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DESCONSIDERAÇÃO DA PROPOSTA DE IMPUTABILIDADE DIANTE DOS INIMPUTÁVEIS 1

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Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 23-33, 2009 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 23

DESCONSIDERAÇÃO DA PROPOSTA DE IMPUTABILIDADE

DIANTE DOS INIMPUTÁVEIS

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Pâmela de Sousa Silva* Antônio Carlos Costa* Fabrício Santos Pairo* Calebe Rosa da Costa* Cláudia Borges Normandia* Marco Túlio Ribeiro Cunha** Raphael Araújo Dias***

RESUMO

Este artigo tem o intuito de discutir a proposta de redução da ”Maioridade Penal” no Brasil, apresentando idéias a favor e contra tal medida. O estudo procura analisar as medidas educativas estabelecidas pelo Estatuto da Criança e Adolescente, cujo objetivo é zelar pelos considerados menores infratores, bem como realizar sucintas comparações com os demais países. Em sede de conclusão, deduz-se que a redução não resolverá o problema, sendo apenas uma maquiagem aos olhos da sociedade, e conclui-se que a aplicabilidade pode vir a ser a deficiência encontrada até então.

PALAVRAS-CHAVE: Maioridade. Redução. Estatuto. Aplicabilidade. INTRODUÇÃO

Neste estudo serão discutidas as controvérsias existentes no momento atual de nossa sociedade, referentes à redução da maioridade penal. Primordialmente será apresentado o tema da maioridade penal no Brasil, também conhecida como idade da responsabilidade criminal, expressa em nosso ordenamento jurídico em seu art. 27 do Código Penal, que estabelece qual será a idade mínima para um indivíduo ser responsabilizado penalmente, ou seja, sofrer punições que restringem a liberdade.

No Brasil, são passíveis de pena os agentes que possuírem mais de 18 anos, desta forma os menores são considerados inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas pela legislação especial, caso haja ato ilícito. Após, o estudo abordará sobre tal legislação

1Pesquisa apresentada à banca examinadora e ao conjunto de disciplinas do 6º período do Curso de Direito da

Faculdade Católica de Uberlândia – 2º semestre de 2009.

*Graduandos do 6º período do Curso de Direito da Faculdade Católica de Uberlândia.

** Orientador deste trabalho. Pós-graduado em Direito Empresarial pela Universidade Federal de Uberlândia. Pós-graduado em Docência no Ensino Superior pela Faculdade Católica de Uberlândia. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor de Direito Civil no curso de Direito da Faculdade Católica de Uberlândia. Advogado militante nas áreas de Direito Civil e Empresarial.

*** Orientador deste trabalho. Pós-graduado em Definição de Estratégia Comercial pela Universidade Federal de Uberlândia. Graduado em Filosofia pela Faculdade Católica de Uberlândia.

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especial, esta introduzida no âmbito jurídico através do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), que prevê medidas educativas para aqueles que cometem um ato antijurídico, o que aos olhos da sociedade não é devidamente aplicado. Com isso, o objetivo especifico é esclarecer que a não empregabilidade do estatuto favorece argumentos de redução da maioridade penal

De posse deste fato, afloram-se propostas e fundamentos que serão citadas a favor da redução da responsabilidade criminal, reduzindo de 18 para 16 anos, e para os mais radicais passaria para 14 anos. Entretanto, há controvérsias a respeito do assunto, pois alguns membros de instituições jurídicas, religiosas e sociais são contra a idéia, com a tese de que não resolverá o problema da violência. Desta forma, não só o Brasil, mas outros países aderem à mesma idade penal.

Sendo assim, concluir-se-á que não há argumentos suficientemente concretos de que a proposta da redução da maioridade penal resolveria o problema da criminalidade infantil, sendo mais razoável e eficiente investir em medidas educativas em projetos de inclusão social.

