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Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú

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Academic year: 2021

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Catalogação: Cleide de Albuquerque Moreira Bibliotecária/CRB 1100 Revisão final: Karla Bento de Carvalho Projeto Gráfico: Fernando Selleri Silva

UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso Coordenação do 3º Grau Indígena

Campus Universitário de Barra do Bugres Caixa Postal nº 92

78390-000 - Barra do Bugres/MT - Brasil Telefone: (65) 361-1964

indiobb@vspmail.com.br Dados internacionais de catalogação

Biblioteca “Curt Nimuendajú”

FUNAI - Fundação Nacional do Índio Departamento de Educação DEDOC - Departamento de Documentação

SEPS Q. 702/902 - Ed. Lex - 1º Andar 70390-025 - Brasília/DF - Brasil Telefone: (61) 313-3730/226-5128

dedoc@funai.gov.br

SEDUC/MT - Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso Superintendência de Desenvolvimento e Formação de

Professores na Educação

Travessa B, S/N - Centro Político Administrativo 78055-917 - Cuiabá/MT - Brasil

Telefone: (65) 613-1021

CADERNOS DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA - 3º GRAU INDÍGENA. Barra do Bugres: Unemat, v. 1, n. 1, 2002

-Semestral ISSN 1677-0277

1. Educação Escolar Indígena I. Universidade do Estado de Mato Grosso II. Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso III. Departamento de Documentação / FUNAI.

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EXERCITANDO O SER

Severiá Maria Idioriê Xavante*

Sou índia Karajá e Javaé. Cursei Letras Modernas e Literaturas Correspondentes, Goiânia/GO. Cresci em Goiânia, com minha família adotiva. Aos 9anos, perdi mi-nha mãe, de sarampo. Aos 12, meu pai morreu. Não sei a causa de sua morte até hoje. Esqueci a língua Karajá, falo Português, entendo e falo um pouco de Inglês e estou apren-dendo a língua Xavante.

Aos 6 anos de idade, eu senti que precisava sair de minha aldeia. Não sabia o porquê. O tempo e as experiênci-as fora da aldeia me fizeram sentir que a inquietude se de-via aos últimos dias de vida de minha família. Iríamos come-çar a sobreviver. E a sobrevida me inquietava. Não sabia como poderia assegurar o nosso direito à vida. Senti que era necessário ampliar meus conhecimentos sobre o mun-do que me cercava. Entender tumun-do, refletir, escolher os ca-minhos e buscar soluções. Meu objetivo: estudar e voltar para meu povo. Minha educação escolar não foi específica, nem diferenciada. Aprendi a falar Português e a ler. E “co-nheci” o mundo, lendo.

Aos 19 anos, comecei a trabalhar como monitora de crianças, próximo a uma favela. Tive várias dúvidas quanto à minha profissão, igual a qualquer jovem branca.

A única certeza que eu tinha: não quero ser profes-sora. Minha família, de classe média, me convenceu a estu-* Índia Karajá e Javaé, Professora Auxiliar na Etapa de Línguas, Artes e Literatura I.

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dar Magistério, porque consegui uma bolsa de estudos de Inglês. Há muito tempo queria aprender Inglês. Para minha surpresa, adorei estudar temas referentes à educação. Pres-tei vestibular para Direito na Universidade Federal. Não pas-sei. Prestei para Letras. Todos sabiam que assim que eu terminasse os estudos retornaria à aldeia.

Senti que precisava voltar ao meu povo, porém não desejava ir primeiro ao Karajá ou Javaé. Busquei informa-ções sobre os projetos da universidade.

Foi aí que começou a grande guinada. Tinha novos questionamentos e reflexões. Sempre tinha tido a certeza de que minha formação me auxiliaria na aldeia. Na prática, visitando e trabalhando em um Projeto de Educação, em uma aldeia Krahó, em Tocantins, constatei o quanto os con-ceitos da cultura “branca” estavam impregnados em mim. A visão de mundo, o conceito de higiene, beleza física e sexu-alidade eram diferentes do povo indígena. Entrei em conta-to com o preconceiconta-to “pesado” dos não-índios. Vi o ódio e o espanto nos olhos das pessoas não-índias.

Na aldeia, constatei que meus conhecimentos urba-nos não me permitiriam sobreviver. Não conhecia o cerra-do, não sabia fazer fogo ou buscar alimentos.

Em casa, comecei a refletir sobre aquilo que iria me fazer novamente feliz. Confrontei as diferenças dos conhe-cimentos e sentimentos. Pude ver quem eu era, minha es-sência.

Deixei meu coração me guiar e vi que nunca havia deixado de “ouvir os tambores”, as vozes do meu povo. Senti que tinha sido formada para colocar o meu conhecimento à disposição do meu povo. Juntos poderíamos afirmar, cada vez mais, nossa identidade, nossa capacidade de exercer nossa cidadania, continuar o exercício de ser.

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lindíssima chamada Clara. Xavante e Karajá são inimigos tradicionais. Xavante é caçador. Karajá é pescador. Xavante é sociedade patriarcal. Karajá, sociedade matriarcal. Come-çava minha formação. Os Xavante são considerados guer-reiros ferozes pela sociedade envolvente.

Porém, nunca conheci uma família mais carinhosa, mais gentil, mais risonha, mais respeitosa. O “inimigo” me ensinou o quanto é importante trabalhar as diferenças para fazer este mundo um pouco melhor. Ensinou-me que a mis-são mais nobre é trabalhar pela paz, pela felicidade de to-dos. Que nós devemos aprender com os erros.

