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A CLIMATOLOGIA DOS GEÓGRAFOS E A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA: UM BALANÇO INICIAL 1

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1 Goiânia (GO)/UFG

A CLIMATOLOGIA DOS GEÓGRAFOS E A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE

CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA: UM BALANÇO INICIAL

1

NÚBIA BERAY ARMOND

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JOÃO LIMA SANT’ANNA NETO

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RESUMO: O artigo tem como objetivo realizar um balanço da produção dos geógrafos, com foco sobre o tema da classificação climática. Primeiramente identificaram-se as principais fontes de produção científica, tomadas pelos anais dos Simpósios Brasileiros de Climatologia Geográfica (1992-2014) e a Revista Brasileira de Climatologia - RBC. Posteriormente, caracterizou-se a produção contida nessas fontes, através do agrupamento dos artigos em 9 eixos temáticos. Por último, situou-se a temática da classificação climática nesse contexto, através da identificação dos artigos que a abordaram. Tanto nos anais dos SBCGs quanto na RBC, foi encontrada a predominância de trabalhos inseridos nos eixos de Dinâmica Climática e Clima Urbano. Os textos sobre classificação climática se restringiram a menos de 3% da produção científica nos anais do SBCG.

Palavras-chave: classificação climática; produção científica; SBCG; Revista Brasileira de Climatologia.

ABSTRACT: This article aims to assessing the geographers’ scientific production, focusing in climate classification. Brazilian Symposium of Geographic Climatology (1992-2014) and the Brazilian Journal of Climatology were taken as scientific production main sources. 9 main themes were chosen to group the articles and characterize the scientific production. Climatic classification topic was situated in this context through the identification of articles that approached it. Urban climate and Climate Dynamics were prevalent in both sources. Climatic classification articles are restricted to less than 3% of the scientific production in SBCG annals.

Key words: climatic classification; scientific production; SBCG; Brazilian Journal of Climatology.

1. INTRODUÇÃO

As classificações climáticas têm como principal finalidade a “obtenção de um arranjo eficiente de informações em uma forma simplificada e generalizada” (AYOADE, 2010, p. 224). O objetivo seria fornecer uma síntese eficiente para a compreensão dos padrões e variações dos climas, seja em escala global, seja em escala regional.

1 Este artigo é parte da pesquisa inicial de doutorado em desenvolvimento no Programa de

Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP – Presidente Prudente, intitulada (provisoriamente) de “Dinâmica climática, tipologia das chuvas e excepcionalidades no estado do Rio de Janeiro: contribuições para uma análise geográfica dos sistemas atmosféricos”.

2 Estudante de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP

Presidente Prudente e membro do GAIA – Grupo de Pesquisa Interações na superfície terrestre, água e atmosfera. E-mail: nubiaarmond@hotmail.com / nubia.beray@gmail.com

3 Professor Titular do Departamento de Geografia, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da

FCT/UNESP – Presidente Prudente e do GAIA – Grupo de Pesquisa Interações na superfície terrestre, água e atmosfera. E-mail: joaolima@fct.unesp.br

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A estreita relação entre as diversas concepções de clima tomadas pelos pesquisadores e as suas diferentes abordagens rebate diretamente nas pesquisas em Climatologia, inclusive na realização de classificações climáticas. Para Johnston (1968), existe uma subjetividade inerente à suposta objetividade absoluta creditada a metodologias de classificação na Geografia. Antes da elaboração de cada classificação, o tipo de informação escolhida, a natureza dos dados e as formas de classificação se dão de acordo com os problemas e objetivos definidos por cada pesquisador (BLUE e BRIERLEY, 2015).

Na climatologia tradicional, a noção de atmosfera estática, baseada em valores médios e com conformação estanque dos elementos em cada recorte espacial, reflete um problema no que se refere às classificações climáticas. Segundo Ayoade (2010), os limites traçados nas classificações não são rígidos conforme são representados.

