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A História do Jornalismo Opinativo como Gênero 1. Rodrigo MENDONÇA 2 Universidade Federal do Pampa, São Borja, Rio Grande do Sul Joseline PIPPI³

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A História do Jornalismo Opinativo como Gênero1

Rodrigo MENDONÇA2

Universidade Federal do Pampa, São Borja, Rio Grande do Sul Joseline PIPPI³

RESUMO

Neste trabalho, veremos um compacto da trajetória histórica que o jornalismo opinativo percorreu no Brasil, tendo como fundo a própria evolução do jornalismo no país. Também traremos algumas discussões quanto às especificidades do gênero e outras inferências sobre ele, observando que desdobramentos levaram a uma atual baixa de produção de material opinativo, principalmente na opinião jornalística impressa.

PALAVRAS-CHAVE: História; Jornalismo; Opinião.

INTRODUÇÂO:

Os primeiros registros de atividade jornalística que temos referências datam de uma perspectiva histórica bastante recente e estão ligados a processos de modernização e avanço tecnológico, como o desenvolvimento da prensa móvel no ano de 1440 por Johannes Guttenberg.

Ainda assim durante esse período o processo de produção jornalística não havia se intensificado e estava diretamente ligado a um papel ideológico e atrelado a questões de propagação de conceitos e teorias políticas, não necessariamente a transmissão de informações utilitárias.

A produção era relativamente pequena e destinada a uma aristocracia detentora de recursos financeiros para empregar neste tipo de produto, reproduzindo o modelo de produção voltado para uma classe de consumidores bastante restrita que detinha não só o domínio sobre os bens consumidos como também sobre a informação e cultura.

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A História do Jornalismo Opinativo Como Gênero. Trabalho apresentado no 4º Encontro do Núcleo Gaúcho de História da Mídia – ALCAR RS

2 Bacharel em Comunicação Social Habilitação Jornalismo; Pós-graduando em Imagem, História e Memória das

Missões; Educação para o Patrimônio. Acadêmico do Curso de Comunicação Social Habilitação Relações Públicas com Ênfase em Produção Cultural pela Universidade Federal do Pampa. rodrigomendonca_sb@hotmail.com

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Os primeiros movimentos de crescimento das publicações periódicas ocorreram ainda antes da revolução industrial com o crescimento das escolas superiores nas grandes cidades de grande importância comercial, fato o que levou a Europa a apropriar-se e difundir essa tendência em transmitir informação através dos impressos.

Nessa fase as publicações tinham periodicidade variável, e somente em 1650 foi publicado o primeiro jornal impresso diário. O crescimento dessas publicações avançou muito desde esse período, mas foi apenas no século XVIII que a América Latina começou a produzir jornalismo.

O modo como compreendemos jornalismo hoje advêm do avanço jornalístico ocorrido a partir do século XIX. Traquina (2005) salienta que foi nessa época que a imprensa, o primeiro mass media se consolidou.

Isso foi possível graças à crescente popularização pela qual os jornais impressos passaram desde o século XVII, quando os políticos descobrem seu poder como ferramenta de difusão ideológica. Com uma produção ainda maior e crescente no século XIX, os jornais já podiam contratar funcionários e passam a incorporar um caráter comercial a produção jornalística.

Essa nova fase exigiu também uma adaptação dessa produção para que se justificasse a necessidade do maior consumo de impressos. Para atender essa necessidade é possível observar nesse período uma mudança de conteúdo dos jornais que deixa de produzir matérias exclusivamente ligadas a ideologias políticas introduzindo material mais informativo às suas páginas como nova tendência jornalística.

Descobre-se que esse novo conteúdo, a informação (utilitária ou de interesse público), é vendável e lucrativa. Os jornais passam por uma revisão de seus conteúdos e outros começam a surgir nascidos sob esse novo viés, momento em que acaba surgindo, conforme Traquina (2005), alguns dos fundamentos básicos do nosso pensamento atual sobre jornalismo, como a notícia, a independência, a busca pela verdade, o ideal de objetividade e a postura do jornalismo como um serviço público.

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Durante o século XIX, sobretudo com a criação de um novo jornalismo - a chamada penny press – os jornais são encarados como um negócio que pode gerar lucros, apontando com objetivo fundamental o aumento das tiragens. Com o objetivo de fornecer informação e não propaganda, os jornais oferecem um novo produto – as notícias, baseadas nos “fatos” e não nas “opiniões”. (TRAQUINA, 2005, p.34.)

