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Um longo caminho para comprovar o óbvio

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Academic year: 2021

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de o STJ analisar a questão, incluindo-a em um recurso repetitivo, criou-se uma grande expectativa entre os que querem ver o problema resolvido de que enfim se poria fim a um imbróglio que se ar-rasta há décadas e que causa enorme prejuízo a quase todos, salvo a pequena minoria para a qual quanto maior a polêmica ou falta de transparên-cia nas leis e nas normas, maior a possibilidade de auferir dinheiro fácil, não importa de quem e a que custo. Enfim, esperava-se um desfecho similar àquele verificado, há algum tempo, em relação ao que ficou vulgarmente conhecido como “Inversão da Tabela Price”. Neste caso, o posicionamento do STJ pôs fim a uma das “minas de ouro” da citada “indústria de liminares”. No entanto, para o bem da transparência na relação entre credores e deve-dores e, também, para a redução do custo do capi-tal via mitigação de riscos jurídicos, abstraindo as formalidades do direito que, neste particular, nin-guém melhor do que o próprio STJ para avaliar o volume exacerbado de ações dessa natureza. E a própria afirmação de um dos ministros do STJ de que “não parece possível que uma mesma tese jurídica

possa receber tratamento absolutamente distinto, a depen-der da unidade da fedepen-deração e se a jurisdição é fedepen-deral ou estadual” deixa patente os enormes benefícios que

resultariam de uma deliberação da referida Corte sobre o tema em toda sua extensão.

Sobre essa questão da Tabela Price e, princi-palmente, para evidenciar a enorme falácia quanto à existência de capitalização de juros quando estes são pagos e não incorporados ao saldo devedor, já se abordou o assunto exaustivamente, ao longo dos últimos 30 anos. Isso foi feito sob os mais diversos aspectos, de demonstrações matemáticas a compa-rações com a prática internacional. Evidenciou-se

Um longo caminho para

comprovar o óbvio

iscos jurídicos

R

Teotonio Costa Rezende

Mestre em Gestão e

Estratégia de Negócios

Frustrante! É o que a maioria dos especialistas em crédito imobiliário e em finanças deve ter achado da recente decisão do Superior Tribunal de Justi-ça (STJ) de que não cabe àquela Corte

afirmar a legalidade, mesmo em abstrato, da utili-zação da Tabela Price. O argumento foi o de que a análise sobre a legalidade da utilização da Tabela Price é questão de fato, e não de direito. E assim requer a constatação, em cada caso, de eventual existência ou não de capitalização de juros. Por-tanto, voltou-se à “estaca zero” quanto à possibili-dade de se pôr fim a uma das principais estratégias adotadas pela chamada “indústria de liminares” para postergar a realização da garantia, pelo cre-dor, quando o devedor se torna inadimplente. Pois alegar a existência de capitalização de juros é, de há muito, uma das principais táticas utilizadas para beneficiar devedores inadimplentes, independen-temente de qual seja o sistema de amortização pactuado no contrato de financiamento. Não se restringe, pois, à Tabela Price, estendendo-se a qualquer sistema de amortização com pagamentos periódicos de prestações de amortização e juros, até mesmo porque, no que diz respeito ao cálcu-lo dos juros, todos esses sistemas de amortização, desde que tenham consistência matemática, são rigorosamente iguais.

Importa destacar que a “frustração” nem de longe se refere a questionar e, muito menos criti-car, do ponto de vista legal, se foi ou não correta a decisão do STJ. E em momento algum este artigo trata o problema sob tal prisma. Há clara consci-ência das grandes contribuições que aquela Cor-te Cor-tem dado para mitigar os impactos dos riscos jurídicos nas relações contratuais. Mas a partir do momento em que passou a existir a possibilidade

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a absoluta inconsistência matemática dos modelos que são apresentados como “antídotos” à capita-lização de juros. Ficou claro que, não por acaso, a Tabela Price é, de longe, o sistema de amortiza-ção mais utilizado na maioria absoluta dos países. E já se mostrou a irracionalidade da proibição de capitalização de juros sob alegação de se prote-ger devedores. Comprovado está que, na verdade, tal prática encarece o custo do capital, em vez de reduzi-lo. E foi destacado o surrealismo de con-siderar ilegal uma taxa de juros de 0,1% ao mês, com capitalização mensal, que resulta numa taxa de juros efetiva de 1,21% ao ano, e admitir como legítima uma taxa de juros 12,0% ao ano, com ca-pitalização anual, como o faz o Decreto 22.626/33, que é o principal fato gerador

dessa cizânia sobre capitali-zação de juros. Também já se tratou do equívoco que é con-fundir taxas de juros efetivas com capitalização de juros, além de vários outros aspec-tos inerentes a este tema que, com o passar do tempo e a au-sência de uma decisão única e definitiva, faz que não seja desprezível o risco de o Bra-sil passar a ser o único país do mundo em que a matemática não é uma ciência exata. Por-tanto, não se pretende aqui ser repetitivo, mas sim, ver a questão sob outro prisma,

não se valendo de demonstrações matemáticas, em sua essência, mas mostrando os aspectos óbvios da questão e reconhecendo que mesmo o óbvio precisa, regularmente, ser relembrado para evitar que interesses escusos busquem conferir ares de complexidade a questões extremamente simples. O foco será, portanto, nos esforços, nos custos e no tempo demandado para comprovar o óbvio.

