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A PRODUÇÃO HISTORIGRÁFICA SOBRE INSTITUIÇÕES ESCOLARES E IMIGRAÇÃO POLONESA NO BRASIL

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Academic year: 2021

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ESCOLARES E IMIGRAÇÃO POLONESA NO BRASIL

KUBASKI, Luciana1 - UEPG MARTINIAK, Vera Lúcia2- UEPG Grupo de Trabalho – História de Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

Este texto tem por objetivo apresentar uma síntese analítica da produção historiográfica que aborda a temática História das Instituições Escolares, educação e imigração, educação e imigração polonesa, imigração polonesa. A presente pesquisa é denominada estado de arte, por se constituir como uma investigação que busca mapear e discutir a produção acadêmica referente às escolas de imigrantes, produzidas por meio de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Esta pesquisa constitui-se como parte integrante da dissertação de mestrado sobre a educação e a imigração polonesa nos Campos Gerais, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os procedimentos metodológicos se deram a partir da coleta de dados e levantamento da produção científica nos programas de pós-graduação do país, bem como a consulta ao banco de dados mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A partir da produção encontrada, considerando as categorias definidas, procedeu-se a organização das informações em um banco de dados que posteriormente, foi utilizado para a análise e produção do texto. A partir da análise empreendida aponta-se que a educação de imigrantes ainda é uma temática que apresenta poucos trabalhos publicados e destes, a maioria concentra-se na região Sul, que foi fortemente influenciada por povos europeus. Em relação à História da Educação, observa-se um aumento no número de trabalhos, em decorrência do crescimento dos programas de pós-graduação no Brasil a partir de 1990 e a criação dos Grupos de Trabalho em diversas áreas que desencadearam um incremento na qualidade e quantidade de trabalhos.

Palavras-chave: Historiografia. Instituições Escolares. Imigração. Introdução

O presente estudo tem por objetivo demonstrar de forma sintética e interpretativa a produção do conhecimento acadêmico referente a história das instituições escolares, e

1 Mestranda em Educação- Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: lucianakubaski@hotmail.com 2 Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: vlmartiniak@uepg.br

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especificamente instituições de ensino criadas para atender grupos de imigrantes poloneses, no processo migratório do início do século XX no Brasil.

Para o levantamento e seleção das teses e dissertações produzidas optou-se por selecionar quatro categorias: História das Instituições Escolares, imigração e educação, imigração polonesa e educação, imigração polonesa.

A busca por trabalhos nas categorias citadas deu-se por meio dos sites de alguns programas de pós-graduação e do banco de teses mantido pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

O processo de levantamento do estado do conhecimento cumpriu as seguintes etapas: 1) levantamento da produção científica das temáticas;

2) leitura do material para a identificação da temática;

3) organização de tabelas, com informações dos trabalhos selecionados (instituição, nome do autor(a), título, ano de obtenção, área do conhecimento e nível de titulação acadêmica);

4) leitura de todas as informações coletadas e elaboração do texto.

O texto a seguir apresenta uma discussão sobre a importância do estudo da História, da História da Educação e das Instituições Escolares; e uma análise da produção historiográfica encontrada sobre a imigração polonesa e a educação.

Desenvolvimento

Realizar o levantamento histórico e analisar a história de uma instituição escolar é sem dúvidas uma tarefa de extrema importância, pois é a busca da compreensão do modo como ela se originou, considerando os sujeitos envolvidos e seu contexto sócio- econômico. Quando se fala de sujeito, não se deve cair no reducionismo de grandes nomes, como por exemplo, os governadores, que muitas vezes regularizam a criação de instituições por meio de decretos, mas sim, remeter-se às pessoas comuns que com seu trabalho e luta, ajudaram a criar as instituições. É o caso das escolas fundadas por imigrantes. Essas pessoas ao chegarem às terras brasileiras foram muitas vezes instaladas distantes dos grandes centros urbanos, e consequentemente, ficaram longe de escolas públicas (estas que já não eram suficientes para atender à população brasileira). Assim, os imigrantes europeus passaram a organizar e manter suas próprias escolas, tendo também o interesse de preservar a cultura do seu país de origem.

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[...] caracteriza uma iniciativa singular na história da educação brasileira por ter sido uma tentativa de articulação mais profunda entre este e as dimensões culturais e comunitárias dos grupos étnicos. Retrata a atenção constante entre a afirmação do processo identitário dos imigrantes, embasado em suas especificidades culturais, e a formação do Estado nacional, em busca da unidade. (2011, p. 164).

