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Segurança do Teste de Caminhada de Seis Minutos em Cardiopatas Hospitalizados

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Academic year: 2021

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DOI: 10.5935/2359-4802.20150010 Correspondência: Pryscilla Alves Ferreira

Rua Augusto Viana, s/nº - Canela - 40110-060 - Salvador, BA - Brasil E-mail: pryscillaferreira@yahoo.com.br

Segurança do Teste de Caminhada de Seis Minutos em Cardiopatas

Hospitalizados

Safety of the Six-Minute Walk Test in Hospitalized Cardiac Patients

Pryscilla Alves Ferreira1, Palmireno Pinheiro Ferreira1, Anne Karine Menezes Santos Batista2,

Fernanda Warken Rosa3

1Universidade Federal da Bahia - Hospital Universitário Professor Edgard Santos - Serviço de Fisioterapia - Salvador, BA - Brasil 2Secretaria de Saúde do Estado da Bahia - Programa de Residência em Fisioterapia Hospitalar - Salvador, BA - Brasil

3Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Ciências da Vida - Salvador, BA - Brasil

Fundamentos: Não há respaldo na literatura para atestar a segurança da aplicação do teste de caminhada de

seis minutos (TC6M) em cardiopatas hospitalizados.

Objetivo: Identificar os efeitos adversos ocorridos durante a realização do TC6M em cardiopatas hospitalizados. Métodos: Trata-se de estudo observacional, transversal, realizado em 30 portadores de cardiopatia que se

encontravam hospitalizados. Neles foram realizadas duas práticas do TC6M em um corredor de 20 metros. Foram coletados a distância percorrida, os parâmetros cardiorrespiratórios e os sinais de intolerância ao esforço físico. Os efeitos adversos identificados em ambas as práticas foram classificados em: não cardiopulmonares e cardiopulmonares, sendo neste último grupo, subdivididos em não graves e graves.

Resultados: Observaram-se efeitos adversos nas duas práticas do TC6M em 15 (50,0%) pacientes, sendo

identificados: artralgia em membros inferiores (MMII), palpitação dispneia, dessaturação, tontura, náusea, hipotensão, bradicardia e dormência em membro superior esquerdo. Dos 30 pacientes, identificou-se em 4 (13,3%) pacientes efeitos adversos do tipo grave, sendo os 4 (100%) portadores de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e 3 (75,0%) também com diagnóstico de insuficiência coronariana (ICO) e dislipidemia (DLP).

Conclusão: No TC6M, foi identificada uma baixa frequência de eventos adversos graves em pacientes cardiopatas

sob condição de hospitalização a partir de dois dias da sua admissão.

Palavras-chave: Segurança do paciente; Cardiopatias; Caminhada

Resumo

Background: There is no evidence in the literature to attest the safety of the six-minute walk test (6MWT) in hospitalized cardiac patients.

Objective: To identify adverse events during the course of the 6MWT in hospitalized cardiac patients.

Methods: This is an observational, cross-sectional, conducted in 30 patients with heart disease who were hospitalized. Two 6MWT practices were carried along a 20-meter corridor. The distance traveled, the cardiorespiratory parameters and signs of intolerance to physical exertion were collected. The adverse effects identified in both practices were classified as non-cardiopulmonary and cardiopulmonary, and in the latter group, divided into non-serious and serious.

Results: Adverse effects were observed in both 6MWT practices in 15 (50.0%) patients, and the following were identified: lower limb (LL) arthralgia, palpitation, dyspnea, desaturation, dizziness, nausea, hypotension, bradycardia, and numbness in the left arm. Of the 30 patients, 4 (13.3%) patients presented severely adverse effects. All of the 4 (100%) patients had hypertension (SAH) and 3 (75%) were diagnosed with coronary artery disease (ICO) and dyslipidemia (DLP).

Conclusion: In the 6MWT, a low frequency of serious adverse events was found in cardiac patients hospitalized two days after admission.

