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UM NOVO OLHAR SOBRE A TERCEIRA IDADE: A UNIVERSIDADE ABERTA PARA A TERCEIRA IDADE

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Academic year: 2021

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Rita de Cássia Oliveira – UEPG soliveira13@uol.com.br1 Flávia da Silva Oliveira - UNIÃO2 flasoliveira@uol.com.br RESUMO

O Brasil, seguindo a tendência mundial, tem apresentado um aumento significativo de idosos.Hoje possui uma população de 15 milhões, com a expectativa de em 2025 ser de 34 milhões de idosos. A Universidade Estadual de Ponta Grossa, no cumprimento de suas funções de ensino, pesquisa e extensão, e apoiada na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso criou em 1992, o Programa da Universidade Aberta para a terceira idade, com os objetivos de integrar as gerações, possibilitar a aquisição de conhecimentos e a atualização dos idosos, contribuindo também para a valorização do idoso e melhoria da qualidade de vida e exercício pleno da cidadania desse segmento da população. O Curso baseia-se na Educação Permanente e na responsabilidade social da instituição com relação a comunidade em que está inserida. Esta pesquisa buscou identificar o perfil dos docentes atuantes na UATI-UEPG e verificar de que maneira eles têm se preparado para alcançar o público alvo.A pesquisa foi qualitativa, descritiva e interpretativa, utilizando o questionário com instrumento. Verificou-se que o perfil que estes educadores apresentam é o de serem quase todos da faixa etária próxima aos seus alunos, professores de jovens e adultos por muitos anos e convivem com idosos em seus lares, o que lhes conferem habilidades para entenderem melhor seu público. Quanto à maneira como estes professores tem se preparado para ministrar suas aulas verificou-se que a maioria deles não freqüenta cursos ou congressos de gerontologia, porém, devido à sua experiência com o magistério estes professores demonstram ser capazes de "administrar sua própria formação contínua", o que eles fazem através de leituras, pesquisas próprias ao assunto e interação com seus colegas de docência, num processo de autoformação e reflexão sobre a sua prática.

PALAVRAS - CHAVE: docência, terceira-idade, políticas públicas, educação permanente.

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Pedagoga e Gerontóloga. Doutora em Educação pela Universidade de Santiago de Compostela. Professora do Mestrado em Educação na UEPG. Coordenadora da Universidade Aberta para a Terceira idade na UEPG. Professora do IBPEX. 2 Advogada. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas na UEPG. Professora das Faculdades União , da Universidade Aberta para a Terceira Idade na UEPG e do IBPEX.

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O envelhecimento populacional é uma tendência mundial, deixou de ser preocupação apenas dos países desenvolvidos, onde inicialmente se manifestou. No Brasil, o fenômeno também é evidenciado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em nosso país, atualmente são 15 milhões de idosos, cerca de 9% da população, com perspectiva de no ano 2025 possuir um contingente de 34 milhões de idosos, cerca de 15% da população, será o sexto país mais idoso do mundo, perdendo para Suécia, França, Estados Unidos, Uruguai, Argentina, China. Essa mudança demográfica exige diferentes percepções e um novo olhar sobre a velhice e sobre o processo de envelhecimento

Segundo Oliveira (1999, p.127) “É fato consumado o envelhecimento populacional do País, que sucede de maneira rápida, embora pouco se tenha feito em resposta a essa evidência, mesmo diante do alerta silencioso e impotente da própria população idosa”.

O Brasil ainda não equacionou satisfatoriamente a situação do idoso e suas necessidades refletidas pela baixa prioridade atribuída à Terceira Idade.

Percebe-se que o envelhecimento populacional do Brasil ocorre em razão de alguns aspectos: o aumento da expectativa de vida, a diminuição da taxa de fecundidade, atribuída em grande parte aos avanços da medicina, e a busca de oferecer melhores condições de vida à população em termos de moradia, saneamento básico, alimentação, transporte, embora ainda exista muito o que fazer (OLIVEIRA, 1999, p.131).

