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MASCARADOS A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS ADEPTOS DA TÁTICA BLACK BLOC

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Academic year: 2021

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MASCARADOS – A VERDADEIRA HISTÓRIA

DOS ADEPTOS DA TÁTICA BLACK BLOC

Angélica Bicego Ferreira

Universidade Federal de Minas Gerais

angelicabicegof@gmail.com Diana Kalazans

Universidade Federal de Minas Gerais

dianarkr@hotmail.com

A socióloga Esther Solano e os jornalistas Bruno Paes Manso e Willian Novaes, foram convidados do Programa do Jô e, os dois primeiros para o programa Pânico, da rádio Jovem Pan em outubro de 2016 para falarem sobre seu livro “Mascarados - A Verdadeira História Dos Adeptos da Tática Black Bloc” Entretanto, ambas entrevistas geraram polêmicas, já que os apresentadores demonstraram não terem lido o livro, pois o discutiram com superficialidade e reproduziram preconceitos relacionados ao assunto, os quais foram desmistificados ao longo do texto.

Tal temática tomou primazia no discurso brasileiro durante um período de manifestações no país, no qual os autores acompanharam de perto entre agosto de 2013 até a Copa de Mundo de 2014. Os jovens adeptos da tática Black Bloc eram vistos de forma negativa frente a imprensa nacional principalmente por usarem capuzes e blusas pretas, picharem o muro da Prefeitura, jogarem molotv em agências bancárias e virarem carro de polícia.

Livre de preconceitos, os autores mergulham no universo dessas manifestações, conversam com seus atores para apurar, compreender e interpretar os fatos da forma mais pura possível e trazer ao leitor uma maneira de pensar para além do ponto de vista parcial e manipulado da mídia jornalística.

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Já no início e ao longo do livro é ressaltado e endossado a importância de ouvir e colocar em diálogo os dois lados da história, cada um com a sua voz, como sugere o trecho “[...] prestar atenção nas palavras de todos. Entender. A verdade, se existe, tem muitas vozes” (p.11).

Para apresentar essa visão, o livro foi divido em quatro partes, sendo a primeira, intitulada “A Pesquisa”, de Esther Solano Gallego, professora da UNIFESP, que se propôs a pesquisar as motivações dos adeptos da tática Black Bloc. A segunda parte, “O Jornalista”, tem a autoria de Bruno Paes Manso, jornalista e diretor da Geração Editorial, e traz uma reflexão acerca do papel da imprensa. Na terceira parte, nomeada de “Os Manifestantes”, o economista e jornalista o Wiliam Novaes realizou sete profundas entrevistas com os jovens manifestantes d tática tentando traçar o perfil por trás de cada máscara e história. Já a quarta parte, “O Policial Coronel Reynaldo”, que consiste na entrevista do policial militar Rossi sobre o episódio no qual foi agredido por membros da táticaBlack Bloc. E por último, um posfácio por Pablo Ortellado, professor da Escola Belas Artes, Ciências e Humanidades da USP no qual apresenta um panorama histórico do movimento Black Bloc pelo mundo.

Esther Solano foi a campo nas manifestações e confrontos durante um ano, observando, perguntando, dialogando e conversando com diversos jovens para compreender o significado dos atos violentos e interpretar as vozes desses manifestantes. A partir de entrevistas, nos mostra alguns dos diferentes perfis presentes na manifestação, porém com as mesmas motivações. A autora analisa o momento que os Black Bloc apareceram nas manifestações do Brasil, já que, historicamente, é um movimento autonomista da Alemanha, presente nos anos 1980 pelas lutas antiglobalização e contra a Organização Mundial do Comércio e o G8 em outros anos em diferentes países. Pelas entrevistas, os ativistas adotaram a tática posteriormente às manifestações de junho de 2013, ao constatarem que as reivindicações vindas de protestos pacíficos não foram

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atendidas e, também, como reação da truculência policial contra os manifestantes. Diante disso, apresentaram em seu relato a radicalização como a última saída e utilizaram-se da internet, principalmente do Facebook, para convocar, organizar e difundir os eventos e também para fortalecer a identidade coletiva Black Bloc.

A tática tem a violência como espetáculo, uma forma de chegar nas primeiras capas de jornais e revistas pelo mundo e assim criarem a oportunidade de denunciar o descaso público e o abuso da polícia. Já o vestuário e o rosto coberto de preto têm o objetivo de constituir uma identidade coletiva, sem dar importância para as diferenças, e sim salientar as ideias em comum.

Para eles, a violência institucional é muito maior comparada com a qual eles promovem, tanto que as consideram “vandalismo simbólico”. Porém, apesar de toda essa união, eles possuem seus conflitos, já que dentro da tática há quem acredite na necessidade de mais diálogo e estratégia a fim de evitar conflito e violência e há quem aspira uma ação ainda mais direta, com mais quebradeira e agressividade, geralmente, os mais novos.

Para finalizar, Esther Solano faz um breve resumo de seus sentimentos ao longo dessa pesquisa de um ano e analisa mais criticamente essa relação dos jovens, a violência e a Polícia Militar, que ao mesmo tempo são frutos do sistema, mas que se valem da autorização institucional para matar todos os dias nas periferias.

Já na segunda parte, o jornalista Bruno Paes Manso consegue esclarecer o momento de forma a explicitar o quão surpreendente foram as reações dos movimentos de junho de 2013. Para a imprensa, se tratava do cotidiano realizar reportagens e acompanhar às manifestações de jovens insatisfeitos, todavia ninguém esperava que dessa vez seria tão notável quanto foi.