Dessa forma, as escolas fundadas por imigrantes europeus atendiam à necessidade das comunidades de manterem sua identidade. Entretanto, distanciavam-se do projeto do governo brasileiro do início do século XX, de formação e valorização das questões nacionais, a denominada campanha de nacionalização do ensino.

No Paraná é expressivo o número de imigrantes, sendo que até o ano de 1948, entraram no estado cerca de 57 000 poloneses. Apesar disso o número de estudos na área de educação de imigrantes ainda é restrito. (WACHOWICZ, 2010, p. 185).

Sanfelice (2007, p. 79) ressalta a importância do estudo da história das instituições escolares,

[...] não há instituição escolar ou educativa que não mereça ser objeto de pesquisa histórica. O maior ou menor grau de relevância de uma instituição seja do ponto de vista econômico, político, educacional e segundo critérios específicos, não pode tolher a escolha do historiador. Não há instituição sem história e não há história sem sentido. O desafio é trazer à luz esse sentido e, com frequência, há boas surpresas.

Na investigação da história de uma instituição escolar, os resultados obtidos não se restringem somente ao que ocorreu na escola, mas se têm uma abrangência muito ampla, ao estudar a realidade concreta em que efetivou a sua formação e funcionamento. O que vem ao encontro com a clássica afirmação de Marx em “A ideologia alemã” (2005), no sentido de que é a realidade que determina as ideias e não o contrário. As ideias são representações daquilo que o homem fez, de suas atividades reais no processo de produção de sua existência, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com outros homens. (ANDERY, 2007). No estudo da história de uma instituição escolar é necessário contextualizá-la apontando aspectos da sociedade em que ela se desenvolveu, para poder entender no plano real o objeto de estudo.

Dessa forma, o conhecimento tem que desvendar no fenômeno aquilo que lhe é constitutivo, desvendado por trás das aparências, tal como ele realmente é. Mas o sujeito não tem uma atitude contemplativa em relação ao real, mas é ativo, produtor, e em sua relação com o objeto de estudo reconstrói no seu pensamento o mundo, assim o conhecimento envolve um fazer e atuar do homem. (ANDERY, 2007, p. 419).

Marx na obra “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (1834-1844) mostram que a missão da história consiste em averiguar a verdade daquilo que nos circunda.

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Portanto, quando se estuda a história busca-se a explicação de determinado objeto no plano concreto, material, real. Para Marx não há nada irredutível na realidade social. Assim realidade social é um complexo constituído de complexos. E a verdade, buscada pelo historiador, é uma espécie de “encaixe” de uma representação teórica com um objeto que a antecede. (NETTO, 2006).

Toda a produção de idéias, de representações e da consciência está ligada à atividade material e ao comércio material dos homens, são assim emanação direta do seu comportamento material. O mesmo se dá nas leis, na política, moral, religião, metafísica, etc. de um povo.

São os homens que produzem as suas representações, as suas ideias, etc. Mas os homens reais, atuantes e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente e o Ser dos homens é o seu processo da vida real. E se em toda a ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece numa câmera obscura isto é apenas o resultado do seu processo de vida histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objetos que se forma na retina é uma consequência do seu processo de vida diretamente físico (MARX E ENGELS, 2005, p. 51).

Nesta perspectiva, todas as produções humanas estão intimamente condicionadas ao modo de desenvolvimento de suas forças produtivas, pois na medida em que o homem produz seus meios de existência está indiretamente produzindo a sua própria vida material.

Conclui-se que Marx considera o homem como ser prático e social. A história é, portanto independente das representações do sujeito, é a realidade como ela é, e intimamente ligada ao trabalho, ou seja, a produção dos bens materiais. E é nessa realidade que transcorrem as ações e inúmeras relações que envolvem os sujeitos e a contextualização dos eventos. (DECCA, 2006, p. 20).

O que o homem produz coincide com aquilo que ele é e manifesta na sua vida. O que ele é depende das condições materiais de sua produção, que pressupõem a existência de relações entre indivíduos, relações que estão condicionadas pela produção. As condições materiais de existência são tanto as que o homem já encontrou elaboradas quanto as que ele próprio criou. Quando se fala de realidade, pressupõe-se que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nas palavras, pensamento ou imaginação. Mas sim da sua atividade real,

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[,,,] parte-se, sim, dos homens em sua atividades real, e, a partir de seu processo na vida real, expõem-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo vital. E mesmo as formulações nebulosas do cérebro dos homens são sublimações necessárias do seu processo de vida material que se pode constatar empiricamente e que se encontram sobre bases materiais [...] Não têm história nem desenvolvimento; mas os homens, ao desenvolverem sua produção material e relações materiais, transformam, a partir da sua realidade, também o seu pensar e os produtos de seu pensar (MARX e ENGELS, 2005, p. 52)

Marx explica a sociedade pela produção. A base da sociedade está no trabalho, é por meio dele que o homem se faz homem, transforma a sociedade e faz a história. Tudo isso se dá por meio de contradições, conflitos e antagonismos. O homem é, portanto sujeito histórico e social. (ANDERY, 2007).