Ao mesmo tempo em que a ciência desenvolve instrumentos capazes de prolongar a vida do homem, oferecendo recursos tecnológicos, de proteção e segurança, a sociedade desestimula a participação da população idosa nos processos socioeconômicos e culturais de produção, decisão e integração social.

O processo desordenado de desenvolvimento determina problemas sociais graves e afeta

sensivelmente a estrutura socioeconômica e política. É nesse quadro que situam as questões relativas à velhice no Brasil.

Definir velhice, em tempos de quebra de paradigmas é um desafio. Há quem faça uso dessa palavra para designar algo ou alguém fora de moda, sem utilidade ou ainda, improdutivo. Felizmente, essa visão pejorativa do termo vem sendo sobreposta por uma concepção mais ampla, onde fatores como o cronológico, biológico, psicológico e social devem ser analisados. (OLIVEIRA, 1999).

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Segundo Oliveira (1999) se efetuada uma análise sob uma perspectiva histórica, pode-se compreender que o idoso é uma invenção social emergente da dinâmica demográfica, do modo de produção, da estrutura social vigente, das ideologias dominantes, dos valores e culturas preponderantes. A juventude e a velhice não são concepções absolutas, mas interpretações sobre o percurso da existência e, dessa maneira são passíveis de transformações.

“A tendência no Brasil é valorizar aquilo que é novo e desprezar o que é velho” (OLIVEIRA, 1999, p.62). A própria educação faz o velho se sentir um objeto fora de uso.

Dessa realidade emerge a necessidade de programas alternativos que garantam maior qualidade de vida para essa população.

Não se trata apenas de uma preocupação da sociedade política, mas também da sociedade civil que precisa se conscientizar do envelhecimento da população brasileira.

Embora exista a Lei 8842 94 que define a Política Nacional do idoso, pouco foi feito efetivamente para a implementação da referida Lei.

Segundo Fernandes (1999) se a sociedade brasileira proorcionasse aos cidadãos mais velhos um tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-ia os estatutos especiais para os idosos. Deste modo, segundo o autor, tornou-se necessária a criação do Estatuto do Idoso, sancionado em 2003, que veio resgatar os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos idosos direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade.

Há falta de vontade política, acusação feira por estudiosos e profissionais responsáveis quanto aos 20 anos de expectativas de atitudes governamentais em favor do público idoso, sendo colocado como prioridade por alguns apenas em suas campanhas eleitorais, segundo Fernandes (1999).

Considera-se idoso, o indivíduo acima de 60 anos, conforme prescreve o Estatuto do idoso ( Lei 10.741 -03). O referido Estatuto prevê em seu capítulo V, artigo 20, ter o idoso o direito á educação,e, em seu artigo 21 rege que o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

Esses artigos demonstram o reconhecimento da educação permanente como instrumento eficiente para a valorização e reconhecimento do idoso como um cidadão atuante e participativo.

A educação emerge como uma alavanca para o fortalecimento da auto estima e da integração dos idosos na sociedade, procurando transpor as limitações e os preconceitos que aprioristicamente são impostos a essa faixa etária (NERI, 2004).

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Embora prescrito no Estatuto a criação de Universidades Abertas para a Terceira idade, percebe-se a inexistência de um espaço educacional para essa clientela, um lugar adequado que percebe-se busque o aprimoramento do conhecimento, a busca de novos conhecimentos, visando a promoção do ser humano. (LIMA, 2000).

A educação permanente se apresenta como a necessidade de ampliar a participação dos indivíduos na vida social e cultural, visando a melhoria nas relações interpessoais, qualidade de vida, compreendendo o mundo e tendo esperança de futuro. Pela educação permanente assume-se uma nova concepção de vida humana, cujo princípio central é só aprender a ser, mas principalmente viver para aprender, interagindo com quem está ao seu redor.