De volta aos 80 – Retorne-se ao começo da dé-cada de 1980, tempo de inflação elevada, muito acima da valorização dos imóveis, conjugada com desemprego e arrocho salarial. A conjugação de fatores fez que pela primeira vez desde que o Sis-tema Financeiro da Habitação (SFH) foi criado, em 1964, os reajustes das prestações superassem a variação salarial, além de o valor dos imóveis ten-der a se tornar inferior ao saldo devedor dos finan-ciamentos habitacionais. A primeira consequência foi a elevação da inadimplência, que atingiu dois dígitos, aproximando-se dos três dígitos. E assim

provocar considerável aumento das execuções judiciais e extrajudiciais. A reação, por parte dos mutuários, se deu por meio de uma enxurrada de ações judiciais, questionando a quebra dos princí-pios do Plano de Equivalência Salarial:

i) Ocorrência e ilegalidade da capitalização de juros, a qual se tinha como referência e sustenta-ção o disposto no artigo 4º do Decreto 22.636/33: “É proibido contar juros dos juros: esta proibição não

compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.”; tendo sido a

Tabela Price eleita como a grande vilã.

ii) Inversão do momento de se amortizar a dí-vida, vulgarmente chamada de Inversão da Tabela Price, embora fosse esta tese advogada para todos os sistemas de amortização até então utilizados – Tabela Price, Sistema de Amortiza-ção Constante (SAC), Sis-tema de Amortização Misto (SAM) e, posteriormente, a Série em Gradiente e o Sis-tema de Amortização Cres-cente (Sacre). Implicava o argumento de que, quando da apropriação das presta-ções mensais pagas pelos mutuários, primeiramente se deveria amortizar a dívida para, somente após referida amortização, aplicar a corre-ção monetária sobre o saldo devedor e calcular os juros mensais. Para sustentar a tese de inversão do mo-mento de amortizar a dívida se valiam do disposto na letra c do artigo 6º da Lei 4.380/64, que é a lei de criação do SFH e da instituição da correção mo-netária nos contratos habitacionais, cujo texto era o seguinte: “c) ao menos parte do financiamento, ou do preço a ser pago, seja amortizado em pres-tações mensais sucessivas, de igual valor, antes do

reajustamento, que incluam amortizações e juros”.

Quanto à tese de que primeiramente a dívi-da deveria ser amortizadívi-da para só então ser atua-lizado o saldo remanescente e calculados os juros, além do gritante equívoco financeiro em que se incorreria, pois por definição implicaria isentar de atualização monetária e de juros, pelo período de um mês, o valor amortizado, o que mais chamava a atenção era o fato de que, do ponto de vista le-gal, buscou-se guarida num texto da lei que nada tinha a ver com o assunto em tela. Na verdade, sem exagero se pode dizer que não se tratava de uma

O Brasil corre o risco

de ser o primeiro país

do mundo em que a

matemática não é

mais ciência exata,

tornando complexas

as questões simples

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tizar a dívida, era de se imaginar que ela morresse

no nascedouro. Mas foram necessárias quase três décadas para que essa polêmica fosse definitiva-mente superada. Nesse ínterim, milhares de horas de trabalho de técnicos em crédito imobiliário, de especialistas em finanças e de advogados das instituições financeiras foram consumidas para se contestar as dezenas de milhares de ações, em sua maioria movidas por mutuários inadimplentes. E, por conseguinte, milhões de reais foram gastos, encarecendo o custo do dinheiro, além de afu-gentar a oferta de novos recursos para financiar a aquisição de imóveis e, consequentemente, contri-buindo para a elevação da taxa de juros para fazer frente a este risco jurídico.

Se o STJ não tivesse decidido, objetivamente, a questão do momento correto para amortizar a dívida, seguramente a polê-mica tenderia a permanecer ad eterno, pois, de forma similar à questão da Tabela Price e da capitalização dos juros, eram os mais diversos os entendimentos nas instân-cias inferiores do Poder Judi-ciário, quer no nível estadual, quer no nível federal, sobre o tema. Nesse contexto, o STJ deu uma inestimável contri-buição à sociedade ao colo-car um ponto final à referida discussão, valendo destacar, entre outras, a Súmula

450, de 02.06.2010: “No tocante ao momento de correção do saldo devedor, a orientação deste Tri-bunal firmou-se no sentido da legalidade do crité-rio que prevê a incidência da correção monetária e juros sobre o saldo devedor antes da amortização decorrente do pagamento da prestação mensal do contrato. A respeito, colaciona-se o seguinte precedente: “[...]. - O sistema de prévio reajuste e posterior amortização do saldo devedor não fere a comutatividade das obrigações pactuadas no ajus-te, uma vez que, de um lado, deve o capital em-prestado ser remunerado pelo exato prazo em que ficou à disposição do mutuário, e, de outro, restou convencionado no contrato que a primeira parce-la será paga apenas no mês seguinte ao do emprés-timo do capital.”) e o Recurso Especial 1.194.402 –

