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ROSINALDO MONTEIRO DA SILVA 1 Universidade Federal do Pará

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Academic year: 2021

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SABERES TRADICIONAIS NA AMAZÔNIA: A RELAÇÃO ENTRE A

PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NAS NARRATIVAS ORAIS DAS COMUNIDADES CAMPONESAS DO RIO MAÚBA (ABAETETUBA-PARÁ)

ROSINALDO MONTEIRO DA SILVA1

Universidade Federal do Pará – naldoquimica2005@yahoo.com.br

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa propõe compreender os saberes tradicionais na Amazônia a partir da análise da relação entre a preservação da memória e a conservação do meio ambiente nas narrativas orais das comunidades camponesas do rio Maúba, no município de Abaetetuba - PA.

Diante do exposto, definiu-se como objeto dessa pesquisa, a seguinte pergunta: “como se dá a preservação dos saberes tradicionais a partir da relação entre memória social dos camponeses e a conservação do meio ambiente na realidade camponesa?

Neste sentido, a presente pesquisa se propõe resgatar a memória dessas populações e seus saberes tradicionais de preservação da floresta, e como essas populações mantem suas tradições e suas relações com floresta na perspectiva da manutenção da própria vida e de seus descendentes.

Assim, compreender a produção dos saberes dessas populações tradicionais, requer compreender seus saberes e fazeres. Partimos desse utilizamos o conceito de “populações tradicionais” desenvolvido pelas ciências sociais e, que são aquelas que possuem conhecimento da natureza, que se relacionam de forma muito íntima com as representações subjetivas acerca da floresta, conhecendo seus segredos, suas propriedades e utilizando dos seus recursos para viver e transmitindo esses valores de geração a geração (STEFANELLO, 2012).

1 Professor da Educação Básica do Estado do Pará. Mestrando do Programa Pós-Graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC), Supervisor do Subprojeto Abaetetuba - PIBID/Diversidade-UFPA e Membro do Grupo de

Estudos e Pesquisa Memória, Formação Docente e Tecnologia (GEPEMe/UFPA). E-mail:

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Em nosso compreender os saberes tradicionais é importante para entender como essas populações utilizam estes conhecimentos e também para a preservação desse conhecimento. Diegues, Andrello & Nunes (2001) definem o conhecimento tradicional como o conjunto de saberes e saber fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural; no caso da Amazônia essa apropriação de saberes consolidada a identidade das populações tradicionais.

Partindo dessas afirmações, reconhecemos que o conhecimento dessas populações aliado à conservação da biodiversidade; dos ecossistemas, da preservação do meio ambiente é fundamental para a compreensão da construção de outra lógica de desenvolvimento econômico que privilegie o desenvolvimento cultural e social, articulado a preservação da floresta, sua diversidade e suas populações.

Segundo Saldanha (2005) são os esforços de conservação que promove os processos sociais, que permitem às populações tradicionais conservar e aumentar a relação biodiversidade como parte de seu modo de vida.

Dentro de campo de análise, observamos que o uso racional dos recursos naturais configura-se também como um requisito para a perpetuação das populações tradicionais nos ambientes nos quais estão inseridas; ou seja, há uma correlação necessária entre sociedade/meio natural que não pode ser subestimada; muito pelo contrário precisam ser compreendidas e valorizadas como práticas culturais importantes para a Amazônia.

Desta forma, os conhecimentos das comunidades tradicionais, ainda que produzidos localmente, são objeto de discussão global, como, afinal de contas, também seu próprio destino (CASTRO, 2000). Portanto, se faz necessário entender quem são essas populações ditas “tradicionais”, valorizando os aspectos da vida desses grupos humanos, sobretudo nos seus campos de luta.

Os conhecimentos tradicionais são produzidos e gerados de forma coletiva com base em ampla troca e circulação de ideias e informações transmitidas oralmente de uma geração à outra (SANTILLI, 2005). Já para DIEGUES; ARRUDA (2001), o conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e práticas a respeito do mundo natural e sobrenatural transmitido oralmente, de geração em geração.