A demanda desse novo tipo de jornalismo toma uma proporção muito grande o que leva a estruturação das primeiras agências especializadas na captação de notícias, estas por sua vez seguem suas rotinas produtivas até a atualidade, captando informações pelo mundo e as vendendo para os jornais.

Esses fenômenos apontam para um novo modelo - ou paradigma como sugere Traquina (2005) - o da informação, que é assimilado pelos jornalistas como o novo foco da sua produção, desprezando as questões ideológicas, que orientaram até então o caráter opinativo e propagandístico dos jornais.

Mesmo com a produção do farto material de caráter opinativo, é importante lembramos que a opinião produzida até então não era de cunho jornalístico, figurava sim nas páginas de jornal porque respondia aos interesses dos proprietários e patrocinadores, de forma menos institucionalizada como ocorre hoje quando esta opinião está orientada pela natureza da empresa embasada por um lastro factual.

Aos poucos, os jornais puderam se desvincular dos partidos políticos, principais fontes de fomento para a produção jornalística até então. Com isso ganharam autonomia e começaram a empreitar a favor da ampliação e expansão das publicações, rumo a uma produção mais elaborada e com novas diretrizes de produção, com maior autonomia financeira para subsidiar sua produção.

Essas diretrizes se consolidaram até a atualidade especialmente no Brasil aonde o jornalismo chegou de forma tardia, o ideal informativo de objetividade e imparcialidade (sobretudo o de não opinião) se fez perfeitamente adequado à nova forma de produção jornalística que passava a atender uma massa leitora.

Com isso se ganhou muito em relação ao espaço de atuação do jornalismo, se profissionalizou a atividade e especializou a produção levando uma maior qualidade

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técnica em todos os aspectos aos impressos numa tendência cada vez maior e mais freqüente desde a I Guerra Mundial.

Com o avanço tecnológico ocorre também o surgimento das novas mídias como o rádio, a televisão e mais recentemente os veículos virtuais. O impresso continua tendo grande importância na divulgação de informação e passou por outras alterações em relação ao conteúdo, se direcionando ainda mais para o enfoque informativo com uma postura investigativa e de aprofundamento das notícias que são apresentadas mais superficialmente por outros mass media.

A opinião passou a ser produzida para atender a necessidade de posicionamento das empresas de comunicação, mas ao mesmo tempo ficou relegada a espaços bastante pequenos nos impressos e a apreciações esporádicas nos outros veículos. Talvez, atualmente com a expansão do jornalismo de web (ou on line, como for mais consensual), o jornalismo de opinião esteja ganhando outro espaço de consolidação em blogs e outras formas de publicação virtual.

Porém, retomando nossa discussão, um dos fatores que acabou reduzindo a produção de opinião nos jornais que atualmente estão mais restritos a espaços pequenos ou a momentos em que a empresa de comunicação precisa expressar sua opinião sobre algum assunto de domínio e interesse público.

Outro aspecto relevante para a pequena presença da opinião nos periódicos é o fato desses espaços serem frequentemente ocupados pelos colaboradores do jornal e não por profissionais da comunicação, sobretudo os jornalistas. É comum, por exemplo, médicos escreverem sobre saúde, advogados sobre os direitos sociais, enfim, profissionais de todas as áreas usarem espaços determinados dentro da construção gráfica do periódico.

Quando este trabalho não é feito pelos colaboradores é relegado aos jornalistas de grande personalidade e muito conhecidos publicamente, que exatamente por esse motivo acabam sendo lidos com uma espécie de “devoção” por seus leitores, que dificilmente analisam de forma critica suas opiniões.

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Não existe hoje uma preocupação muito formal ou presente com o espaço do jornalismo opinativo, sobretudo em empresas menores, porque ele tende a ser percebido como espaço de livre expressão de seus autores, o que não corresponde à legitimidade desse gênero como ele se propõe teoricamente.

Jornalismo opinativo está ligado à análise que os profissionais são capazes de produzir em cima do seu arcabouço de informações, reunidas e compiladas durante o exercício de sua profissão, bem como no exercício do espírito crítico que deve ser qualidade inerente a quem pretenda trabalhar com informação.

Claro que os diferentes núcleos emissores de opinião de um jornal podem divergir, e isso deve ser frequente sendo uma prática saudável, a exposição dessas variações opinativas podem mostrar ao leitor credibilidade e capacidade de aglutinação de conceitos diferentes, sobretudo em contextos políticos ditos democráticos.