Há que se ressaltar a importância da classificação climática clássica de Koppen. Num período em que haviam pouquíssimos dados meteorológicos produzidos sobre a superfície terrestre, Köppen (1901) se utilizou da relação com a vegetação e da sazonalidade dos elementos climáticos (médios) para sua classificação climática em escala global.

Dessa perspectiva derivam as classificações de Koppen-Geiger (1936) e a de Thornthwaite (1948), que possuem ampla difusão na ciência geográfica (ROSSATO, 2011).

As unidades climáticas foram definidas, para Koppen (1948), segundo os limites dos grandes biomas mundiais são utilizadas médias mensais e anuais na classificação, que resultam na identificação de 5 grupos principais de climas mundiais – correspondente com os 5 grupos vegetacionais. A classificação dispõe de uma nomenclatura simbólica, constituída por grupos de duas, três ou quatro letras, representando três grandes categorias: 1 – Cinco grandes tipos climáticos em escalas zonais; 2 – Conjunto de letras cujo significado está relacionado com a precipitação estacional, e 3 – Conjunto de letras cujo significado se relaciona com a temperatura estacional.

Trata-se de uma classificação quantitativa de base estática, que tem por critérios os valores médios de temperatura e precipitação, considerados nas suas distribuições e relações múltiplas. Tem como virtude a sua relativa simplicidade e a sua boa adaptação à paisagem geográfica, bem como à vegetação natural.

Ayoade (2010) assinala que diversas foram as críticas à Koppen. Ainda que seu mérito por apresentar uma classificação sintética, objetiva e de fácil assimilação seja reconhecido, o caráter predominante do empírico sobre o genético, a ausência de categoria sub-úmida e o uso de critérios rígidos de limites foram as limitações desse modelo.

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De acordo com Rossato (2011), o principal problema na utilização da classificação de Koppen é a sua aplicação em escalas regionais e locais. Como ela é baseada em médias de temperaturas e precipitação em relação com a vegetação, em escalas mais reduzidas, o detalhamento da variabilidade espaço-temporal dos elementos do clima acaba sendo ocultado. Assim, quando da necessidade de realizar a relação entre os padrões climáticos regionais e dinâmicas climáticas locais, a classificação de Koppen se mostra insuficiente.

A classificação de Thornthwaite foi bastante difundida nos estudos agronômicos. Através dos cálculos de evapotranspiração potencial e umidade, são elaborados os índices de umidade total e índices de eficiência térmica. De acordo com Ayoade (2010), o método de Thornthwaite é difícil de manejar, e é deficiente quanto ao refinamento matemático.

Na climatologia dinâmica, às classificações climáticas caberia a explicação da sucessão dos tipos de tempo segundo sua gênese, a partir da movimentação dos campos de pressão atmosférica. Mesmo ao não prescindir dos valores médios dos elementos climáticos, a climatologia dinâmica coloca em protagonismo a análise dos tipos de tempo segundo seus sistemas atmosféricos e massas de ar geradores (ROSSATO, 2011).

Strahler (1951), o primeiro a elaborar uma classificação climática de base dinâmica, distingue três classes principais na delimitação climática: A – climas das baixas latitudes, controlados por massas de ar tropical e equatorial; B – climas das médias latitudes, controlados por massas de ar tropical e polar; e, C – climas de altas latitudes, controlados por massas de ar polar e ártico. Estes três tipos de clima subdividem-se em 14 regiões climáticas, ou 15 se considerarmos os climas das regiões montanhosas.

Tributário de Sorre, Pierre Pédélaborde elaborou o método sintético das massas de ar. Nele, cada tipo climático era analisado em seus elementos de maneira associada. Na medida em que se compreende a totalidade dos tipos de tempo e se obtém a frequência e sua dinâmica no tempo, podem-se restituir as características dos climas (ROSSATO, 2011). Embora as classificações estáticas e dinâmicas apareçam na literatura enquanto oposições representativas de perspectivas climáticas distintas, pode-se partir dos valores médios e buscar de que forma eles se alteram e variam de acordo com a gênese e sucessão habitual dos tipos de tempo, conjugando a dinâmica e a síntese.