Sendo o homem sujeito histórico faz-se necessário o estudo das transformações feitas por ele no meio em que vive. Investigar suas atividades ao longo do tempo. Se para Marx o conhecimento é um meio de transformar o mundo, nada mais justo do que investigar a educação.

Assim, por pesquisa em História da Educação entende-se que é o processo de investigação do objeto educação sob a perspectiva histórica. (SAVIANI, 2006, p. 12).

Tratando-se dos estudos da história das instituições escolares é necessário que as análises levem em conta os contextos histórico-geográficos determinados e também o público-alvo das mesmas, bem como as informações sobre os alunos que poderão auxiliar a definir o perfil da instituição e apontar indicações de sua relevância social. Dessa forma, estudar uma instituição escolar não é analisar somente as práticas escolares, quem eram os profissionais e os alunos, mas na medida em que se faz um levantamento desses aspectos, também se analisa a sociedade da época.

As expressões ‘reconstrução histórica da escola pública’ do mesmo modo que ‘reconstrução histórica das instituições escolares’ significam, pois, a reprodução, no plano do conhecimento, das condições efetivas em que se deu a construção histórica da escola pública ou das instituições escolares. (SAVIANI, 2007, p. 17).

Falar de história das instituições escolares é uma tentativa de expor, de elaborar um discurso, uma interpretação às diferentes fases de uma instituição e de seu contexto. Interpretações feitas pelo pesquisador, a forma como ele vê o objeto que irá descrever. (WERLE, 2004, p. 14). Interpretações feitas com base nos acontecimentos da instituição, nas relações e experiências, obtidas através de documentos, imagens, prédios, registros escritos, depoimentos, entre outros. Falar da instituição inserida em um tempo e espaço.

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A História da Educação enquanto um campo articulado de conhecimentos de pesquisa e ensino constituiu-se em decorrência dos cursos de pós-graduação em educação (stricto

sensu) no Brasil. Programas que se iniciaram em 1960, mas somente a partir de 1990 é que

foram produzidas, concluídas e defendidas dissertações e teses com mais incremento. Entre 1971 e 1996 há registros de 8.416 trabalhos de pós-graduação em educação, sendo que até 1974, foram produzidos cerca de 200 trabalhos. Já entre os anos de 1990 e 1994 foram produzidos 2.847. Até o ano de 1974 havia 15 programas de pós-graduação em educação, já em 1994, esse número triplicou, havendo no Brasil 45 programas. (LOMBARDI, 2004, p. 161-162).

Os grupos coletivos de pesquisa também deram um novo salto quantitativo e qualitativo nas pesquisas, são associações em várias áreas do conhecimento. Na História da Educação, destaca-se Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil/HISTEDBR” um coletivo nacional de pesquisa da área de História da Educação, de perspectiva teórico-metodológica marxista, criado em 1986. Atualmente o HISTEDBR conta com 24 grupos, distribuídos em 13 estados do país.

Em Ponta Grossa- Paraná (UEPG), o grupo vinculado ao HISTEDBR mantém um projeto de catalogação das fontes primárias e secundárias das Instituições Escolares nos Campos Gerais visando contribuir para a compreensão das transformações históricas da educação na região, cuja sociedade foi formada com características próprias, advindas principalmente devido ao processo migratório europeu. O grupo originou-se em 1992 integrando o projeto nacional “levantamento e a catalogação de fontes primárias e secundárias da história da educação brasileira” com a coordenação nacional do professor Dermeval Saviani (UNICAMP).

De acordo com o site do grupo, atualmente há 12 trabalhos de pesquisa defendidos, e 7 em andamento (nível de pós-graduação).

A presente pesquisa vincula-se ao Grupo de Estudos, fazendo parte do projeto coletivo de pesquisa “Instituições Escolares nos Campos Gerais: Levantamento e Catalogação das Fontes Primárias e Secundárias”.