Keywords: Patient safety; Heart diseases; Walking

Abstract

(Full texts in English - www.onlineijcs.org)

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Introdução

Testes de caminhada são amplamente utilizados desde 19601. Uma variedade deles é encontrada na literatura,

sendo o teste de caminhada de seis minutos (TC6M) aquele considerado o melhor tolerado e o mais reflexivo das atividades de vida diária porque configura um estresse submáximo2,3.

A realização do TC6M pode estar associada a diversos objetivos, principalmente: avaliação da resposta a condutas terapêuticas; obtenção de um indicador de capacidade funcional; e predizer morbidade e mortalidade em pacientes com doenças respiratórias e cardiovasculares1. Com essas

finalidades, o TC6M já foi amplamente pesquisado em cardiopatas no cenário ambulatorial, principalmente em portadores de insuficiência cardíaca crônica (ICC)4.

No entanto, existem poucas descrições na literatura sobre a segurança da realização do TC6M, principalmente em pacientes hospitalizados. Gerson et al.5 avaliaram a

segurança do TC6M em 20 pacientes acompanhados ambulatorialmente com diagnóstico de ICC refratária e indicação de transplante cardíaco eletivo. Eles observaram a ocorrência de dor em membros inferiores (MMII), dispneia, precordialgia, palpitação e tontura. Estudo realizado por Nogueira et al.6 avaliou a segurança do

TC6M em pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) e verificaram queixa de dor precordial entre os pacientes avaliados.

Pacientes hospitalizados frequentemente experimentam o repouso no leito e a mobilização, a princípio, pode estar associada à hipotensão postural7. Dias et al.7 encontraram

esse evento adverso quando avaliaram pacientes hospitalizados por síndrome coronariana aguda (SCA). No entanto, essa avaliação não utilizou o TC6M, mas foi feita através de uma caminhada limitada pela distância de 50 metros. Além disso, a causa da internação numa unidade de cardiologia, como por exemplo, por descompensação da ICC, cirurgias, angina ou outros motivos, podem tornar os pacientes mais suscetíveis aos riscos associados à mobilização.

O TC6M possui poucos relatos que descrevem os seus efeitos adversos, principalmente quando aplicado ao paciente cardiopata hospitalizado. O conhecimento científico mais específico quanto à segurança do TC6M em cardiopatas poderia minimizar o aparecimento de respostas clínicas adversas.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar os efeitos adversos ocorridos durante a realização do TC6M em cardiopatas hospitalizados e apresentar as características clínicas desses pacientes.

Métodos

Trata-se de um estudo observacional, transversal, realizado na enfermaria de cardiologia de hospital universitário federal, em Salvador, BA, entre dezembro de 2011 e fevereiro de 2012.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Professor Edgard Santos sob o nº 66/2011 e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Amostra consecutiva de conveniência, tendo sido incluídos no estudo indivíduos com idade ≥18 anos, portadores de cardiopatia confirmada em prontuário médico, com liberação médica para realização do TC6M e orientados no tempo e no espaço. Foram excluídos do

estudo aqueles que apresentaram alterações osteomioarticulares que impossibilitassem a caminhada, que estavam em uso de oxigenoterapia contínua e os que permaneceram internados tempo insuficiente para realização da avaliação.

Obtida a liberação médica para caminhar, eram coletados os dados clínicos (diagnóstico da admissão, c o m o r b i d a d e s , a l t u r a , p e s o , medicamentos em uso, dentre outros) dos prontuários dos pacientes. Em seguida, realizado o TC6M através de duas práticas: a primeira para familiarizar o paciente em relação à técnica e, após 15 minutos de intervalo e/ou retomada dos parâmetros fisiológicos basais, a segunda prática.