Segundo Gadotti (1984) a educação permanente é a necessidade de uma educação que se prolonga durante toda a vida, uma necessidade de continuar constantemente a formação individual.

Complementando, Garcia (1994) ressalta que a idéia de totalidade é a que melhor exprime o ponto de partida da educação permanente, na medida em que focaliza o homem em toda a sua dimensão, imerso em uma realidade social.

O fenômeno educativo deve ser entendido como uma prática social situada historicamente em uma realidade total; dependendo do projeto de homem e de sociedade que se deseja construir, a educação pode ser trabalhada dentro de uma perspectiva ingênua ou crítica, dentro de uma perspectiva que vise alienar ou libertar os seres nela envolvidos, surgindo como instrumento eficaz na criação do tipo de homem e de sociedade idealizada (OLIVEIRA, 1999).

Dentro dessa perspectiva da educação permanente e sendo a universidade um lugar por excelência para o aprimoramento, a pesquisa, a busca do conhecimento e também a democratização do saber, timidamente surge em seu âmago um espaço educacional para essa clientela.

As universidades ampliam sua função social, “buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento” (OLIVEIRA, 1999, p.240).

Os diferentes programas oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior são formas alternativas de atendimento ao idoso, visando além da valorização dessa clientela, maior conscientização da sociedade em geral a respeito do processo de envelhecimento da população do nosso país que é uma realidade (BOTH, 2003).

Com a inserção do idoso na comunidade universitária, a integração entre gerações ocorre necessariamente, fomentando debates sobre as questões que envolvam essa faixa etária, analisando

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preconceitos e discriminações ora sustentados socialmente e que se apresentam sem fundamentação científica.

O próprio idoso, ao se conscientizar de seu espaço na sociedade, terá de si mesmo uma visão mais otimista, considerando-se produtivo, útil, capaz de muito ainda colaborar para a sociedade na qual está inserido.

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por mais de 15 anos estuda o envelhecimento e a velhice enquanto etapa da vida e, de maneira inovadora, criou o Programa da Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI), em 1992, buscando um espaço pedagógico para os idosos, em uma instituição por excelência de jovens, responsável pela produção e socialização de conhecimentos.

Esse espaço timidamente foi se ampliando e , em julho de 2006, foi realizada a formatura da XIV Turma, com muito sucesso e reconhecimento da sociedade pelas atividades voltadas para a valorização e respeito ao idoso, pela elevação da auto estima e melhoria na qualidade de vida desse segmento da população.

A UATI, fundamenta-se na concepção de educação permanente e auto realização do idoso. Estrutura-se com abordagem mulltidisciplinar, priorizando o processo de valorização humana e social da terceira idade, analisando constantemente a problemática do idoso nos diversos aspectos; biopsicológicos, filosóficos, político, espiritual, religioso, econômico e sóciocultural. Preocupa-se em proporcionar ao idoso melhor qualidade de vida, tornando-o mais ativo, alegre, participativo e integrado à sociedade.

Basicamente a UATI estrutura-se em disciplinas teóricas e práticas, totalizando 240 horas, ao longo de três semestres letivos, seguindo o calendário universitário.

As disciplinas teóricas abordam as diferentes dimensões humanas e sociais, apresentadas por diferentes profissionais em suas áreas específicas, entre elas: sociologia, filosofia, psicologia, direito, previdência social, história, geografia, relações humanas, educação, esoterismo, política, economia, medicina, fisioterapia, odontologia, nutrição, jornalismo, turismo, educação física e meio ambiente.

As disciplinas práticas envolvem diferentes atividades, como: dança de salão, natação, hidroginástica, biodança, relaxamento e alongamento, atividades esportivas, informática, francês, espanhol, inglês, oficina da comunicação, pintura, artesanato, teatro e seresta.

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O currículo é organizado de maneira interativa, conforme as opções dos próprios idosos, sendo as disciplinas teóricas de caráter obrigatório e as práticas de caráter optativo.

