• Nenhum resultado encontrado

Definição legal: Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal (art. 1 do CP).

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Definição legal: Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal (art. 1 do CP)."

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

1 Crime

Definição legal: Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal (art. 1 do CP).

Definição doutrinal: Crime é toda a acção típica, ilícita, culposa e punível.

Para a compreensão desta figura é necessário proceder-se a análise dos seus elementos constitutivos isoladamente. Todavia, esta decomposição não significa a autonomização desses elementos, ou seja, não se pretende com isto afirmar que eles são considerados isoladamente mas sim como um todo. Para que se verifique determinado tipo legal crime é necessário que todos os seus elementos constitutivos estejam reunidos, sejam analisados cumulativamente.

Análise dos elementos constitutivos do crime 1. Acção

Referimo-nos ao comportamento humano, expresso de forma voluntária e consciente. A acção pode ser positiva/ facere (actuante) ou negativa/ omittere (manifestada pela inactividade, a abstenção, a omissão é não fazer) que produz um resultado (alteração do mundo exterior). Falaremos adiante sobre esta figura.

2. Tipicidade - entende-se como a adequação da conduta ao tipo, ou seja, o enquadramento de um comportamento real a hipótese legal.

Tipo é a descrição legal de um crime ou delito, ou seja, o molde concebido pelo legislador e que nos oferece os modelos ou padrões do comportamento humano tidos em cada momento histórico como merecedores de censura, na medida em que violam valores essenciais da comunidade.

Considera-se típica a acção que se amolda a conduta criminosa descrita pelo legislador. O estudo da tipicidade remete-nos ao princípio da legalidade. É necessário que o tipo (conjunto de elementos constitutivos do crime contidos na lei penal) tenha sido definido antes da prática delituosa.

3. Ilicitude ou anti-juricidade é a desconformidade com o direito. Assim considera-se ilícito todo o comportamento humano que é contrário ao estabelecido na lei criminal.

4. Culpa tem a ver com o juízo de censura ético-jurídico dirigido a um agente por este ter agido de modo diverso.

(2)

2 A ACÇÃO

A acção humana é o ponto de partida de todo o direito criminal. Antes que um facto possa considerar-se típico, ilícito e culposo, ele tem de configurar uma acção. O pressuposto de todo o crime é a existência de uma acção.

A acção (em sentido lato) consiste na negação de valores ou interesses pelo homem. Contudo, somente a determinação destes valores como específicos valores juridico-criminais é que faz penetrar a acção no mundo criminal.

No âmbito do Direito Criminal o conceito de acção abrange não só a acção em sentido restrito ou positivo (o facere), como também a omissão/ acção negativa (o omittere). E, como o suporte de valores pode ser não só a actividade ou a omissão, mas também o resultado por ela produzido, a negação de valores pode traduzir-se em :

1- Acção (em sentido restrito) também designada na expressão latina por facere. Refere-se àquela em que o agente faz alguma coisa que não deve:

a) Quando não se considera o resultado na negação de valores estamos em face de uma mera actividade/ crimes formais. Nestes crimes só o evento jurídico é essencial, esgotando-se com a simples conduta. Ex. Tentativa de envenenamento.

b) Quando se considera o resultado na negação de valores estamos em face de acções que produzem resultados ou crimes materiais. Nestes casos é essencial não só a conduta jurídica mas também a verificação do resultado. Exemplo : Ofensas corporais.

Nota:

A Omissão traduz-se em deixar de fazer alguma coisa, em deixar de se levar a cabo uma certa actividade que num dado momento se esperava. O fundamento desta expectativa é a existência de um dever jurídico de actividade dirigido a um sujeito , de modo que a compreensão da omissão só se alcança graças a compreensão de um elemento normativo, de um dever ser, isto é, estamos a falar de um elemento normativo.

2- Numa omissão o agente deixa de fazer alguma coisa que deve:

a) Nos casos em que o resultado não interessa a negação de valores, estamos em face de omissões puras; e

b) Quando o resultado interessa a negação de valores estaremos em face de comissões por omissão.

(3)

3 1- Só o comportamento humano, a negação de valores pelo homem, pode

considerar-se uma acção no âmbito do DC.