Influenciados pelos movimentos que iniciavam em Salvador, Bahia (2003), pelo aumento das passagens de ônibus – “Revolta do Buzú” -, os jovens

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começaram a se organizar e no ano seguinte, em 2004, ocorreu o mesmo em Florianópolis, Santa Catarina. Em 2005, o Movimento Passe Livre foi formado no Rio Grande do Sul, cidade de Porto Alegre, com uma nova proposta de fazer política e de pensar o convívio nos grandes centros urbanos, analisando a mobilidade e questões da globalização. Posteriormente, o movimento ganhou maior propensão e adesão em São Paulo e esteve na linha de frente das mobilizações emergentes de 2013. Antes de 2013, manifestações até ocorriam e incomodavam, porém não era algo que reverberasse na mídia como um assunto dos mais relevantes.

O diálogo com os anarquistas e adeptos das táticas Black Bloc não era novidade. O que surpreendeu a imprensa foram as novas estratégias de ação, o grande número de adesões e o bom planejamento político, articuladas através das redes sociais, pois não deram pausas que permitissem ações governamentais. A tática Black Bloc testemunhada por Bruno mostrava um espírito de ousadia e raiva. Jovens indo ao encontro da polícia para o confronto direto, quebrando vidraças e bancos e colocando fogo em carros.

Com a intensificação das pichações, quebra das fachadas e de fogo, o governo acabou cedendo à demanda dos manifestantes e reviu o valor da passagem de ônibus. Essa vitória espalhou o processo por todo Brasil e a população de 353 cidades foi às ruas para exprimir suas mensagens de protesto em cartazes com as mais diversas reivindicações. Assim, a novidade Black Bloc foi um coadjuvante que fomentou total diferença na intensificação do processo e também aderiu pós violência policial. A indignação mobilizou ainda mais, o que para o jornalista Bruno Paes, parecia um “estouro de boiada”, culminando em mais de um milhão de pessoas no dia 20 de junho de 2013, nas ruas, por todo o Brasil.

Várias demandas foram apresentadas e partidos políticos foram expulsos das manifestações. Uma grande diversidade de grupos estava questionando a

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qualidade da democracia, a forma de enxergar e posicionar-se frente aos problemas do país também havia mudado. Entender as razões pelas quais levaram os jovens assumirem tal posição e agiram dessa forma foi fundamental para refletir sobre aquele momento do Brasil. “Os adeptos da tática Black Bloc que passaram a engrossar os protestos queriam colocar seu ódio nas ruas. Mais do que ligada à uma estratégia política como a do MPL, que provocou a queda da tarifa de ônibus, a segunda geração dos adeptos da tática Black Bloc parecia, acima de tudo, interessada em apavorar o sistema” (p.184).

Willian Novaes traz a visão dos manifestantes dando voz aos atores desse capítulo histórico, proporcionando aos mesmos a oportunidade de se expressarem e mostrarem a sua verdade perante ao ocorrido. O autor percebe, sobretudo que esses jovens passam despercebidos em meio à multidão quando não estão em confronto direto durante as manifestações. Protegidos por nomes fictícios eles contam suas histórias e trazem a humanização a essas pessoas que poderiam ser alguém que conhecemos. Contam suas razões e o que os impulsionaram a aderir a essa tática.

Os depoimentos e entrevistas de sete jovens trazem consigo as mais variadas histórias e vivências que desembocam em um mesmo objetivo, de reivindicar e se fazer ouvir de uma forma bem contundente. “A população dá mais valor para o bem material do que para uma pessoa. Então essa é nossa tática, provocar o debate por meio da quebradeira” (p. 196). Com perfis que oscilam entre a coragem e a timidez, a religiosidade e as filosofias teóricas de grandes pensadores, os privilégios da elite e as mazelas de sofrer preconceito e racismo; eles se partilham da mesma tática para demonstrar suas insatisfações. “Não creio que exista uma revolução sem caos, sem combate. A minha vida transformou com a tática Black Bloc” (p. 252).

A última parte refere-se ao caso do Coronel Reynaldo Simões Rossi que foi agredido “a socos, pontapés, golpes com pedaços de madeira e outros meios

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encontrados por adeptos do movimento Black Bloc” (p. 263) no dia 25 de outubro de 2013 na região central de São Paulo.

Na entrevista concedida por e-mail, após a autorização do Comando, o coronel responde sobre suas visões sobre a tática e posições da PM frente a alguns questionamentos sobre a truculência policial. Sob um discurso burocrático de linguagem militar, muitas vezes suas respostas foram confundidas com o posicionamento da corporação, mas em síntese, a polícia faz o que pode para proteger a população, mesmo diante da precariedade do sistema.

Compreender as várias faces de um fato é ter a responsabilidade com o ocorrido e com a verdade. Toda história é um prisma e tem vários lados. É preciso averiguar cada um deles para que se possa constituir uma análise coerente, munida de todos os argumentos possíveis.

A realidade dos Black Bloc foi levada a sério nesses registros e conhecer os atores que fizeram parte do movimento e das manifestações, entender seus motivos e aceitar a importância de suas ações - ainda que julgadas como controversas e dividindo opiniões - é fundamental para construir um pensamento crítico e elaborar a nossa linha do tempo da história de forma fidedigna.

O livro se enquadra num caráter jornalístico e a leitura é de fácil leitura. Sua relevância está em proporcionar a oportunidade de conhecer os fatos num contato mais direto possível, sendo uma fonte para futuras pesquisas sobre assunto. Além disso, nos dá mais visões para que possamos avaliar e refletir sobre esses acontecimentos tão significativos que foram as manifestações de 2013. Conhecer nossa realidade é um grande passo para traçar os caminhos do futuro.

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Referências

SOLANO, Eshter; MANSO, Bruno Paes; NOVAES, Willian. “Mascarados: A verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc”. São Paulo: Geração Editorial, 2014.

Referências

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