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(REPRESENTANTE DA CONECTAS DIREITOS HUMANOS) Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente; ilustríssimos

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Academic year: 2021

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A SRA. HELOÍSA MACHADO DE ALMEIDA (REPRESENTANTE DA CONECTAS DIREITOS HUMANOS) – Excelentíssimo Senhor Ministro Presidente; ilustríssimos representantes dos Estados, senhoras e senhores.

Em primeiro lugar, Conectas Diretos Humanos, enquanto membro do Grupo de Trabalho em Propriedade Intelectual da Rebrip – Rede Brasileira pela Integração dos Povos, agradece a oportunidade de trazer suas razões nesta audiência pública.

A tese que defendemos nesta audiência é um tanto diferenciada das demais trazidas neste plenário. É distinta, pois busca analisar o impacto que a proteção à propriedade intelectual traz para o acesso a medicamentos.

A tese que defendemos, nessa audiência, é um tanto diferenciada das demais trazidas neste plenário, ao longo dos dias, é distinta, pois busca analisar o impacto que a proteção à propriedade intelectual traz para o acesso a medicamentos.

Assim, nesta discussão sobre o Sistema Único de Saúde e a obrigação do Estado de custear prestações de saúde de alto custo, queremos inserir um tópico sobre o porquê dos altos preços cobrados por estes serviços, especialmente no que se refere a medicamentos essenciais.

O maior problema apontado pelos gestores de saúde nas diversas ações em trâmite perante este Supremo Tribunal Federal, como também neste plenário, é a escassez

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de recursos públicos e a necessidade de sua alocação da forma mais eficiente possível. Dessa forma, a análise dos preços que o Poder Público paga pelos serviços de saúde e o impacto da proteção à propriedade intelectual nestes preços é imprescindível na busca de soluções sustentáveis para o acesso às prestações de saúde de alto custo pela população brasileira.

Neste sentido, é importante frisar que a proteção patentária a medicamentos apenas se dá, no Brasil, a partir de 1996, com a edição da Lei de Propriedade Industrial, Lei n. 9.279/96.

A referida Lei 9.279/96 é fruto do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (chamado de Acordo TRIPS), do âmbito da Organização Mundial de Comércio – OMC. Por este acordo, todos os países passaram a patentear várias matérias, dentre elas, medicamentos com a mesma itensidade. O sistema de proteção à propriedade intelectual constitui, em si próprio, contrário ao princípio da livre concorrência, pois autoriza o privilégio de exploração em monopólio, em oposição a terceiros.

Tal contradição, permitida

constitucionalmente, só é cabível pela expectativa de que, com tal proteção e privilégio de exploração, seja atingido e fomentado o interesse público e social através da pesquisa, desenvolvimento e principalmente da inovação.

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Ocorre que esse sistema tem funcionado de maneira deficitária e muito aquém do desejado, para não dizer em completa falência.

O que se percebe atualmente é que o privilégio de exploração advindo da proteção não tem gerado mais inovação, tampouco tem servido ao desenvolvimento econômico industrial, ou do interesse público, nos termos do inciso XXIX do artigo 5º de nossa Constituição Federal.

Veja-se, como um dos exemplos, a completa ausência de pesquisa para medicamentos como malária e doença de chagas, que tanto assolam o Brasil. Tais doenças são negligenciadas pelo setor industrial farmacêutico por razões essencialmente comerciais: são doenças de pessoas pobres, em países pobres e miseráveis, nada interessantes enquanto clientes do setor.

Excelentíssimo Presidente, de fato, não se percebe o impacto que a proteção intelectual tem na efetiva inovação e no desenvolvimento industrial. Tanto o contrário. Dados expostos, na semana passada, em evento do Ministério das Relações Exteriores, demonstram que, no Brasil, em 1994, os investimentos na área farmacêutica caíram de 91 milhões de dólares, e agora, pós-lei e incentivo a esse investimento, os investimentos caíram para 37 milhões de dólares, segundo as Nações Unidas.