Nesse sentido é que o jornalismo brasileiro tem uma fisionomia entrecortada por múltiplas diretrizes, algumas convivendo contraditoriamente no estilo que nos trouxeram os portugueses, outras que nos chegaram através dos processos de comunicação intercultural implícitos nos movimentos migratórios, e também daqueles que emergiram das situações de dependências que incluem no seu bojo alterações simbólicas fundamentais. (MELO, 2003, p.178.)

Esse casamento de núcleos que convergem e divergem sobre os mais diferentes aspectos precisa se representar através de opiniões capazes de sintetizar os interesses de todos os constituintes da voz do veículo informativo, mas nem sempre se consegue esse resultado de forma satisfatória ou suficientemente clara.

Tentaremos pinçar em nossa análise alguns pontos importantes sobre a prática legitima do jornalismo opinativo e visualizar como está sendo utilizado pelos diferentes veículos, mas como nosso fio condutor, atentaremos para o jornalismo impresso, onde a produção de opinião se dá de forma mais frequente.

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A comunicação entre os seres humanos é um instrumento fundamental desde os tempos mais primitivos para viabilizar o convívio em sociedade e preservação da espécie. É considerado, um atributo inerente à natureza dos indivíduos humanos, como uma necessidade básica de existência para estes que são seres sociais.

Luiz Beltrão (1973), por exemplo, desenvolve um estudo onde traça uma ligação entre os processos naturais de evolução como mecanismos interligados por informação que se tornam mais complexos e variados à medida que os seres vivos também ganham complexidade em suas formas de ser e existir. Não afirmo que os conceitos apresentados por este autor são os mais apropriados para quem pretende aprofundar um estudo sobre comunicação, mas certamente não posso desprezá-lo nessa pesquisa, sobretudo porque conceitua de forma bastante significativa o termo comunicação, principalmente quanto à importância dela na sociabilidade humana.

Ao ser animal, dotado da capacidade de agir, não basta a informação biológica e a expressão somática para sobreviver e perpetuar a espécie: necessita ele de outro ser idêntico, tanto para a procriação como para a realização de outras funções. Por isso, são seres sociais, e entre si devem intercambiar informações para alcançar os seus objetivos. A esse intercâmbio de informações visando a uma ação conjunta é que se denomina comunicação. (BELTRÃO, 1973, p.26.)

Com a evolução dos estudos da comunicação muitos outros conceitos surgiram, mas foi a partir deste que, começou a se desenvolver as primeiras teorias comunicacionais aplicadas do país. Foi a partir das compreensões de Beltrão (1973) que se conseguiu abrir a produção teórica brasileira sobre a comunicação, em especial sobre o jornalismo.

Apesar da história do jornalismo no Brasil ser remota ao fim do século XVIII e começo do século XIX, com publicações clandestinas de periódicos e mais tarde com o primeiro jornal oficial do país, A Gazeta do Rio de Janeiro (1808), essas publicações não eram respaldadas em suportes teórico-comunicativos específicos sobre jornalismo ou mesmo sobre comunicação como área de conhecimento.

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Foi somente em 1947 que o Brasil conseguiu iniciar seu primeiro curso superior em Jornalismo, na Fundação Cásper Líbero, na cidade de São Paulo, o que começou a mudar a tradição do jornalismo que até então era instrumento e produto essencialmente político ideológico. A partir de então começou a se pensar nas questões básicas sobre a teoria envolvida na prática do jornalismo que começa desde esse momento a caminhar pelo viés informativo.

Segundo Traquina (2005) o primeiro desafio a ser suprimido pelos pensadores e produtores do jornalismo foi definir o que de fato era esta nova área de conhecimento. Entretanto, mesmo hoje existem várias correntes de pensamento e vários conceitos que tentam definir o que é jornalismo, o que é recorrente em torno dos conceitos das ciências sociais. Esta recorrência se dá muito em função da própria natureza subjetiva dessas áreas do conhecimento, bem como em muitos casos, pelo pouco tempo de existência das mesmas.

De toda forma, Traquina (2005) aponta para alguns pontos convergentes nesses vários conceitos que definem jornalismo como uma prática criativa de comunicação que difunde para a sociedade, através de frações relevantes da realidade atual, histórias de interesse humano, a partir de uma narrativa muitas vezes construída em formato de enredo que permite sempre se acrescentar os novos elementos que surgem com o passar do tempo.

