• Nenhum resultado encontrado

THE VALUE OF TRUST IN MONEY O VALOR DA CONFIANÇA NO DINHEIRO. João Pedro Vieira

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "THE VALUE OF TRUST IN MONEY O VALOR DA CONFIANÇA NO DINHEIRO. João Pedro Vieira"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)
(2)

A ação do Banco de Portugal

no caso “Angola e Metrópole”

Em 1925, um grupo liderado por Artur Alves Reis conseguiu obter ilegalmente de Waterlow & Sons 580 000 notas de 500 escudos, da chapa 2, quase idênticas às que o Banco de Portugal tinha colocado em circulação em 1924. Nessa época, o Banco de Portugal já não fabricava as suas notas, preferindo recorrer a impressores ingleses para esse efeito.

Entre fevereiro e dezembro de 1925, o grupo de Alves Reis conseguiu introdu-zir na circulação, em Portugal, mais de 209 000 notas ilegais e em julho chegara mesmo a fundar um banco comercial – o Banco Angola e Metrópole –, que utilizou no branqueamento de grande parte dos capitais fraudulentamente obtidos. As avultadas operações do banco e as dúvi-das sobre a proveniência dos seus capi-tais levaram, a partir de outubro, ao sur-gimento de uma campanha mediática contra o Banco Angola e Metrópole. Em novembro, as suspeitas adensaram-se e o Banco de Portugal solicitou uma inspeção ao Banco Angola e Metrópole.

Em dezembro, na sequência de relatos sobre uma abundância anormal de notas de 500 escudos da chapa 2 no Porto, o Banco de Portugal decidiu intervir em colaboração com o juiz João Direito e a Polícia de Investigação Criminal. No dia 5, após conferência exaustiva das notas encontradas na filial do Banco Angola e Metrópole no Porto e noutros locais, os técnicos do Banco de Portugal encontra-ram as primeiras notas duplicadas.

The action of the Banco de

Portugal in the case 'Angola e

Metrópole'

In 1925 a group led by Artur Alves Reis illegally obtained from Waterlow & Sons 580,000 notes of 500 escudos, plate 2, almost identical to those that the Banco de Portugal had put into circulation in 1924. At that time, Banco de Portugal no longer made its notes, preferring to use English printers for this purpose.

Between February and December 1925 the Alves Reis group was able to intro-duce more than 209,000 illegal bank-notes into circulation in Portugal, and in July it had even set up a commercial bank - Banco Angola e Metrópole – which was used for money-laundering much of the capital fraudulently obtained. The bank’s large operations and doubts about the provenance of its capitals led, as of Octo-ber, to the appearance of a media cam-paign against Banco Angola e Metrópole. In November, the suspicions grew and the Banco de Portugal requested an inspection of the Banco Angola e Metrópole.

In December, following reports of an abnormal abundance of 500-escudo notes of plate 2 in Porto, Banco de Portu-gal decided to intervene in collaboration with Judge João Direito and the Crimi-nal Investigation Police. On the 5th, after

an exhaustive conference examining the banknotes found at the Banco Angola e Metrópole branch in Porto and elsewhere, Banco de Portugal technicians found the first duplicate notes.

(3)

Perante a descoberta, o Banco de Portu-gal, as autoridades judiciais e policiais, e o governo procuraram minimizar o impacto da fraude no público e evitar o pânico, o descrédito das notas e a depreciação da moeda nacional. Uma vez que os técnicos não dispunham de meios para distinguir imediatamente os duplicados das notas genuínas, e reconhecendo que era impos-sível para o público distingui-las, o Banco de Portugal decidiu retirar rapidamente de circulação todas as notas de 500 escu-dos da chapa 2, legais e ilegais.

In the face of the discovery, Banco de Por-tugal, judicial and police authorities, and the government sought to minimize the impact of fraud on the public and avoid panic, discrediting of banknotes, and depreciation of the national currency. Since the technicians did not have the means to immediately distinguish dupli-cates from genuine banknotes, and recog-nizing that it was impossible for the public to distinguish them, the Banco de Portu-gal decided to withdraw all banknotes of 500 escudos from plate 2, legal and illegal.

