• Nenhum resultado encontrado

METABOLISMO SOCIOECONÔMICO (MSE): CONSTRUÇÃO CONCEITUAL E PROXIMIDADE COM A ECONOMIA ECOLÓGICA (EE)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "METABOLISMO SOCIOECONÔMICO (MSE): CONSTRUÇÃO CONCEITUAL E PROXIMIDADE COM A ECONOMIA ECOLÓGICA (EE)"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)

Campinas-SP, 23 a 26 de setembro de 2019

METABOLISMO SOCIOECONÔMICO (MSE): CONSTRUÇÃO CONCEITUAL E PROXIMIDADE COM A ECONOMIA ECOLÓGICA (EE)

Sessão Temática: Meio ambiente, macroeconomia e desenvolvimento econômico

Autor: Anderson Henrique dos Santos Araújo

Filiação Institucional: Universidade Federal de Uberlândia E-mail: anderson.hsa@gmail.com

Autor: Henrique Ferreira de Souza

Filiação Institucional: Universidade Federal de Uberlândia E-mail: henriquefsz@yahoo.com.br

Autor: Daniel Caixeta Andrade

Filiação Institucional: Universidade Federal de Uberlândia E-mail: daniel.andrade@ufu.br

(2)

Resumo

O metabolismo socioeconômico (MSE) é uma perspectiva teórica e metodológica que tem a pretensão de entender as relações entre as sociedades e a natureza, no sentido de qualificação e quantificação dos impactos biofísicos advindos da apropriação dos seus recursos energéticos e materiais, liberação de resíduos e rejeitos, e efeitos sinérgicos dessas atividades como consequência da ação humana. Partindo dessa abordagem, o presente estudo analisa a inter-relação entre o MSE e economia ecológica (EE), verificando que existe uma complementariedade teórico-metodológica entre ambas as abordagens. Metodologicamente, o estudo constituiu de um levantamento documental, analisando pesquisas acadêmicas teóricas e aplicadas sobre a temática. Os resultados demonstram que o MSE pode contribuir metodologicamente para a análise de dados e informações na EE, sobretudo na análise macroeconômica, segmento que vem ganhando relevância na última década.

Palavras-chave: Metabolismo socioeconômico; Economia ecológica; Contabilidade de Fluxo de Materiais.

Abstract

The socioeconomic metabolism (MSE) is a theoretical and methodological perspective that pretends to understand how societies and nature in the sense of quantification and quantification of the biophysical impacts arising from the appropriation of energy and material resources provided by the environment. Based on this approach, the present study analyzes the connections between MSE and the ecological economics (EE), indicating that there is a theoretical-methodological complementarity between both approaches. Methodologically, the study consisted of a documentary survey, analyzing the academic and applied statistics on the subject. The results demonstrated are MSE can be used for an analysis of data and information in EE, especially in the emergent field of ecological macroeconomics.

(3)

1. Introdução

O tratamento teórico dedicado ao meio ambiente na ciência econômica recebeu profundas modificações na segunda metade do século XX, impactada, dentre outros fatores, pelas reflexões sobre qual meio ambiente deixaríamos para as gerações futuras. Cronologicamente, a problemática ambiental entra de maneira mais incisiva em pauta nas discussões econômicas a partir de 1960, com a contestação da ideia liberal de que cada um agindo por si só levaria ao crescimento eterno e à prosperidade (NOBRE e AMAZONAS, 2002).

Os trabalhos seminais1 chamavam a atenção para a problemática da expansão demoeconômica, em um mundo finito de recursos, e o relacionamento desses com o crescimento econômico. O trabalho de Meadows (MEADOWS et al., 1972), por exemplo, pautou as discussões na primeira conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, levando alguns a colocar a necessidade do “crescimento zero” como solução.

No bojo das discussões ambientais da segunda metade do século XX, mas precisamente no final da década de 1980, a economia ecológica (EE) a eficiência alocativa é um objetivo a ser alcançado apenas após a distribuição justa e a escala sustentável de utilização dos recursos naturais tiverem sido consideradas e determinadas. Diferentemente do esquema analítico convencional, os pressupostos da EE partem da consideração de que o sistema econômico é um subsistema de algo mais amplo e complexo, a ecosfera terrestre. (DALY 2007; DALY 1996; ALIER, 2001).

Partindo do princípio que a ideia de sustentabilidade requer a manutenção de relações harmoniosas e não destrutivas entre natureza, sociedade e sistema econômico, e de que a EE pretende ser a ciência de gestão da sustentabilidade (CONSTANZA, 1994), não resta dúvida de que o foco da análise econômico-ecológica recai sobre a natureza das relações estabelecidas entre meio ambiente e sistemas socioeconômicos. Desta contestação emerge o conceito de escala econômico-ecológica (ou “escala”), que passa a representar uma categoria analítica distintiva da EE. De maneira geral, escala econômico-ecológica se refere às dimensões relativas entre sistema econômico e o sistema maior que o contém (o ecossistema terrestre) (DALY, 1996; CECHIN e VEIGA, 2010).

1 Destacam-se Paul Ehrlich (“The population bomb”, 1968); o artigo de Garrett Hardin “The tragedy of the Commons”, 1968), e “The limits to growth, de Meadows” (1972).

(4)

O aumento significativo dos fluxos e estoques de materiais2, a dupla limitação nas quantidades físicas e na capacidade ecossistêmica de absorção de resíduos e dependência inexorável do sistema econômico com relação ao meio ambiente são as justificativas fundacionais da ideia de escala. Esta precisa ser ecologicamente sustentável, no sentido de que deve respeitar os limites de resiliência dos ecossistemas, e ótima do ponto de vista econômico, uma vez que os benefícios líquidos em termos de bem-estar devem ser maximizados (DALY, 2007). A despeito da relevância do conceito, são relativamente escassos os esforços de mensuração das escalas.

Neste contexto, a abordagem de metabolismo socioeconômico (MSE) pode ser importante por dois motivos: i) cumpre o papel de analisar as relações estabelecidas entre sistema econômico e meio ambiente do ponto de vista quantitativo e qualitativo; ii) os indicadores que emergem da análise do MSE podem ser utilizados como parâmetros para a mensuração da escala econômico-ecológica.

Considerando, pois, a relevância da análise sociometabólica dentro da perspectiva mais ampla da EE, este artigo tem como objetivo realizar uma discussão teórico-metodológica acerca do SME, enfatizando a sua complementaridade com os princípios econômico-ecológicos. Parte-se da premissa de que o SME pode se estabelecer como uma linha de pesquisa importante dentro de abordagens emergentes como a macroeconomia ecológica.