Em primeiro lugar, o comportamento que se refere é o comportamento humano e não a acção dos objectos e dos animais. Por fim, para que se possa falar de acção positiva é necessário que por via dela tenha lugar uma modificação do mundo externo, muito embora ela se reduza a um movimento corpóreo do agente.

2- Modificação do mundo exterior

Para se falar da acção positiva é necessário que haja um movimento corpóreo do agente que provoque a alteração do mundo exterior. Dai resulta que os pensamentos, simples resoluções de vontade quando não exteriorizados, não são acção no sentido de negação activa de valores.

No conceito de acção para o direito criminal só interessam os movimentos corpóreos dirigidos ou, pelo menos dirigidos por uma vontade. Isto quer dizer que os comportamentos em absoluto independentes da vontade devem excluir-se do conceito de acção. Resumindo, o movimento corpóreo do agente apenas precisa ser uma manifestação da sua vontade.

Excluem-se do conceito de acção :

- Os puros actos reflexos e os cometidos em estado de inconsciência, ou seja, aqueles movimentos corpóreos que não estão sob o domínio do consciente. Ex. Alguém que numa convulsão realiza movimentos; e

- Os movimentos praticados sob o impulso de forças irresistíveis.

3- O resultado

A acção terá necessariamente de englobar um resultado (por si produzido). Sempre que o resultado ou a violação do interesse ou bem jurídico se possa imputar a acção levanta-se a questão do nexo de causalidade (veremos adiante).

Fundamento para a equiparação da omissão à acção

Enquanto a acção resulta de uma vontade positiva, a omissão surge de uma vontade negativa. A acção viola eventualmente uma vontade de não agir, a omissão viola um dever de agir. O dever de agir consiste na exigência de uma mais extensa e intensa solidariedade social, impondo a tarefa de socorro ou auxílio aos outros para evitar a ofensa de bens jurídicos alheios.

(4)

4 A comissão de um resultado por omissão só é possível quando sobre o omitente recaia um dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado. Ou seja, a existência de um dever jurídico criado para impedir o resultado é hoje o ponto mais alto que legalmente se pode conceber no sentido de alargar a equiparação da omissão a acção em Direito criminal (cf. Correia, Eduardo p. 227).

Teoria Finalista da Acção

Segundo esta teoria, o conceito de acção (elemento constitutivo do crime) resulta da sua finalidade, significando que o homem na sua actuação antecipa mentalmente os fins que se propõe realizar e escolhe os meios para os alcançar. Nos termos desta teoria a definição de acção resulta da « finalidade de agir ».

Críticas :

1- Resulta de fundamentos metodológicos de que parte da doutrina finalista procura trazer dados que porventura pertençam as estruturas ontológicas, isto é, determinados pela lógica das coisas. Todavia, os tratadistas consideram que a própria ordenação e a estrutura da vida e das coisas criam já, elas próprias, certas necessidades e impõem certos fins.

2- Esta dá-nos um conceito de acção que se considera estranho ao direito criminal, pois o dolo integra o conceito de acção e não da culpa, ou seja, tendo em conta esta teoria não se considera a acção como actividade, mas sim a sua relação com os fins previamente valorados pela ordem jurídica como proibidos ou permitidos.

Nexo de causalidade

A acção ou a conduta do agente pode interessar o resultado decorrente daquele movimento produzido. Quando da acção resulte um determinado resultado, é necessário saber se se pode imputar verdadeiramente o resultado ao movimento corpóreo do agente. Com isto, pretende-se dizer que é preciso investigar se e em que termos entre eles se pode estabelecer o nexo de causalidade. Para resolver esta questão tem sido propostas várias teorias.

Teoria da « condition sine qua non » ou das condições equivalentes

Esta teoria assenta no conceito de causa de Stuart Mill, segundo o qual, causa é o conjunto de todas as condições de que resulta um fenómeno. Isto implica que todas as

(5)

5 condições são equivalentes para o efeito de a cada um se poder imputar um resultado. Ou, o resultado concreto não se pode pensar sem a totalidade das condições que o determinam, simplesmente este resultado é indivisível.

Ex. A+ B+C são iguais a L mas só A ou B ou C podem ser iguais aquela grandeza (L). Ex. Todas as condições são iguais e necessárias para se chegar ao resultado e entre

elas não é possível fazer a distinção. Assim, condição seria todo o antecedente sem o qual o resultado se não teria produzido.