A primeira proposta para o Brasil deu-se a partir de Henrique Morize, em 1889. A pouca densidade de rede de estações meteorológicas fez com que sua classificação se pautasse na relação entre as zonas térmicas do globo e fatores geográficos, gerando três grupos: Equatorial, Sub-Tropical e Temperado. Para Sant’Anna Neto (2001), Morize determinava as isotermas entre 20ºC e 25ºC como correspondentes ao clima sub-tropical, o que denotava uma manobra política para demonstrar que o país poderia receber imigrantes

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europeus e apresentava potencial para seu desenvolvimento econômico. Anos depois, em 1922, Henrique Morize elaborou sua segunda classificação, dessa vez de posse de significativo número de séries temporais de dados meteorológicos. Na segunda classificação, passou a adotar a definição de clima tropical para os locais compreendidos nas isotermas que anteriormente eram referenciados como sub-tropicais.

Semelhante classificação foi realizada por Frederico Draenert (1896), que também se baseou nas zonas térmicas terrestres e relacionou-os com fatores como a maritimidade e continentalidade (SANT’ANNA NETO, 2001).

Afrânio Peixoto (1908) produziu uma classificação na qual inseriu critérios astronômicos para definição de três zonas climáticas: equatorial, tropical e temperada, com as diferenciações nos climas continentais e litorâneos baseadas na orografia.

Em 1909, De Martonne elaborou uma classificação de caráter geográfico, propondo 6 grandes grupos de climas divididos em 32 subtipos com nomenclatura baseada nas diferentes regiões do país nas quais o tipo climático predominava.

Entre a classificação de De Martonne e Rudolf Geiger, Delgado de Carvalho elaborou sua proposta em 1926 baseando-se na classificação de Morize. Diferenciava-se pela consideração de oito tipos climáticos, e não nove como elaborou Morize (recusava o tipo úmido). Delgado de Carvalho também não aceitava a denominação de tipo climático continental para a fachada atlântica do Sudeste, denominando clima de altitude.

Em trabalho mais recente e ao sumarizar as diferentes caracterizações climáticas difundidas no campo da ciência geográfica, Rossato (2011) destaca os trabalhos de Serra e Ratisbonna sobre as massas de ar na América do Sul; Serra (1971), Monteiro (1971) e Nimer (1989) como representantes de uma análise dinâmica do clima. Ainda que Monteiro e Serra não houvessem realizado classificações climáticas propriamente ditas, seus trabalhos foram importantes para a caracterização de climas regionais a partir da perspectiva da movimentação dos campos de pressão, numa climatologia dinâmica.

Na década de 1970, Nimer propôs uma metodologia de classificação, baseado na climatologia estática e dinâmica, segundo os critérios de variedade da temperatura, graus de umidade e vinculação a climas zonais. O autor estabeleceu limiares de temperatura para as estações do ano, definindo períodos chuvosos, secos ou sub-secos e classificou as chuvas de acordo com as suas fontes dinâmicas de origem (ROSSATO, 2011).

Em escala regional, Monteiro (1973) elaborou uma classificação climática de base genética para o estado de São Paulo, na forma de atlas. Para tanto, fundamentou-se no trabalho da caracterização da circulação atmosférica na América do Sul realizado por Serra e Ratisbonna (1941) – ambos baseados na escola escandinava e a teoria da Frente Polar

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(BJERKNES e SOLBERG, 1922). A partir da definição dos campos de pressão, das correntes perturbadas e dos fatores geográficos do clima, estudou o que havia de habitual e as excepcionalidades na dinâmica climática do estado de São Paulo.

Monteiro (1973) preocupou-se com os limites entre cada unidade climática e não traçou limites rígidos entre elas. Para ele, as fronteiras entre elas eram transicionais, e as unidades não necessariamente poderiam se enquadrar perfeitamente no território do estado.