Antes de cada TC6M, o paciente permanecia sentado por pelo menos cinco minutos enquanto recebia as instruções para a sua realização. Depois, em ortostase, eram aferidas: pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), frequência cardíaca (FC), saturação periférica de oxigênio (SpO2) e percepção subjetiva de esforço respiratório e de MMII. Dando início ao TC6M, minuto a minuto, foram registradas FC, SpO2 e sinais de intolerância ao esforço físico, como: dor, tontura, palidez, palpitações, dispneia, etc. do paciente. Essas variáveis eram também avaliadas caso o paciente parasse a caminhada. Imediatamente após o final ou interrupção do TC6M e após dois minutos de recuperação, as variáveis da fase pré-teste foram mensuradas novamente. Caso o paciente apresentasse qualquer sintoma ou intercorrência grave, como: tontura importante, bradicardia, hipotensão sintomática, dor precordial,

ABREVIATURAS E ACRÔNIMOS

• DLP – dislipidemia • FA – fibrilação atrial • FC – frequência cardíaca • HAP – hipertensão arterial

pulmonar

• ICC – insuficiência cardíaca crônica

• ICO – insuficiência coronariana

• MMII – membros inferiores • PAD – pressão arterial

diastólica

• PAS – pressão arterial sistólica

• SpO2– saturação periférica

de oxigênio

• TC6M –teste de caminhada de seis minutos

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dentre outros, que o colocasse em risco, estava programada a interrupção imediata do teste, o encaminhamento do paciente ao leito, a comunição do ocorrido à equipe médica e de enfermagem e a realização dos procedimentos necessários para estabilização do quadro.

A distância percorrida foi obtida ao final do TC6M. Durante a realização do teste, o paciente caminhou por seis minutos, num corredor de 20 metros, plano e reto, na própria enfermaria, sob estímulos verbais padronizados a cada minuto. O paciente era orientado a andar o mais rápido que pudesse, não podendo correr, com possibilidade de parada para descanso sem que houvesse interrupção do teste3.

A identificação dos efeitos adversos foi realizada a partir de uma avaliação subjetiva, baseada nos sinais e sintomas; e uma objetiva ligada à monitoração cardiorrespiratória. Como efeitos adversos relacionados à realização do TC6M, foram considerados: queixa de dor precordial, queda da FC, queda da PAD, aumento da PAD >120 mmHg nos normotensos ou >140 mmHg nos hipertensos, queda sustentada da pressão PAS sintomática, aumento da PAS >200 mmHg, queda da SpO2 <90%, tontura, palidez, náuseas, sudorese, palpitações, pré-síncope, dispneia, perda de dispositivos invasivos, queda, dor, dentre outros que ocorressem em quaisquer momentos das duas práticas do TC6M8.

Os efeitos adversos identificados ao TC6M foram classificados de acordo com a sua origem em: não cardiopulmonares e cardiopulmonares. Neste último grupo, os efeitos adversos foram agrupados em: não

graves e graves, ou seja, aqueles que requeressem repouso ou medidas terapêuticas imediatas.

Para monitoração da percepção subjetiva de esforço respiratório e de fadiga de MMII foi utilizada a escala de Borg9. A aferição da PAS e PAD foi realizada com

esfignomanômetro digital (G-TECH®, Plymouth – USA), utilizando as orientações contidas no respectivo manual. A FC e a SpO2 foram obtidas através de oxímetro de pulso (Nonin®, Providence – USA). A duração da caminhada foi medida através de um cronômetro digital.

Os dados foram analisados pelo programa estatístico SPSS versão 17. As variáveis categóricas foram expressas em valores absolutos e em percentuais e as variáveis contínuas, em medidas de tendência central e dispersão.

Resultados

Inicialmente, 49 pacientes foram incluídos no estudo, sendo excluídos: 10 pacientes por incapacidade de deambular, 5 porque receberam alta antes da realização do teste, 3 por recusa e 1 pelo uso de oxigenoterapia contínua. Sendo assim, foram incluídos na análise 30 pacientes: 9 homens e 21 mulheres.

Na Tabela 1, são apresentadas as características clínicas dos cardiopatas analisados.