Notas de 500 escudos: originais, duplicados e triplicados | 500-escudo banknotes: original, duplicate and triplicate

Processo judicial "Angola e Metrópole", vol. 35, f. 5905 | ‘Angola e Metrópole’ court case, vol. 35, f. 5905 1926

Arquivo Nacional da Torre do Tombo | National Archive of Torre do Tombo

(4)

A troca decorreu até ao final do ano e resultou na recolha de mais de 195 000 notas para além das legalmente emitidas (600 000 notas). O Banco de Portugal sofreu então um prejuízo direto de quase 100 000 contos, ao qual se somariam, nos anos seguintes, gastos com a aqui-sição de notas para normalizar a circula-ção fiduciária e com o pagamento de dili-gências policiais no país e no estrangeiro, de advogados e de trabalhos extraordi-nários relacionados com a análise, amor-tização e emissão de notas. Para fazer face a este prejuízo, o Governo autorizou o Banco de Portugal a aumentar proviso-riamente o seu limite de emissão fiduciá-ria em 100 000 contos.

Apesar de expirado o prazo de troca, em agosto de 1926 o Conselho Geral do Banco de Portugal deliberou a criação de uma comissão especial encarregada de estudar os pedidos de troca pendentes, submetidos por bancos, tribunais, ser-viços do Estado, pessoas em viagens de longo curso ou colocadas em locais de difícil comunicação e casas de benefi-cência, entre outros. Ao todo, entre 1925 e 1931, o Banco pagou mais de 209 700 notas de 500 escudos ilegais.

Até 1930, quando se iniciou o julgamento do caso – um megaprocesso com 81 volumes e mais de 30 apensos –, decor-reram investigações aprofundadas à escrita do Banco Angola e Metrópole e de outras firmas, diligências policiais no estrangeiro, o exame de todas as notas recolhidas com vista à sua correta identi-ficação – que só foi possível concluir em

The exchange took place until the end of the year and resulted in the collection of over 195,000 notes in addition to those legally issued (600,000 notes). The Banco de Portugal suffered a direct loss of almost 100 million escudos, to which, in subse-quent years, expenses would be added with the acquisition of banknotes to normal-ize the fiduciary circulation and with the payment of police inquiries in the country and abroad, of lawyers and extraordinary work related to the analysis, and the amor-tization and issuance of notes. In order to offset this loss, the government author-ized Banco de Portugal to provisionally increase its fiduciary issue limit by 100 mil-lion escudos.

In spite of the expiration of the period allocated for exchange, in August 1926 the General Council of the Banco de Portugal decided to create a special commission to study the pending exchange requests sub-mitted by banks, courts, state services, people on long journeys and stays abroad, or placed in places of difficult communi-cation and charities, among others. In all, between 1925 and 1931, the Bank reim-bursed more than 209,700 illegal bank-notes of 500 escudos.

Until 1930, when the trial of the case began – a megaprocess with 81 volumes and more than 30 appendices – extensive investiga-tions were carried out into the accounts of Banco Angola e Metrópole and other firms, police investigations abroad, examination of all the notes collected with a view to its correct identification – which could only be

(5)

1929 – e a ação da Comissão Liquidatá-ria do Banco Angola e Metrópole, cLiquidatá-riada em maio de 1926. Em 1928, o Banco de Portugal, iniciava nos tribunais ingleses uma ação contra Waterlow & Sons. Alves Reis seria definitivamente condenado a 8 anos de prisão e 12 anos de degredo em agosto de 1931.

concluded in 1929 – and the action of the Liquidation Commission of the Banco de Angola e Metrópole, created in May 1926. In 1928 the Banco de Portugal initiated in the English courts an action against Waterlow & Sons. Alves Reis was ultimately sentenced to 8 years in prison and 12 years of exile in August 1931.