Existe ainda o Grêmio da Universidade Aberta para a Terceira Idade (GUATI), com regulamento próprio e diretoria organizada que, sob a coordenação do Programa, organiza viagens e festas ao longo do ano. Entre as principais festividades registram-se: Festa dos Calouros, Festa do Dia das Mães, Festa Junina, Festa da Primavera e Festa Natalina.

A UATI, constituindo-se em um Programa que continuamente é avaliado, reestruturado conforme as necessidades e exigências que se apresentam, incrementou-se com o estágio de Inserção Comunitária, libertando da idéia de oferecer aos idosos apenas lazer ou passeios na comunidade, mas respaldados pela idéias de educação permanente que sempre norteou esse Programa, além do apoio na teorias anteriormente abordadas, elaborou-se um elenco de atividades nas quais os idosos, além de se manterem ativos, realizam também atividades de pesquisa e de inserção na comunidade.

O Estágio realizado na UATI, constitui o último semestre letivo do Programa, onde são programadas atividades como visitas a diversas instituições, entre elas: hospitais, asilos, creches, grupos de convivência de idosos. São realizadas entrevistas para detectar as reais necessidades de cada local e depois desenvolvem-se atividades filantrópicas, assistenciais, recreativas, visando uma socialização e integração.

Os objetivos a serem alcançados pela UATI, segundo Oliveira (1999,p.242) são

· Oportunizar a atualização cultural nos aspectos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, biopsicológicos e gerontológicos;

· Valorizar experiências de vida e profissional, especialmente dos aposentados e donas de casa, contribuindo efetivamente como monitores nas ações comunitárias.

A fim de que esses objetivos sejam alcançados a UATI-UEPG formou um quadro de docentes de diversas áreas do conhecimento. Sabe-se que o estudante dessa faixa etária tem várias características específicas, que exigem do docente habilidades e preparo especiais. As chamadas questões sociais da velhice ou eventuais frustrações geradas pelo envelhecimento em nível individual, passa por providências a nível educacional, conforme nos aponta Neri (1991).

Ao pesquisarmos a respeito da práxis destes professores, poderemos perceber maneiras pela quais futuros educadores dedicados a esta fase da vida - a terceira idade poderão direcionar suas

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práticas, ao mesmo tempo em que poderemos gerar alguma desacomodação naqueles educadores que talvez se encontrem confortáveis em sua prática irreflexiva.

"Assim, valorizando a experiência e a reflexão na experiência, conforme Dewey, e o conhecimento tácito, conforme Luria e Polonyi , Schön propõe uma formação profissional baseada numa epistemologia da prática, ou seja, na valorização da prática profissional como momento de construção do conhecimento, através da reflexão, análise e problematização desta e o reconhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato."(PIMENTA, 2002).

02 OBJETIVOS

O objetivo dessa investigação foi estabelecer um perfil dos docentes atuantes na UATI-UEPG, a fim de verificar quais as características que mais se apresentam e desenvolver uma análise de como estes influenciam o sucesso ou fracasso da UATI como um todo. Buscou-se também identificar como os docentes se preparam para trabalharem com esse segmento da população.

03 METODOLOGIA

A investigação foi realizada através de uma pesquisa bibliográfica, descritiva e explicativa. A pesquisa do tipo descritiva tem como objetivo descrever as principais características do objeto estudado. Pesquisas que se preocupam com as características de um grupo social ou que pretendem descobrir correlações entre variáveis, enquadram-se nesta tipologia. A pesquisa explicativa, por sua vez, pretende identificar os fatores que contribuem para a ocorrência e o desenvolvimento de um determinado fenômeno, buscando as razões dos elementos (GONSALVES, 2001).

Segundo a natureza dos dados, a pesquisa é do tipo quantitativa com elementos qualitativos, ao fazer uso dos dados obtidos através da aplicação de um questionário em vinte e três docentes da UATI-UEPG.