CONSIDERAÇÕES

Inicialmente não há como estudar as propostas, sem antes esclarecer sobre Maioridade Penal. O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define “Maioridade” como “a idade em que o indivíduo entra no pleno gozo de seus direitos civis”, e “Maioridade Penal” como “condição de maioridade para efeitos criminais” 2·. A maioridade penal no Brasil está incansavelmente prevista no ordenamento jurídico, seja na Constituição Federal, na Lei de Segurança Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)3, menores de 18 anos serão penalmente inimputáveis.

Atualmente, quando um indivíduo comete algum ato típico e antijurídico, de acordo com a lei penal, o agente sofrerá a pena prevista em lei, se possuir idade igual ou maior de 18 anos. Desta forma, ocorrerá o devido processo legal conforme os ditames do Código de Processo Penal. Contudo, se o mesmo ato (crime) for cometido por uma pessoa cuja idade

2 Kahn, Túlio. Maioridade Penal. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maioridade_penal Acesso em: 24

de nov. de 2009.

3 BRASIL. Lei Federal Nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, 1990.

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seja inferior a 18 anos, dá-se o nome de ato infracional, sendo aplicada a esses indivíduos, medidas sócio educativas, uma espécie de advertência, que estão previstas no Estatuto da Criança e Adolescente. Robson comenta que:

As medidas socioeducativas é a medida aplicada pelo Estado ao adolescente que comete ato Infracional (menor entre 12 e 18 anos), tem natureza jurídica impositiva, sancionatória e retributiva, visa inibir a reincidência e sua finalidade é pedagógica e educativa. Na

aplicação dessa medida são utilizados os métodos pedagógicos, sociais, psicológicos e psiquiátricos. 4

O ECA (Lei 8069/90) considera, através de alguns de seus artigos, o seguinte:

Art.1º: Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art.2º: Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.5

Art. 90: As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes em regime de:

I - orientação e apoio sociofamiliar; II - apoio socioeducativo em meio aberto; III - colocação familiar;

IV - abrigo;

V - liberdade assistida; VI - semiliberdade; VII - internação.6

Porém, apesar das garantias impostas pela ECA, esta só é lembrada quando ocorrem homicídios, pela grande repercussão causada pela mídia, cujos autores são adolescentes. Os principais crimes cometidos por eles são em ordem: roubo (29%), homicídio (18%), furtos e tráfico de drogas (9%) 7.

O Ministério da Justiça realizou uma pesquisa que revela que mais de 70% das instituições para jovens infratores são inadequadas, ou seja, das 190 instituições de internação,

4 Robson,. Medidas Sócio educativas. Disponível em: <

pt.shvoong.com/law-and-politics/law/law-and-society/792870-medidas-socioeducativas/ Acesso em: 24 de nov. de 2009.

5 BRASIL. Lei Federal Nº. 8.069 de 13 de julho de 1990. Lex: Vade Macum., Saraiva, 7º Ed, 9.1045,2009 6 BRASIL. Lei Federal Nº. 8.069 de 13 de julho de 1990. Lex: Vade Macum., Saraiva, 7º Ed, 9.1050,2009 7 NEVES. Ana Cláudia. Redução da maioridade penal. Disponível em: < http://jusvi.com/artigos/789> Acesso

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135 não favorecem um ambiente saudável para a recuperação do menor infrator e não atendem às propostas estabelecidas pelo Estatuto.8

Nota-se, descaradamente, que o sistema não é aplicado da forma como deveria. As medidas “sócio educativas” expressadas no ECA, não acontecem de fato, ocorrendo, assim, um índice considerável de repetição de atos infracionais ocasionada pelo mesmo adolescente, quase que igual ao do sistema prisional brasileiro, cuja estatística ultrapassa 70%9.

