VILA DO CONDE QUINHENTISTA
Igreja do Convento de Santa Clara
DescriçãoPlanta de cruz latina composta por nave única e larga, com um transepto de grandes dimensões e uma cabeceira poligonal, tripla, com as capelas bem abobadadas e com frestas altas de iluminação. Volumes articulados com coberturas diferenciadas e telhados de duas e quatro águas.
Do exterior, o elemento mais atractivo é a sua cabeceira poliginal, a Este, e
vigorosamente estruturada e ritmada pelos salientes botaréus que reforçam tanto os flancos da ábside como dos absidíolos.
Na fachada Oeste destaca-se uma grande rosácea de tipo radiante que remonta à traça de origem do templo medieval, enquanto que o portal ogival foi removido. No lado Sul, conserva-se ainda, do período gótico, a fachada da sala capitular com porta média e uma janela de cada lado. Encostado à fachada Sul eleva-se o campanário, de simples empena sineira, patim descoberto e parapeito com merlões.
O exterior da igreja apresenta ainda coroamento geral de ameias de cariz defensivo mas já então meramente decorativas. A entrada faz-se por uma porta secundária lateral, voltada a Norte.
O interior é composto por uma nave coberta por tecto de caixotões de talha octogonal. Do Lado do Evangelho encontra-se a Capela dos Fundadores ou de Nossa Senhora da Conceição, com acesso por arco com duas arquivoltas decoradas, com as armas dos fundadores na pedra de feixo. A capela é coberta por abóbada de nervuras fechadas por bocetes.
Possui janelão com adornos manuelinos. Na parede do lado direito, encontra-se lápide com inscrição. Na parede do lado oposto, encontra-se peanha com imagem do orago. As arcas tumulares são esculpidas com elementos decorativos a enquadrar inscrições e as tampas com os jacentes de D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins. Nas faces das arcas estão representadas cenas bíblicas: na de D. Afonso Sanches, do lado direito, o
Nascimento de Cristo, a Adoração dos Reis Magos e a da Circuncisão, do lado esquerdo, a Visitação, a Anunciação e a Fuga para o Egipto, na cabeceira os sarracenos a invadirem o Convento de Santa Clara e aos pés as armas reais; na de D. Teresa Martins, sua
mulher, do lado direito, a entrada de Cristo em Jerusalém, a Última Ceia e o Lava pés; do lado esquerdo, Cristo no Horto, Cristo na Prisão, e diante de Pilatos, na cabeceira, São Francisco recebendo as chagas, e aos pés, as armas de D. Teresa.
Existem, ainda, nesta capela dois pequenos sarcófagos dos filhos dos fundadores. A nave e parte do transepto são cobertos por tectos de madeira com caixotões. No transepto encontram-se, do lado do Evangelho, a arca tumular de D. Brites Pereira, filha de D. Nuno Álvares Pereira, possuindo as armas de seu marido, D. Afonso, 1º Duque de Bragança, e do lado da Epístola, a arca tumular de D. Fernando de Meneses e sua mulher D. Brites de Andrade, senhores de Cantanhede, descendentes dos fundadores, tem na tampa os jacentes e numa das faces uma inscrição. A Capela-mor firmada num dos bocetes da abóbada de pedra polinervada, com brasão do príncipe fundador, abre para um arco de granito profusamente decorado com elementos vegetais e figurativos. No lado Norte, a nave única foi cortada por uma parede, rasgada de um lado a outro por grades, e por trás da qual se encontra o coro duplo. O coro baixo, corrido por cadeiral de duas filas, preserva dois retábulos com pinturas. O do lado do Evangelho, com
representação de Santana e São Joaquim em oração, possuindo lateralmente tábuas com o Nascimento da Virgem, a Anunciação, a Adoração dos Reis Mago. O do lado da
Epístola, possui duas pinturas sobre tábua, representando o Calvário e a Última Ceia. O coro-alto é coberto por tecto em abóbada de berço decorada por caixotões de talha.
Utilização Inicial
Cultual e devocional: igreja do convento de freiras clarissas
Utilização Actual
Cultual e devocional: igreja
Propriedade
Pública: estatal
Época Construção
Séculos XIV / XVI / XVII / XVIII / XX
Arquitecto | Construtor | Autor
Carpinteiro: Pedro Ferreira; Entalhador: João Gomes Carvalho; Organeiro: Francisco António Solha.