4 RESULTADOS

Nossa amostra compõe-se de vinte instrumentos de coleta de dados, o que representa aproximadamente 87% do total de professores da UATI-UEPG, pois de um total de vinte e três instrumentos distribuídos, três deles não retornaram. O questionário elaborado apresenta questões

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abertas e fechadas bem como algumas questões abertas, que servem de instrumentos acessórios para uma análise mais acurada dos dados obtidos.

Com relação ao sexo dos docentes, percebeu-se a predominância dos docentes é do sexo feminino integrando 14 docentes (70%), sendo os docentes do sexo masculino em número de 6 (30%), o que pode ser visualizado no gráfico abaixo. É importante ressaltar que o número de pessoas do sexo feminino também é maior entre os alunos.

A maior parte dos docentes está na faixa dos 50 a 59 anos (5 docentes representando 35%), idade esta que está próxima à de seus alunos, conferindo-lhes uma melhor interação com eles.

Relativa a religião, pode-se considerar que Ponta Grossa é uma cidade de maioria católica, esse fato se estende aos docentes pertencentes a essa religião (75%), que representam a maioria na UATI-UEPG, conforme gráfico seguinte.

Verificou-se, através do questionário distribuído aos docentes da UATI-UEPG que todos possuem formação acadêmica distribuída em diversas graduações. A grande variedade de áreas trabalhadas pelos docentes demonstra a preocupação da UATI-UEPG em inter-relacionar as áreas do conhecimento e apresentar uma visão globalizadora ou a visão de totalidade na educação por meio de uma perspectiva de caráter metadisciplinar.

CURSO DOCENTES CURSO DOCENTES CURSO DOCENTES

Pedagogia 3 Administração 1 História 1

Odontologia 2 Ed.Física 1 E. Artística 1

Psicologia 2 Serv. Social 1 Economia 1

Direito 2 Geografia 1 Tec. Para

Informação 1

Letras 2 Fisioterapia 1

A maioria dos profissionais (70%) inseridos como docente da UATI-UEPG é de professores (14 docentes),e somente uma pequena quantidade (30%) não se insere nesta categoria, fato este que se explica por existirem palestras ministradas por profissionais de áreas não destinadas exclusivamente ao magistério.

Aqueles que são professores (70%) o fazem em nível de terceiro grau e ensino médio.Seus tempos de carreira variam de 3 até 40 anos (portanto já aposentados), o que lhes confere, além de grande experiência, múltiplas visões de ensino.

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Observa-se que 60% ,12 docentes, não são aposentados, constituindo sua maioria. O fato de existir professores pertencentes a essas duas categorias beneficia o trabalho do conjunto, visto que aqueles que ainda se encontram na ativa estão em melhor contato com novas teorias e métodos, ao passo que os que já se encontram aposentados apresentam uma melhor identificação com os alunos.

Com relação ao estado civil, a maioria é casado (70%, representado por 14 professores), é outro fator que representa uma melhor aproximação com os alunos, que podem se identificar e interagir com os professores de diferentes maneiras.

Quando questionados sobre os motivos pelos quais os docentes prestam serviços à UATI/UEPG, a maioria deles foi integrada ao quadro da UATI-UEPG devido a um convite da coordenação que viu neles pessoal capacitado a realizar tal tarefa (60% representados por 12 professores).

Com relação ao tempo em que lecionam na UATI, percebeu-se grande satisfação dos docentes em realizar tal trabalho, pois, a maioria deles está atuando na UATI-UEPG desde sua implantação em 1992 e, por outro lado, há a renovação do quadro ao longo desse processo, o que denota tanto uma preocupação em manter seus princípios arraigados, mas também trazer novas práticas e assuntos para a sala de aula.

No que se refere a preparação dos docentes para trabalharem com idosos, detectou-se que 55% dos professores (representados por 11 professores) não freqüentou os referidos cursos, porém 45% (representados por 9 deles) freqüentou e se disse enriquecido por tal oportunidade.