O índice de criminalidade envolvendo adolescentes como autores é ascendente, o que incentivou a criação da emenda constitucional 171/93, que nada mais é que a proposta de redução da responsabilidade criminal para 16 anos. Sendo assim, vários argumentos são citados, os quais serão apresentados a seguir:

O atual Código Penal brasileiro, aprovado em 1940, foi criado diante de uma juventude imatura, inocente, ingênua, entre outros, um tanto diferente da realidade atual, ou seja, atualmente temos uma sociedade inteiramente moderna, diferentemente daquela de 69 anos atrás, principalmente no que se refere ao comportamento de um modo geral, seja pelos meios de comunicação (rádio, televisão, internet e etc.) ou pelo aumento da violência. Mas é claro, não significa dizer que os jovens de hoje são mais bem informados que os adolescentes do passado, pois quantidade de informações não significa que serão absorvidas com qualidade por estes jovens.

Outro argumento é que a maioridade de 18 anos gera um sentimento de impunidade entre os menores, o que estimula o comportamento marginal e delinqüente ou inconseqüente, já que não serão penalmente responsabilizados. A lei deve ser utilizada de forma igualitária, a fim de inocentar realmente os inocentes e penalizar verdadeiramente os culpados conforme o princípio da proporcionalidade.

Para a opinião pública a redução é “favoritismo”, os argumentos refletem na idéia de que os jovens já são maduros o suficiente para: opinar politicamente, tomar a “cervejinha” com os amigos e utilizar o carro dos pais. Por que não seriam maduros também para responder seus atos penalmente? Aliás, o jusfilósofo MIGUEL REALE comentando sobre a redução escreve já no século passado o seguinte:

8 Ibid., Acesso em: 24 de nov.de 2009

9 .ALVES, Ariel de Castro. Redução da Idade Penal e Criminalidade no Brasil. Disponível em:

<http://www.crianca.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=271Acesso em: 24 de nov.de 2009.

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Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 23-33, 2009 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica 27 ...Aliás, não se compreende que possa exercer o direito de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela prática de delito eleitoral. 10

Afirma Heloisa Gaspar Martins Tavares11 que alguns deputados estaduais do Estado de São Paulo defendem a redução para 14 anos. Esta idéia retrata a realidade de vários países. Ex.: China – 14 anos, Itália – 14 anos, Haiti – 14 anos, Japão – 14 anos. Já nos Estados Unidos da América e Inglaterra, é adotada a teoria da inimputabilidade penal absoluta ou relativa, isto é, o menor pode ser responsabilizado pelos seus atos a partir do 14 anos nos EUA e 10 anos na Inglaterra, dependendo do entendimento do juiz que analisa a consciência de cada indivíduo perante o ato, o que não inibe a punição.

No entanto, não é somente o aspecto da consciência do ato criminoso pelo menor que deve ser considerado quando discute-se a redução da maioridade criminal.

José Muiños Piñeiro Filho, membro do Ministério Público do Rio e ex-procurador de Justiça do Estado diz:

Como membro do Ministério Público atuando a mais de duas décadas em matéria penal, e enfrentando exatamente crimes de gravidade, inclusive chacinas, sou favorável à redução [...] Nós temos que levar em conta que o Direito Penal não é isolado. Ele tem que levar em conta aspectos da Psicologia, da Medicina, fenômenos sociais. Quando se fala em responsabilidade penal, se será aos 18, aos 16, aos 14, aos sete como muitas legislações do direito externo admitem, está se falando em relação à pessoa que tem capacidade para entender o seu crime. Não estamos falando em relação aos crimes praticados, não estamos falando no tempo de punição – se 3, 4, 10, 50 anos, não estamos falando nas origens do crime. Estamos falando quando alguém deve ser responsabilizado penalmente e sofrer as conseqüências. Não estamos dizendo se o sistema penal, penitenciário, ou os abrigos em que são recolhidos os menores, são adequados, recuperam ressocializam. Isso é outro assunto, que deve ser discutido; é uma conseqüência. O que estamos discutindo é se alguém com 16 anos tem capacidade penal, e disso estamos convencidos “12.