A produção historiográfica

Neste trabalho de pesquisa procura-se mapear, organizar e compreender as produção científicas sobre a educação para imigrantes, bem como a preocupação em organizar um

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banco de dados para subsidiar as pesquisas nessa área do conhecimento, servindo de fonte de consulta para os demais pesquisadores. Assim, este estudo pretende analisar a produção historiográfica na área das Instituições Escolares e da Imigração polonesa, como parte da elaboração da dissertação de mestrado, procedendo-se ao levantamento das dissertações e teses defendidas. A produção historiográfica apresentada a seguir não está finalizada, é uma contribuição para os estudos da temática.

Para a análise dos trabalhos sobre a História das instituições escolares, delimitou-se o período de 2009 a 2011.

Tabela 1- Tabela da produção científica por ano

Ano Total de trabalhos

2009 2010 2011 28 25 30

Fonte: Organizado pelas autoras, com base nas orientações para formatar o texto.

Apontando a relevância do estudo destaca-se que o número de pesquisas nessa área tem aumentado em decorrência da ampliação dos programas de pós-graduação no Brasil e o fortalecimento dos grupos de pesquisas que se consolidam nas instituições de ensino superior e nos programas de pós-graduação. Ainda sobre este aspecto, as regiões Sul e Sudeste apresentam a maior concentração dos grupos de pesquisa em “História da Educação”, totalizando 72,2%, já os demais grupos de pesquisa estão distribuídos nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. “Estes dados confirmam que a atividade de pesquisa no país está fortemente vinculada à pós-graduação”. (HAYASHI; FERREIRA JUNIOR, 2010, p.175).

Com relação a distribuição dos trabalhos por região notou-se que a maior concentração encontra-se na região Sudeste. Fato que pode se justificar pelo número de universidades nessa região, principalmente a UNICAMP, pioneira com a criação do Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Sociedade e Educação no Brasil - HISTEDBR.

Tabela 2- Tabela da produção científica por região

Região Total de trabalhos

Centro-oeste Norte Nordeste Sudeste Sul 6 2 21 42 13 TOTAL 63

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A maioria dos trabalhos concentrou-se na área da Educação, o que vai ao encontro com a afirmação de Saviani (2006) ao afirmar que a historiografia da educação é um campo de estudo que tem por objeto de investigação as produções históricas e por objeto de estudo o educacional. Sendo trabalhos sobre instituições que tem objetivo de transmitir conhecimentos (Instituições Escolares), nada mais coerente estarem vinculados à Educação, enquanto área.

Tabela 3- Tabela da produção científica por área do conhecimento

Área Total de trabalhos

Educação História Matemática

Memória, linguagem e sociedade

79 2 1 1

Fonte: Organizado pelas autoras, com base nas orientações para formatar o texto.

Dos trabalhos sobre instituições escolares, 66 são dissertações de mestrado e 17 são teses de doutorado. A tendência é o aumento dos trabalhos de doutorado, em virtude do contínuo aumento de programas que oferecem doutorado, como é o caso da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG.

Na categoria educação e imigração foram encontrados 22 trabalhos, sendo somente um de doutorado. Dos trabalhos, dois são da área de história e os outros da Educação. Já sobre a história da imigração polonesa há registro de quatro trabalhos, sendo uma tese de doutorado.

Especificamente sobre a educação e a imigração polonesa foram produzidas uma tese de doutorado e duas dissertações de mestrado, totalizando três trabalhos.

Todos os trabalhos que tratam sobre a imigração polonesa concentram-se na região Sul, fato que se pode justificar por ter sido a região em que mais se fixaram imigrantes poloneses e consequentemente, o que gera maior interesse por essa temática. Dentre as produções encontradas, podem-se destacar as seguintes pesquisas:

Elizabeth Johansen Capri em sua dissertação de mestrado intitulada “De católicos poloneses e ponta-grossenses católicos: a Escola Sagrada Família - 1933-1945” (2003) faz uma análise da participação da Congregação Franciscana das Irmãs da Sagrada Família no processo de formação educacional das crianças descendentes de poloneses e ponta-grossenses por meio da Escola Sagrada Família, no período de 1933 a 1945. A atuação dessas religiosas veio ao encontro do discurso e das propostas romanizantes da Igreja Católica para o ensino primário daquele momento. As análises partiram das crônicas produzidas pelas Irmãs, artigos

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de jornais, cartas paroquiais do bispo da época, legislações e também entrevistas com ex-alunas. A pesquisa é da área de História, seguindo a linha teórica de Pierre Bourdieu e o conceito de identidade defendido por Frederick Barth.