Em continuidade à perspectiva monteiriana, Sant’Anna Neto (1990) propôs uma tipologia específica para região, dividida em duas zonas climáticas: uma controlada por massas tropicais e outra, polares), para a zona costeira do estado de São Paulo

Zavatini (2009) se utilizou da análise da sucessão habitual dos tipos de tempo para realizar a classificação climática de base genética para o estado Mato Grosso do Sul. O principal elemento utilizado foi a precipitação em sua gênese.

Dentre as mais recentes, destaca-se a classificação climática elaborada por Rossato (2011) para o Rio Grande do Sul. Seu trabalho atrelou a análise de componentes principais (PCA) junto a circulação atmosférica para realizar a classificação. Foram definidos 4 tipos climáticos dentro do sub-úmido, baseados nos dados de temperatura e precipitação.

2 – Material e métodos

Para caracterização da produção bibliográfica em Climatologia, foi realizado

download dos anais de todas as edições do Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica

(1992 a 2014) disponibilizados no sítio eletrônico da Associação Brasileira de Climatologia – ABClima. Também foram consultados os artigos presentes nos volumes da Revista Brasileira de Climatologia disponíveis online na plataforma SEER (2005-2015). Os textos foram agrupados de acordo com os eixos temáticos definidos por Sant’Anna Neto (2011): 1) Mudanças Climáticas globais e regionais; 2) Clima urbano; 3) Clima e agricultura; 4) Métodos e Técnicas; 5) Dinâmica climática; 6) Adversidades climáticas; 7) Ensino de Climatologia; 8) Clima e saúde; 9) outros.

Para tanto, foram lidos os títulos, os resumos e as palavras-chave de cada texto com o objetivo de confirmar a pertinência da atribuição de cada artigo a seu eixo correspondente. Por fim, foram identificados os textos que se detiveram exclusivamente sobre a classificação climática como temática de abordagem.

Os dados foram manipulados no software de planilha eletrônica Excel e agrupados em função de duas naturezas de dados: os totais de artigos publicados por eixo temático e a porcentagem de artigos publicados por eixo temático.

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Em seguida os valores foram submetidos ao teste estatístico para inferir o aumento ou diminuição da produção de artigos segundo os eixos temáticos. O teste foi obtido pela medida do coeficiente angular (α) da Regressão Linear‚ conforme fórmula:

Deste modo, considerou-se tendência significativa quando o valor do coeficiente angular se apresentou diferente de zero, ou seja, se α>0, a tendência é positiva e o número de artigos no tempo tem apresentado aumento; e se α <0, a tendência é negativa, e evidência a diminuição histórica de artigos no eixo.

3 – Resultados e Discussão

No que diz respeito aos textos encontrados nos anais, os dois principais eixos temáticos, responsáveis por mais de 50% dos artigos apresentados nos SBCGs, são Clima Urbano e Dinâmica Climática. Acredita-se que a difusão e influência da obra do professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, principalmente a partir de seus trabalhos A frente

polar atlântica e as chuvas de inverno na fachada sul-oriental do Brasil (1969), Análise rítmica em Climatologia – problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho (1971), A dinâmica climática e as chuvas no estado de São Paulo: estudo geográfico sob a forma de atlas (1973) e Teoria e Clima Urbano (1976) possam ter

auxiliado na consolidação e fortalecimento destes dois eixos temáticos ao longo da história da Climatologia Geográfica.

Ao realizar o balanço da produção em Climatologia Geográfica no Brasil através de dissertações e teses, Zavattini (2003) identificou o pioneirismo de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro na fundação de uma outra forma de se abordar o fenômeno climático – considerado, então, em sua geograficidade -, fundando assim o que o autor denominou de Escola Brasileira de Climatologia Geográfica (ZAVATTINI, 2003; ZAVATTINI E BOIN, 2013). Exemplo disso é que, sendo os mais numerosos, estes eixos oscilam entre si quanto à predominância que exercem diante dos demais nos anais do evento (Gráfico 1).

Os eixos de Climatologia agrícola e Adversidades Climáticas também ocupam lugar de destaque, seguido do eixo de Ensino de Climatologia. Apesar de distribuição temporal irregular, este último também apresenta participação quantitativa considerável, sobretudo a partir do evento de 2006 (Rondonópolis-MT), de acordo com os dados apresentados.