O artigo, que se constitui basicamente de levantamento documental das pesquisas sobre a temática de MSE e está estruturado da seguinte forma: além dessa introdução, a primeira seção discute o marco conceitual sobre o metabolismo social e econômico. Em seguida, são apresentadas e discutidas algumas questões envolvendo a EE e suas inter-relações com o MSE. Por fim, à guisa de conclusão, encerra-se o trabalho com a sistematização das ideias apresentadas.

2. O marco conceitual do metabolismo econômico e social

Recorrente em estudos das ciências naturais, o termo metabolismo é pouco utilizado em ciências econômicas. O relativo descaso dos economistas pelas análises de metabolismo

2 Krausmann et al. (2009) estimaram que ao longo do século XX (1900-2005) houve um aumento de 8 vezes no uso de materiais, chegando a um fluxo anual de 60 bilhões de toneladas de materiais. No que se refere aos estoques, Krausmann et al. (2017) mostram que os estoque de materiais expandiram 23 vezes, exigindo metade

(5)

está ligado ao foco quase exclusivo atribuído aos fluxos monetários entre os agentes econômicos. Este viés analítico é demonstrado pelo tradicional fluxo circular da renda, em que se analisa de que maneira a renda (um fluxo monetário) se movimenta entre os agentes econômicos. Segundo Daly (2007), é que como se a representação convencional do funcionamento do sistema econômico explicitasse apenas seu sistema circulatório, desprezando seu aparelho digestivo, responsável pelas trocas materiais e energéticas entre sistema econômico e meio ambiente3. Esta representação parcial da dinâmica do sistema econômico reflete e epistemologia mecanicista da análise econômica convencional oblitera a natureza termodinâmica dos processos econômicos, permitindo, assim, a manutenção da crença de que o sistema econômico é isolado e autocontido.

Nicholas Georgescu-Roegen, matemático romeno que se enveredou pelas análises econômicas por meio da influência recebida de Joseph Schumpeter, é considerado uma das principais referências teóricas da EE. Em sua obra magna (GEORGESCU-ROEGEN, 1971), fez uma crítica contundente a respeito da interpretação de que o sistema econômico se autopreserva e é isolado em última instância. Ali, descrevia que “economics cannot abandon

its comodity fetishism any more than physics can renounce its fetishism of elementary particle or chemistry can renounce that of molecule” (p. 218). Quatro anos depois, em artigo

clássico, Georgescu-Roegen (1975, p. 348) afirma o seguinte:

“Nothing illustrates better the basic epistemology of standard economics than the usual graph by which almost every introductory manual portrays the economic process as a self-sustaining, circular flow between "production" and "consumption." But even money does not circulate back and forth within the economic process; for both bullion and paper money ultimately become worn out and their stocks must be replenished from external sources. The crucial point is that the economic process is not an isolated, self-sustaining process. This process cannot go on without a continuous exchange which alters the environment in a cumulative way and without being, in its turn, influenced by these alteration”

Parece, claro, portanto, o motivo pelo qual a análise dos fluxos metabólicos (matéria e energia) é marginal dentro da estrutura analítica neoclássica4. Todavia, ao assumir que o sistema econômico é um organismo vivo, complexo e heterótrofo, é forçoso admitir que trocas metabólicas de energia e matéria entre meio ambiente e sistema econômico são imprescindíveis para a manutenção da dinâmica econômica e sua capacidade de atingir seu

3 Daly (1968) chama a atenção para as semelhanças entre economia e biologia. O fundamento da analogia que o autor faz entre estas duas ciências está no reconhecimento de que ambas têm o mesmo objeto de estudo, qual seja, “o processo da vida”.

(6)

fim último, qual seja, a prosperidade humana contínua (não apenas material, mas sobretudo a espiritual), condicionada a um mundo finito e sem combinações destrutivas. De fato, como afirma Daly (1968), o processo metabólico, dividido em anabolismo e catabolismo, tem como propósito (valor produzido) a manutenção da vida, enquanto que o propósito (valor produzido) do processo econômico é a manutenção do prazer da vida.

O conceito de metabolismo, primeiramente desenvolvido e utilizado na bioquímica e biologia, é entendido, para essa área, como a totalidade das reações bioquímicas em uma coisa viva, de forma que todo produto de uma reação é a base para a próxima (PURVES et

al.,1992)

Ressalta-se também que o termo metabolismo é apresentado de diferentes maneiras, podendo ser classificado como metabolismo social (ou socioeconômico) ou industrial. O metabolismo social se aproxima do conceito da biologia, sendo, pois, uma perspectiva teórica e metodológica que auxilia os pesquisadores a entenderem as relações entre as sociedades e a natureza, no sentido de qualificação e quantificação dos impactos gerados à natureza pela apropriação dos seus recursos energéticos e materiais, liberação de dejetos e efeitos sinérgicos dessas atividades a partir da ação humana. Enfatizar sistemas sociais do ponto de vista do seu sociometabolismo requer analisar os sistemas econômicos historicamente estabelecidos em termos fluxos e estoques biofísicos (FISCHER-KOWALSKI, 2015).

A importância da abordagem sociometabólica – ou sociometabolismo (ou ainda metabolismo socioeconômico) – reside na premissa básica de que informações quantitativas e qualitativas sobre as interações entre ecossistemas (ou genericamente o mundo natural) e as sociedades e sistemas econômicos historicamente estabelecidos são necessárias para a operacionalização e estabelecimento de estratégias para o desenvolvimento sustentável (FISCHER-KOWALSKI e HABERL, 1998). Por outro lado, análises sociometabólicas podem fornecer importantes distinções em termos de culturas, modos de vida, padrões de produção e reprodução das sociedades.

Apesar da facilidade de compreensão da ideia de sociometabolismo, Fischer-Kowalski (1998), ao realizar um importante levantamento dos trabalhos da área, os autores e suas tradições, chama a atenção para algumas questões importantes sobre a apropriação do conceito de metabolismo em outras áreas. Ainda segundo esta autora, os primeiros trabalhos encontrados datam da década de 1860, nas áreas de biologia, ecologia, teoria social, antropologia cultural e geografia social, e são estes, principalmente, que serão a base para os

(7)

estudos sobre metabolismo industrial elaborados a partir de 1960, ainda que só a partir de 1980 este paradigma se tornaria relevante para as análises da relação sociedade-natureza5.

No âmbito das ciências sociais, o conceito de metabolismo foi primeiramente utilizado por Marx e Engels, no século XIX, a partir da análise do processo de trabalho, na perspectiva de que esse tem como objetivo transformar/adequar substâncias naturais às necessidades dos homens. Marx, em outra situação, utiliza o conceito de metabolismo social para ilustrar o intercâmbio de mercadorias e as relações de produção na sociedade. Entretanto, a limitação do uso desse conceito pelos autores está em não tratar as consequências e outras características de importância ecológica (FISCHER-KOWALSKI, 1998; TOLEDO, 2013; FOSTER,2015).