Comecei a trabalhar com projetos de meio-ambien-te. Iniciamos a implementação do Projeto Jaburu, na Reser-va XaReser-vante Rio das Mortes, Aldeia Pimentel Barbosa. A filo-sofia do projeto estava fundamentada nos costumes tradici-onais de caça e foi pensada pelos anciãos Warodi e Sibupá. Este projeto consistia em verificar as causas da diminuição dos animais cinegéticos (animais de caça) utilizados pelos Xavante. Uma vez detectadas as causas, buscar as solu-ções. Para os Xavante, a caça não é apenas um alimento físico, mas sobretudo um alimento espiritual. Se não há caça, não há sonho. Se não há sonho, não há Xavante.

Ao desenvolvermos este projeto, começamos um di-álogo com a sociedade envolvente. Começamos um pro-cesso educacional e de sensibilização. Nosso objetivo era que a sociedade nos conhecesse e nos passasse a respei-tar como pessoas de cultura diferenciada, mas pertencente à sociedade brasileira contemporânea. Recebemos vários amigos na aldeia, pessoas e povos do Brasil e do exterior. Fizemos palestras e exposições. Lançamos, junto com o Núcleo de Cultura Indígena, o CD Etenhiritipá, cantos da tradição Xavante. Participamos do lançamento do CD Txai, de Milton Nascimento, e gravamos uma participação no CD

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Roots, da banda de rock Sepultura. Aprendemos e ensina-mos muito. Foi um processo de aprendizagem muito rico.

Até 1994, eu não havia iniciado meus trabalhos de educação escolar por pura insegurança. Iniciei algumas ati-vidades de educação ambiental. Não queria atrapalhar o pro-cesso educacional próprio da comunidade Xavante. Quan-do via as crianças brincanQuan-do, aprendenQuan-do, fazenQuan-do o exer-cício de ser eu me perguntava: Qual é o papel do profes-sor? Para que a escola? Os conhecimentos tradicionais não são suficientes para fazê-los cidadão Xavante/brasileiro e viverem bem?

Durante a minha formação nos conhecimentos Xavante, comecei a viver segundo a visão daquele povo. No início, tive resistência. Afinal, eu tinha estudado na cida-de. Eu sabia muita coisa. Não queria voltar ao “primitivo”. Foram processos internos de aprendizagem: o que é es-sencial, o que é dispensável. Ainda estou em formação. Estou melhorando meu nível de compreensão do mundo e respeitando a visão das outras pessoas. Mudando aquilo que é possível em mim. Confesso que é um processo difícil, nem sempre alegre. Porém, é bem gratificante. E estou aprendendo que, quando as coisas não são fáceis, a me-lhor coisa é dar um mergulho no rio e dar umas boas garga-lhadas. Depois, sentar e ouvir os velhos vendo um céu todo estrelado. Ver, sentir, ouvir, falar e perguntar tudo que se queira saber.

É necessário assegurar a continuação do conheci-mento tradicional.

É importante garantir a continuidade dos conhecimen-tos tradicionais e possibilitar o acesso aos conhecimenconhecimen-tos universais. É necessária a ampliação do conhecimento so-bre os “não-índios” para entendermos as suas atitudes. Mas é fundamental que a formação na aldeia, a formação

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tradici-onal, assegure o exercício de ser: continuar sentindo o orgu-lho de ser Karajá, Xavante, Bororo, Potiguara. Somente des-sa forma seremos respeitados como pessoa, povo perten-cente à grande “raça humana”, que tem o direito de exercitar a diferença de pensamento e expressão cultural. É neces-sário que o povo indígena sinta e analise a sua realidade e os seus objetivos para poder executar ações positivas que for-taleçam sua identidade. É este o nosso desafio maior.

Ao mesmo tempo, é necessário conseguirmos alia-dos da sociedade envolvente. É importante podermos con-tar com pessoas da sociedade não-índia, para trabalharmos juntos às questões educacionais. Pessoas que entendam e conheçam o processo histórico ocorrido no país. Isto por-que pude constatar na prática os preconceitos diários por-que sofremos quando estamos na cidade. Diariamente, temos que provar que somos gente.

Para analisar a formação em educação escolar indí-gena, é fundamental a ampliação de nossa visão para ob-servar todos os aspectos. Cada povo deve pensar sua rea-lidade de educação escolar. Há que se pensar em alguns pontos:

- Qual é a importância da escola e do professor para a comunidade?

- Qual é o compromisso pessoal de cada membro da comunidade em relação à escola?

- O que é ser educador/professor?

- Quais são os objetivos da educação oferecida na escola?

- Quais são os conhecimentos e as atitudes que o educador/professor devem ter?

- Como trabalhar com pesquisadores, amigos, uni-versidade, poder público e privado? É necessário buscar parceiros?

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Estes são alguns pontos que devemos observar para a definição do tipo de educação escolar que permite ao nos-so povo continuar o exercício de ser: ser gente feliz.

É através da análise destes vários aspectos que po-deremos executar ações positivas que consolidem uma edu-cação escolar diferenciada e específica. Uma eduedu-cação escolar que deve primar pela alta qualidade de trabalho e de profissionais da educação. Uma educação escolar que busque analisar sua realidade e a sociedade em que se está inserida. E, deste modo, busque soluções inteligentes e ade-quadas para os problemas.

Para nosso povo, aprende-se fazendo, exercitando, observando o outro. Vivendo um contínuo exercício de ser.

Referências

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