Relativa a necessidade que os docentes sentem quanto a uma formação específica para lecionar com esse grupo, metade do total de professores (10), não considera ser necessária uma formação específica, pensamento este que se deve ao fato deles mesmos não terem tido tal formação e estarem ministrando aulas para idosos, mas a outra metade (10 professores) além de sentirem necessidade de conhecer sobre o assunto, também se preocuparam com a educação continuada e participaram de eventos que ofereceram atualização sobre o processo de envelhecimento e da velhice para possuírem maior fundamentação teórica em suas atividades. Dos professores investigados, 16 (80%) demonstraram interesse em melhorar seu conhecimento a respeito do assunto e sentem necessidade de mais leituras sobre o tema.

Com relação à prática, quando os docentes foram questionados sobre a necessidade de alguma mudança na prática das aulas para atingir os aluno idoso, a grande maioria (70%) dos professores (14

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professores) viu a necessidade de modificar seu modo de trabalho devido ao público diferenciado com que estão trabalhando.

A necessidade de mudar sua prática cotidiana a fim de atingir o aluno-idoso trouxe consigo o desenvolvimento de um método para tal, que, de acordo com estes professores está fundamentado em uma aula direcionada ao interesse deste aluno e em discussões abertas sobre os temas trabalhados. Sendo assim, verifica-se que 65% dos professores (representados por 13 deles) dizem ter desenvolvido uma metodologia específica para suas aulas na UATI.

Quando questionados sobre as dificuldades que os docentes encontraram ao trabalhar com o ensino para a terceira díade, a maioria destes professores (60%), isto é, 12 deles, admitem não ter encontrado dificuldades ao trabalhar com terceira idade.

Algumas particularidades foram apontadas com relação a docência para a terceira idade, entre elas o respeito pelo aluno idoso, pela sua experiência de vida, a participação nas aulas, é a tônica destas aulas, fator anteriormente levantado ao falar de um método específico para atender este público. Onze destes professores (55%) responderam que estas são as particularidades do ensino para a terceira idade.

Os docentes também apontaram a convivência que possuem com idosos em casa, amigos, pais, parentes, o que lhes dá uma melhor visão da situação do idoso e de seus anseios.

05 DISCUSSÃO

Através dos dados obtidos nos questionários, é possível levantar alguns pontos que tem levado a UATI ao sucesso de sua jornada.

O primeiro deles diz respeito à identificação que estes alunos-idosos possuem com seus professores, cuja maioria se encontra na mesma faixa etária, situação civil e religiosa que seus alunos além de terem constante relacionamento com idosos em seus círculos sociais e lares, o que lhes confere a possibilidade de se colocar perante problemas que tenham significado e relevância para seus alunos. "É preciso discutir situações problematizadoras de reais necessidades de sua vivência, para que ele reflita, pondere, aprenda a analisar e encontrar soluções" (LIMA, 2001) criando assim uma relação professor-aluno baseada no diálogo e na cumplicidade onde o professor pode se pôr diante do aluno e revelar sua maneira de ser e de pensar, assim como nos lembra Paulo Freire (2002), Esta interação traz consigo a afetividade, o querer bem, e este, desenvolve a auto estima tão necessária na Terceira Idade,

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"... esse persistente desejo como pulsar de vida." ( KACHAR, 2001) o que se percebe na fala de vários estudantes observados, assim como nos conta KACHAR a respeito de uma aluna na aula de informática:" Você abriu para mim uma janela para o mundo! "

A crise da velhice, composta de três dimensões (OLIVEIRA, 1999) é atenuada devido ao perfil que estes professores possuem: a crise de identidade, pois os alunos ao se identificar com os professores estabelecem novas relações consigo mesmo e com o mundo dos valores que o cercam, a crise da autonomia é controlada devido à possibilidade de estabelecer relações com os professores que conhecem seus anseios e medos e, por fim a crise de pertencimento que, devido aos fatores anteriormente citados é dissipada, fazendo com que o idoso seja capaz de alcançar a integridade na velhice, e, na medida em que vive ir se construindo permanentemente.