RS (2010/0088776-9), de 21.09.2011 (“...essa forma

de imputação (primeiramente aos juros, e só depois, pelo saldo, ao principal) , consagrada pelo art. 9933Código Civil/16 (art. 354 do CC/2002), não é incompatível

com o art. 6º, c , da Lei 4.3800/64, nem com os artigos questão financeira, nem de direito, mas apenas e

tão somente de conhecimento da língua portugue-sa. Justiça seja feita ao redator da citada letra “c” do artigo 6º da Lei 4.380/64, o texto é de clareza absoluta em relação ao que de fato se pretendia regular.

A palavra “mágica” utilizada para sustentar a tese esdrúxula de que primeiro se deveria amorti-zar a dívida para depois aplicar os juros e correção monetária foi pinçada no meio do texto – “…antes do reajustamento... “. Vejamos como ficaria o texto com a exclusão da citada palavra: “ao menos parte do

financiamento, ou do preço a ser pago, seja amortizado em prestações mensais sucessivas, de igual valor, que incluam amortização e juros”.

A simples exclusão da expressão “antes do re-ajustamento” seria suficiente para tornar inócuo um dos mais importantes

objetivos da Lei 4.380/64, qual seja, a introdução da correção monetária sobre o valor do financiamento de crédito imobiliário, uma vez que se estaria impedindo o reajustamento das presta-ções, haja vista que estas de-veriam ser, sempre, de “igual

valor” e, por conseguinte, de nada adiantaria aplicar a correção monetária sobre o saldo devedor se as

pres-tações fossem mantidas a valor constante desde a assinatura do contrato até o final do prazo de pagamento da dívida.

Na realidade, dada a clareza do texto, não seria necessário nenhum esforço de interpretação para se concluir que o legislador apenas definia que as prestações mensais, até a data de seu

reajustamen-to, teriam valor igual. Ou seja, não haveria presta-ções de valores diversos – e estas só poderiam ser alteradas em função do reajustamento previsto no caput do artigo 5º, ao qual o artigo 6º faz remissão. Portanto, abstraindo os efeitos dos reajustamentos determinados pelo artigo 5º, a letra “c” do artigo 6º definia que o Sistema de Amortização a ser uti-lizado deveria ter prestações de “igual valor”, isto é, deveria utilizar a Tabela Price. Esta atende à di-retriz segundo a qual todas as prestações têm igual valor e, àquela época, era praticamente o único sistema de amortização usado no Brasil para pagar dívidas por meio de prestações mensais.

Dada a absoluta falta de lógica e de consistên-cia para a tese da inversão do momento de

amor-A Lei 4.380/64 é

clara, dispensando

qualquer maior

esforço de interpretação

do seu texto

(4)

2º, parágrafo único e 5º da Lei 8.692/93, que tratam

de outra matéria, inteiramente estranha. O art. 6º da

Lei 4.380/64 trata dos critérios de incidência e da perio-dicidade da correção monetária nos contratos do SFH).

Nota-se, portanto, que, relativamente à inver-são do momento de se amortizar o saldo devedor, o STJ, de forma precisa, demonstrou tanto a in-coerência no aspecto financeiro quanto em ter-mos de total estranheza entre o que está escrito na letra c do artigo 6º da Lei 4.380/64 e a ques-tão do momento correto de se amortizar a dívida. Em síntese, ratificou o que aqueles que queriam resolver o problema já o faziam há anos, compro-vando o óbvio. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, demonstrar o óbvio é, na maioria das vezes, de suma importância e nem sempre fácil de fazer. A história, ao menos no caso do SFH, tem deixado patente que é muito

oneroso, para a sociedade, o tempo que se leva para tomar uma decisão definitiva sobre esses “óbvios”. É nesta trilha – a de demonstrar o óbvio – que a seguir se tratará da questão da capitalização de juros, ou melhor, da ausência de capi-talização de juros. Para tanto, não serão utilizados concei-tos de matemática financeira, nem a vasta aplicação inter-nacional da Tabela Price, mas apenas dar evidência ao óbvio.

Duas comparações – Serão feitas duas simples comparações:

i) Relação entre uma caderneta de poupança em que o poupador, todo mês, saca integralmente

os juros e parte do capital, não deixando, em mo-mento algum, que os juros sejam adicionados ao saldo credor e, portanto, afastando qualquer hipó-tese de que ele venha a receber “juros sobre juros” (capitalização de juros) versus Financiamento pela Tabela Price.

ii) Financiamento pela Tabela Price, versus diversos financiamentos a juros simples, estes sim, que evidenciam o óbvio do óbvio.