Em 2009 destaca-se o trabalho de doutorado em História de Valquíria Elita Renk: “Aprendi falar português na escola! O processo de nacionalização das escolas étnicas polonesas e ucranianas no Paraná”. Nesta tese a autora começa com a contextualização da vinda dos povos eslavos para Paraná. Na Europa muitas pessoas sofriam com a miséria, fome, falta de terras para o cultivo, além de muitos países terem seu território invadido. Já o governo brasileiro precisava ocupar as regiões despovoadas do Sul do país, como forma de garantir a posse de terra. Também havia o interesse de branquear a população, visto que o país tinha uma grande população negra. No processo de povoamento do país desconsiderou-se a população nacional, priorizando o homem europeu, considerado na época como o melhor para desempenhar atividades agrícolas. Em terras brasileiras os imigrantes passaram a organizar e manter suas próprias escolas, pois o número de escolas públicas brasileiras era restrito, além de ser uma forma de manutenção de sua própria cultura. Na medida em que eram implantadas as políticas de nacionalização no início do século XX, aumentava as restrições com relação ao funcionamento das escolas étnicas. As várias tentativas de homogeneização do ensino culminaram com a completa desativação do ensino étnico a partir de 1938. Até esse ano, as escola criavam estratégias para conseguirem manter seu funcionamento, mas com a nacionalização compulsório, que proibiu o ensino em língua estrangeira para as crianças, as escolas étnicas acabaram por encerrar as atividades. Muitas crianças aprenderam falar português na escola, o uso da língua materna de seu grupo étnico ficava restrito às residências.

Na dissertação “Os traços de identidade cultural polonesa nas práticas educacionais na escola Caesimio Stachurscki” Isabel Conti Schilling (2005) analisa os traços da identidade polonesa e sua relação com a educação. O período estudado é de 1890 a 1945, período da chegada dos primeiros poloneses até a o fim do Estado Novo (governo de Getúlio Vargas), período da intensa campanha de nacionalização. O principal objetivo foi pesquisar quais as características mais relevantes da cultura polonesa e como elas se manifestaram na história da comunidade e da escola. A autora relata a chegada dos poloneses a Criciúma apresentando os motivos da saída de sua terra natal. Mostra que os poloneses mantiveram suas marcas identitárias no cotidiano, na vivência em sociedade, nos hábitos, costumes e no uso da língua.

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É importante citar o trabalho desenvolvido pelo professor Ruy Wachowicz (2002) com o livro “As escolas de colonização polonesa no Brasil” no qual realizou um estudo sobre as escolas étnicas polonesas, segundo esse autor, no ano de 1937 funcionavam no Paraná 167 escolas polonesas, das quais 128 estavam em funcionamento, 31 haviam sido fechadas por falta de professores e 8 em fase de construção. Do total de escolas, 10 ensinavam em polonês, 14 em português e 143 eram bilíngues (português e polonês). Frequentavam as escolas polonesas 6 296 crianças, das quais 1076 não tinham descendência polonesa. Assim percebe-se a importância dessas escolas em reprepercebe-sentação numérica, mas de acordo com o mesmo autor, grande parte das escolas funcionavam de forma precária, com falta de materiais, em instalações inadequadas (inclusive em paios) e, em algumas vezes, o professor era o colono mais instruído, não tendo formação de magistério, o que ocorria em grande parte nas escolas rurais.

Considerações Finais

Estudar a história é uma forma de trazer ao presente o que ocorreu no passado, considerando toda a realidade em que o objeto de estudo esteve inserido. É um trabalho de reflexão, de busca de fontes que dão embasamento para as análises. Requer a escolha de referencial teórico- metodológico que auxilie no trabalho de pesquisa.

Pesquisar a história da educação é ter como objeto de estudo a própria educação sob uma perspectiva histórica, por isso é necessário recorrer às condições reais em que ela efetivou-se.

As escolas de imigrantes foram uma experiência ímpar dentro da História da Educação brasileira, pois em meio à cultura nova (para os povos estrangeiros que ingressaram no país), tentaram preservar e transmitir às novas gerações os hábitos, costumes, manifestações culturais, e inclusive a própria língua, e estavam em oposição ao projeto de nacionalização do início do século XX.

O objetivo deste estudo foi de proceder a um mapeamento e análise sobre a produção historiográfica referente a educação de imigrantes no Paraná. A partir da produção levantada nos programas de pós-graduação pode-se concluir que ainda é restrito o número de trabalhos sobre a educação dos imigrantes no Brasil. Entretanto, esta temática constitui-se como um grande campo de pesquisa, pois ainda existem muitas indagações que deverão ser feitas sobre o tema.

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A análise também permitiu concluir que o campo da História da Educação tem contribuído, por meio dos grupos de pesquisa que atuam nesta área, para o aumento significativo da produção científica.

REFERÊNCIAS

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