Na Tabela 2, são apresentadas as variáveis: índice de massa corpórea (IMC), diagnóstico médico à admissão, definição do tratamento, comorbidades, classe funcional da ICC e medicamentos utilizados.

Tabela 1

Características clínicas dos pacientes estudados

Variáveis Média±DP Min Max Mediana

Idade (anos) 58,5±13,4 23 84 57

IMC (kg/m²) 25,1±4,6 17 35 24

Fração de ejeção (%)* 58,8±13,8 29 77 63

Tempo entre admissão e realização do 1º TC6M (dias) 2,9±3,0 1 14 2

Distância percorrida no 1º TC6M (m) 295,9±81,6 160 454 293

Distância percorrida no 2º TC6M (m) † 322,8±80,4 200 473 315

IMC - índice de massa corpórea; TC6M - teste de caminhada de seis minutos; DP - desvio-padrão; Min - valor mínimo; Max - valor máximo (*) Considerada ecocardiografia realizada nos últimos seis meses; dado referente a 20 pacientes; (†) Dado referente a 26 pacientes.

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Na Tabela 3, são observadas as variáveis hemodinâmicas referentes à segunda prática do TC6M.

Da população estudada, 15 (50,0%) pacientes apresentaram efeitos adversos em qualquer uma das duas

práticas de TC6M. Sendo que 5 (16,6%) apresentaram apenas na primeira prática do TC6M, 2 (6,6%) apresentaram apenas na segunda e 8 (26,6%) pacientes em ambas as práticas. Na Tabela 4, dos 30 pacientes analisados, observou-se que 5 (16,7%) pacientes Tabela 2

Variáveis clínicas da população estudada (n=30)

Variáveis n % Diagnóstico à admissão ICC 20 66,7 ICO 6 20,0 BAVT* 4 13,3 Comorbidades HAS 21 70,0 DLP 12 40,0 Exposição ao tabagismo† 12 40,0 DM 9 30,0 HAP 9 30,0 Etilismo 8 27,0 Doença osteoarticular 6 20,0 FA 6 20,0 DRC 3 10,0

Classe Funcional – NYHA‡

I 9 34,6 II 12 46,2 III 5 19,2 Medicamentos Diurético 20 66,7 IECA 13 43,3 Betabloqueador 13 43,3 Anticoagulante 11 36,7 Antiagregante plaquetário 11 36,7

Bloqueadores de canais de cálcio 9 30,0

Vasodilatador 8 26,7

BRA 8 26,7

Antiarrítmico 7 23,3

Alfa-agonista 2 6,7

ICC - insuficiência cardíaca crônica; ICO - insuficiência coronariana; BAVT - bloqueio atrioventricular total; HAS - hipertensão arterial sistêmica; DLP - dislipidemia; DM - diabetes mellitus; HAP - hipertensão arterial pulmonar; FA - fibrilação atrial; DRC - doença renal crônica; NYHA - New York Heart Association; IECA - inibidor da enzima conversora da angiotensina; BRA - bloqueador do receptor da angiotensina

(*) Já submetidos à correção cirúrgica com implante de marca-passo definitivo; (†) Exposição ativa em qualquer momento da vida (atual ou passada); (‡) Exceto os pacientes com BAVT

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apresentaram efeito adverso do tipo cardiopulmonar; 11 (36,7%) apresentaram do tipo cardiopulmonar não grave; e 4 (13,3%) pacientes apresentaram do tipo cardiopulmonar grave. Em relação aos 15 pacientes que apresentaram efeitos adversos, foram identificados: artralgia MMII (33,3%), palpitação (26,7%), dispneia (26,7%), dessaturação (13,3%), tontura e náusea (6,7%), hipotensão (13,3%), bradicardia (6,7%) e dormência em membro superior esquerdo (6,7%). As características dos

pacientes que apresentaram estes afeitos adversos são apresentadas na Tabela 4.