Outros autores vão dar sentido a esse conceito relacionando os diversos desenhos sociais à disponibilidade e formas de utilização da energia. Nesse segmento, cita-se Patrick Geddes, cofundador da Sociedade Britânica de Sociologia, que desenvolveu em 1885 uma matriz insumo-produto em termos físicos, calculando o fluxo de energias e materiais (FISCHER-KOWALSKI, 1998).

De Molina e Toledo (2014) sintetizam que partir da década de 1960 as construções sobre metabolismo versavam sobre o papel das cidades (WOMAN, 1965) e indústria (AYRES, 1989), tendo o conceito se ampliado nas décadas seguintes, analisando o metabolismo rural (Toledo e García-Frapolli, 2008) e o processo de transições sociometabólicas (DE MOLINA e TOLEDO, 2011).

Dentre os estudos mais importantes dos anos 1970 a 1998, relacionados ao conceito mais geral de metabolismo social, Fischer‐Kowalski e Hüttler (1998) também fazem um conveniente levantamento e qualificação desses trabalhos, por meio de vários critérios, que deixam mais claras as várias abordagens tratadas. Assim, três subdivisões são elencadas: 1ª) socioeconômica (mais ligada às ciências sociais), ou ecossistêmica (mais ligada à perspectiva ecológica); 2ª) nível de sistema (global, nacional, regional, funcional e temporal); e 3ª) fluxos tratados (materiais, energia, substâncias).

Toledo (2013) defende que o metabolismo social contém duas dimensões: tangível e

intangível. A primeira inicia-se a partir da apropriação de matéria e energia fornecidas pela

5 Marina Fischer-Kowalski, ex-presidente da International Society for Ecological Economics (ISEE), é considerada a fundadora do Institute for Social Ecology, atualmente abrigado na University of Natural

Resources and Lifes Sciences em Viena (Áustria) e um dos principais nomes na literatura sobre MSE.

Juntamente a outros autores como Fridolin Krausmann, Hemul Haberl e Nina Eisenmenger, compõem a “escola de ecologia social de Viena”. Uma detalhada e abrangente compilação das contribuições destes e outros autores foi publicada em Haberl et al. (2016).

(8)

natureza (entrada), por seres humanos agrupados socialmente, e termina com a excreção de resíduos (saída), como evidenciado na figura 1. Entre esses dois extremos, ocorrem, também, os processos de transformação, circulação e consumo.

O processo de transformação (T) se refere a todas as mudanças realizadas sobre os recursos extraídos da natureza, até nas suas formas mais simples – como o cozimento de alimentos. Ao longo do tempo, esta atividade tem se tornado cada vez mais complexa, dada a sua menor intensidade no uso de energia e trabalho. Este fenômeno é análogo à produção, nomenclatura utilizada pelos economistas para designar a transformação de matéria e energia para obtenção de bens úteis à satisfação das necessidades humanas. A compreensão de que ocorrem transformações materiais e energéticas evidencia a natureza termodinâmica do processo econômico.

A atividade de circulação (C) passa a ser necessária a partir do momento em que a produção gera excedente. A eficiência da circulação também tem se elevado com o tempo, uso do dinheiro, novos meios de pagamento, segurança da propriedade privada e crescimento dos mercados. À medida que estes evoluem, a circulação demanda, em valores absolutos, maior consumo de energia e matéria.

Figura 1: Descrição do Metabolismo Social

Fonte: De Molina e Toledo (2011)

Por seu turno, o consumo (Co) está ligado diretamente à satisfação das necessidades, e, também, às etapas anteriores. Esse é um dos fatores mais importante e determinante do metabolismo social, e, principalmente, do metabolismo industrial. Todo o processo se inicia para, e partir da possibilidade de consumo final.

Ao final, a excreção (E) refere-se ao despejo de materiais e energia residuais das etapas anteriores (como gases, calor, lixo, etc.). A qualidade (recicláveis pela natureza ou não) e quantidade dos resíduos produzidos também é relevante, dada a capacidade regenerativa e de carga dos ecossistemas. Neste ponto, é importante a menção ao conceito de resiliência, uma vez que os fluxo metabólicos entre sociedade e natureza devem respeitar

(9)

os limites ecossistêmicos. Para Arrow et al. (1995), as atividades econômicas apenas são sustentáveis se estiverem suportadas por ecossistemas resilientes. É certo, pois, que o MSE dedica papel importante a este conceito, distanciando-se, portanto, das análises neoclássicas, uma vez que estas desconsideram a ideia de resiliência6.

Já em sua dimensão intangível, frequentemente negligenciada nas abordagens sociometabólicas, são enfatizadas as “molduras” nas quais os demais processos tangíveis, abrangendo todas os elementos não materiais que possibilitam, regulam, dão sentido e explicam as relações sociais (crenças, imaginações, regras, linguagem, etc.), e, consequentemente, os processos metabólicos e suas articulações internas.

Seja em sua dimensão tangível (contabilidade de fluxos de materiais, principalmente) e ou dimensão intangível (aspectos sociais e institucionais que determinam os padrões de apropriação da natureza), é certo que o MSE é uma importante ferramenta de análise dos problemas mais aflitivos da contemporaneidade. As ciências, de maneira geral, possuem vários tipos de preocupações ambientais, como esgotamento de recursos renováveis e não renováveis, falta de recursos essenciais, erosões, redução da biodiversidade, poluição acima da capacidade de absorção de resíduos. Entretanto, Fischer‐Kowalski e Hüttler (1998) ressaltam que, embora essas preocupações sejam extremamente importantes, nenhuma é tão relevante quanto o conceito de metabolismo socioeconômico. O fato de o metabolismo social ter uma construção interdisciplinar, com possível construção de indicadores e mensuração dos fluxos de energia e matérias, fornece uma poderosa ferramenta de análise, uma vez que a construção de macroparâmetros e a consideração da eficiência do sistema relacionam-se bem com os parâmetros da economia e da contabilidade social, o que favorece a sua aplicabilidade.

Também é destacável a possibilidade de o metabolismo social fornecer análises mais completas das relações entre processos sociais e ambientais. Sua visão mais holística e integradora possibilita uma melhor compreensão da realidade, que é muito complexa (TOLEDO, 2013). Pode ser considerado um dos instrumentos mais robustos para compreender as relações entre a sociedade e a natureza, dada a compreensão da economia como um arcabouço de fluxos de energias e materiais, subconjunto de um sistema maior, a

6 As incertezas ligadas ao estudo da resiliência exige a adoção de comportamentos precavidos em função dos riscos associados ao overshooting dos limiares ecossistêmicos. A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento estabelece que “para a proteção do meio ambiente, a abordagem da precaução deverá ser amplamente aplicada pelos Estados de acordo com suas capacidades. (Princípio 15, Rio Declaration on

(10)

ecosfera. Ainda, pode-se afirmar que o MSE é uma categoria do metabolismo social mais interativa com os aspectos econômicos7.

