 4.1: SABD = SABC (pois AB CD) e SBCD = SBCA (pois BC AD). Em (3), usamos a propriedade de permuta¸c˜ao 2.4.

Teorema 4.2 (Tales) Se trˆes retas paralelas r, s e t cortam a reta m em A, B e C e a reta n em X, Y e Z (figura 4.2), ent˜ao

AB CB =

XY

ZY . (4.2)

Demonstra¸c˜ao: Temos

AB CB (1) = SABY SCBY (2) = SXBY SZBY (3) = XY ZY ,

onde, nos passos (1) e (3), usamos o teorema do co-lado (j´a que, respec-tivamente, B = ←→AC ∩ ←→BY e Y = ←→XZ ∩ ←→BY ) e, no passo (2), usamos a

(46)

Paralelismo 43

proposi¸c˜ao 4.1: SABY = SXBY (dado que AX BY ) e SCBY = SZBY (dado que CZ BY ). C A X r m n s t Z B Y

Figura 4.2: Teorema de Tales (AB/CB = XY /ZY ).

Teorema 4.3 Sejam ←→AB e ←→CD duas retas paralelas tais que ←→AC e ←→BD

sejam concorrente em um ponto P . Se Q =←→AD∩←→BC e M = ←→P Q∩←→AB, ent˜ao M ´e o ponto m´edio do segmento AB, isto ´e, AM = MB.

A B C D P Q M Figura 4.3: AM = MB.

(47)

44 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica

Demonstra¸c˜ao: Pelo teorema do co-lado, podemos eliminar o ponto M = ←→

AB ∩←→P Q: AM/BM = SAP Q/SBP Q, de modo que

AM MB = AM BM = SAP Q SBP Q = SP AQ SP BQ.

Precisamos agora eliminar o ponto Q nas express˜oes SP AQ e SP BQ. Como

A = ←→QD∩←→AP , pelo teorema do co-lado mais uma vez, QA/DA = SQAP/SDAP

e, conseq¨uentemente,

SP AQ = AQ

AD · SP AD.

Agora, pelo lema de elimina¸c˜ao 3.1 (p´agina 29), AQ/AD = SABC/SABDC. Desta maneira, SP AQ = SABC SABDC · SP AD = SABC SBDCA · SP AD. Analogamente, SP BQ = BQ BC · SP BC = SBDA SBDCA · SP BC = SBDA SBDCA · SP CB.

Combinando as rela¸c˜oes que deduzimos at´e aqui, temos

AM MB = SP AQ SP BQ = + SABC SBDCA · SP AD SSBDA BDCA · SP CB = SABC · SP AD SBDA · SP CB.

Mas AB CD, de modo que pela proposi¸c˜ao 4.1, SABC = SABD = SBDA. Sendo assim,

AM MB =

SP AD SP CB.

Agora, pela figura 4.3, usando a propriedade de decomposi¸c˜ao, temos que

SP AD = SP CD + SCAD e SP CB = SP CD+ SCBD, de modo que

AM MB =

SP CD + SCAD

SP CD+ SCBD.

Usando novamente a proposi¸c˜ao 4.1, temos que SCAD = SADC = SBDC =

SCBD, uma vez que AB CD. Logo

AM MB =

SP CD + SCAD

(48)

Paralelismo 45

Teorema 4.4 (Axioma de Pascal) Sejam A, B e C trˆes pontos em uma reta e sejam P , Q e R trˆes pontos em outra reta. Se AQ RB e BP QC, ent˜ao AP RC. A C R B Q P

Figura 4.4: O axioma de Pascal: Se AQ RB e BP QC, ent˜ao AP RC.

Demonstra¸c˜ao: Para mostrar que AP RC, pela proposi¸c˜ao 4.1, basta

mostrar que SRAP = SCAP. Desde que AQ RB e BP QC, pela pro-posi¸c˜ao 4.1, temos que SRAQ = SBAQ e SBP Q = SBP C, respectivamente. Desta maneira,

SRAP (1)= SRAQ + SAP Q = SBAQ + SAP Q (2)= SBAP Q =

SBAP + SBP Q = SBAP + SBP C (3)= SCAP, onde, em (1), (2) e (3), usamos a propriedade de decomposi¸c˜ao.

Teorema 4.5 (Axioma de Desargues) Sejam r, s e t trˆes retas distintas, concorrentes em um ponto S. Sejam A e X pontos em r, B e Y pontos em s e C e Z pontos em t tais que AB XY e AC XZ (figura 4.5). Ent˜ao BC Y Z.