Importa realçar que o nexo de causalidade subsistirá quando porventura o evento se produza por virtude de circunstâncias particulares do ofendido ou que sejam supervenientes. À título de exemplo: hemofilia, tumor, crânio trepanado, diabete, problemas cardiovasculares, etc.

Exemplo 2 : um indivíduo que foi agredido e morreu porque houve um incêndio no hospital para onde foi levado para tratamento. Ou, porque foi atropelado a caminho do hospital onde ia receber tratamento.

Deste modo, segundo esta teoria o agente responderia pelo resultado ainda que este viesse a produzir-se mais tarde.

Crítica :

1ª Ela pode conduzir a exageros : Ao pai deveriam ser imputadas todas as condutas do filho, porque sem aquele este, e portanto as suas condutas se não poderiam conceber;

2ª Ela dá lugar a desigualdades (trata de forma desigual situações similares ou iguais); Por exemplo A e B dão nas mesmas condições uma pancada respectivamente a C e

D. D sofre sem que ninguém saiba de hemofilia e a ferida que lhe causa B provoca-lhe a morte. Pelo contrário em C, que é pessoa normal, a pancada produz simplesmente lesões corporais. Assim, a luz desta teoria imputavam-se dois resultados inteiramente diferentes a uma actividade perfeitamente igual (desigualdade de tratamento).

Esta teoria não permite diferenciar as causas relevantes das irrelevantes.

A teoria da causalidade adequada

Nos termos desta teoria para se estabelecer o nexo de causalidade entre a acção e o resultado é necessário que em abstracto, a acção seja idónea para causar o resultado, ou seja, para que uma acção se possa considerar a causa de um resultado, ela deve ser adequada a produzi-lo.

(6)

6 Quando é que se pode considerar que uma acção é adequada a produção de um

evento ou resultado ?

Deve-se fazer um juízo de idoneidade ou prognose póstuma referido ao momento em que a acção se realiza, como se a produção do resultado se não tivesse ainda verificado.

Que elementos devem ser considerados para se fazer esse juízo ?

Deve-se ter em conta as leis, as regras gerais da experiência comum aplicadas às circunstâncias concretas da situação. Mas também, se só o agente conhecia uma particular lei natural ou uma dada circunstância de facto, por exemplo que a vítima era hemofílica ou tinha o crânio trepanado isso deve tomar-se em conta para determinar a idoneidade.

A base destes juízos pode dar-se várias hipóteses :

1ª Hipótese é a de que o resultado era imprevisível. Nesta hipótese fica excluída ou afastada a causalidade. Ex. Servir o chá a uma pessoa e ela morrer. Servir água a uma pessoa e ela morrer ou adoecer.

2ª Hipótese: é a de que o resultado era previsível mas de verificação muito rara. Neste caso a causalidade deve ser afastada.

Ex. A entra num comboio que vem a descarrilar. É claro que um comboio pode descarrilar, mas normalmente não descarrila. O resultado deste facto é previsível mas é anormal a sua verificação.

C entra num avião e este despenha, o caso do avião da LAM.

3ª Hipótese : é a de que o resultado era previsível e de verificação normal. Neste caso, existe a idoneidade abstracta e, por consequência quando verificado o evento deve considerar-se adequado a acção que foi sua condição.

Se um indivíduo cometer uma acção em si idónea para produzir um resultado e se este se verificar por acção de terceiro, também este resultado se deverá imputar ao agente.

Ex. A esmaga pedaços de vidro, mistura na comida que serve a B. B vem a perder a vida.

NB : A acção (negação de valores) não interessa qualquer resultado da actividade humana, mas só o resultado adequado. A adequação consiste na sua previsibilidade como consequência normal, típica de uma conduta.

TIPICIDADE E ILICITUDE

(7)

7 Tipicidade é a adequação entre o facto praticado pelo homem e a norma descrita na lei criminal como crime. Portanto, tipicidade é o preenchimento de um tipo legal de crime. No Tipo legal de crime, o legislador descreve aquelas expressões da vida humana que reflectem a negação de valores jurídico-criminais, que violam, portanto, bens ou interesses jurídico-criminais. Neles (tipo legal de crime) o legislador fórmula de maneira típica a conduta penalmente punível, ou seja, antijuridicidade ou a ilicitude criminal. Ou seja, a tipicidade é um elemento do facto típico. Se não houver tipicidade o facto será atípico e, portanto, não haverá crime.