O eixo que se apresentou menos expressivo diante dos demais foi o de Mudanças Climáticas. A tradição monteiriana de abordagem da dinâmica climática em função da

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dimensão espacial da sociedade tem legado à Climatologia Geográfica a escolha por estudos mais aplicados e integradores.

Gráfico 1: Porcentagem de artigos por eixo temático nos anais dos SBCGs de 1992 a 2014. Elaboração: autores.

Os artigos identificados como ‘outros’ apresentam quantidade pouco expressiva dentro do rol de artigos nos anais dos SBCGs. Seu caráter é diversificado e ele representa, em geral, estudos interdisciplinares e mesmo de outros subcampos do conhecimento, sem uma tradição na pesquisa em Climatologia Geográfica, como aqueles advindos da Geomorfologia Cárstica, Geomorfologia Costeira, Oceanografia, Arqueologia e afins.

Gráfico 2: Porcentagem de artigos por eixo temático na Revista Brasileira de Climatologia 2005 a 2014.

Elaboração: autores

Os artigos publicados pela Revista Brasileira de Climatologia também não apresentam um padrão de distribuição, tal como encontrado nos anais dos SBCGs (Gráfico 2). Do volume 1 ao volume 16, o eixo que apresentou menor oscilação entre os demais foi o de Dinâmica Climática, seguido do de Métodos e técnicas, que tem apresentado quantidade significativa de artigos ao longo dos números, por vezes superior a 50% dos artigos correspondentes a cada volume. O eixo de Clima Urbano, apesar de numeroso, apresenta

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distribuição bastante irregular, não tendo sido encontado nos volumes 2 e 3/4, mas, por outro lado, pode ser encontrado em outros volumes nos quais responde por aproximadamente 50% dos artigos publicados neles (Gráfico 2).

Quadro 1 – Tendência (valor α) da publicação de artigos por eixo nos anais dos SBCG e na RBC

Eixo SBCG RBC

Mudanças climáticas Globais e Regionais -0,8 -0,8 Clima urbano -0,09 0,1 Climatologia agrícola 0,3 1,0 Métodos e técnicas -0,4 0,8 Dinâmica climática -0,2 -0,1 Adversidades climáticas 0,7 0,05 Ensino de climatologia 0,1 0,1 Climatologia e saúde 0,2 0,03 Outros -0,07 0,4 Fonte: autores

No que se refere às tendências da produção científica (Quadro 1), houveram significativas tendências semelhantes e divergentes. No caso do eixo de Mudanças Climáticas, tanto nos anais do SBCG quanto nos artigos publicados na Revista Brasileira de Climatologia, este apresentou queda de 0,8 na produção. Outro eixo que apresentou decréscimo em ambas as fontes analisadas foi o de Dinâmica Climática, com -0,2 e -0,1, conforme quadro 1. Já o eixo de Ensino de Climatologia apresentou aumento da produção científica de 0,1 em ambas as fontes. Os demais eixos não apresentam as mesmas tendências por fonte. Exemplo é o eixo de Métodos e Técnicas. Enquanto nos anais dos SBCG ele apresenta decréscimo da produção em -0,4, na Revista Brasileira de Climatologia este foi o segundo eixo que mais aumento a sua produção, com 0,8, perdendo apenas para o eixo de Climatologia Agrícola. Este último, por sua vez, apresentou decréscimo de produção nos anais dos SBCGs.

Especificamente sobre o tópico de Classificação Climática, o gráfico 3 ilustra o total dos artigos publicados. Não foi encontrado qualquer artigo referente à este tópico na Revista Brasileira de Climatologia. Já nos anais do Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica, a quantidade de trabalhos não apresenta um padrão significativo no decorrer das edições do evento. Entre 1992 e 2014, em 11 edições do evento, foram apresentados 14 artigos sobre esta temática. Nas edições de 2000 e 2006, nenhum artigo foi apresentado. Já na edição de 2002, o 4 artigos foram apresentados (foi a edição que apresentou o maior número de artigos que abordaram a temática). Diante deste quadro, a avaliação sobre as tendências da produção sobre Classificação Climática é pouco significativa, apresentando ligeira queda de -0,05 em seu valor α (Gráfico 3).