Nesse sentido, o MSE é visto como algo mais amplo, ou seja, o funcionamento geral do sistema, caracterizando seu funcionamento do ponto de vista energético/material. Fischer-Kowalski (1999) e Krausmann et al. (2017b) observam que o MSE vai além do simples fluxo de materiais, permitindo uma conexão de processos físicos e econômicos, permitindo uma aproximação entre as ciências naturais e o desenvolvimento sustentável. Carpintero e Naredo (2005) consideram a categoria como um importante instrumento para qualificar fluxo e energia que atravessam a economia ao longo do tempo.

Haberl et. al. (2019) justifican que o MSE apesenta contribuições relevantes para a ciência da sustentabilidade, visto que aferem as pressões e os impactos ambientais da sociedade. Ademais, o MSE também fornece trajetórias de longo prazo entre o consumo de recursos e as características socioeconômicas, além de fatores políticos.

São conhecidas ferramentas diversificadas para mensuração do MSE e seus respectivos fluxos (matérias, energias, substâncias, etc.), variando conforme o âmbito de análise (Quadro 1). Entretanto, os processos de contabilização tendem a seguir um padrão semelhante.

Os levantamentos bibliográficos confirmam que as análises materiais e energéticas tendem a ser as mais utilizadas. É destacável o Human Appropriation of Net Primary

Production (HANNP). Apresentando por Vitousek et al. (1986), permite a caracterização de

perfis metabólicos, estimando a fração de produção apropriada pelos seres humanos em comparação aos remanentes dos ecossistemas, cumprindo importantes funções ecológicas.

Também ressaltada por Infante-Amate e Toledo (2017), o MUSIASEM (Análise Integrada Multi-Escala do Metabolismo Social e Ecossistêmico), desenvolvido por Giampietro et al. (2011) que considera fluxos, escalas (demográficas, econômicas, geométricas), e outras variáveis e as inter-relações entre elas. Em síntese, integra os conceitos de disciplinas variadas (como a termodinâmica do não equilíbrio) aplicadas a análise ecológica, cujo objetivo é detectar e analisar padrões no uso de recursos e o que eles criam no ambiente, com aplicabilidade em várias áreas do conhecimento, inclusive o MSE. Todavia, a metodologia também apresenta desafios, com dificuldades na construção de series históricas, dado o volume de informação requerido.

(11)

Quadro 1: Metodologias utilizadas em estudos metabólicos socioeconômicos

NÍVEL DE ANÁLISE METODOLOGIA

Análises Energéticas

Contabilidade fluxo de energia (EFA) Balanços de Energia

EROI (Energy Return on Investment) MuSIASEM

Análise do Ciclo de Vida (LCA)

Análise de Materiais

Contabilidade de Fluxos materiais (CFA)

Human Appropriation of Net Primary Production

(HANNP)

Entrada de Materiais por unidade de serviços (MIPS)

Substâncias Contabilidade de Fluxo de substâncias (SFA)

Território

Pegada Ecológica

Terra Virtual LACAs (Land Cost of Agrarian Sustainability Outros Balanços de carbono Água virtual Metabolismo hídrico Balanços de nutrientes Fonte: Infante-Amate e Toledo (2017).

Outra abordagem comumente utilizada são cálculos de fluxos energéticos em níveis nacionais ou subnacionais, incluindo as relações historicamente mutantes entre uso energético exossomático e endossomático8, denominada EROI (energia retornada na energia investida), que busca identificar tendências de aumento no custo energético para obtenção de energia.

No que se refere à análise de fluxos de materiais, a metodologia mais utilizada tende a ser a contabilidade fluxos ambientais (MFA, ou metabolic flux analysis)9. A MFA pode ser definida como o estudo de fluxos de materiais em escala global, nacional ou regional. Seu objetivo é, a partir de indicadores, compreender o fluxo material das ações humanas no meio ambiente, fundamentais para o planejamento, previsão e avaliação das atividades econômicas. Para Haberl et al. (2019), um dos principais fundadores da MFA é Robert Ayres, que reivindicou o método do balanço de massa (conforme a 2ª Lei da termodinâmica) na análise econômica em oposição a perspectivas puramente monetárias.

Quadro 2: Indicadores econômicos advindos da análise de fluxo de materiais

TIPO SIGLA* NOME E IDENTIFICAÇÃO DESCRIÇÃO

Entradas(Input) DE Extração doméstica

Uso socioeconômico de materiais extraídos

domesticamente

8 Conforme Giampietro et al. (2013).

(12)

UDE Extração doméstica não utilizada

Uso socioeconômico de materiais extraídos domesticamente e armazenados DMI Entrada Direta de Material (DE+

material importado)

Materiais que entram na produção nacional e no

processo produtivo TMR Exigência total de Material

(DMI+UDE+material indireto)

Total de materiais consumidos no processo produtivo (incluindo os armazenados)

Trocas comerciais

PTB Balança comercial (Exportação-

Importação)** Balança comercial física RMEexport. e

RMEimport.

Fluxo comercial de matérias-primas (fluxos de comércio direto +uso de material)

Incorporação de matéria-prima (exportada ou importada)

Saídas (Outputs) DPO Processo de saída doméstica

Materiais liberados para o ambiente doméstico sob a forma de resíduos, emissões

ou produção intencional (Fertilizantes, refugos

industriais, etc.)

Consumo

DMC Consumo de material doméstico (DE+PTB)

Materiais utilizados na economia nacional (Perspectiva de produção) MF ou RMC “pegada” material

Total de material utilizado no consumo doméstico (perspectiva de consumo)

Estoque

NAS Adições líquidas de estoque Crescimento anual de estoques MS Estoque de material Estoque acumulado, na forma

material

Produto

Y

Produtividade material ou produtividade de recursos (Ex.:

PIB*/DMC

Valor adicionado produzido por unidade de consumo de

material doméstico MI Intensidade de Material

(BC/PIB)

Material utilizado por unidade de PIB

Fonte: Krausmann et al. (2017).

* As siglas refletem a nomenclatura em inglês; ** na balança comercial física, se exportações são maiores que importações, significa que o país é um fornecedor líquido de recursos. Na situação contrária (importações maiores que exportações), o país é um recebedor líquido de recursos. *** Produto Interno Bruto.