Certo está Muiños quando diz que o tema em discussão é em relação ao indivíduo, quando este tem ou não tem capacidade penal para responder pelos seus atos e, também que

10REALE, 1990, p. 161,

11 TAVARES, Maria Gaspar Martins, Advogada da FUNAP. Reforma da Idade Penal. Disponível em: <

http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_da_idade_penal_(Brasil) Acesso em: 24 de nov. de 2009.

12 Declaração feita em debate na Globonews em 15/02/2007, Apud, TAVARES, Heloisa Gaspar Martins. Reforma da Maioridade Penal. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_da_idade_penal_(Brasil). Acesso em: 21 de nov. de 2009.

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um jovem de 16 anos, hoje tem sim conhecimento da ilicitude, porém não há como discutir a proposta de redução sem pensar em outros aspectos.

Uma das maiores preocupações com a proposta de redução é com relação ao sistema prisional, pois as barbaridades que existem nos presídios, as ilegalidades nas cadeias públicas e a superlotação tornarão o jovem infrator um humano infeliz e vivendo com todos os tipos de marginais aprendendo coisas ilícitas, fazendo uma espécie de “estágio” com criminosos experientes, seria uma verdadeira escala de marginais. Está comprovado estatisticamente que não há mais receptividade no atual sistema prisional nacional tem 331.457 presos para um total de vagas de 180.950 possui uma superlotação. Existe um déficit de aproximadamente 70.852 vagas. (Estatística Criminal de 2004). Com a redução, o sistema carcerário conseguiria ficar pior do que já está. Não será a solução colocar adolescentes e adultos juntos no sistema prisional, por mais que aqueles tenham conhecimento do ato infracional, o adolescente ainda está em uma fase de desenvolvimento psicológico, moral, ético e por isso mais suscetível ao ambiente e às relações que o cercam.

Para alguns autores há inconstitucionalidade na possível emenda, sendo que, para o jurista Pierpaolo Bottini, a maioridade prevista na Constituição Federal é “cláusula pétrea”, ou seja, são proibitivas de alteração via emenda constitucional tendente a abolir a norma constitucional. Luiz Flávio Gomes entende impossível tal modificação, pois o Título VIII (Da Ordem Social,) da Constituição, Capítulo VII (Da Família, Da Criança, Do Adolescente e do Idoso), deve ser considerado, como direito e garantias individuais adquiridos, toda via sendo cláusula pétrea, só pode haver alteração ocorrendo nova Assembléia Nacional Constituinte.

Contudo para a doutrina minoritária, os direitos e garantias individuais, seriam apenas os previstos no art.5º da CF/88- dentro do Título II (Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo I (Direitos e Deveres Individuais e Coletivos).

Já o Supremo Tribunal Federal entende que o rol das normas petrificadas é bem mais amplo, não sendo passíveis de modificação por emenda aquelas tendentes a aboli-las, assim como expressa o art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal, que diz:

“Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: ...(IV) os direitos e garantias individuais”.

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O mesmo ocorre, por exemplo, com as normas que versam sobre anualidade eleitoral, anterioridade tributária, e direitos sociais, políticos, nacionalidade também abrangidos pela vedação do Constituinte originário de reforma, todos previstos em outros artigos.

A propósito, Ellen Gracie ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, é contra a redução dizendo o seguinte:

Nós estaríamos como que renunciando a uma política estrutural de assistência aos adolescentes, resolvendo o problema da maneira mais fácil possível, mecânica e cômoda, pela simples redução da idade penal13,

Na mesma linha de pensamento o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se pronunciou contra qualquer redução da maioridade penal. O Presidente disse:

[...] o Estado não pode tomar decisões com base na emoção"14. [...] Se a gente aceitar a diminuição da idade para 16 anos, amanhã estarão pedindo 15, depois para 10, depois para 9, quem sabe algum dia queiram punir até o feto se souberem o que vai acontecer no futuro." 15conclui o Presidente.

O atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio Rocha entende ser ineficaz a diminuição da violência, sendo que os crimes cometidos por jovens tem índice muito baixo, sendo 10%, não justificando a redução. Mas a CNBB defende mudanças no ECA.