O aspecto didático-pedagógico destes docentes, e suas respostas às perguntas que se referiam a este assunto demonstram a grande experiência da maioria destes educadores no trato de jovens e adultos.

Levando-se em consideração que o campo da "Gerontologia Educacional" (VEELKEN, 1997), ainda não se firmou dentro do campo da gerontologia, o trabalho com a Terceira Idade não tem se mostrado claro quanto aos seus métodos. Porém, o que se percebe quanto aos educadores inseridos na UATI-UEPG é que estes, devidos à sua experiência anterior de magistério encontram-se "... num certo nível de amadurecimento e envolvimento com o trabalho, a partir dos quais ele toma consciência de suas fragilidades e necessidades" (RIBAS, 2000). e, apesar de não terem freqüentado cursos a respeito do ensino para a Terceira Idade, mostraram-se conhecedores do assunto devido a serem professores - pesquisadores de sua prática, o que é feito através de leituras pertinentes, fato este que pôde ser percebido através das literaturas sugeridas à pesquisadora e também através de conversas informais a respeito do assunto.

"Professores competentes e comprometidos com o trabalho, não são formados apenas por terem adquirido conhecimentos específicos nas disciplinas que constituem um curso, ou porque realizaram um estágio".(RIBAS, 2000).

Estes professores apresentam a característica de serem professores reflexivos, pois frente a situações novas que extrapolam sua rotina, criam, constroem novas soluções, novos caminhos, o que se dá por um processo de reflexão na ação (PIMENTA, 2002).

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Ao admitir que desenvolveram um método específico para nortear suas aulas que na maioria se baseia em discussão aberta do tema e aula voltada ao interesse dos alunos, estes educadores se mostraram capazes de ensinar em situações singulares, instáveis, incertas, carregadas de conflito e dilemas, o que caracteriza o ensino como prática social e também demonstra a intuição e paixão destes quanto ao processo de aprendizagem o que os levou a considerar o trabalho desenvolvido, sem maiores dificuldades apesar de terem sido obrigados a mudar sua prática ao longo da jornada, o que para alguns foi um processo de construção em conjunto com a UATI-UEPG, pois se encontram a seu serviço desde a sua fundação.

Sendo todos graduados em nível de terceiro grau, a pesquisa foi com certeza uma constante em sua vida, o que os levou a conscientização da necessidade de administrar sua própria formação contínua conforme nos ensina Perrenoud (2000).

Um professor com as características apresentadas pelos docentes da UATI-UEPG é capaz de estabelecer seu próprio programa de formação contínua, explicitar e analisar sua prática com base na autoformação e na lucidez profissional do processo reflexivo fazendo com que haja a vontade de aprender com a experiência e de transformar sua prática constantemente.

Este processo não precisa ser burocrático; fazer cursos. É através do mudar, aprender através de leituras, experimentação, inovação, trabalho em equipe, reflexão regular, redação de um jornal ou simplesmente a discussão com colegas de trabalho. "O exercício da lucidez profissional não é necessariamente um prazer solitário" (PERRENOUD, 2000).

Estes professores não vêem a necessidade de existir uma formação específica para o trabalho com os idosos nas Universidades Abertas para a Terceira Idade. Provavelmente pelo fato de estarem conservando suas competências pedagógicas através do exercício regular e constante (mesmo aqueles que já se encontram aposentados) e pela sua postura crítico - reflexiva, pois, devido ao conjunto de seus saberes , vivência e maneira de dirigir sua práxis educativa conseguiram adquirir as competências necessárias ao trabalho com a Terceira Idade mesmo sem ter tido uma formação dirigida à este público. Sugerem que a vivência, a adaptação de diversos métodos de e o gosto pelo idoso são os aspectos necessários para este trabalho, e nestas sugestões demonstram mais uma vez a lucidez profissional ao perceber que "... o conhecimento a ser trabalhado está menos nos compêndios e mais nas experiências de vida de seus alunos" (STANO, 2001).