Ressalte-se que, antes de entrar diretamente na demonstração dos citados exemplos, cabe des-tacar que, embora na tentativa de julgamento da Tabela Price, um ministro do STJ tenha afirmado que, no que se refere à existência ou não de capita-lização de juros, “...não há consenso nem mesmo entre

os matemáticos”, é inquestionável que o conceito de

capitalização de juros está perfeitamente definido

em todos os livros e estudos relacionados à mate-mática financeira que tratam do tema. O próprio nome – “capitalização de juros” – já define que se trata de transformar juros em capital para que este, a partir desse momento e de forma similar ao capi-tal emprestado, passe a render juros. Isto é, provo-que a ocorrência de “juros sobre juros” ou, como definido no artigo 4º do Decreto 22.626/33, “juros dos juros”. Inquestionável, portanto, que a única condição para que ocorra capitalização de juros, ou juros dos juros, ou juros sobre juros, o chamado anatocismo, é que os juros vencidos e não pagos sejam adicionados (incorporados) ao saldo deve-dor (capital) e passem a integrar a base de cálculo dos juros para os períodos subsequentes. Por con-seguinte, em qualquer situação, se os juros venci-dos são quitavenci-dos, não importa se no vencimento

ou com atraso, mas que não sejam, em momento algum, adicionados ao saldo deve-dor, isto é, não se convertam em capital, não há nenhuma possibilidade de ocorrer ca-pitalização de juros. Assim, uma eventual perícia para identificar se ocorreu ou não capitalização de juros passa simplesmente por verificar se os juros incorridos nos pe-ríodos anteriores foram ou não incorporados ao saldo devedor e passaram a integrar a base de cálculo dos juros para os períodos subsequentes. Simples ao extremo! Portanto, discutir esse conceito de capitalização de juros não é, propriamente, tratar de questões relacionadas à matemática financeira, mas sim, uma parte da árdua batalha de fazer que o óbvio continue sendo óbvio.

Se de um lado é inquestionável a inexistência de capitalização de juros nos casos em que estes são pagos e não incorporados ao saldo devedor, não menos verdade é que ocorre a capitalização de juros naqueles casos em que estes, em vez de ser quitados, são adicionados ao saldo devedor e passam a compor o capital, base para os cálculos dos juros para os períodos subsequentes.

No caso do SFH, em decorrência do hoje ex-tinto Plano de Equivalência Salarial (PES), o desca-samento entre índices e periodicidade de reajustes dos encargos mensais em relação ao saldo deve-dor provocou o sub-reajustamento das prestações, fazendo que estas, em muitos casos, se tornassem inferiores às parcelas de juros, o que ficou

conhe-É inquestionável

que o conceito de

capitalização de

juros está definido

nos livros-texto

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cido como ‘amortização negativa”. A amortização negativa nada mais é do que a incorporação, ao saldo devedor, dos juros vencidos e não quitados, convertendo-os em capital, de forma a que passem a compor a base de cálculo dos juros para os perío-dos subsequentes. Logo, nestes casos, é inegável a ocorrência de ‘juros dos juros’ e, por conseguinte, implica a prática vedada pelo artigo 4º do Decreto 22.626/33. Para o fiel cumprimento do disposto no mencionado artigo 4º, para que não ocorresse a capitalização de juros em período inferior a um ano, as ‘amortizações negativas’, em vez de terem sido incorporadas ao saldo devedor nas respecti-vas datas de seus vencimentos, deveriam ter sido tratadas à parte, sobre elas incidindo apenas atu-alização monetária e, a cada período de 12 meses após seu vencimento, serem incorporadas ao saldo devedor. Este procedimento, no entanto, implica-ria desequilíbrio na relação contratual, fazendo que a taxa real de juros ficasse abaixo da taxa de juros contratada,

porém, era inevi-tável para que se pudesse cumprir a determinação legal que proibia a capitalização de juros em perío-do inferior a um ano, que vigia an-teriormente à Lei 11.977/09. Deta-lhes e exemplos da ocorrência de amortização negativa, de-monstrações de como tratar esta ocorrência para atender ao De-creto 22.626/33, bem como seus efeitos sobre a taxa real de juros foram demons-tradas em artigo que escrevemos a n t e r i o r m e n t e exclusivamente sobre esse tema. Neste particular e, para o bem da transparência na

relação entre credores e devedores, o ideal teria sido que, àquela época, as próprias instituições financeiras tivessem, voluntariamente, tomado a iniciativa de tratar as amortizações negativas em separado e, assim, talvez tivessem mitigado o risco de ‘contaminação’ em relação aos contratos em que não ocorreu capitalização de juros e, tam-bém, freado o ímpeto da indústria de liminares de criar fórmulas e teses fantasiosas em relação à capitalização de juros e seus sistemas

“matemági-cos” de juros simples.