Para as populações tradicionais há um sentimento de pertencimento a uma cultura local, em que os aspectos da tradição cultural e dos saberes culturais tradicionais é transmitida de geração em geração a partir da oralidade.

A partir dos pressupostos apresentados, consideramos que uma pesquisa neste campo de investigação, tão necessária na Amazônia, significa compreender uma dinâmica particular

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dessas populações tradicionais, entender e valorizar os saberes tradicionais como forma de fortalecimento da identidade e dos modos de vida da população amazônica.

Dessa forma, apresentamos como pergunta de pesquisa: De que forma as populações camponesas tradicionais da Amazônia se relacionam com o meio ambiente e produzem práticas sustentáveis de viver, produzir e ocupar a floresta, produzindo saberes tradicionais que vão sendo preservados através da memória e das narrativas orais através de várias gerações?

Para responder esse questionamento epistemológico, utilizaremos as seguintes categorias: populações tradicionais, saberes tradicionais e preservação, articulados a compreensão que temos da diversidade humana que há na Amazônia, com isso focaremos esses elementos dentro da realidade do Município de Abaetetuba, em especial na comunidade Maubá.

2. Objetivos e do Problema de investigação

Diante do exposto definiu-se como problema de pesquisa “como se dá a preservação dos saberes tradicionais a partir da relação entre memória social dos camponeses e a conservação do meio ambiente na realidade camponesa?”. Essa pergunta foi movida pelas questões relacionadas com a realidade local, na contradição da não-preservação da memória, em especial dos velhos, mas ao mesmo tempo na necessidade de manter viva a tradição dos saberes culturais nas comunidades, que tem sido a tônica da população camponesa abaetetubense.

Nesse sentido resgatar a memória social das práticas culturais é valorizar o patrimônio cultural. Abaetetuba traz com sigo um contexto histórico rico de pesquisa como fonte documental que precisa ser passada “de pai para filho”, e não pode “ficar” no esquecimento, a cultura é a marca de uma cidade. Garantir o respeito à cultura, preservar a história da cidade e os grupos culturais que ainda resistem ao esquecimento é dever não só do município como a sociedade reconheça o bem cultural (material ou imaterial).

Partindo da essência dessa proposta de pesquisa definiu-se como objetivo geral: compreender a preservação dos saberes tradicionais na Amazônia a partir da análise da relação entre memoria social das populações camponesas e a conservação do meio ambiente nas narrativas orais das populações camponesas do município de Abaetetuba, no contexto da comunidade tradicional camponesa do Maubá.

Hoje os valores e tradições não são mais preservados por parte das novas gerações. A contemporaneidade afasta as pessoas dos laços familiares e consequentemente de sua cultura

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local, dando espaço apenas para novas manifestações desprovidas muitas vezes de nenhuma forma cultural. No momento em que vivemos a sociedade e a família vem se modernizando, não se tem mais a consciência da importância da família em preservar o arquivo da memoria familiar, sua tradições, de construção de uma identidade; numa época em que o mundo é visto com outros olhos.

No caso de Abaetetuba podemos destacar que:

Quando convivemos no cotidiano real-imaginário de Abaetetuba, cuja sociedade consagrou sua invenção mítica, torna-se ainda, perceptível a atmosfera da cultura ribeirinha sobrevivente e a capacidade de maravilhamento diante das coisas, que constitui o etho da cultura ribeirinha na qual ela se insere e raiz do impulso de reflexão e criatividade de sua gente (LOUREIRO, 2005:19).

Desse modo, a proposta de estudo é voltada para registrar a memória de sujeitos até anônimos para a sociedade seja de resgatar o patrimônio cultural trazido pelas mãos dos saberes tradicionais das populações camponesas, permitir a relação entre o moderno e o tradicional e o resgate do patrimônio cultural local.

3. Referencial Teórico e Metodológico da Pesquisa

O presente estudo se propõe a registrar através do recurso da história oral, as narrativas orais das populações camponesas do município de Abaetetuba, como forma de resgate, preservação da memória dessas populações a cerca desses saberes tradicionais de preservação da floresta, a partir da compreensão da relação holística entre o homem e a natureza.