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Gráfico 3: Total de artigos sobre Classificação Climática por edição do SBCG. Elaboração: autores.

Diante do universo de textos analisados, considera-se que a comunidade científica da Geografia tem uma produção historicamente tímida sobre a temática da classificação climática, principalmente em comparação com eixos como Clima urbano e Dinâmica climática. Apesar de ter apresentado oscilação ao longo dos anos, esta temática nunca apareceu como privilegiada nas abordagens geográficas – ao menos não sob a alcunha “classificação climática”.

Reconhece-se a importância da emergência e consolidação de eixos como Clima Urbano, Adversidade Climática, Clima e saúde como aqueles que podem evidenciar de forma mais significativa a relação entre o clima e a produção do espaço geográfico. De acordo com Monteiro:

Mesmo os (acidentes) mais graves, por vezes catastróficos, se estatisticamente poderiam ser tomados como ‘ruído’, seu impacto local ou regional e a reação em cadeia que se lhes segue, fazem com que eles não possam ser descartados. E sobretudo por suas repercussões socio-econômicas, tanto por injúrias imediatas como pelo efeito da ‘desregularização’ da produção agrícola, do sistema hidro-energético, da rede de transportes, etc (MONTEIRO, 1991).

Porém, anteriormente à consideração das excepcionalidades, é importante ressaltar a seguinte passagem:

A nível regional, à medida em que se percebem as correlações complexas e uma concepção mais comportamental e complexa do clima é que nos damos conta de como os estados de tempo oscilam, admitem desvios e produzem ‘acidentes’ que não podem ser considerados excepcionais (MONTEIRO, 1991).

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Em reflexões anteriores sobre a natureza geográfica das excepcionalidades, considera-se que elas se constituem enquanto tal quando relacionadas a dois referenciais inseparáveis: 1) o desvio em comparação aos limiares habituais (eventos extremos) e 2) as formas através das quais o espaço produzido se conforma quando da atuação dinâmica de um elemento climático (episódios extremos) (ARMOND, 2014). Assim, para se considerar uma excepcionalidade enquanto tal deve-se entender, primeiramente, qual é a sua dinâmica habitual, para, então, identificar o que há de excepcional.

Conforme discutido na introdução, as definições de classificação climática existentes na literatura dizem respeito, fundamentalmente, à um definição clássica e teórico-quantitativa. Ou seja, os processos de classificação climática na geografia são baseados numa concepção de espaço absoluto (perspectiva euclidiana e cartesiana de espaço), e na definição de alguns elementos – principalmente temperatura, precipitação e balanço hídrico, que não representam o clima em uma abordagem geográfica.

O fato dos textos de classificação climática serem tributários, em grande medida, das concepções mais tradicionais de ciência geográfica e de climatologia, por si só não faz com que estes trabalhos sejam passíveis de críticas. Conforme abordado anteriormente, por muito tempo as classificações de Koppen, de Thornthwaite e de Stralher, por exemplo, foram fundamentais para assentar as bases a partir das quais o conhecimento climático sobre as mais diferentes porções da Terra, em suas múltiplas dimensões (agrícola, urbana, microclimática etc) se desenvolveu. Por outro lado, estas mesmas classificações ainda são extremamente úteis para estudos de outros campos do conhecimento, como a Engenharia Agronômica, a Engenharia Civil, Fisiologia Vegetal, Edafologia, entre outros.

A questão que se coloca diz respeito às formas pelas quais a ciência geográfica se apropria desse arsenal teórico, metodológico e conceitual e imprime a característica de abordagem do clima como um fenômeno eminentemente geográfico.