Feitas estas considerações, passe-se agora ao objetivo central deste texto, qual seja o de eviden-ciar o quão simples e óbvia é a questão da inexistên-cia da capitalização de juros na Tabela Price. Para tanto, primeiramente imagine-se a situação hipo-tética de um indivíduo que faz um depósito numa caderneta de poupança com remuneração de 0,5% ao mês, com vencimentos mensais e, também, que este indivíduo decida não fazer mais nenhum

depósito e, ao final de cada mês, saque a im-portância de R$ 4.432,06. O fluxo dessa operação está demonstra-do na Tabela I. Não é preciso ser especialista em finanças, nem empregar cálcu-los matemáticos avançados para perceber, com a mais nítida segu-rança, que em momento algum os juros auferi-dos por esse de-positante foram i n c o r p o r a d o s ao saldo credor. Pelo contrário, além de ter saca-do integralte os juros men-sais, também o fez com parte do capital, decres-cendo este men-salmente até se tornar nulo ao

Período Depósito Saques Juros Saldo Credor

TABELA I – CADERNETA DE POUPANÇA COM SAQUE INTEGRAL DOS JUROS

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Totais 100.000,00 100.000,00 - 4.666,67 4.645,83 4.625,00 4.604,17 4.583,33 4.562,50 4.541,67 4.520,83 4.500,00 4.479,17 4.458,33 4.437,50 4.416,67 4.395,83 4.375,00 4.354,17 4.333,33 4.312,50 4.291,67 4.270,83 4.250,00 4.229,17 4.208,33 4.187,50 106.250,00 - 500,00 479,17 458,33 437,50 416,67 395,83 375,00 354,17 333,33 312,50 291,67 270,83 250,00 229,17 208,33 187,50 166,67 145,83 125,00 104,17 83,33 62,50 41,67 20,83 6.250,00 100.000,00 95.833,33 91.666,67 87.500,00 83.333,33 79.166,67 75.000,00 70.833,33 66.666,67 62.500,00 58.333,33 54.166,67 50.000,00 45.833,33 41.666,67 37.500,00 33.333,33 29.166,67 25.000,00 20.833,33 16.666,67 12.500,00 8.333,33 4.166,67 0,00

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final do 24º mês. Portanto, não existe qualquer possibilidade de que referido de-positante tenha recebido ‘juros dos juros’ (capi-talização de ju-ros), pois duran-te todo o período os juros somente incidiram sobre o capital. Tabela I – Caderneta de Poupança com saque integral dos juros Imaginemos que, na mesma data em que o poupador fez o depósito de R$ 100 mil (veja a Tabela I), outro indivíduo tenha obtido um finan-ciamento tam-bém de R$ 100 mil, a ser pago pela Tabela Pri-ce, em 24 meses,

com taxa de juros de 0,5% ao mês. O fluxo de pa-gamento desse financiamento é o constante da Ta-bela II. Vamos relevar o fato de que, claramente, no citado exemplo, os juros foram quitados inte-gralmente e em momento algum foram incorpora-dos ao saldo devedor. Focarmos o óbvio, ou seja, a comparação com os resultados do fluxo resultante da caderneta de poupança constante da Tabela I, na qual, por mais que se queira desvirtuar a rea-lidade, não tem

como querer fa-zer crer que o depositante rece-beu juros sobre juros: é inequí-voca a inexistên-cia de capitaliza-ção de juros. Se c o n f r o n t a r m o s o valor dos juros

recebidos pelo depositante com os juros pagos pelo tomador do empréstimo pela Tabela Price, constata-se que são rigorosamen-te iguais; idem no que diz respeito ao valor do saque na caderneta de poupança fren-te às prestações pagas na Tabela Price; e, por fim, o mesmo ocorre com o saldo cre-dor da caderne-ta de poupança versus o saldo de-vedor da Tabela Price. A pergunta que não pode ca-lar é: como pode ter ocorrido co-brança de juros dos juros – capi-talização de juros – na Tabela Price, se todos os seus resultados foram a b s o l u t a m e n t e idênticos aos ocorridos na caderneta de poupan-ça, sendo que nesta última não há qualquer dúvida quanto ao fato de o poupador não ter recebido juros dos juros?

Tabela II

Como o objetivo é ressaltar o óbvio, além das Tabelas I e II – que por si só mostram a absoluta igualdade entre seus resultados –, a seguir estão expostas, na forma de gráficos, as três variáveis: i) juros credores x juros devedo-res; ii) saques x prestações; iii) saldos credores x saldos devedores. Nota-se que, em todas essas três situações, as retas se sobrepõem, o que evidencia a

Período Financiamento Juros Amortização PMT (a+j) Saldo Devedor

TABELA II 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Totais 100.000,00 100.000,00 - 500,00 480,34 460,58 440,72 420,77 400,71 380,55 360,30 339,94 319,48 298,91 278,25 257,48 236,61 215,63 194,55 173,36 152,07 130,67 109,16 87,54 65,82 43,99 22,05 6.369,46 - 3.932,06 3.951,72 3.971,48 3.991,34 4.011,29 4.031,35 4.051,51 4.071,76 4.092,12 4.112,58 4.133,15 4.153,81 4.174,58 4.195,45 4.216,43 4.237,51 4.258,70 4.280,00 4.301,40 4.322,90 4.344,52 4.366,24 4.388,07 4.410,01 100.000,00 - 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 106.369,46 100.000,00 96.067,94 92.116,22 88.144,74 84.153,40 80.142,11 76.110,76 72.059,25 67.987,48 63.895,36 59.782,78 55.649,63 51.495,82 47.321,23 43.125,78 38.909,35 34.671,83 30.413,13 26.133,14 21.831,74 17.508,84 13.164,32 8.798,08 4.410,01 -

Confrontar juros pagos na caderneta de

poupança com os cobrados nos contratos

de financiamento imobiliário revela que

os critérios de cálculo são iguais

(7)

plena igualdade entre as variáveis – juros ativos x juros passivos, prestações x saques, saldos credores x saldos devedores – entre a caderneta de poupan-ça e a Tabela Price.