A memória constitui um fator importante de identificação identitária de um povo; ela é a marca ou sinal de uma cultura. No contexto atual, a globalização tem um papel decisivo no processo de desconstrução de culturas e construção de novas identidades por meio da mídia e dos meios de comunicação em massa. O uso de novos recursos tecnológicos como a internet por meio de redes sociais constitui como uma nova forma de aproximar as pessoas, encurtar a distância, porém, ao mesmo tempo em que se estreitam os laços, o meio urbano afasta as pessoas das vivencias de suas tradições e dos costumes culturais; as pessoas não se sentem sujeitos ativos e participativos na construção da identidade local.

O trabalho de pesquisa com a entrevista é enriquecedor, pois, possibilita compartilharmos histórias de vida do outro, deixando de ser apenas uma memória individual e se tornando em memória coletiva, ao passo que as narrativas vão se construindo, além da troca de conhecimento entre o entrevistador e o entrevistado, assim, a história oral nos

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favorece de forma que recriemos uma visão diferente sobre a nossa comunidade da qual temos visto e/ou ouvido até então pelos documentos registrados pela memoria oficial.

Trabalhar com fontes orais propicia sobretudo, uma atividade mais dialógica com o campo investigado, pois, permite produzir e conhecer novas versões de historias que até então pensávamos que conhecíamos a partir dos relatos de pessoas que vivenciaram e participaram em um determinado período social, através de suas referencias e de seu imaginário. Para (FREITAS, 2002, p.53):

O trabalho com a historia oral possibilita novas versões da história, ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores. (...) O registro das reminiscências das memórias individuais, a reinterpretação do passado, enfim, uma história alternativa à história oficial.

Para a elaboração das entrevistas será feito um trabalho minucioso desde o primeiro contato e mapeamento com os entrevistados apresentando a eles o propósito do projeto e da pesquisa e da importância do seu depoimento para a realização da mesma, até a elaboração do roteiro para que se efetuem as entrevistas. O trabalho com História Oral não é fácil, requer que tenhamos além de responsabilidade, ética profissional, um compromisso com os sujeitos que farão parte da pesquisa.

4. Referencias bibliográficas

CASTRO, Edna. Território, biodiversidade e saberes de populações tradicionais. In: DIEGUES, Antonio Carlos. Etnoconservação: novos rumos para a conservação da natureza. São Paulo. HUCITEC/NUPAUB-USP, 2000.

DIEGUES, A.C; ANDRELLO, G; NUNES, M. (2001): Populações tradicionais e biodiversidade na Amazônia: levantamento bibliográfico georreferenciado. In: CAPOBIANCO, João Paulo Ribeiro et al (Orgs.). “Biodiversidade na Amazônia brasileira: avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios.” Estação Liberdade e Instituto Socioambiental, São Paulo, SP. P. 205-224.

DIEGUES, Antonio Carlos; Arruda, Rinaldo, S.V. (Orgs.). Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001. FREITAS, Sônia Maria de. História oral: possibilidades e procedimentos. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP; Imprensa Oficial do Estado, 2002.

LOUREIRO, Raimundo Nonato Paes. Abaetetuba: fundação mítica e brinquedos de miriti. Abaetetuba, Pa. Prefeitura Municipal, 2005.

SALDANHA, I. (2005): Espaço, Recursos e Conhecimento tradicional dos pescadores de manjuba em Iguape/ SP. São Paulo: Núcleo de Apoio á Pesquisa sobre Populações Humanas e áreas Úmidas Brasileiras/USP. São Paulo, 2005.

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SANTILI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. São Paulo: Peirópolis, 2005.

STEFANELLO, A.G.F; NOGUEIRA, C.B.C. “Direitos Étnicos e Culturais na proteção dos Conhecimentos Tradicionais associados à biodiversidade brasileira”. In: Nilton César da Silva Flores; Leonardo Macedo Poli; João Marcelo de Lima Assafim.. (Org.). XXI Congresso Nacional do CONPEDI/UFF. 1ed. Florianópolis: FUNJAB, 2012.

Referências

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