Importa referir que a função punitiva não se contenta apenas com a tipicidade. Um facto pode ser típico e não ser criminoso ou antijurídico, como veremos de seguida. Ilicitude é a desconformidade entre a conduta do agente e a lei. A ilicitude exprime uma relação de oposição entre o facto e o direito.

Será ilícito um facto definido na lei penal, sempre que não for protegido por causas justificativas, também previstas na lei. Assim, se um homem mata outro em legítima defesa, realiza tipicamente um homicídio (art. 155 do CP), porém não há crime, por inexistir antijuridicidade.

Análise dos tipos legais de crime

Todo o tipo legal contém a descrição de um facto criminoso. 1- Crimes de acção e omissão

Crimes de acção são aqueles em que o agente faz alguma coisa que não deve, portanto proibida por lei.

Crimes de omissão são aqueles em que o agente deixa de fazer alguma coisa, deixa de levar a cabo uma certa actividade exigida pela lei.

2- Crimes formais e materiais

Crimes formais são aqueles que se consideram consumados independentemente da verificação do resultado. Ex. Envenenamento.

Crimes materiais são aqueles que exigem a verificação do resultado. Ex. homicídio.

(8)

8 Crime de perigo são aqueles que se consumam com a mera situação de risco a que fica exposto o objecto material do crime. Ex. Uso de armas em duelo e em Rixa art. 194 do CP.

Crime de dano é aquele que não se consuma apenas com o perigo, é necessário que se verifique a efectiva lesão do bem jurídico tutelado.

Ex. Homicídio, furto, etc.

Tipos de Tipicidade

É possível traçar alguns aspectos particulares de certos tipos legais de crime. Nestes termos, é costume falar-se em tipos plurais, tipos dependentes ou relativos, tipos independentes ou autónomos, tipos que protegem bens jurídicos eminentemente pessoais, tipos fundamentais e tipos privilegiados ou qualificados, tipos complexos, tipos de crimes habituais e tipos de crimes permanentes.

a) Tipos plurais são aqueles em que o legislador ameaça num só preceito com uma pena, alternativa ou cumulativamente, uma pluralidade de tipos de crimes. Ex. Trafico de pessoas .

b) Tipos dependentes são aqueles em que pode ser necessário recorrer a cada um dos tipos descritos na lei (independentes, autónomos) para integrar certas outras disposições (relativas e independentes) como são as que versam sobre a tentativa (artigo 14 do CP) ou a participação, originando-se outras tantas figuras de delitos.

c) Tipos que descrevem bens jurídicos eminentemente pessoais são aqueles em que certas disposições, descrevendo aparentemente um só tipo, descrevem efectivamente um numero indeterminado de figuras de crime, na medida em que um dos seus elementos tem de se considerar tomado pela lei concreta e individualmente.

Há disposições que visam proteger bens eminentemente pessoais tais como a vida, a integridade física, a honra, a liberdade. Trata-se de bens jurídicos que se não podem desligar da personalidade, que apenas podem ser violados na pessoa que os cria com o simples existir. Por isso, o legislador só pode protegê-los individualmente nas pessoas dos seus portadores.

d) Tipos fundamentais são aqueles que estão na base da parte especial de todos os sistemas criminais. Existe determinado número fundamental de delitos que

(9)

9 constituem por assim dizer a espinal-medula de determinado sistema: homicídio (art. 155 do CP); ofensas corporais (art. 170 CP); furto (art. 270 CP); injuria (art. 231 CP).

Partindo destes tipos e acrescentando-lhes circunstâncias modificativas (atenuantes ou agravantes), que alteram a moldura penal abstracta, o legislador constrói outras figuras de delitos.

e) Tipos habituais são aqueles que são caracterizados pelo facto da prática habitual ou profissional da mesma actividade como elemento constitutivo ou circunstância qualificativa dos respectivos crimes. Ex. Lenocínio art. 227 do CP f) Tipos permanentes são aqueles que o evento se prolonga por mais ou menos

tempo. Ex. Cárcere privado art.200 do CP.