O mesmo teórico também propõe que as discussões sobre jornalismo possam sair do limite conceitual do que é jornalismo e adota o conceito de Pierre Bourdieu de “campo jornalístico” para desenvolver seus estudos.

Para recapitular, a existência de um “campo” implica a existência de 1) um número ilimitado de ”jogadores”, isto é, agentes sociais que querem mobilizar o jornalismo como recurso para as suas estratégias de comunicação; 2) um enjeu ou prêmio que os “jogadores” disputam, nomeadamente as notícias; 3) um grupo especializado, isto é, profissionais do campo, que reivindicam possuir um monopólio de conhecimentos ou saberes especializados, nomeadamente o que é noticia e sua construção. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu, o campo é um “espaço social estruturado, um campo de forças”. (TRAQUINA, 2005, p.27.)

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A preocupação em abrir a discussão específica do jornalismo para o conceito de “campo jornalístico” significa um avanço nos estudos da comunicação segundo a racionalização de Traquina (2005), visto que dessa forma a discussão em torno dos conceitos jornalísticos fica mais palpável no momento em que definimos os agentes e espaços do jornalismo, saindo assim da pura abstração para problemas concretos. Essa definição de espaços de atuação neste “campo de forças” contribuiu para que hoje possamos afunilar nossa margem de trabalho.

Desta forma é possível que hoje possamos compreender que existem mais interessados na produção jornalística do que o dono da empresa, e principalmente compreender que o jornalismo na atualidade faz parte de um conglomerado comunicacional ligado na maioria das vezes a outros campos de atuação, como a propaganda, a ficção e o entretenimento.

Quanto aos gêneros jornalísticos, compreendemos que são desdobramentos de grandes segmentos ou categorias do jornalismo que são: informação e opinião. Essas categorias ou segmentos, bem como suas subdivisões estão diretamente ligados à teoria da literatura que propaga a necessidade de uma segmentação dos formatos para que através de uma classificação se possa compreender de forma mais clara a produção de cada gênero específico.

OS GÊNEROS E SUBGÊNEROS DO JORNALISMO

Pressupondo que a segmentação dos gêneros jornalísticos tenha sido levantada de maneira pertinente até aqui, conduzo essa analise mais diretamente aos conceitos relativos ao jornalismo de opinião. Para isso é preciso compreender que informação e opinião estão envolvidos por dois fatores principais descritos por Marques de Melo (2003).

O primeiro fator é referente à questão profissional, visto que é a partir das liberdades e restrições profissionais que o jornalista atuará, estando ligada a isso sua liberdade para informar (de forma mais fiel possível) os fatos que noticiará bem como sua autonomia ou não para exercer a opinião.

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O segundo fator é referente à questão política, Marques de Melo (2003) ressalta que em cada momento histórico o jornalista precisa conviver com determinadas situações, inerentes a como está constituída a atmosfera política. Sendo assim, pode em muitos momentos ter de se balizar por ela para adaptar sua prática, lembrando que não no sentido de corroborar essa atmosfera, mas sim no sentido de, conhecendo-a, buscar alternativas para exercer seu trabalho com comprometimento e desvencilhado da censura.

Ainda sobre este segundo fator é importante apontarmos para a necessidade de muitas vezes se fazer uso do espaço destinado à informação para, através de recursos narrativos e/ou estilísticos, poder se difundir uma idéia, opinião, sendo que por vezes não é possível se fazer isso nos espaços formais da opinião jornalística em vista dos variados contextos políticos, históricos e sociais.

Sob a influência desses dois fatores foram se construindo as duas principais categorias jornalísticas admitidas, ou aceitas hoje entre os teóricos da comunicação, mas existem outras categorias que também devem ser reportadas nesse estudo, como o jornalismo interpretativo e o diversional.

Cremilda Medina (2008) foca a questão do jornalismo interpretativo como sendo uma importante porção do nosso jornalismo, pois corresponde às grandes reportagens, e à análise em profundidade mais detalhada dos fatos e acontecimentos, Marques de Melo (2003) reconhece essa importância em seu trabalho onde faz referência à autora.

Já a última categoria citada, o jornalismo diversional, apesar de não ser defendido tão veementemente pelos teóricos muitas vezes aparece nas divisões propostas e refere-se a uma categoria que oferece informação menos utilitária mais voltada para o entretenimento.

