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Brasileiros e argentinos, quando. Os argentinos e el fulbo

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Academic year: 2021

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rasileiros e argentinos, quan-do entram em campo, pa-ram o mundo. Pergunte a um palestino e a um israelense, a um grego e a um turco para qual time torcem na Copa do Mundo, quando o deles não está na disputa. Se não for o Brasil, será a Argentina.

Brasileiros e argentinos são os únicos no mundo que, ao viajarem para outros continentes e dizerem ser naturais do Rio de Janeiro ou de

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Buenos Aires, ouvem uma simpática saudação de “Pelé”, “Maradona”, “Ronaldinho” ou “Messi”. A camisa amarela da seleção brasileira e a azul e branca da argentina são reconhecidas no Gabão, na Eslo-vênia, no estado americano de Wisconsin ou em um balneário no Azerbaijão, às margens do mar Cáspio.

As diferenças históricas entre Brasil e Argentina já estão resolvidas desde a metade do século XIX. Pode-se até dizer que, de certa forma,

somos os melhores amigos um do outro. Mas, se no campo da política não existem divergências, em todo o universo dos esportes é difícil ha-ver uma rivalidade tão forte quanto a de Brasil e Argentina no futebol. Seria como na geopolítica internacional ser americano ou soviético nos tempos da Guerra Fria. Os demais apenas observam a nossa supe-rioridade. Tudo bem, Itália, Alemanha e mesmo a Espanha e a França podem fazer frente a Brasil e Argentina. Mas nenhuma dessas nações, nem mesmo os italianos com suas quatro Copas do Mundo, consegue despertar a magia do drible e do passe dos sul-americanos. E nem se fale de nossa capacidade de produzir tantos craques em todas as gerações.

Pergunte quem é o melhor jogador de todos os tempos e, no mundo todo, haverá quase unanimidade entre três nomes – Pelé, Maradona e, mais recentemente, Messi. Qual a melhor seleção de todos os tempos? Provavelmente dirão – inclusive os argentinos – que o Brasil de 1970.

Apesar dessa rivalidade, colocada a prova em quatro jogos de Copa do Mundo, em 1974, 1978, 1982 e 1990, e em dezenas de partidas ao lon-go de um século de história, brasileiros e argentinos ainda desconhecem muito do futebol do país vizinho, de suas características e de sua história.

Neste livro, contaremos ao leitor brasileiro o que é o futebol argentino (a partir da ótica de brasileiros que, como no caso do Ariel, vivem na Argentina e, no do Guga, viveram na Argentina), desde sua história até seu estilo de jogo. Por que nas seleções argentinas há tantos jogadores com sobrenome italiano? Por que existem dois cam-peonatos argentinos por ano? Quais foram os títulos conquistados

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pela Argentina? Qual foi a ocasião em que argentinos e brasileiros – ao lado dos italianos – ganharam juntos uma Copa do Mundo?

Como se manifesta o fanatismo das torcidas argentinas, aquelas que cantam sem parar, o time esteja ganhando ou perdendo? Quais seriam os equivalentes brasileiros de clubes argentinos como o River Plate, o Racing ou o Boca Juniors? Qual o maior clássico argentino? O que são clássicos de bairro? Você sabia que o maior estádio de Buenos Aires não é a Bombonera (embora esta seja a “catedral” do futebol na Argentina)? É verdade que eles chamam os brasileiros de “macaquitos”? E que, ao contrário de nós (que preferimos uma derrota argentina a uma vitó-ria brasileira), a maior alegvitó-ria deles não é sequer ganhar dos brasileiros? Aliás, locutores esportivos argentinos não possuem frase alguma que sustente que “ganhar é bom, mas ganhar do Brasil é melhor”.

Os brasileiros querem saber o que, afinal de contas, aconteceu no tão falado jogo da Argentina contra o Peru em 1978, que alijou o Brasil daquela Copa. E se Messi já é melhor que Maradona.

Como o futebol é representado no tango, no cinema, na litera-tura e nos quadrinhos?

No Brasil seria uma heresia sair com a camisa da seleção argen-tina, mas lá é comum ver argentinos usando a “canarinha”, evidente-mente, fora do período da Copa ou de outro tipo de campeonato. Essa informação pode ser estarrecedora para os defensores da perpétua rivalidade, mas os argentinos acham bonita a camisa brasileira para vestir informalmente no cotidiano.

E uma informação que pode deixar muitos torcedores brasileiros traumatizados: os argentinos admiram o futebol brasileiro e gostam do Brasil como um todo. Ou melhor, além de gostar, admiram o Brasil por uma longa lista de fatores, entre os quais está o lado mais frívolo ou de ócio, como as praias, a caipirinha, o Carnaval, a paisa-gem litorânea, o samba, a bossa nova e os cafés da manhã dos hotéis, pela vasta variedade de frutas tropicais que oferecem.