I. Culpa

A palavra culpa em sentido corrente significa que uma pessoa é responsável por um acto censurável. Responsabilidade é a capacidade de responder, do homem se comprometer e responder pelos actos que pratica e pelas suas consequências. Importa-nos falar da culpa no âmbito do Direito criminal.

A culpa consiste na censura ético-jurídica dirigida a um sujeito por não ter agido de modo diverso. Isto significa que, a culpa está ligada a liberdade do agente, a aceitação do seu poder de agir de outra maneira.

De referir que, a palavra culpa é também usada num sentido mais restrito, como sinónimo de negligência, contrapondo-se então ao dolo, como uma das modalidades da culpa.

Se atentarmos ao disposto no artigo 27 do CP segundo o qual: “só podem ser criminosos os indivíduos que têm a necessária inteligência e liberdade” constatamos que para se responsabilizar criminalmente um indivíduo é necessário que no momento dos factos tenha agido consciente e livremente. Isto é, a capacidade prática da pessoa dominar e dirigir os próprios impulsos psíquicos, de ser motivado por valores e a liberdade de agir em conformidade

Em direito criminal, a culpa é o fundamento e o limite da medida da pena, isto é, não é possível aplicar uma sanção penal, que é característica do direito penal, a quem não tenha actuado com culpa [alínea b) do artigo 45 do CP]. Daí que, a culpa seja o fundamento da pena. Mas, a culpa é também o limite da medida da pena, na medida

(10)

10 em que consoante o maior ou menor grau de culpa manifestado pelo agente na prática do facto ilícito, decorre a maior ou menor pena, de acordo com a graduação da medida da pena (vide o art. 110).

Elementos de juízo da Culpa

Constituem elementos de juízo da culpa os seguintes: Imputabilidade do agente, actuação dolosa ou por negligência e inexistência de circunstâncias que tornem não exigível outro comportamento.

1- Imputabilidade consiste no conjunto de qualidades pessoais que são necessárias para ser possível a censura de um agente por ele não ter agido de modo diverso. Isto significa que, é imputável ou responsabilizável todo o indivíduo que gozando das suas faculdades intelectuais age de modo contrário a lei. A partir dos 16 anos os menores são imputaveis, isto é, a idade mínima para que um indivíduo seja imputável ou responsabilizado criminalmente pela prática de um crime é de 16 anos. Contudo, os menores com idades compreendidas entre os 16 e 21 anos gozam de uma imputabilidade relativa, ou seja, a responsabilidade deve ser graduada (cf. alínea a) do art. 47, arts 133 e 134 todos do CP).

Gozar das suas plenas faculdades intelectuais significa ter o livre arbítrio, ou seja, a capacidade de discernir o bem do mal.

Contrariamente ao instituto da imputabilidade temos a inimputabilidade.

Inimputabilidade consiste na falta de censura do agente que não gozando das suas plenas faculdades intelectuais age de modo contrário a lei.

Os menores de 16 anos são absolutamente inimputáveis não sendo possível aplicar-lhes medidas de carácter criminal [cf. alínea a) do art. 46 CP e 135 do CP sobre o tratamento de menores inimputáveis em razão da idade].

Causas da inimputabilidade

Constituem causas da inimputabilidade as que taxamente a lei indica: a menoridade e a anomalia psíquica.

(11)

11 O princípio da culpa pressupõe a liberdade de decisão, pois só assim se pode considerar responsável o agente que tenha praticado o facto dominado por impulsos criminosos (cf. o art. 10 do CP relativamente a maioridade civil).

Na formulação do juízo da culpa, a idade constitui o primeiro factor a considerar, pois que antes de alcançada a maturidade biológica reflectida na idade não é possível formular-se esse juízo, tal como acontece com os menores de 16 anos. Estes não têm o necessário discernimento. Vide alínea a) do art. 46 do CP.

A imputabilidade penal em razão da idade inicia aos 16 anos, segundo a Organização tutelar de menores aprovada pelo Decreto-lei n°44288 de 20 de Abril de 1962 realçando-se assim o carácter não punitivo, mas tutelar, assistencial e educacional dos menores delinquentes, isto significa que os menores de 16 anos são absolutamente inimputáveis não sendo permitido aplicar-lhes medidas de carácter criminal (vide o art. 135 do CP sobre o tratamento de menores inimputáveis em razão da idade).

b) A anomalia psíquica / inimputabilidade em razão de anomalia psíquica

Antigamente os dementes ou loucos eram criminalmente responsáveis pois considerava-se que estavam possuídos por um demónio como resultado dos pecados que eles tinham cometido.