GRÁFICO II – COMPARAÇÃO SAQUES POUPANÇA X PRESTAÇÕES TABELA PRICE

5.000,00 4.500,00 4.000,00 3.500,00 3.000,00 2.500,00 2.000,00 1.500,00 1.000,00 500,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

PMT (a+j) - Tabela Price Saque da Poupança

GRÁFICO I – COMPARAÇÃO JUROS POUPANÇA X JUROS TABELA PRICE

600,00 500,00 400,00 300,00 200,00 100,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 Juros - Poupança Juros - Tabela Price

GRÁFICO III 120.000,00 100.000,00 80.000,00 60.000,00 40.000,00 20.000,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Saldo - Tabela Price Saldo - Poupança

Não obstante as Tabelas I e II tenham deixado clara a igualdade dos juros obtidos numa caderneta de poupança em que os juros são sacados integral-mente, impedindo que o poupador aufira juros dos juros (capitalização) em relação aos juros pagos em um financiamento pela Tabela Price, a apresenta-ção dos gráficos I, II e III tem por objetivo realçar ainda mais essa igualdade, uma vez que as duas retas – Tabela Price e Poupança – sempre se sobrepõem. Isso não deixa dúvidas quanto a essa igualdade e ratifica o óbvio: se dois resultados são absolutamen-te iguais e, levando-se em conta que não exisabsolutamen-te ne-nhuma margem de dúvidas quanto à ausência de capitalização de juros na caderneta de poupança em que o poupador saca os juros integralmente em seu vencimento, não existe razão lógica e, mui-to menos, matemática para se imaginar que tenha existido capitalização de juros na Tabela Price. Vale ressaltar que, usualmente, na caderneta de poupan-ça – o principal instrumento de funding do crédito imobiliário – ocorre a capitalização mensal dos ju-ros, pois grande parte dos poupadores não saca os juros e parte do capital nos vencimentos e, neste caso, do ponto de vista econômico, é mais do que correto (e óbvio) que seja permitida a capitalização mensal dos juros. Caso contrário o poupador não seria remunerado pela taxa real contratada. Mais do que isso, se não obtivesse juros dos juros não sa-cados, mensalmente sacaria o saldo integral (capital e juros) e abriria outra conta com este mesmo sal-do e, assim, obteria a remuneração correta, ou seja, inclusive sobre os juros reaplicados. Isso reforça o entendimento quanto à completa inadequação de se proibir a capitalização de juros, mesmo nos casos em que ela realmente ocorre.

O segundo exemplo, em que a inexistência de capitalização de juros na Tabela Price fica ainda mais óbvia, trata da comparação entre um financia-mento de R$ 100 mil, pelo prazo de 24 meses, com taxa de 0,5% ao mês, pela Tabela Price e constante da Tabela II, com uma série de 24 financiamentos concedidos pelo método de juros simples, com pra-zo de um mês e taxa de juros de 0,5% ao mês, e cuja série de valores são aqueles constantes da co-luna “valor do financiamento” referente à Tabela III. Quanto aos 24 financiamentos a juros simples, pode-se pressupor, por exemplo, que se trata de um único tomador que obtém inicialmente no banco A um financiamento de R$ 100 mil e, ao final de um mês, procede ao pagamento do capital e juros, cujo montante foi de R$ 100.500,00, conforme exposto na coluna Total Pago da Tabela III. O valor dos ju-ros foi obtido pela tradicional fórmula de juju-ros

(8)

sim-ples – J = c.i.n., onde: J= juros; c=capital; i=juros e n=prazo. Assim, J=100.000x0,5%x1 e, portanto, J= 500,00. Quanto ao montante, este também foi apurado com outra tra-dicional fórmula de juros simples – M= c (1+i.n) e, por-tanto, M= 100.000(1+0,5%) = 100.500,00. Suponhamos, no entanto, que no dia do ven-cimento deste financiamen-to o devedor não dispusesse do montante integral de R$ 100.500,00, mas apenas da

quantia de R$ 4.432,06 e, portanto, faltam-lhe R$ 96.067,94. Assim, para viabilizar o pagamento de sua dívida junto ao Banco A, referido indivíduo ob-tém um outro financiamento no Banco B, só que agora por apenas R$ 96.067,94, mas nas mesmas condições do primeiro financiamento, ou seja, pra-zo de um mês e taxa de juros simples de 0,5% ao mês. Ao final do segundo mês, quita este financia-mento junto ao Banco B por R$ 96.548,28, sendo R$ 96.067,94 de capital e R$ 480,34 de juros. No-vamente se aplicaram as fórmulas tradicionais de juros simples, sendo J= 96.067,94 x 0,5% = 480,34 e, M = 96.067,94 (1+0,5%) = 96.548,28. Admita-se que esse indivíduo, ao longo de 24 meses, somente consiga ter disponível, mensalmente, a quantia de R$ 4.432,06 e, assim, adote idêntico procedimento, mês a mês, até o final do 24º mês, sempre quitan-do integralmente o financiamento ao final de cada mês, pagando o capital, acrescido de juros simples de 0,5% ao mês e, concomitantemente, tomando novo financiamento em outro banco, pelo valor necessário para, acrescido de sua disponibilidade mensal de R$ 4.432,06, quitar o financiamento obti-do no mês imediatamente anterior. Os valores des-ses 24 financiamentos estão