O fato é que ambas as categorias, interpretativa ou diversional são ramificações, variações consideráveis do gênero informativo, sendo que o único gênero opinativo costuma transmitir um caráter diversificado porque se permite ir além do limite da informação.

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Por essa capacidade de aglutinação de ideias as divisões propostas por Marques de Melo (2003) para os gêneros jornalísticos são hoje as mais consensuais no “campo jornalístico”, sendo facilmente visibilizados nos jornais impressos cotidianos.

As categorias às quais viemos nos reportando até aqui partem em princípio de dois núcleos de interesses citados por Marques de Melo (2003). Esses núcleos de interesse são informação e opinião, que dão a partir de si a orientação para que tipo de material jornalístico será produzido: descrição dos fatos no primeiro caso ou versão dos fatos no segundo.

O autor adotando esses núcleos de interesse, que agregam de forma mais conceitual a ordem de produção jornalística, sugere uma classificação de gêneros mais enxuta, entretanto, coerente com a prática profissional recorrente no país.

A divisão proposta por Melo ao jornalismo de informação se regula pela quantidade de informação que presta e a natureza do estado de acontecimento que essas informações representam.

Já o jornalismo de opinião tem sua produção diretamente orientada pelos chamados núcleos emissores. Esses núcleos são as vozes representativas presentes no corpo físico do jornal ou em seu contexto quanto empresa, assim são agentes da emissão de opinião: a) a empresa; b) o jornalista; c) o colaborador; d) o leitor.

Segundo de Melo, no Brasil a divisão do jornalismo se dá da seguinte maneira: A) Jornalismo Informativo:

Nota; Notícia; Reportagem; Entrevista. B) Jornalismo Opinativo:

Editorial; Comentário; Artigo; Resenha; Coluna; Crônica; Caricatura; Carta. Na produção do conteúdo de informação, estes elementos parecem estar mais bem definidos e são apreendidos pelos seus produtores com certa facilidade. Assim, os

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indivíduos responsáveis pela construção dos periódicos conseguem absorver na prática as distinções e limites que cada tópico acima representa.

É de senso comum para os jornalistas que o jornalismo informativo está desdobrado nos quatro subgêneros propostos adotando cada extensão de conteúdo como regulador de que tipo de informação é transmitido por cada um. Vejamos as especificidades das distinções propostas pelo autor para este gênero jornalístico em suas subdivisões:

A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e por isso é mais freqüente em rádio e televisão. A notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade. (MELO, 2003, p.65/66.)

Para o gênero opinativo o autor ressalta que muitas vezes a distinção se dá mais pela autoria e angulagem do que pela estrutura do material produzido. Por isso muitas vezes os textos opinativos são mais difíceis de se destinguirem tanto para quem escreve quanto para quem lê, por isso observemos à distinção proposta por Marques de Melo (2003):

O comentário, o artigo e a resenha pressupõem autoria definida e explicita, pois este é o indicador que orienta a sintonização do receptor; já o editorial não tem autoria, divulgando-se como espaço da opinião institucional (ou seja, a autoria corresponde à instituição jornalística).O comentário e o editorial estruturam-se segundo uma angulagem temporal que exige continuidade e imediatismo; isso não ocorre com a resenha e o artigo, pois o primeiro, embora freqüente, descobre os valores de bens culturais, e o segundo, embora também contemple fenômenos diferentes, não se caracteriza pela freqüência, aparecendo aleatoriamente. O que também aproxima a resenha do artigo é a circunstância de serem gêneros cuja angulagem é determinada pelo critério de competência dos autores na busca dos valores inerentes aos fatos que analisam. (MELO, 2003, p.66.)

Atentem aqui para as inúmeras minúcias que constroem as distinções entre um subgênero e outro, criando circunstancias que condicionam como fixas ou esporádicas a apresentação ou não de cada subgênero em uma publicação periódica. Nos veículos

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como rádio e televisão, o texto opinativo possui menos subdivisões, mas todas herdadas do jornalismo impresso.

Observem também que as mesmas circunstâncias podem aparecer em outra ordem logo na sequência onde o autor continua apresentando suas distinções.