Uma pesquisa feita pela “Crime Trends” (Tendências do Crimes) realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) constataram que dos 57 países analisados, apenas 17% adotam idade menor há 18 anos como definição legal de adulto: Bermudas, Chipre, Estados Unidos, Grécia, Haiti, Índia, Inglaterra, Marrocos, Nicarágua, São Vicente e Granadas. A Alemanha que tinha baixado a idade penal retornou novamente a maioridade para 18 anos e criou, inclusive, um sistema diferenciado para o tratamento de infratores entre 18 e 21 anos. Da mesma forma o Japão, ao se surpreender com um súbito aumento de criminalidade entre seus jovens, ampliou a maioridade penal para 20 anos, por entender que é com educação que se previne a violência. Itália, Bélgica, França, Áustria, Suécia, Dinamarca e Chile, dentre outros, seguem igualmente as recomendações de especialistas mundiais e as principais convenções internacionais.

13 O Globo, 10/02/2007,p.17. Apud, TAVARES, Heloisa Gaspar Martins. Reforma da Maioridade Penal. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_da_idade_penal_(Brasil). Acesso em: 21 de nov. de 2009. 14 Ibid., Acesso em: 21 de nov. de 2009.

15 http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/02/16/294611779.asp. Apud, TAVARES, Heloisa Gaspar Martins. Reforma da Maioridade Penal. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_da_idade_penal_(Brasil). Acesso em: 21 de nov. de 2009.

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Nota-se que muito se diz sobre a redução da maioridade, mas pouco se sabe das leis e medidas já existentes. O estatuto aduz que menores infratores, de 12 a 18 anos terão suas devidas punições, inclusive a internação provisória pelo prazo de 45 dias, dependendo do ato cometido, assemelhando-se com a prisão preventiva ou temporária, esta estabelecida pelo código Penal. É falsa a idéia de que o Estatuto da Criança e do Adolescente não pune. Ele pune sim, e com rigor o adolescente autor de ato infracional, o menor poderá ser internado (preso), processado, sancionado (condenado) e, se for o caso, cumprir pena em locais pré-estabelecidos, estes considerados educacionais. Contudo, depois de cumprido o prazo total de internação, poderá o adolescente ser submetido ao regime de semiliberdade, após, não obtendo nenhuma advertência, terá o menor a liberdade assistida. Esta internação tem como intuito a recuperação daquele que errou, seja por fatores sociais ou até mesmo por imaturidade. O simples fato do mesmo ser adolescente faz com que este método haja possível ressocialização deste para com a sociedade, já que o menor está em fase de desenvolvimento.

Desta maneira, não se faz necessário à discussão sobre menoridade Penal, uma vez que, como dito anteriormente, o infrator já será punido desde os 12 anos.

O que na verdade tem de ser objeto de discussão é aquilo que tange a inaplicabilidade da lei, sendo completamente falha.

Estudos realizados pela Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) com o Conselho Federal de Psicologia (CFP) 16 através de vistorias em unidades de internação, concluíram que as maiorias dos estados brasileiros estão com estruturas inadequadas para a aplicação deste direito e ainda adotando políticas de mero encarceramento. Aquelas garantias expressas no ECA como atividades educativas, profissionalizantes, culturais, esportivas atendimento médico, acompanhamento jurídico, não estão em momento algum sendo executadas. Mas repito a solução não é mudar a lei e sim, com as sábias palavras do Ariel de Castro Alves Advogado, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos·.

[...] o que precisamos é forçar os estados a cumprir a lei sob pena de responsabilidade dos gestores públicos. Eles é que deveriam ir parar atrás das grades.17

16 ALVES, Ariel de Castro. Redução da Idade Penal e Criminalidade no Brasil. Disponível em: < http://www.crianca.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=271 >Acesso em: 24 de nov.de 2009.