Na Tabela 5 apresenta-se a distribuição dos eventos adversos de acordo com as comorbidades presentes nos pacientes. Não foram constatadas ocorrências de efeitos adversos nos portadores de bloqueio atrioventricular total (BAVT) em uso de marca-passo.

Tabela 3

Variáveis hemodinâmicas referentes ao segundo TC6M, na população estudada

Variáveis Pré Pós Recuperação Δ Pré e Pós Δ Pós e Recuperação

Média±DP Média±DP Média±DP Mediana Mediana

PAS (mmHg) 114,2±20,1 128,2±27,6 11,6±23,5 14,0 -11,6 PAD (mmHg) 71,3±14,2 75,6±14,2 72,5±15,1 4,2 -3,0 FC (bpm) 73,0±15,2 85,7±24,2 73,5±15,2 12,6 -12,2 DP (mmHg.bpm) 8 342,9±2 212,9 11 023,0±3 804,6 8 569,8±2 411,0 2 680,1 -2 453,0 Borg R 6,3±0,6 7,9±3,6 6,4±1,2 1,6 -1,5 Borg MMII 6,5±1,6 8,0±3,4 6,7±1,6 1,4 -1,2 SPO2 (%) 97,8±0,9 97,0±3,3 97,8±1,0 -0,8 0,8

TC6M - teste de caminhada de seis minutos; PAS - pressão arterial sistólica; PAD - pressão arterial diastólica; FC - frequência cardíaca; DP - duplo-produto; SpO2 - saturação periférica de oxigênio

(*) Análise de 26 pacientes, pois quatro foram excluídos por não terem realizado a segunda prática do TC6M devido à ocorrência de evento adverso grave na primeira.

Tabela 4

Efeitos adversos observados durante os TC6M

Efeitos n % Características dos pacientes

Não cardiopulmonares 5 16,7†

Artralgia em MMII 5 33,3* 3 com doença osteoarticular

Cardiopulmonares

Não graves 11 36,7†

Palpitação 4 26,7* 3 com FA crônica

Dispneia 4 26,7* 2 com HAP

Dessaturação 2 13,3* 2 com ICC e relato de tabagismo

Tontura + náusea 1 6,7* com HAP

Graves 4 13,3†

Hipotensão sintomática 2 13,3* 1 com ICO, DLP e HAS e

1 com ICC e HAS

Bradicardia 1 6,7* com ICO, DLP e HAS

Dormência em MSE 1 6,7* com ICO, DLP e HAS

TC6M - teste de caminhada de seis minutos; MMII - membros inferiores; FA - fibrilação atrial; HAP - hipertensão arterial pulmonar; ICO - insuficiência coronariana; DLP - dislipidemia; HAS - hipertensão arterial sistêmica; ICC - insuficiência cardíaca crônica; MSE - membro superior esquerdo

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Discussão

O TC6M demonstrou ser um instrumento seguro para avaliação de cardiopatas hospitalizados. Embora tenha ocorrido efeito adverso em metade dos pacientes do estudo, deve-se considerar que cada um deles realizou duas práticas de TC6M. Além disso, foram considerados graves apenas os eventos ocorridos em quatro indivíduos e em todos os sinais observados houve remissão total apenas com o repouso, sem necessidade de intervenção médica.

Neste estudo, foram encontrados 21 indivíduos com HAS e 20 com ICC. Além disso, verificou-se entre os pacientes uma média de fração de ejeção de 58,8% e mediana de 63,0%. Esses dados demonstram a baixa gravidade dos pacientes estudados e a presença de ICC com função sistólica preservada entre os participantes10.

O tempo entre a admissão hospitalar e a realização do primeiro TC6M foi em média 2,9 dias e mediana de dois dias, demonstrando a precocidade na avaliação do desempenho da caminhada. Nesta pesquisa, a variabilidade de tempo entre a admissão e a realização do TC6M ocorreu devido à necessidade de liberação médica para realização do teste, que acontecia quando o

paciente apresentava classe funcional ≤ III, baseada na

New York Heart Association11. Portanto, em alguns

pacientes foi necessário aguardar a compensação da ICC para depois realizar o TC6M, impedindo que a aplicação do teste ocorresse logo após a admissão.