descritos na já citada coluna Valor do Financiamento da Tabela III.

Mais uma vez voltando à questão de se evidenciar o óbvio, se confrontarmos os resultados da Tabela III (di-versos financiamentos con-cedidos e calculados literal-mente a juros simples) com os dados da Tabela II, que se refere a um financiamento concedido pela Tabela Price,

chegaremos a resultados ab-solutamente idênticos, como se pode constatar:

i) O somatório dos juros que seriam pagos ao final dos 24 meses, em um único financiamento pela Tabela Price (R$ 6.369,46), é exata-mente a mesma quantia que seria paga pelo tomador dos 24 financiamentos a juros simples.

ii) Os valores dos 24 financiamentos a juros sim-ples, com prazo de pagamen-to em um mês, é idêntico aos saldos devedores na Tabela Price, ao final de cada mês, após paga a prestação do mês imediatamente anterior. Isso deixa patente que se comparam os mesmos valores de capital emprestado, em ambos os exemplos.

iii) O valor da prestação mensal, paga na Tabe-la Price (R$ 4.432,06), constituída de parceTabe-las de amortização e juros, é o mesmo do capital próprio utilizado pelo devedor para pagar os juros e parte do capital dos financiamentos a juros simples, nas suas respectivas datas de vencimento.

iv) O valor das quotas de amortização, na Ta-bela Price, é idêntico à redução de endividamento do devedor, ao final de cada mês, quando este uti-liza sua parcela de capital próprio (R$ 4.432,06) para quitar os juros vencidos e parte do capital do financiamento tomado a juros simples.

Confrontando-se os dados da Tabela II com os da Tabela III, ratifica-se que todas as principais va-riáveis financeiras – capital, juros, amortizações e saldos – são idênticas em ambos os exemplos. Isto é, os resultados produzidos na Tabela Price são ri-gorosamente iguais àqueles resultantes dos finan-ciamentos a juros simples.

Neste caso, ou seja, do exemplo dos 24 financiamen-tos, nem sequer há inferências a fazer, pois os juros foram calculados explicitamente pelo método de juros sim-ples. Novamente a pergunta

a ser feita para comprovar o óbvio é: como pode haver ca-pitalização de juros na Tabela Price, se seus resultados são absolutamente idêntico àque-les apresentados nos financia-mentos a juros simples?

Se a regra fosse a de

aplicar juros simples, o

credor se defenderia

abrindo várias contas

de poupança, a cada

data de vencimento

Como pode haver

capitalização de juros

na Tabela Price, se os

resultados são iguais

aos dos financiamentos

a juros simples?

(9)

GRÁFICO 4 – VALOR PRESTAÇÕES TABELA PRICE X PAGAMENTO MENSAL JUROS SIMPLES

5.000,00 4.500,00 4.000,00 3.500,00 3.000,00 2.500,00 2.000,00 1.500,00 1.000,00 500,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

PMT (a+j) - Tabela Price Redução Empréstimos + Juros

GRÁFICO V – JUROS NA TABELA PRICE X JUROS NOS FINANCIAMENTOS A JUROS SIMPLES

600,00 500,00 400,00 300,00 200,00 100,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Juros - Vários Empréstimos Juros - Tabela Price

Empréstimos Bancos Redução Financiamentos

Redução + Juros Valor

Financiamentos Juros Amortização Total Pago Vários empréstimos, a juros simples, com prazo de amortização em 1 mês

TABELA III 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Total A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X 3.932,06 3.951,72 3.971,48 3.991,34 4.011,29 4.031,35 4.051,51 4.071,76 4.092,12 4.112,58 4.133,15 4.153,81 4.174,58 4.195,45 4.216,43 4.237,51 4.258,70 4.280,00 4.301,40 4.322,90 4.344,52 4.366,24 4.388,07 4.410,01 100.000,00 100.000,00 96.067,94 92.116,22 88.144,74 84.153,40 80.142,11 76.110,76 72.059,25 67.987,48 63.895,36 59.782,78 55.649,63 51.495,82 47.321,23 43.125,78 38.909,35 34.671,83 30.413,13 26.133,14 21.831,74 17.508,84 13.164,32 8.798,08 4.410,01 500,00 480,34 460,58 440,72 420,77 400,71 380,55 360,30 339,94 319,48 298,91 278,25 257,48 236,61 215,63 194,55 173,36 152,07 130,67 109,16 87,54 65,82 43,99 22,05 6.369,46 100.000,00 96.067,94 92.116,22 88.144,74 84.153,40 80.142,11 76.110,76 72.059,25 67.987,48 63.895,36 59.782,78 55.649,63 51.495,82 47.321,23 43.125,78 38.909,35 34.671,83 30.413,13 26.133,14 21.831,74 17.508,84 13.164,32 8.798,08 4.410,01 100.500,00 96.548,28 92.576,80 88.585,46 84.574,17 80.542,82 76.491,31 72.419,54 68.327,42 64.214,84 60.081,69 55.927,88 51.753,30 47.557,84 43.341,41 39.103,89 34.845,19 30.565,20 26.263,80 21.940,90 17.596,38 13.230,14 8.842,07 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 4.432,06 106.369,46