A relevância do método está na capacidade de aferir o MSE, visto que fornece bancos de dados abrangentes, inclusive consistente com as tradicionais contas nacionais. Assim, é possível construir análises que permitam um maior aproveitamento dos recursos naturais de maneira sustentável. Além da investigação e mensuração dos fluxos de matéria e energia e os resíduos resultantes, as tendências mais recentes dentro da abordagem MFA (ou MEFA) compreende a modelagem dinâmica dos estoques formados (in-use stocks) e os fluxos de materiais requeridos para o fornecimento de serviços físicos como transporte e abrigo. entrada de material no sistema deve sempre igualar a saída, considerando também as mudanças de estoque material (KRAUSMANN et al., 2017b; HABERL et al., 2019).

Os indicadores de fluxo de material são definidos como medidas quantitativas (Quadro 2 acima), que apontam, informam e descrevem as características dos fluxos e uso

(13)

de recursos materiais. Em síntese, descrevem o uso de materiais em uma determinada economia em toda cadeia de fluxo: desde a extração de matéria-prima até a geração de resíduos. Para Haberl et al. (2019, p. 3-4), “studies of long-term trends in resource use as

well as comparative cross-country datasets investigate the potentials for decoupling the use of materials and energy from economic growth and well-being”. Uma de suas vantagens é a

simplificação do processo de comunicação, permitindo análises e construção de indicadores, que são construídos a partir de dados básicos (econômicos, ambientais, comerciais), e a partir da modelagem ou contabilidade, são convertidos em índices (OECD, 2008).

3. MSE e Economia Ecológica

Após uma apresentação mais detalhada sobre MSE, é conveniente refletir sobre a convergência entre esta abordagem e a EE. Como já mencionado, a EE pretende ser a ciência da gestão da sustentabilidade, que em um sentido mais amplo pode ser compreendida como a manutenção das relações harmoniosas entre a sociedade (e seus sistemas sociais e econômico) e a natureza. De maneira geral, a EE tem como princípio norteador a busca pela compreensão de como é possível incrementar continuamente e de maneira sustável a qualidade de vida humana, sem se incorrer em combinações destrutivas e tendo-se em vista a finitude do ecossistema global.

Partindo, pois, do reconhecimento de que existem inexoráveis e permanentes inter-relações entre sistemas socioeconômico e natural, e que o principal foco da sustentabilidade é que tais sistemas mantenham saudavelmente suas relações ao longo do tempo, torna-se claro que o ponto de partida da EE é o entendimento da natureza das interfaces estabelecidas entre sistemas econômico e natural. Georgescu-Roegen, como já mencionado na seção anterior, foi o autor da teoria econômica que mais enfatizou os perigos de uma análise puramente econômica sem se levar em conta a realidade física da dinâmica socioeconômica10.

A partir da aceitação de que a teoria econômica neoclássica sofre de um inquietante “fetichismo” monetário e de uma enraizada epistemologia mecanicista (“um dogma banido até da física”, conforme palavras do próprio Georgescu-Roegen), a construção conceitual da EE está relacionada à visão de um sistema aberto e os problemas de escala, respaldada nas

10 É também creditado ao autor notórias contribuições para a ciência econômica neoclássica (como texto de 1966), na busca por uma abordagem mais realista da teoria microeconômica, que o levou a ser chamado de “economista dos economistas”, em prefácio escrito pelo primeiro prêmio Nobel de Economia, Paul Samuelson.

(14)

obras de Georgescu-Roegen (1971; 2017). Embora não tenha diretamente utilizado a expressão economia ecológica (chamou o campo de bioeconomia e recusou-se a participar da ISEE), deve-se ao autor romeno a compressão de uma visão mais realista da ciências e da natureza, com destaque à sua visão discordante do tradicional sistema do fluxo circular de renda (relação entre produção e consumo em economias de mercado), tão referenciado nos manuais de introdução a economia, caracterizado como um sistema mecânico e fechado. Para o mesmo, a noção de sistema aberto é mais factível, e encontra respaldo na termodinâmica, e para Georgescu-Roegen (2005, p.14):

“Nenhuma outra lei ocupa, talvez, posição tão singular, na ciência, quanto a Lei da Entropia. Trata-se da única lei natural a reconhecer que até o universo material está sujeito a uma alteração qualitativa irreversível, ou seja, a um processo evolucionário.”

Enquanto os estoques de itens naturais apresentavam certa abundância, não era “problema destruí-los”, ou irrelevante é considera-los no processo produtivo. Todavia, a busca de maior satisfação humana e eficiência econômica implicam em uso intensivo de recursos, o que implica em problemas socioambientais, visto que a emissão de dejetos além da atmosfera terrestre ainda não economicamente viável.

Ademais, Georgescu era cético ao estado estacionário (proposto por H. Daly), ou seja, economias (mesmo as mais ricas) que apresentassem crescimento zero, decrescimento e níveis de equilíbrio entre Taxas de nascimento iguais a taxas de mortalidade, bem como poupança/investimento igual a depreciação. Nesse sentido, o autor conclui que o decrescimento no sistema capitalista seria viável com cerceamento dos combustíveis fosseis e outros materiais. (Cechin, 2008; Martinez Alier,2015)

A partir das amplas contribuições Georgescu-Roegen, houve o desenvolvimento da EE, influenciando notórios economistas ecológicos, como H. Daly11 e Robert Ayres, um dos percursores do metabolismo socioeconômico.

Mas onde emerge a compenetração entre o pensamento de Georgescu-Roegen e a economia ecológica?

Além da própria noção de sistema aberto, fundamental para entendermos a economia como um subsistema da ecosfera, a existência do MSE está atrelada aos fluxos de matéria e energia, que dificilmente teriam uma visão econômica tão significativa sem a visão do

(15)

matemático romeno, e sua defesa em uma ciência da economia que estude os “fluxos metabólicos” da atividade-econômica.

Ademais, parte da viabilização de estudos concretos sobre desmaterialização está intimamente ligada as concepções de sistemas abertos e entropia e a MSE é quem melhor oferece referencial metodológico e consequentemente, base de dados para tal análise.

3.1 O MSE como indicador macroeconômico ecológico.

A partir da década de 1980, quando ecológicos e economistas antagônicos passaram a estudar as relações entre natureza e sistema econômico (além dos modelos tracionais de análise), buscou-se, dentre outros aspectos pesquisar soluções aos tradicionais mecanismos de cálculos econômicos agregados (caso do PIB). Dentre as tentativas, destacaram-se duas: a macroeconomia ecológica sem crescimento, e os índices de (in) sustentabilidade.