Ao contrário da inovação, que se percebe e comprova é o impacto da proteção intelectual, das patentes,

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no acesso à saúde no Brasil, saúde aqui compreendida também enquanto assistência farmacológica, tal como demanda o princípio da integralidade dos serviços de saúde em nossa Constituição Federal.

Esta audiência foi convocada por Vossa Excelência em razão, especialmente, de inúmeros pedidos de suspensão de liminar em trâmite na Presidência deste Egrégio Supremo Tribunal Federal.

A discussão tem sido pautada, nas decisões e ao longo desses dias, primordialmente, entre a prestação de serviços e medicamentos de alto custo versus recursos naturalmente escassos do sistema de saúde.

Neste cenário, as questões que colocamos são:

Por qual motivo o custo dos medicamentos é tão alto?

Por que os gestores de saúde não analisam, antes de recusar o fornecimento de um medicamento de alto custo, as possibilidades de reduzir o preço?

A resposta que indicamos é de que a atual conformação do sistema de proteção à propriedade intelectual aumenta o preço e não incentiva a inovação. E de que a indústria farmacêutica, infelizmente, pratica uma atividade essencial de maneira predatória.

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Acreditamos que este enfoque, em que o cerne da questão se volta para o motivo do alto custo, pode auxiliar este Egrégio Supremo Tribunal Federal a desvendar este dilema.

Trazemos para conhecimento deste Tribunal dados e estudos voltados a identificar justamente o impacto da proteção intelectual nos preços e acesso aos medicamentos. Estes estudos demonstram que, assim que a patente expira, há uma drástica redução no preço dos medicamentos.

Nos Estados Unidos, fez-se uma ampla pesquisa, inclusive angariada pelo próprio governo, onde se identificou que o produto genérico, que entra no mercado, assim que expira a patente, representa 43% do medicamento de referência enquanto vige a patente.

No que se refere ao tratamento da AIDS, reconhecido como um bom exemplo, o preço da terapia tríplice de primeira linha (estavudina, lamivudina e nevirapina) caiu de mais de 10.439 dólares por paciente/ano, em 2000, para menos de 90 dólares por paciente/ano em 2008, justamente devido à concorrência dos medicamentos genéricos no sistema.

Este gráfico produzido pela organização Médicos Sem Fronteiras aponta a queda do preço da terapia tríplice ao longo da vigência da patente. Ou seja, uma redução de mais de 99% no preço do tratamento, possível

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devido ao fato de estes medicamentos não estarem protegidos por patentes em determinados países, o que permitiu aos laboratórios farmacêuticos locais a produção de versões genéricas.

Neste outro gráfico, trazemos, apenas a título de ilustração, a diferença do preço pago pelo Brasil por um medicamento protegido por patente e o menor preço internacional, em versão genérica.

O medicamento Glivec, utilizado no tratamento do câncer, apresenta uma diferença exorbitante, custando, no Brasil, 30 mil dólares por paciente/ano e o menor preço internacional – quer por levantamento da própria organização mundial da saúde ou por Médicos sem fronteiras, é de 1600 dólares por paciente ano, na sua versão genérica.

Outro exemplo emblemático do Brasil é o caso do medicamento Efavirenz, objeto de uma licença compulsória em maio de 2007.

Na época, o medicamento era comercializado por cerca de R$ 3 por comprimido, representando um total de R$ 90 milhões, por ano, de gasto do SUS.

O Brasil, após a licença compulsória, passou a comprar uma versão genérica produzida na Índia, ao preço de R$ 1 por comprimido, um terço do preço anteriormente pago. Com a aquisição do genérico indiano, a economia inicial superou R$ 60 milhões por ano.

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Em janeiro de 2009, foi anunciada a produção nacional do medicamento pelo laboratório público Farmanguinhos, que será comercializado ao preço de R$ 1,35 por comprimido, 45% do preço praticado pela detentora da patente

O governo estimou que a economia de recursos públicos, só com esse medicamento, com essa licença compulsória, seria de mais de US$ 235 milhões de reais, nos anos de 2007 a 2012, período de vigência da patente do medicamento Efavirenz.