Foi a partir do século XVIII que as anomalias psíquicas passaram a ser consideradas como uma doença. É imputável quem por força de anomalia psíquica, for incapaz no momento da prática dos factos de avaliar a sua ilicitude, ou seja, aquele que sofrer de qualquer transtorno mental ou intelectual que impeçam o agente de compreender o carácter ilícito do facto ou de se conduzir de acordo com essa compreensão. As expressões loucura e demência devem ser entendidas como sinónimas.

O fundamento para a inimputabilidade em razão da anomalia psíquica encontra-se consagrada na alínea b) do art. 45 CP e alínea b) do art. 46 CP (Cf. Eduardo Correia sobre os tipos de anomalia psíquica).

NB: O nosso Código penal refere nos art.53 do CP sob a epígrafe privação voluntária e acidental da inteligência, a embriaguez. Sobre esta matéria cf. Correia (2010, p.362-366).

(12)

12 Para que a culpa do agente por um facto exista, não basta aquela capacidade de ser objecto de censura e a existência de um facto. É necessário que este possa ser subjectivamente imputado ao agente à título de dolo ou de negligência.

2.1 Dolo traduz-se na vontade por parte do agente de realizar o acto e de obter o seu resultado conhecendo a sua ilicitude. Na estrutura do dolo pode-se destacar dois elementos nomeadamente um elemento intelectual e um elemento emocional.

a) O elemento intelectual ou cognitivo traduz-se no conhecimento material por parte do agente, dos elementos e circunstâncias do tipo legal do crime em causa, bem como o sentido e alcance, ou seja, é a representação do agente do facto ilícito e a consciência de que esse facto é censurável. Donde resulta que o desconhecimento de uma só daquelas circunstâncias exclui o dolo. Em suma: Há dolo quando o agente quis o facto criminoso; e quando o agente previu o resultado criminoso como consequência necessária da sua conduta.

b) Elemento emocional ou volitivo consiste na especial direcção da vontade do agente, que pode consistir na realização do facto criminoso previsto pelo agente e que pode dar lugar a diferentes tipos de dolo:

O dolo compreende 3 modalidades:

Dolo directo é aquele em que o agente tem como fim, como intenção a realização do facto criminoso, isto é, o agente quer, deseja o resultado da sua conduta (cf. N°1 do art.3 do CP).

Ex. A golpeia com uma catana em diferentes partes do corpo de B e, este vem a perder a vida.

Dolo necessário é aquele em que o agente tendo porventura outro fim diferente, prevê o facto criminoso como consequência necessária da sua conduta e, no entanto, não se abstém da sua prática (Cf. N°2 do Art.3 do CP).

Ex. No caso do homicídio em que o agente não tem o propósito de tirar a vida ao ofendido, mas 2° as regras da experiência era-lhe fatalmente previsível que com os factos praticados a morte ocorreria mesmo.

Dolo eventual é aquele em que o agente ao actuar se conforma com a possível realização do facto criminoso como consequência da sua conduta, isto é, o agente não quer directamente o resultado, porém assumiu o risco de produzi-lo. A vontade é

(13)

13 dirigida a conduta e não ao resultado (cf. O n°3 do art. 3 do CP). Em outras palavras, Verifica-se o dolo eventual quando o agente assume o risco de produzir o evento, isto é, prevê, aceita o risco de produzir o resultado; a vontade não se dirige ao fim (ele não quer o evento ou resultado) mas sim a conduta.

Ex. Tomando o exemplo do homicídio, o agente nesta situação não tem a intenção de tirar a vida ao ofendido, nem tão pouco prevê que a sua acção possa conduzir fatalmente a esse resultado. Aqui ele actua com indiferença pelo que possa acontecer, tanto dando origem a morte como não, e não lhe repugnando se ela vier a ter lugar. Analisemos o caso do automobilista que passa pelo semáforo vermelho e mata alguém em resultado de um choque entre carros.