(49)

46 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica S A C B X Y Z t s r

Figura 4.5: O axioma de Desargues: se AB XY e AC XZ, ent˜ao BC Y Z.

Demonstra¸c˜ao: Para mostrar que BC Y Z, pela proposi¸c˜ao 4.1, basta

mos-trar que SY BC = SZBC. Agora

SBCZ (1)= CZ

CS · SBCS (2)

= AX

AS · SBCS,

onde, em (1) usamos o teorema do co-lado (C =←→SZ ∩←→BC) e, em (2), usamos o teorema de Tales. Analogamente,

SBCY = BY

BS · SBCS = AX

AS · SBCS.

Sendo assim, SBCZ = SBCY, como quer´ıamos.

Teorema 4.6 Sejam X, Y , Z e W pontos sobre os lados CD, DA,

AB e BC de um paralelogramo ABCD tais que CX CD = DY DA = AZ AB = BW BC = 1 3

(figura 4.6). Ent˜ao a ´area com sinal do quadril´atero formato pelas retas ←→AX, ←→BY , ←→CZ e ←−→DW ´e 1/13 da ´area com sinal do

(50)

Paralelismo 47 A B D X C Y Z W P Q R S

Figura 4.6: Se CX/CD = DY /DA = AZ/AB = BW /BC = 1/3, ent˜ao

SP QRS = SABCD/13.

Demonstra¸c˜ao: Seja I = ←→DB ∩←→P A = ←→AX ∩←→DB (figura 4.7). Temos SABCD SABP = SABD + SBCD SABP (1) = SABD + SABD SABP = 2· SABD SABP (2) = 2· SABP + SP BD + SP DA SABP = 2· S ABP SABP SDBP SABP SP AD SP AB  (3) = 2·  1 DY AY DI BI  (4) = 2·  1 DY AY SDAX SBAX  = 2·  1 + 1 2 + 2 3  = 13 3 .

onde, em (1) usamos que SBCD = SABD, em (2) usamos a propriedade de decomposi¸c˜ao e, em (3) e (4) usamos o teorema do co-lado (uma vez que

Y = ←→DA ∩←→BP , I = ←→DB ∩←→P A e I = ←→AX ∩←→DB). Analogamente, demonstra-se que SABCD SBCQ = SABCD SCDR = SABCD SDAS = 13 3 .

Usando a propriedade de decomposi¸c˜ao para ´areas com sinal,

SP QRS SABCD =

SABCD − SABP − SBCQ − SCDR − SDAS

SABCD = 1

12 13 =

1 3.

(51)

48 II Bienal da Sociedade Brasileira de Matem´atica A B D X C Y Z W P Q R S I

Figura 4.7: Se CX/CD = DY /DA = AZ/AB = BW /BC = 1/3, ent˜ao

SP QRS = SABCD/13.

Proposi¸c˜ao 4.2 Sejam ABCD um paralelogramo e P e Q dois

pon-tos. Ent˜ao SAP Q+ SCP Q = SBP Q+ SDP Q, (4.3) isto ´e, SP AQB = SP DQC (4.4) A B D C P O Q

Figura 4.8: No paralelogramo ABCD vale que SAP Q+ SCP Q = SBP Q+ SDP Q.

Demonstra¸c˜ao: Seja O a interse¸c˜ao de ←→AC e ←→BD. Desde que O ´e o pontoedio do segmento AC (veja o teorema 4.1 na p´agina 41), pela proposi¸c˜ao 3.9 na p´agina 35, temos que

(52)

Paralelismo 49 pois SOP Q = AO AC · SAP Q+ OC AC · SCP Q = 1 2 · SAP Q+ 1 2 · SCP Q. Pela mesma raz˜ao,

SBP Q+ SDP Q = 2· SOP Q. Assim,

SAP Q+ SCP Q = 2· SOP Q = SBP Q+ SDP Q.

Esta ´ultima equa¸c˜ao pode ser escrita na forma SBP Q−SAP Q = SCP Q−SDP Q, de modo que

SP AQB = SBP Q+ SAQP = SBP Q− SAP Q

= SCP Q − SDP Q = SCP Q + SDQP = SP DQC, o que estabelece a segunda f´ormula.

Proposi¸c˜ao 4.3 Sejam ABCD um paralelogramo e P um ponto

qualquer. Ent˜ao

SP AB = SP DC − SADC = SP DAC. (4.5)

A B

D C

P

Figura 4.9: No paralelogramo ABCD vale que SP AB = SP DC− SADC = SP DAC.

Demonstra¸c˜ao: Pela proposi¸c˜ao anterior, com Q = B, SAP B + SCP B =

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