A macroeconômica ecológica parte de uma análise agregada, utilizando o arcabouço macroeconômico. No início da década de 1990, Herman Daly (1991) salienta a necessidade de inserir a economia ecológica no núcleo do pensamento macroeconômico. Ademais, a macroeconomia é parte integrante do ecossistema (e totalmente dependente deste), sendo a troca de fluxos de energias um dos interesses da ciência econômica.

Dentre as contribuições mais relevantes, Heyes (1998) propõe um modelo macroeconômico básico, agregando variáveis ambientais ao tradicional arcabouço de equilíbrio entre os lados real e financeiro da economia (IS-LM), cuja variável incorporada será a intensidade ambiental, que pode ser entendida como poluição, e incluída como um insumo no processo de produção, de forma que no equilíbrio, o uso de cada fator será determinado pelas condições tecnológicas

Vale ressaltar o esforço de Saes (2013), com um interessante levantamento sobre a macroeconomia ecológica, indicando as grandes contribuições dos economistas ecológicos desde os anos 1960, até os modelos desenvolvidos na contemporaneidade. Para a autora supracitada, a macroeconomia ecológica:

[...] deveria compreender quais processos podem viabilizar um crescimento apenas até a escala ótima da macroeconomia, que deve ser atingida antes da escala máxima sustentável. Uma dificuldade evidente é a necessidade de mensurar a escala ótima, que deve ser objeto dos economistas (p.124).

Complementando a análise, Saes (2013) também salienta que os modelos desenvolvidos tendem a ser diferentes nas visões e medidas propostas (dividindo-se em

(16)

“condição estável” ou “decrescimento”), embora as propostas de políticas tendem a seguir o mesmo objetivo.

Outra abordagem da macroeconomia ecológica mais contemporânea, a aproxima com os pressupostos macroeconômicos keynesianos e pós-keynesianos, objetivando explicar as relações entre crescimento econômico e uso dos recursos naturais. Aggio (2018) ressalta tais pontos, destacando as obras de Gowdy (1991), Kronenberg (2010) e Taylor, Rezai e Foley (2016). De tal modo, compreende que:

A temática da sustentabilidade e da economia ecológica foram incorporadas na agenda de pesquisa de muitos macroeconomistas, inclusive de um conjunto importante de economistas que atribuem à demanda um papel central na dinâmica econômica. Somando a estes os e as que já eram filiados à economia ecológica e que se dedicaram a construção de uma macroeconomia ecológica que precisa dar resposta de política econômica para a questão do emprego, dentre outras questões de grande interesse econômico e social, e observamos um crescente desenvolvimento de uma macroeconomia ecológica orientada pela demanda.[...] Por outro lado, como a dinâmica conjunta entre processos naturais, mercado de trabalho e crescimento do produto podem não ser equilibrantes, alternativas fora das soluções de mercado devem ser consideradas (AGGIO, 2018,p.14).

Em virtude dos fatos mencionados, é nítido o longo caminho que a macroeconomia ecológica tende a percorrer. Contudo, a própria visão da economia ecológica necessita de um arcabouço agregado, mais completo para verificação das mudanças ecossistêmicas. Um dos grandes desafios para abordagem, está relacionada ao tratamento dos dados ecológicos, informações que o metabolismo socioeconômico pode fornecer.

Já os índices de (in) sustentabilidade encontraram nos referenciais do MSE. Dentre o mais usual, destaca-se a “pegada ecológica”, que mesura o peso de uma economia em termos de espaço: “qual é o tamanho da área de terra produtiva necessária (como fonte e sumidouro) para sustentar uma dada população indefinidamente, no seu atual padrão de vida com as tecnologias atuais? ” (Martinez Alier, 2015, p. 859)

Utilizando as metodologias do MSE, tal questão teórica vem ganhando escopo e relevância na macroeconomia ecológica. Todavia, o percurso é longo e desafiador, mas totalmente relevante em uma sociedade que consome em demasia (em velocidade maior que as inovações tecnológicas), com alguns recursos naturais que apresentam graus significativos de exaustão.

3. CONCLUSÕES

Como compara Carpintero (2015), da mesma maneira que os seres vivos ingerem energia e alimentos para o ciclo de reprodução e sobrevivência, excretando resíduos no meio

(17)

ambiente, a economia converte matéria prima, energia e bens finais de consumo, gerando resíduos que também irão parar na natureza.

Ao considerar os fluxos de energia e materiais, mensurando-os, o MSE fornece respostas mais precisas à noção de sistema aberto proposta pela economia ecológica, quantificando os fluxos de energias, materiais e resíduos que compõe o uso do ecossistema terrestre, ou seja, a natureza como receptora dos impactos gerados pelo sistema econômico. Outra relevância do MSE está relacionada a sua base de dados, que contribui para uma análise macroeconômica ecológica, área de pesquisa que vem ganhando expressão e relevância na última década.

Como destaca Haberl ET. AL. (2019) a abordagem do MSE oferece insights, e implicações de sustentabilidade em diferentes ângulos, combinando dados ecológicos e econômicos. Não obstante, o MSE ajuda a integrar a abordagem das ciências sociais na aceleração do antropoceno, visto que fornece dados robustos de aceitação internacional. Todavia, o MSE também apresenta algumas limitações, dado seu caráter interdisciplinar, dificultando a identificação dos limites da pesquisa (e as vezes proliferando rótulos), além de ausência de pesquisas que avaliem o comportamento dos agentes individuais, a incorporação da incerteza nos métodos estatísticos empregados, dentre outros fatores.

Diante dos desafios enfrentados na economia ecológica no tocante a uma mensuração realista da escala, tem-se concordado na relevância metodológica no MSE, visto que é crescente os trabalhos acadêmicos que utilizam a metodologia, tanto na construção de novos indicadores, como aplicação dos já existentes para análises distintas, tais como: perfis metabólicos (urbanos, rurais, industriais macroeconômicos, etc.), “pegadas ecológicas”, dentre outros índices de (in) sustentabilidade, etc.

REFERÊNCIAS

AGGIO, G. O. O desenvolvimento de uma macroeconomia ecológica orientada pela demanda e a questão do desemprego sob restrições ecológicas. Texto para discussão. Universidade Federal de Campinas-UNICAMP. São Paulo, 2018.

AMATE, J. I. La desmaterialización de la economía mundial a debate. Consumo de recursos y crecimiento económico (1980-2008). Revista de Economía Crítica, 18, 60-81,2014.

AYRES RU. Energy inefficiency in the US economy: a new case for conservation. IIASA. Research Report. RR-89-012, 1989.

AYRES, R. U. Industrial metabolism: work in progress. INSEAD. France, 1997.

AYRES, R. U., & KNEESE, A. V. Production, consumption, and externalities. The American Economic Review, 59(3), 282-297,1969.