Em relação ao tempo para o início da reabilitação cardíaca, a Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que esta ocorra ainda na fase hospitalar e que esteja atrelada a uma avaliação funcional do paciente, sendo o TC6M considerado uma valiosa ferramenta11-13.

Corroborando os resultados do presente trabalho e reafirmando a importância de uma mensuração funcional precoce, Dias et al.7 avaliaram pacientes com SCA

aproximadamente dois dias após a admissão na unidade de cuidados intensivos. No entanto, essa avaliação ocorreu através de um teste limitado pela distância de 50 metros7. Já o TC6M, usado no presente estudo, é

limitado pelo tempo, sendo a distância percorrida pelo indivíduo variável conforme a sua capacidade e passível de ser usada como valor prognóstico14.

O TC6M é amplamente utilizado no meio científico e assistencial, no entanto a segurança da sua aplicação era pouco esclarecida, principalmente em relação aos pacientes hospitalizados e mais vulneráveis a efeitos Tabela 5

Distribuição dos efeitos adversos de acordo com as comorbidades presentes nos pacientes estudados

HAS DLP Exposição ao tabagismo* HAP FA Doença osteoarticular (n=21) (n=12) (n=12) (n=9) (n=6) (n=6)

Artralgia 4 2 - 2 1 3

Efeitos adversos cardiopulmonares Não graves Palpitação 2 1 1 1 3 2 Dispneia - - 1 2 1 1 Dessaturação 2 2 2 - - -Tontura + náusea - - - 1 - -Graves Hipotensão sintomática 2 1 - 1 1 -Bradicardia 1 1 1 - 1 -Dormência em MSE 1 1 - 1 -

-HAS - hipertensão arterial sistêmica; DLP - dislipidemia; HAP - hipertensão arterial pulmonar; FA - fibrilação atrial; MSE - membro superior esquerdo

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adversos do que os indivíduos em acompanhamento ambulatorial. Dos 30 participantes deste trabalho, os quais se encontravam assintomáticos antes da avaliação, 15 (50,0%) apresentaram efeitos adversos em qualquer uma das duas práticas do TC6M. Este dado não inviabiliza a realização do TC6M na prática clínica, uma vez que a maioria dos efeitos adversos identificados não foi considerada grave e todos tiveram reversibilidade espontânea com o repouso. Ainda assim, ratifica-se a importância da disponibilidade dos recursos de suporte de vida já recomendados pela American Thoracic Society durante a realização do referido teste3.

Dentre os efeitos adversos identificados neste estudo, os que mais ocorreram foram artralgia em MMII, palpitação e dispneia. Os achados deste estudo concordam com os encontrados por Gerson et al.5 cuja avaliação foi

direcionada para pacientes com ICC refratária e indicação eletiva de transplante cardíaco5; com o de Nogueira et al.6

que avaliaram 25 pacientes com aproximadamente uma semana após IAM; com a avaliação de aproximadamente 2 300 pacientes realizada por Enright et al.15 No entanto,

diferente do presente estudo, esses trabalhos não descreveram possíveis justificativas para seus achados. Dos 30 pacientes estudados, 4 (13,3%) apresentaram eventos classificados como do tipo grave (hipotensão sintomática em 2, bradicardia em um e dormência no MSE em outro), sendo que todos eles eram portadores de HAS e 3 (75,0%) tinham diagnóstico de ICO e DLP. Chamamos atenção para essas três condições clínicas. Primeiramente é importante salientar que HAS e DLP são importantes fatores de risco para ICO. A predileção dos efeitos adversos em relação aos pacientes coronariopatas possivelmente ocorreu em função da própria fisiopatologia dessa doença. A ICO se caracteriza por um desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio pelo miocárdio consequente de alterações em qualquer ponto da circulação coronariana. Mediante situações de aumento de demanda, ocorrerão isquemias focais e, em longo prazo, perda gradativa da eficiência muscular cardíaca16. Em situações de maior estresse físico,