Análise forense às notas: as letras ocultas |

Forensic analysis of the banknotes: the secret letter

Processo judicial "Angola e Metrópole", vol. 28, f. 5268 | ‘Angola e Metrópole’ court case, vol. 28, f. 5268 1926

Arquivo Nacional da Torre do Tombo | National Archive of Torre do Tombo

(6)

No mesmo mês, chegava ao fim a ativi-dade da Comissão Liquidatária, que conse-guira recuperar até então mais de 43 000 contos dos prejuízos sofridos pelo Banco de Portugal. Finalmente, em 1932, o caso “Angola e Metrópole” chegava ao fim nos seus principais desenvolvimentos, com a condenação de Waterlow em última ins-tância, após um difícil processo, e a cele-bração de um acordo relativamente ao montante da indemnização a pagar, fixado em 697 416 libras (cerca de 77 000 contos).

In the same month, the activity of the Liquidation Commission came to an end, which had been able to recover more than 43 million escudos of the losses suffered by the Banco de Portugal. Finally, in 1932, the ‘Angola e Metrópole’ case came to an end in its main developments, with Waterlow & Sons ultimately being convicted after a difficult process and the conclusion of an agreement on the amount of compensa-tion to be paid, set at £ 697,416 (about 77 million escudos).

Prejuízos com a troca de notas ilegais |

Losses due to exchange of unlawful banknotes Autos de reclamação do Banco de Portugal | Banco de Portugal complaint Comissão Liquidatária do Banco Angola e Metrópole, vol. 136 | Liquidation Commission of the Banco Angola e Metrópole, vol. 136 1926

Arquivo Histórico do Banco de Portugal | Historical Archive of Banco de Portugal

(7)

The judicial process

of the case ‘Angola e

Metrópole’

The case ‘Angola e Metrópole’ generated a judicial mega-process consisting of 81 volumes and more than 30 appendices, totalling 21,631 folios.

The case includes diverse documentation related to the instruction and judgment of the case: examinations of witnesses, corpus delicti records, and raid reports, analyses of the accounts of Banco Angola e Metrópole, forensic analysis reports to duplicate notes and documents and fal-sified signatures, as well as decipherings and translations of encrypted telegrams, among others.

This is the first time the process is pub-licly exposed. For this to be possible, a special project of conservation and res-toration was carried out with the support of the Banco de Portugal on the entire process, as well as its complete digitiza-tion and availability to the public through the online site of the Torre do Tombo National Archive.

O processo judicial

do caso “Angola e

Metrópole”

O caso “Angola e Metrópole” gerou um megaprocesso judicial constituído por 81 volumes e mais de 30 apensos, que perfa-zem um total de 21 631 fólios.

Nele se concentra a mais diversa docu-mentação relacionada com a instrução e julgamento do caso: inquirições de teste-munhas, autos de corpo de delito, autos de buscas, o exame à escrita do Banco Angola e Metrópole, relatórios de análises forenses às notas duplicadas e aos docu-mentos e assinaturas falsificadas, e ainda decifrações e traduções de telegramas codificados, entre outros.

Esta é a primeira vez que o processo é exposto publicamente. Para que tal fosse possível, foi realizada, com o apoio do Banco de Portugal, uma intervenção de conservação e restauro sobre a totalidade do processo, assim como a sua digitaliza-ção integral e disponibilizadigitaliza-ção ao público através do sítio online do Arquivo Nacio-nal da Torre do Tombo.

(8)
(9)
(10)

Referências

Documentos relacionados

Sua obra mostrou, ainda, que civilização e exploração do trabalho andam juntas e que o avanço histórico do oeste brasileiro se fez com a carne e o sangue dos

Quando conheci o museu, em 2003, momento em foi reaberto, ele já se encontrava em condições precárias quanto à conservação de documentos, administração e organização do acervo,

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

Em que pese ausência de perícia médica judicial, cabe frisar que o julgador não está adstrito apenas à prova técnica para formar a sua convicção, podendo

Em vista disso, essa pesquisa tem por objetivo traçar o contexto histórico do soerguimento do grafite e da pichação ao redor do mundo e do Brasil, traçar as

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Muito embora, no que diz respeito à visão global da evasão do sistema de ensino superior, o reingresso dos evadidos do BACH em graduações, dentro e fora da

Para a presente pesquisa, utilizou-se a perspectiva de empoderamento feminino no contexto organizacional proposta por Melo (2012). Segundo a autora, esse processo acontece,