4 – Considerações Finais

Através da realização do balanço da produção científica da climatologia geográfica, foi identificada grande participação dos trabalhos sobre Clima Urbano e Dinâmica Climática no SBCG e na RBC. Mais recentemente, os eixos de Adversidades Climáticas e Métodos e Técnicas também tem ganhado destaque, fato compreensível diante dos avanços necessários para os estudos sobre as excepcionalidades sobretudo nas áreas urbanas brasileiras.

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No que diz respeito à Classificação Climática, constatou-se que os geógrafos que trabalham com o fenômeno climático historicamente abordaram pouco esse eixo. Parte significativa dessa literatura está presente nos textos mais clássicos.

Faz-se necessário questionar se não é de competência dos geógrafos os estudos de classificação climática, ou se o que se compreendeu historicamente enquanto classificação climática é destoante daquilo que tem se caracterizado o nosso escopo de estudo. Nesse sentido, o que seria uma classificação geográfica dos climas necessariamente perpassa a compreensão de cada pesquisador sobre a ciência geográfica e sobre o fenômeno climático.

Os trabalhos mais clássicos, considerados como “de base” sobre classificação climática (Koppen, Thorntwhaite, Strahler) foram e continuam sendo de extrema importância para os estudos climáticos. Entretanto, a complexidade do mundo e a necessidade de uma abordagem híbrida dos fenômenos nos desafiam a uma compreensão e uma realização de classificações que concebam a relação sociedade e natureza como uma unidade contraditória, porém, complementar. Nos desafiam, também, a explorar as formas de representação cartográfica para que se possa, para além de uma dimensão teórica, conceitual e de método, avançar nas linguagens geográficas de abordagem do fenômeno climático.

5 – Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal – CAPES, pelo financiamento da pesquisa através de concessão de bolsa de estudos.

5 – Referências

ARMOND, Núbia Beray. Entre eventos e episódios: as excepcionalidades das chuvas e os alagamentos no espaço urbano do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Presidente Prudente: FCT/UNESP, 2014.

AYOADE, J.O. Introdução à Climatologia para os trópicos. 13ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

BJERKNES, J. e SOLBERG, H. Life cycle of cyclones and the Polar Front Theory of Atmospheric Circulation. Geophysisks Publikationer, n. 1, v. 3, pp. 3-18, 1922.

BLUE, Brandon e BRIERLEY, Gary. ‘But what do you measure?’ Prospects for a constructive critical physical geography Area, p. 1-8, 2015.

JOHNSTON, R.J. Choice in classification: the subjectivity of objective methods. Annals of the Association of American Geographers. Vol. 58, n. 3, p. 575-589, 1968.

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MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. A frente polar atlântica e as chuvas de inverno na fachada sul-oriental do Brasil. Série Teses e Monografias, n. 1. São Paulo: IG, 1969. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Análise rítmica em Climatologia – problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho. Climatologia, vol. 1, n. 1. São Paulo: IG, 1971.

MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. A dinâmica climática e as chuvas no estado de São Paulo: estudo geográfico sob a forma de atlas. São Paulo: IGEO/USP, 1973. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Teoria e clima urbano. Tese (Livre Docência). Departamento de Geografia. USP: FFLCH, 1976.

MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Clima e excepcionalismo. Conjecturas sobre o desempenho da atmosfera como fenômeno geográfico. Florianópolis: Editora da UFSC, 1991.

NIMER, Edmon. Climatologia do Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

ROSSATO, Maíra Suertegaray. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Porto Alegre: UFRGS, 2011.

SANT’ANNA NETO, João Lima. História da Climatologia no Brasil: gênese e paradigmas do clima como fenômeno geográfico. Tese (Livre Docência). Presidente Prudente: FCT/UNESP, 2001.

SANT’ANNA NETO, João Lima. Problemas e perspectivas da Climatologia Geográfica no Brasil. XIV Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Anais.... Dourados: UFGD, 2011.

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STRAHLER, Arthur. Physical Geography. New York: John Willey e Sons, 1951.

ZAVATTINI, João Afonso. A produção brasileira em Climatologia: o tempo e o espaço nos estudos do ritmo climático. Terra Livre. São Paulo, 19 (1), n. 20, p. 65-100, 2003.

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