A exemplo do que foi demonstrado quando da comparação entre a Caderneta de Poupança (Tabela I) e a Tabela Price (Tabela II), os gráficos a seguir

evi-denciam a já citada igualdade entre juros, prestação e saldos entre a Tabela Price e os financiamentos a juros simples, razão por que as duas retas se sobrepõem.

(10)

Os gráficos IV, V e VI têm a mesma finali-dade do que já foi men-cionado em relação aos gráficos I, II e III, ou seja, realçar ainda mais a igualdade perfeita entre os juros resultantes da Tabela Price em relação aos financiamentos a ju-ros simples.

Novamente abstrain-do os aspectos formais relacionados ao direito e, por conseguinte, as

atribuições e competências do STJ, salvo existência de impedimentos legais intransponíveis, seria alta-mente benéfico à sociedade em geral, caso aquela Corte optasse por incluir o pleno julgamento da Ta-bela Price e da capitalização de juros em um Recur-so Repetitivo e, assim, pusesse um ponto final nessa perlenga que se arrasta há mais de três décadas e que eleva o spread bancário e gera conflitos recor-rentes entre devedores e credores, com benefício único para os agenciadores de disputas judiciais. Não sendo isso possível, embora possa parecer ab-surdo e descabido, o STJ poderia decidir e docu-mentar qual é o conceito de capitalização de juros aceito legalmente e quais os procedimentos que se deve adotar para impedir a ocorrência de cobrança de juros dos juros (capitalização) nos casos em que esta seja legalmente proibida.

Retornando à questão da decisão do STJ de não julgar a Tabela Price e a capitalização de juros, resta concluir que ela não foi de todo frustrante. Isso porque o posicionamento do relator ao definir pela necessidade de realização de perícia técnica, caso a caso, para se

com-provar ou não a ocor-rência de capitalização de juros, trouxe uma grande recompensa, es-perança e alento para os que batalham em prol da prevalência dos prin-cípios da matemática e das finanças e que ze-lam pela transparência nas relações negociais e para o bom relaciona-mento entre credores e devedores – (“É

exa-tamente por isso que, em

contratos cuja capitalização de juros seja vedada, é ne-cessária a interpretação de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica para aferir a existência da cobrança de juros não line-ares, incompatíveis, portan-to, com financiamentos cele-brados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação

antes da vigência da Lei 11.977/2009, que

acres-centou o artigo 15-A à Lei 4.380/1964”).

Desta forma, cria-se um importante divisor de águas entre as operações firmadas antes de 07.07.2009, anteriormente à vigência da Lei 11.977, e os contratos firmados já sob a égide da referida lei. Assim, apenas o estoque de contratos de crédito imobiliário firmados até 06.07.2009 continuará ser-vindo de matéria-prima para a “indústria de limina-res”, no que diz respeito a discussões sobre Tabela Price e capitalização de juros. Portanto, valeram a pena os anos e anos de luta para se conseguir colo-car, em lei, a regulamentação quanto à legalidade de utilização da Tabela Price e do Sistema de Amor-tização Constante (SAC), além da definição dos re-quisitos matemáticos fundamentais que devem aten-der um Sistema de Amortização e, principalmente, a autorização para a ocorrência de capitalização mensal de juros. Com relação à permissão legal para a existência de capitalização mensal de juros no crédito imobiliário, esta inserção teve por fim único inibir as discussões judiciais, porém, foi feito com a plena convicção da inexistência de capitaliza-ção de juros, quer na Tabela Price, quer nos demais

sistemas de amortização, desde que os juros sejam regularmente quitados e não incorporados ao saldo devedor, o que é a prática recorrente nos contratos de crédito imobiliário.

O desfecho mos-trou que vale a pena continuar a batalha para demonstrar o óbvio e ga-rantir a manutenção das boas práticas em termos de finanças e de transpa-rência.

GRÁFICO 6 – SALDOS DEVEDORES TP X VALORES FINANCIAMENTO JUROS SIMPLES

120.000,00 100.000,00 80.000,00 60.000,00 40.000,00 20.000,00 -1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Saldo - Tabela Price Valor Empréstimos

Se os juros forem regularmente

quitados na data de vencimento,

não haverá capitalização,

quer na Tabela Price, quer

nos demais sistemas de

amortização de operações

de crédito imobiliário

Referências

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