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O respeito pelo idoso e por sua experiência de vida está presente não só na categoria "particularidades do trabalho com a Terceira Idade", mas também em todas as ações desenvolvidas por estes educadores a partir do momento em que estão abertos a redirecionar sua prática, refletir sobre ela e reelaborar os saberes antes adquiridos fazendo com que o aluno-idoso se sinta motivado e capaz de aprender, afinal, "A predisposição para a aprendizagem é parte da constituição humana, e se a escola cultivá-la, em vez de castrá-la, os indivíduos poderão continuar a aprender, como fazem na infância" (VALENTE, 2001).

06 CONCLUSÃO

A UATI-UEPG tem sido um sucesso na comunidade, filas se formam nos dias das matrículas para comprovar o bom trabalho desenvolvido por aqueles que a coordenam e também por aqueles que estão diretamente em contato com os alunos-idosos, seus professores.

Esta pesquisa demonstrou, através das respostas fornecidas nos questionários, o alto grau de interesse, dedicação e responsabilidade com que estes educadores têm visto seu trabalho com a Terceira Idade. Os professores da UATI têm tido a coragem de ousar, colocando-se em ação e trabalhando para a transformação, não se deixando levar pela apatia e pela angústia que um trabalho diferenciado como este pode causar. Demonstram conhecer bem a estrutura da matéria e seu publico, praticam a construção do conhecimento e a dialogicidade e dentro da atitude reflexiva que possuem se revelam educadores e educandos, num processo de formação contínua e prazerosa, afinal, "A essência da busca é a mesma em todos, continuar a aprender sobre o mundo e si mesmo, porque viver é aprender continuamente" (KACHAR, 2001).

Portanto, mais uma vez resgata-se a relevância de uma educação permanente para os idosos, ao mesmo tempo em que são considerados cidadãos ativos, participativos e com qualidade de vida, deixando de ser considerados cidadãos de segunda categoria.

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08 REFERÊNCIAS

AZZI, Sandra. Capítulo 2: Trabalho Docente: autonomia didática e construção do saber pedagógico.In: PIMENTA, Selma G. Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São Paulo, Ed.Cortez, 1999, p. 35-59. BUSARI, Érika. O despertar da maturidade. Gazeta do Povo, Suplemento Viver Bem, p.04.

17/09/2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23o ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra S/A, 2002, 165 p.

GONSALVES, Elisa. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. 1oed. Campinas: Ed. Alínea, 2001, 80 p.

KACHAR, Vitória. Longevidade, um novo desafio para a educação. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2001, 189p.

LIBÂNEO, José C. Capitulo 2: Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro? In: PIMENTA, Selma. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2002, p.53-80.

LIMA, Mariúza. Capítulo 1: Reformas paradigmáticas na velhice do século XXI. In: KACHAR, Vitória. Longevidade, um novo desafio para a educação. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2001, p.15-26. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. 6o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2002, 117 p.

NERI, A. L. Envelhecer num país de jovens. 1o ed. Campinas: Ed. Unicamp, 1991, 178p. NETTO, Antonio J. Capítulo 1: Universidade Aberta para a Maturidade. In: KACHAR, Vitória. Longevidade, um novo desafio para a educação. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2001, p.45-61.

OLIVEIRA, Rita.Terceira idade: Do repensar dos limites aos sonhos possíveis. 1o ed. São Paulo: Ed. Paulinas, 1999, 288 p.

PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. 1o ed. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul, 2000, 192 p.

PIMENTA, Selma. Capítulo 1: Professor reflexivo: construindo uma crítica. In: PIMENTA, Selma. Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2002, p.17-52.

STANO, Rita. Capítulo 3: Espaço escolar: um tempo de ser-na-velhice. In: KACHAR, Vitória. Longevidade, um novo desafio para a educação. 1o ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2001, p.155-168.

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Referências

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