(18)

ANDRADE, D. C.; DE MENDONÇA, T. G.; ROMEIRO, A. R. Tendências do metabolismo da economia brasileira: uma análise preliminar à luz da Economia Ecológica. Revibec: revista iberoamericana de economía ecológica, v. 28, p. 66-86,2018.

ARROW, K., Bolin, B., COSTANZA, R., DASGUPTA, P., FOLKE, C., HOLLING, C. S., & PIMENTEL, D. Economic growth, carrying capacity, and the environment. Ecological economics, 15(2), 91-95, 1995.

AUCI, S.; VIGNANI, D. Environmental Kuznets curve and domestic material consumption indicator: an European analysis. Working paper. University Library of Munich, Germany, 2013.

BERTALANFFY, L. Problems of life. Wiley and Sons. New York, 1952.

BRINGEZU, S.; SCHÜTZ, H.; Moll, S. Rationale for and interpretation of economy‐wide materials flow analysis and derived indicators. Journal of Industrial Ecology, v. 7, n. 2, p. 43-64, 2003.

BOULDING, K. The economics of the coming spaceship earth. In Environmental quality in a growing economy, edited by K. Boulding et al. Baltimore: John Hopkins University Press, 1966.

CARPINTERO, O. El metabolismo económico regional español. FUHEM Ecosocial. Madrid, 2015.

CARPINTERO, Ó.; NAREDO, J. M. El metabolismo de la economía española. Fundación César Manrique, colección Economía vs Naturleza. Madrid, 2005.

CECHIN, A. D. Georgescu-Roegen e o desenvolvimento sustentável: diálogo ou anátema? (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, 2008.

COSTANZA, R., Economia ecológica: uma agenda de pesquisa. IN: MAY, P.H., MOTTA, R.S. (org). Valorando a natureza: a análise econômica para o desenvolvimento sustentável. Campus. Rio de Janeiro, 1994.

DALY, H. E. On economics as a life science. Journal of political economy, 76(3), 392-406, 1968.

DALY, H. E. Beyond growth: the economics of sustainable development. Beacon Press, 1996.

DALY, H. E. Desenvolvimento sustentável: definições, princípios, políticas. Cadernos de estudos sociais, 18(2), 2002.

DALY, H. E. Ecological economics and sustainable development. Edward Elgar Publishing, 2007.

DALY, H.; FARLEY, J. Economia Ecológica: princípios e aplicações. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

DECLARATION, R. Rio declaration on environment and development, 1992.

DE MOLINA, M.G.; TOLEDO, V. M. Metabolismos, naturaleza e historia: hacia una teoría de las transformaciones socioecológicas. Icaria, 2011.

DE MOLINA, M.G.; TOLEDO, V. M. The social metabolism: a socio-ecological theory of

historical change. Springer, 2014.

EHRLICH, P. R. The population bomb, 1978. Disponível em: http://125.22.40.134:8082/jspui/bitstream/123456789/3161/1/2%20%20Ehrlich%20The_P opulation_Bomb.pdf

ERKMAN, S. Industrial ecology: a new perspective on the future of the industrial system. President's lecture, Assemblée annuelle de la Société Suisse de Pneumologie, Genève, 2001. FARIA, L. M. Metabolismo Social em uma indústria de laticínios na zona rural de Visconde de Mauá (RJ). (Dissertação de Mestrado, PUC-Rio) Rio De Janeiro, 2017.

FISCHER-KOWALSKI, M. Society’s Metabolism. The Intellectual History of Materials Flow Analysis, Part I, 1860-1970. Journal of Industrial Ecology, V. 2, Issue 4, Pages 107– 136, 1998.

(19)

FISCHER-KOWALSKI, M. Analyzing sustainability transitions as a shift between socio-metabolic regimes. Environmental Innovation and Societal Transitions, 1(1), 152-159, 2011.

FISCHER-KOWALSKI, M.; AMANN, C. Beyond IPAT and Kuznets curves: globalization as a vital factor in analyzing the environmental impact of socio-economic metabolism. Population and Environment, v. 23, n. 1, p. 7-47, 2001.

FISCHER‐KOWALSKI, M., & HÜTTLER, W. 1998. Society's Metabolism: The Intellectual History of Materials Flow Analysis, Part II, 1970‐1 998. Journal of industrial ecology, 2(4), 107-136.

FISCHER-KOWALSKI, M., & HABERL, H. Sustainable development. Long-term changes in socio-economic metabolism and colonization of nature. International Social Science Journal, 158(4), 573-587, 1998.

FISCHER-KOWALSKI, M., & HABERL, H. Social metabolism: a metric for biophysical growth and degrowth. Handbook of ecological economics, 100-138, 2015.

FISCHER-KOWALSKI M & WEISZ H. Society as a hybridbetween material and symbolicrealms. Toward a theoretical framework of society-nature interaction. Adv. Hum. Ecol. 8, p.215–51, 1999.

FLÓREZ, M. La Curva de Kuznets Ambiental (CKA) basada en el Indicador de Consumo Material Doméstico (CDM): Perú, 1970-2015, 2018.

FOSTER, J. B. Marxismo e Ecologia: fontes comuns de uma Grande Transição. Lutas Sociais, 19(35), 81-97, 2015.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. Analytical economics: issues and problems. 1966.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. “The Entropy Law and the Economic Problem.

Reimpresso in: Georgescu-Roegen, Nicholas Energy and Economic Myths – Institutional and Analytical Economics Essays. Nova York: Pergamon Press, 1976.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. The entropy law and the economic process. Cambridge: Harvard University Press, 1971.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. Energía y mitos económicos. El trimestre económico, 42(168 (4), 779-836, 1975.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. Métodos Em Ciência Econômica (orginalmente publicado em 1982). Revista Economia Ensaios, 20(1), 2005.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas Energia e Mitos Econômicos Eonomia-Ensaios, Uberlândia, 19(2): 7-51 ,2005.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas Bioeconomía: Una Nueva Mirada A La Naturaleza de la Actividad Económica. Revista De Economía Crítica, 23, 152-168, 2017.

GIAMPIETRO, M., MAYUMI, K., M. e A. H. SORMAN. Energy Analysis for a Sustainable Future: Multi-Scale Integrated Analysis of Societal and Ecosystem Metabolism, Earthscan, Routledge, London, 2013.

GOFMAN, K. M. L. & REIMERS N. Die Okonomie der Naturnutzung-Aufgaben inerneuen Wissenschaft. [The economy of the usage of nature-tasks of a new science (original Russian). Naukn i shim 6. Moscow, 1974.