Cronologia
1314 - Início da construção do convento; 1318 - fundação do convento por D. Afonso Sanches, filho bastardo de D. Dinis, e sua mulher, D. Teresa Martins de Meneses, do qual apenas resta a igreja gótica; na Carta de Fundação do convento, são dados grandes privilégios à abadessa, determina-se que o convento tivesse quatro capelães, com a obrigação de rezar quatro missas na capela, uma pelo rei D. Dinis, outra por D. Afonso Sanches e por Teresa Martins; 1319 - escritura de doação da casa religiosa; 1354 - D. Afonso Sanches pede a seu filho, em testamento, que termine os edifícios do convento; 1526 - construção do arco da capela-mor; construção da Capela dos Fundadores, com invocação de Nossa Senhora da Conceição; a Abadessa D. Isabel de Castro, manda construir o coro alto; 1623 - a abadessa D. Catarina de Lima, manda dourar e colocar azulejos na Capela dos Fundadores; 1650 - o convento encontrava-se bastante arruinado, pedindo a abadessa Madre Mariana de São Paulo, ao rei, às autoridades eclesiásticas e às famílias das freiras internadas, ajuda para reconstruir o convento; finais do século XVI - colocação do retábulo do coro baixo; 1666 / 1669 - pintura do Milagre da Berengária, encomendada pela abadessa D. Francisca dos Serafins; 1686 - feitura do órgão, por 8 mil cruzados; 1687 - obra de carpintaria feita por Pedro Ferreira; 1732 / 1734 - execução do cadeiral do coro baixo pelo entalhador João Gomes de
Carvalho; 1775 - construção do órgão junto ao coro alto por Francisco António Solha; 1777 - Leonardo Lopes de Azevedo, a rogo das filhas, deu um avultado contributo para iniciar as obras do convento; 1778, 29 Junho - início da reconstrução das dependências
conventuais; cerca de 1790 - encontrava-se concluída a ala Sul; início do século XIX - as obras do convento foram suspensas durante as invasões francesas; 1816 - as obras foram retomadas; 1825 - as obras foram novamente suspensas; 1834 - extinção das ordens religiosas; 21 de Maio de 1893, - morte da última abadessa do convento, D. Ana Augusta do Nascimento; finais do século XIX - aquando da morte da última freira do Convento de Santa Clara, e por intervenção do Monsenhor José Augusto Ferreira, foram levadas várias peças para a Igreja Matriz ,nomeadamente, uma custódia de prata, ouro e pedras preciosas, um cálice de prata dourada, do século XVIII, um pálio, um paramento verde, um branco, um roxo e um preto e uma imagem do Senhor Morto; 1929 / 1932 - diversas obras de remodelação na igreja e dependências conventuais, nomeadamente a remoção dos azulejos hispano-mouriscos da Capela dos Fundadores, nave e Sala do Capítulo; parte deles foram colocados na Biblioteca Pública Municipal do Porto.
Tipologia
Arquitectura religiosa, gótica, manuelina, barroca e rococó. Igreja conventual gótica de planta cruciforme, transepto de grandes dimensões coberta a madeira e cabeceira tripla contrafortada de planta poligonal abobadada, abrindo-se o portal principal na fachada lateral Norte. Capela funerária e túmulos dos fundadores de estilo manuelino. Retábulos barrocos e órgão rococó.
Características Particulares
Sem adoptar formas tão evolucionadas como a dos edifícios seus contemporâneos mais a Sul, a igreja conventual de Santa Clara representa um marco importante da arte do Norte de Portugal, mostrando-se muito mais liberta da tutela de tradição românica. O coro alto, da mesma época da Capela dos Fundadores é coberto por tecto entalhado, uma das mais belas talhas do país, segundo Flávio Gonçalves. Anote-se ainda um fragmento de um fresco quinhentista.
Materiais
Granito aparente, parte do tecto revestido a madeira, túmulos dos Fundadores em calcário de ançã.
Créditos:
www.monumentos.pt
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