17 ALVES. Ariel Castro. Os jovens e a lei. Disponível em:

<http://www.inclusaodejovens.org.br/Documentos/BIBLIOTECA/OS%20JOVENS%20E%20A%20LEI.>pdf. Acesso em: 21 de nov. de 2009.

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Havendo as devidas mudanças, ou seja, de inaplicadas passarem a ser aplicadas, durante processo de execução e até mesmo aperfeiçoando-as, tem-se grandes expectativas em relação à recuperação dos jovens que se envolveram em crimes, evitando assim, corrupções futuras. A doutora em psicologia social e coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos do Observatório de Favelas, Raquel Willadino,

[...] Temos que reorganizar o sistema em função do adolescente enquanto sujeito de direito.18

Está comprovado que os estados e projetos sócio-educativos que cumprem a lei têm alcançado resultado, o índice de repetência de atos infracionais chega a ser menos 5%19. Isso comprova que com os esforços dos jovens e principalmente das entidades, esses, estão mais propícios de ressocialização, se receberem tratamentos e ambientes adequados. Ao contrário do sistema carcerário que tem perpetuado as pessoas ao crime.

A juventude do Brasil não precisa de leis simbólicas, é preciso na verdade que haja a aplicabilidade verdadeira do ordenamento jurídico brasileiro, conforme diz Roberto Lyra:

“A verdadeira prevenção da criminalidade é a justa e efetiva distribuição do trabalho, da cultura, da saúde, é a participação de todos nos benefícios da sociedade, é a justiça social”.20

CONCLUSÃO

Não há como discutir a alteração da legislação vigente no que tange a proposta de redução da maioridade penal sem considerar a aplicação da própria lei vigente consignada no ECA.

A influência do aumento da violência praticada por menores sobre a sociedade é inquestionável, portanto toda negatividade mal fundamentada faz brotar na sociedade a hipótese da redução da responsabilidade criminal. Viu-se no estudo que existem vários

18 CERQUEIRA, Luciana. A Redução da Maioridade Penal: Disponível em: <

http://www.juspodivm.com.br/i/a/%7B5401F05E-D766-4D8D-9513-095F5AB49D37%7D_a_reducao_da_maioridade_penal.doc > Acesso em: 24 de nov. de 2009

19 ALVES, Ariel de Castro. Redução da Idade Penal e Criminalidade no Brasil. Disponível em:

<http://www.crianca.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=271Acesso em: 24 de nov.de 2009.

20NEVES, Ana Cláudia. Redução da maioridade penal. Disponível em < http://jusvi.com/artigos/789> Acesso

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fundamentos e idéias relevantes quanto à possível criação da emenda constitucional favorecendo a redução, porém não há argumentos suficientemente fortes de que esta proposta resolverá o problema, inclusive já vivido por outros países, que acharam melhor investir em medidas educativas do que em prisão e além de tudo retornaram a maioridade penal para 18 anos. Desta forma conclui-se que não se faz necessária a redução da maioridade, até porque a pena privativa de liberdade será sempre a ultima ratio legis . Ao contrário, o foco deveria ser em relação à efetiva aplicação do Estatuto.

Não precisamos no Brasil de importar leis ou constituições. O sistema de educação e prevenção contra criminalidade está desenhado no ECA.

Deste modo, acredita-se que deve-se colocar em prática o sistema brasileiro, porém com disciplina, seguindo com rigor as imposições da lei. A proposta de redução é mais uma maneira de esconder falhas, dos Estados, da sociedade, das próprias Instituições e famílias que maquiam o problema, induzindo os leigos a pensar que a solução é a redução. Já que muitos não possuem coragem para enfrentar o problema desde a sua origem, então acabam responsabilizando alguém mais fraco, que na maior parte das vezes nem sequer possui família.

REFERÊNCIA

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<http://www.inclusaodejovens.org.br/Documentos/BIBLIOTECA/OS%20JOVENS%20E%20A%20L EI >. Acesso em: 21 de nov. de 2009.

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