Nota: A doutrina refere-se também ao dolo genérico/geral e específico/especial

Dolo genérico é a vontade de realizar o facto previsto na norma penal incriminadora; enquanto Dolo específico é a vontade de praticar o facto e produzir um fim especial. Por exemplo, no homicídio art. 155 do CP é suficiente o dolo genérico dado que o tipo legal de crime não menciona nenhuma finalidade especial do agente do crime (ele quer somente matar a vitima, não quer matá-la por alguma coisa). Já no crime de terrorismo o agente visa um fim especial com a prática do facto, ele visa causar terror, pânico a generalidade das pessoas.

2.2. A negligência (art.4 do CP)

Excluindo-se o dolo não significa que se torna impossível estabelecer o juízo de censura ao agente. Pois este juízo pode, ainda ter lugar com base na negligência. É possível censurar a realização de um tlc a um agente, na medida em que este omitiu aqueles deveres de diligência a que segundo as circunstâncias e os seus conhecimentos e capacidades pessoais era obrigado.

A questão da negligência revela-se importante pois têm-se multiplicado os tlc’s de homicídio involuntário e ofensas corporais involuntárias resultantes de acidentes de rodoviários.

A negligência consubstancia-se na omissão voluntária de um dever legal de cuidado ou de diligência, causando a lesão dos bens jurídicos protegidos.

Esta subdivide-se em duas formas nomeadamente:

Negligência consciente verifica-se quando o agente quis o acto, previu o resultado como consequência possível da sua conduta, mas confiou não devendo confiar que ele não ocorreria, ou se mostrou indiferente a sua produção [cf. alínea a) do n°1 do artigo 4

(14)

14 do CP]. Ex. O automobilista que passa ignorando o sinal vermelho e atropela mortalmente um peão que atravessava a via.

Negligência inconsciente, quando o agente não previu (como podia e devia) a produção daquele resultado [cf. alínea b) do n°1 do artigo 4 do CP]. Ex. É o caso do guarda que durante a aproximação do comboio, esquece-se de baixar a barreira da passagem de nível.

Regra geral, o n°2 do art. 4 estipula que a punição da negligência, nos casos especialmente determinados na lei, funda-se na omissão voluntária de um dever.

3. A inexistência de circunstâncias que tornem não exigível outro comportamento A alínea a) do n° 2 do art. 48, sobre as causas de exclusão da culpa, estabelece que justificam o facto os que o praticarem violentados por qualquer força estranha, física ou irresistível. Segundo Cavaleiro de Ferreira (1988, p.248) esta causa de exclusão da culpa não é aceite por uma parte da doutrina. Na sua óptica, não há razão bastante para a exilar ou afastar do seu lugar entre as causas de exclusão da culpa ou exculpação. Pois aquele que sofre de violência física irresistível não age voluntariamente porque é na sua actuação exterior transformado em mero instrumento físico de coacção estranha. É manifesto que a vontade interior não pode ser vencida fisicamente, mas a força física impede o domínio da vontade sobre os actos exteriores do homem. O facto cometido por força estranha e invencível é necessariamente facto involuntário.

Nota: A falta de imputabilidade/inimputabilidade e as causas de exclusão da culpa constituem circunstâncias dirimentes da responsabilidade criminal (art. 45 do CP).

T.P.C

Referências

Documentos relacionados

Nesta fase, iremos recolher as substâncias presentes no fumo do cigarro e verificar a acidez que se desenvolve nos pulmões dos fumadores.. Muitas substâncias em

Sem desconsiderar as dificuldades próprias do nosso alunado – muitas vezes geradas sim por um sistema de ensino ainda deficitário – e a necessidade de trabalho com aspectos textuais

Crime praticado de forma livre: o delito pode ser cometido de qualquer maneira, porque o tipo penal não prevê uma forma específica para a sua execução;. Crime unissubjetivo: basta

(ética profissional, ética política, ética econômica) Os problemas da ética não são imutáveis: eles.. acompanham as mudanças de costumes e as variações

Ativos financeiros registrados pelo valor justo por meio do resultado Um ativo financeiro é classificado pelo valor justo por meio do resultado, caso seja classificado como

Quando desempenham uma função operacional, esses gestos funcionam como operadores em relação ao enunciado falado (KENDON, 2013, p. 15), um exemplo muito comum de um gesto assumindo

BD│23 agosto 2015 │Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Notícias de primeira

Solução. João vai à praia se, e somente se, Marcelo joga basquete.. Negação de “Ou… Ou…” é “se, e