Em relação à coluna, crônica, caricatura e carta um traço comum é a identificação da autoria. Já as angulagens são distintas. A coluna e a caricatura emitem opiniões temporalmente continuas, sincronizadas com o emergir e o repercutir dos acontecimentos. A crônica e a carta estruturam-se de modo temporal mais defasado; vinculam-se diretamente aos fatos que estão acontecendo, mas seguem-lhe o rastro, ou melhor, não coincidem com o seu momento eclosivo. Do ponto de vista da angulagem espacial, somente a caricatura estrutura-se articuladamente com o ambiente peculiar à instituição jornalística, ou seja, nutre-se daqueles valores que dão “espírito de corpo” à redação de um jornal, emissora ou revista. A carta distancia-se totalmente, reproduzindo o ângulo de observação de quem resgata o outro lado do fluxo jornalístico: o do receptor, o da coletividade. A crônica e a coluna incorporam a mediação com a ótica da comunidade ou dos grupos sociais que a instituição jornalística se dirige. (MELLO, 2003, p. 66/67.)

Com essa distinção Marques de Melo (2003) consegue de maneira bem ampla caracterizar cada subgênero opinativo, mas não fala sobre a estrutura narrativa de forma mais específica por que estas se alteram com o passar do tempo e conforme a carga estilística do jornalista, ou ainda da linha editorial do veículo.

A maior parte da produção jornalística impressa, assim como nas demais mídias atuais, é hoje essencialmente informativa no país. Por isso, a opinião nesses veículos precisa ser disposta de maneira distinta e em locais específicos, esse tratamento pode ser observado em ações elementares como o uso de marcas gráficas com a finalidade de evidenciarem estes espaços.

Estes recursos são bastante úteis e frequentes, mas não são garantias de que o leitor irá abstrair o que é conteúdo jornalístico ou opinião de colaboradores, fato corriqueiro ao observarmos que muitas vezes um colaborador de jornal, ao ser referenciado por seus leitores é por estes intitulado jornalista.

Estes espaços, sobretudo no jornalismo impresso são apresentados dentro de uma frequência que lhes configura um sentido de confiabilidade, porém a disposição

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destes espaços e a densidade desse tipo de texto não repercutem sobre os leitores da mesma forma que o conteúdo informativo, visto como mais utilitário pelos leitores.

Já em veículos como a televisão, por exemplo, onde a expressão opinativa nem sempre possui a mesma frequência, o modo como é transmitida a opinião e a visibilidade pública dos seus emissores (como já dissemos, geralmente muito conhecidos e respeitados pelo público) acabam produzindo uma sensação diferenciada no receptor destas mensagens, que acabam por vezes adotando essa expressão opinativa como opinião própria.

CONSIDERAÇÕES

As nuances do jornalismo de opinião são variadas, contudo não dão conta muitas vezes de atender os critérios jornalísticos exatamente por não serem produzidos por jornalistas.

A falta de abertura e estímulo para que os novos jornalistas possam produzir material opinativo também contribui para que o gênero não tenha tanta força quanto possuía antes da especialização e posteriormente a profissionalização do jornalismo bem como reflete na falta de interesse dos profissionais a se dedicarem a este gênero, sendo que precisam atuar em vários ramos dentro do jornalismo para poderem se manter no mercado.

Luiz Antonio Ferreira (2000) traz para discussão alguns aspectos importantes sobre a produção jornalística, discute a necessidade de se integrar a pratica profissional a emoção e a racionalização, e enfoca a necessidade de um espírito critico, não só aos antigos jornalistas, mas a todos que trabalham com informação, assim é possível que se crie desde cedo uma capacidade de leitura do mundo, do outro e da realidade em que estamos inseridos.

Isso é ponto fundamental na produção do jornalismo de opinião, e apenas com o crescimento de interesse dos profissionais da aérea por este filão da comunicação é que poderemos ter uma produção mais concernente às carências que o mercado possui nessa área.

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Preservar um gênero tão intimamente ligado com a origem da atividade jornalística também deve ser uma preocupação acadêmica e das próprias empresas de comunicação, incentivando e oportunizando aos novos profissionais subsídios que os encorajem a ingressar neste nixo da profissão, disponibilizando ao público espaços efetivos de produção de opinião jornalística competente.

REFERÊNCIAS:

BELTRÃO, L. Fundamentos Científicos da Comunicação. Brasília, Coordenada, 1973. FERREIRA, L. A. Intencionalidade, Jornalismo Opinativo e Leitura. Interface, Botucatu, volume 4, 2000.

MELO, J. M. Jornalismo Opinativo. 3ªedição revista e ampliada. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.

TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo, porque as notícias são como são. Florianópolis, Insular, 2ª edição. 2005.

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