o coração pouco eficiente não é capaz de atender a necessidade de aumento do débito cardíaco, podendo produzir tais sintomas. Sendo assim, acredita-se que pacientes com ICO mereçam uma atenção especial e critérios mais rigorosos para interrupção do TC6M. No presente estudo observou-se ainda que 6 (66,7%) de 9 pacientes com algum grau de HAP tiveram sintomas relacionados ao baixo débito cardíaco, como: tontura, náuseas, hipotensão sintomática e dormência no membro superior esquerdo (MSE). O baixo débito cardíaco poderia levar à síncope e queda da própria altura, embora esse evento adverso não tenha sido observado nesta

pesquisa. Sabe-se que a HAP pode se instalar silenciosamente em consequência de doenças cardíacas17.

O seu sintoma mais comum é a intolerância ao esforço, devido ao baixo débito cardíaco, cuja característica é o caráter progressivo, sendo indicativa de disfunção ventricular direita secundária17. Síncope e pré-síncope

também podem estar presentes17. Além dos sinais e

sintomas citados, os pacientes podem apresentar ainda dor precordial e esta costuma ser sinal de isquemia subendocárdica do ventrículo direito por redução do fluxo e da pressão de perfusão coronariana17. Assim,

acredita-se que pacientes com HAP mereçam também uma atenção especial durante o TC6M e critérios mais rigorosos para sua interrupção.

Como a regulação do débito cardíaco frente a um esforço físico ocorre a partir de mecanismos que permitem adaptação inotrópica e cronotrópica18, no presente

estudo, acreditava-se na possibilidade da ocorrência de picos hipertensivos durante o esforço de alguns portadores de marca-passo. Entretanto, nenhum evento adverso dessa natureza foi observado nos pacientes que usavam esse dispositivo.

Gerson et al.5, na avaliação da segurança do TC6M em

pacientes com indicação de transplante cardíaco, fizeram uso de avaliação eletrocardiográfica nos seus voluntários durante a realização do teste. Considerando-se que esse trabalho confirmou o TC6M como uma avaliação segura do ponto de vista eletrocardiográfico, optou-se então por não fazer uso desse tipo de monitoração nos pacientes, a fim de reproduzir o TC6M com os instrumentos de avaliação cardiorrespiratória mais usados na rotina clínica. O número limitado de pacientes admitidos na enfermaria onde foi realizada a pesquisa no período do estudo não permitiu uma análise inferencial. Embora esta unidade possua 15 leitos, existe uma baixa rotatividade de pacientes. Sugere-se a realização de novas pesquisas com tamanho amostral maior, possibilitando testar estatisticamente as hipóteses aqui apresentadas. Amplamente discutida e motivo constante de cobrança nos processos de acreditação hospitalar, a segurança do paciente é uma questão abrangente e envolve vários aspectos de uma instituição. Isso porque a assistência terapêutica frequentemente está associada a danos secundários, de modo que é essencial reconhecer, minimizar ou eliminar os riscos a que os pacientes estão expostos19.

Assim, os resultados aqui apresentados permitirão ao fisioterapeuta identificar o grupo de indivíduos mais suscetível a eventos adversos e respaldar com mais segurança sua avaliação. Reafirma-se que é condição básica para realização do TC6M em indivíduos

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hospitalizados a liberação do paciente pelo médico responsável, e a avaliação e a execução apropriada do teste pelo fisioterapeuta.

Conclusão

No TC6M, foi identificada baixa frequência de eventos adversos graves em pacientes cardiopatas sob condição de hospitalização a partir de dois dias da sua admissão.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

O presente estudo representa o trabalho de conclusão de curso (TCC) de Pryscilla Alves Ferreira em Residência Multiprofissional Hospitalar em Saúde do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia.

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Referências

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