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De quebra, os argentinos consideram as brasileiras o máximo da sensualidade. Conhecemos vários argentinos que tentam marcar um encontro pelo telefone com garotas, só por sabê-las brasileiras, sem nunca as terem visto pessoalmente.

No lado político-econômico, nas últimas duas décadas os argen-tinos passaram a admirar a industrialização brasileira, a influência regional crescente adquirida desde os anos 1990, o protagonismo político e econômico mundial do Brasil e, acredite se puder, até con-sideram a classe política brasileira “menos corrupta” e mais eficiente do que a da Argentina!

Mais um detalhe: não adianta contar a um argentino uma piada sobre argentinos. Eles conhecem todas, e até mais algumas que a gente não sabia. Acontece que essas piadas não foram feitas no Brasil, mas na própria Argentina, em função do ácido humor que os argentinos – especialmente os portenhos – possuem sobre si próprios.

Na Argentina existe o mito de que os brasileiros referem-se ao pró-prio país, à cultura, ao futebol e aos produtos brasileiros como “o mais

grande do mundo”. A frase é pronunciada costumeiramente em Buenos

Aires como “o mais grandgi dú múndô”, com o erro gramatical incluído em vez da forma correta “o maior do mundo”. E, em seu primeiro mandato, ao assinar um acordo com a Embraer, a presidente Cristina Kirchner citou a frase, apesar de errada, e além disso, ingenuamente, enfatizou: “Acho fantástico o orgulho dos brasileiros, que se referem assim, ‘o mais grande do mundo’! Isso mostra o orgulho que eles têm!”. Voltando ao futebol: os argentinos definem a forma de jogar dos brasileiros com admiração, com a expressão “jogo bonito”, pronun-ciada quase sempre com um peculiar sotaque: “xóôgo bónito”.

O acadêmico Pablo Alabarces, da Universidade de Buenos Aires (UBA), que realizou com o brasileiro Ronaldo Helal (da UERJ) um debate

interessante sobre a relação futebolística entre os dois lados da fronteira, cunhou uma frase que tenta resumir a intrincada trama de sentimentos

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mútuos: “Os brasileiros amam odiar a Argentina, enquanto os argen-tinos odeiam amar o Brasil”. Helal ressalta que “qualquer rivalidade contém uma dose de admiração e de inveja. Somente rivalizamos com alguém que tem algo que desejamos possuir ou superar”.

E, para encerrar: em meados de 2013, no Brasil, durante sua pri-meira viagem internacional depois de eleito, o papa Francisco (torcedor fanático do San Lorenzo) brincou com jornalistas sobre os cardeais brasileiros, supostamente candidatos derrotados por ele, um argentino: “Deus já é brasileiro... e vocês queriam também um papa brasileiro?”.

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Agradecemos aos jornalistas argentinos Ezequiel Fernández Moores e Fernando De Dios pelas valiosas contribuições e avalia-ções críticas durante a preparação deste livro. Além disso, também agradecemos à colaboração do jornalista brasileiro Valtemir Soares Junior pelas sugestões dadas à obra. Além deles, nossos muchas

gracias ao jornal Clarín pelas fotografias cedidas para ilustrar boa

parte deste livro.

Dedicatória de Ariel Palacios

Sem a Miriam De Paoli, a mulher que amo, eu nada seria. Portanto, minha parte deste livro somente foi possível graças a ela. Além do apoio permanente, ela deu os conselhos que propiciaram o pontapé inicial desta obra. Outra fonte de estímulo e de alegria foi minha filha Victoria, que tive no colo enquanto escrevia vários dos capítulos (coincidentemente, em meu escritório deu seus primeiros chutes em uma bola, gritando “gol”). Também foram cruciais minha mãe, Marta – de quem me despedi em 2013 – e meu pai, José, além de minha irmã, Verónica, e meu cunhado, Flávio Stein.

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Dedicatória de Guga Chacra

Tive a oportunidade de morar no exterior, seja em Buenos Aires, Nova York ou Oriente Médio, graças ao enorme apoio do meu pai e da minha mãe. Ele sempre me incentivando a estudar e a viver no exterior. Ela por ter sido atleta e me colocar dentro do mundo dos esportes. Meu irmão mais velho, Robert, também ajudou muito ao me transmitir seus conhecimentos sobre futebol. O do meio, Léo, por adorar discussões políticas e históricas. Para completar, gostaria de agradecer a Ana Maria, que sempre esteve ao meu lado.

Referências

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