GONZÁLEZ DE MOLINA, M. Y & TOLEDO, V. M. Metabolismos, naturaleza e historia: hacia una teoría socio-ecológica de las transformaciones, Barcelona, Icaria editorial, 2011. GONZÁLEZ MARTÍNEZ, A. C., CAÑELLAS BOLTÀ, S., PUIG VENTOSA, I., RUSSI, D., SENDRA Sala, C., & SOJO BENÍTEZ, A. El flujo de materiales y el desarrollo económico en España: un análisis sobre desmaterialización (1980-2004). Revibec: revista de la Red Iberoamericana de Economia Ecológica, 14, 0033-51,2010.

GOWDY, J. M. “Bioeconomics and post Keynesian economics: a search for common ground”, Ecological Economics, 3, p. 77-87,1991.

(20)

HABERL, H., Wiedenhofer, D., Pauliuk, S., Krausmann, F., Müller, D. B., & FISCHER-KOWALSKI, M. Contributions of sociometabolic research to sustainability science. Nature Sustainability, 2019.

HABERL, H., FISCHER-KOWALSKI, M., KRAUSMANN, F., WINIWARTER, V. Social ecology: society-nature relations across time. Switzerland: Spring International Publishing, 2016.

HARDIN, G. The tragedy of the commons. science, 162(3859), 1243-1248, 1968.

HEYES, A. A Proposal for the Greening of Textbook Macro: ‘IS-LM-EE’. July 31, 1998. INFANTE-AMATE, J.; MOLINA, M. G.; TOLEDO, V. M. El metabolismo social. Historia, métodos y principales aportaciones. Revibec: revista iberoamericana de economía ecológica 27: 130-152, 2017.

KRAUSMANN, F., SCHANDL, H., EISENMENGER, N., GILJUM, S. & JACKSON, T. Material flow accounting: measuring global material use for sustainable development. Annual Review of Environmental. Resources, v. 42, p. 647–675, 2017.

KRAUSMANN, F., FISCHER‐KOWALSKI, M., SCHANDL, H., & EISENMENGER, N. The global sociometabolic transition: past and present metabolic profiles and their future trajectories. Journal of Industrial ecology, 12(5‐6), 637-656, 2008.

KRAUSMANN, F., GINGRICH, S., EISENMENGER, N., ERB, K. H., HABERL, H., & FISCHER-KOWALSKI, M. Growth in global materials use, GDP and population during the 20th century. Ecological Economics, v. 68, n. 10, p. 2696-2705, 2009.

KRAUSMANN, F. SCHANDL, H. EISENMENGER, N. & JACKSON, S.G.T. Material Flow Accounting: Measuring Global Material Use for Sustainable Development. Annual Review of Environment and Resources 42:1, 647-675, 2017.

KOVANDA, J. Use of Physical Supply and Use Tables for Calculation of Economy‐Wide Material Flow Indicators. Journal of Industrial Ecology, 2018.

KRONENBERG, T. Finding common ground between ecological economics and postKeynesian economics, Ecological Economics, 69, p. 1488-1494, 2010.

MEADOWS, D. H., MEADOWS, D. H., Randers, J., & BEHRENS III, W. W. The limits to growth: a report to the club of Rome. 1972.

MARTINEZ ALIER, J. Ecological economics (No. 2001_05). Universitat Autònoma de Barcelona, Departament d'Economia i Història Econòmica, Unitat d'Història Econòmica. 2001.

MARTINEZ ALIER, J. Ecological economics (No. 2001_05). Universitat Autònoma de Barcelona, Departament d'Economia i Història Econòmica, Unitat d'Història Econòmica. In: Smelser, Neil J. et al. (Ed.). 2015.International encyclopedia of the social & behavioral sciences (second edition). Amsterdam: Elsevier, 2015.

NOBRE, M., AMAZONAS, M. de C. Desenvolvimento sustentável: a institucionalização de um conceito. Brasília: Edições Ibama, 2002.

OECD (Organization For Economic Cooperation And Development). Measuring material flows and resource productivity.2008

PURVES, W. K., ORIANS, G. H. & HELLER H. C. Life. The science of biology. 3d ed. Sunderland, MA: Sinauer, 1992.

TOLEDO, V. Metabolismos rurales: hacia una teoría económico-ecológica de la apropiación de la naturaleza. México: Redibec, 2008.

TOLEDO, V. El metabolismo social: una nueva teoría socioecológica. Relaciones. Estudios de história y sociedad, 34(136), 41-71, 2013.

VALLEJO GALÁRRAGA, M. C. Perfil socio-metabólico de la economía ecuatoriana ECUADOR DEBATE, 2010.

(21)

SAES, B. M. Macroeconomia ecológica: o desenvolvimento de abordagens e modelos a partir da economia ecológica. (Dissertação de mestrado em economia). Universidade Federal de Campinas. Campinas, São Paulo, 2013.

TAYLOR, L., REZAI, A. & FOLEY, D. K. An integrated approach to climate change, income distribution, employment, and economic growth, Ecological Economics, 121, p. 196- 205, 2016. VEGA, J. N., & CARPINTERO, Ó. Evaluación de planes de transición energética hacia sociedades postcarbono. XV Jornadas de Economía Crítica, Madrid, 2016.

VEHMAS, J., LUUKKANEN, J. & KAIVO-OJA, J. Linking analyses and environmental Kuznets curves for aggregated material flows in the EU. Journal of Cleaner Production, v. 15, n. 17, p. 1662-1673, 2007.

VITOUSEK, P.M., EHRLICH, P.R., EHRLICH, A.H. & MATSON, P.A. Human Appropriation of the Products of Photosynthesis. BioScience, 1986.

WOLMAN, A. The metabolism of cities. Scientific American 2 13 (3): 178-193, 1965.

ZHANG, C.; CHEN, W. & RUTH, M. Measuring material efficiency: A review of the historical evolution of indicators, methodologies and findings. Resources Conservation and Recycling, V. 132, P. 79-92, 2018.

Referências

Documentos relacionados

O tempo de aplicação para cada tratamento, para o método do rolo mistura adesivo mais catalizador foi de 3 minutos, aplicação total para a formação da viga de 4 minutos e

In part C there is the “make it personal” section, which is in the book for the students to have a “personalized speaking to express your identity in English”

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Outro dos importantes funcionalistas ingleses e que trabalhare- mos em outra aula, é Radcliffe-Brown. Diferente de Malinowski, que se utiliza muito de explicações psicológicas,

In literature related to the global value chain (GVC) approach, researchers recognize a gap in the number of quantitative studies with firms and clusters as microanalysis units..

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

No universo infantil, os conhecimentos prévios podem ser considerados como o resultado das concepções de mundo das crianças, estruturado a partir das interações sensoriais, afetivas e