Por fim, o exemplo das patentes pipeline, ou patentes de revalidação, que foi uma forma da lei brasileira de possibilitar proteção retroativa para objetos patenteados fora do país e já em domínio público Brasileiro, representando de fato uma violação à nossa Constituição.

Fizemos um estudo para estimar a dimensão do prejuízo hipotético causado pela adoção do mecanismo pipeline no Brasil. Selecionamos cinco medicamentos antiretrovirais, que têm essa proteção da patente pipeline, e fizemos os custos da sua aquisição pelo Sistema Único de Saúde, através dessa proteção. Chegamos ao valor, por exemplo, estimando as compras ocorridas entre 2001 e 2007, de uma ordem de US$ 420 milhões e US$ 519 milhões a mais, do que se o País tivesse não protegido essas matérias e tivesse comprado a versão genérica desses medicamentos.

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Este gráfico demonstra a diferença entre o menor preço internacional e o pago pelo Brasil em medicamentos com patentes pipeline, que sequer deveriam possuir proteção no Brasil.

Está em trâmite, neste Egrégio Supremo Tribunal Federal, a ADI 4.234, Relatora Ministra Cármen Lúcia, proposta pelo PGR com base em representação feita por diversas organizações da sociedade civil, pedindo a inconstitucionalidade da lei de propriedade industrial nesse tipo de proteção de patente.

Entreguei a Vossa Excelência, Ministro Presidente, uma opinião consultiva do Relator das Nações Unidas para o Direito à Saúde, Senhor Anand Grover, feita especialmente para esta Audiência Pública. Ela irá como anexo aos memoriais que apresentam mais detalhes dessas pesquisas e dos custos dos medicamentos.

Ele respondeu prontamente à pergunta e suas respostas referem-se, também, ao tema apresentado agora em relação ao impacto da patente e o papel do Judiciário.

Para concluir, trago 5 pontos fundamentais: 1) O primeiro é de que o medicamento deve ser tratado de forma diferenciada, quando da sua proteção patentária, e não como qualquer outra mercadoria, tal como ocorre hoje em dia;

2) O segundo ponto é de que, sem sombra de dúvidas, a proteção intelectual impacta o preço do

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medicamento e, consequentemente, em seu acesso, que é, de fato, a discussão dessas audiências públicas;

3) O terceiro ponto é de que a proteção intelectual não necessariamente traz inovação – ou não como se havia prometido trazer - ou desenvolvimento econômico e tecnológico para o País, não justificando mais o nível de proteção que tem para o privilégio de exploração já que não traz a inovação pretendida ou a atenção ao interesse social dos países, especialmente os consumidores de tecnologia;

4) O quarto ponto - que é central - desta tese é o de que, nesta muito relevante discussão sobre serviço de saúde, Judiciário e recursos escassos, pode-se analisar a manutenção da integralidade e universalidade dos serviços de saúde pelo viés da redução de custo, através do uso legítimo de flexibilidades e limitações à proteção intelectual, como a licença compulsória, exemplo já tratado anteriormente, ou até previamente ao sinalizar a concessão de patentes para medicamentos essenciais e necessários à nossa população;

5) E, por fim, o quinto ponto é de que, neste cenário de uma Constituição generosa e de um País com recursos escassos, o Judiciário, ativo, independente e transparente, uma vez desafiado a pronunciar-se sobre essas questões, não deve se furtar a fazer valer a Constituição para todos e para cada um, impondo aos gestores públicos o

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dever, ou, ao menos, o constrangimento e o desafio de analisar o tema do acesso a medicamentos em sua completude, adotando não só políticas de saúde, mas, também, políticas industriais e econômicas que façam dos direitos sociais algo mais que um mero enunciado ou, nos dizeres dessa própria Corte, de uma mera promessa constitucional inconsequente.

Referências

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