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ALBERTO PENA-RODRÍGUEZ HELOISA PAULO COORD. A Cultura do. poder. A propaganda nos Estados Autoritários. Versão integral disponível em digitalis.uc.

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Academic year: 2021

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A Cultura do

poder

A p r o p a g a n d a n o s E s t a d o s A u t o r i t á r i o s

A L B E R T O P E N A - R O D R Í G U E Z

H E L O I S A P A U L O

C O O R D .

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a p r o pa g a n d a n a S d i t a d u r a S d E Si d ó n i o pa i S E d E Sa L a z a r. af o n S o co S t a c o m o i n i m i g o p o L í t i c o,

c o n t r a p r o pa g a n d a E p E r S E g u i ç ã o p o L í t i c a

Jorge Pais de Sousa

[O] Secretariado não é um instrumento do Governo mas um instrumento de governo.

...Politicamente só existe o que o público sabe que existe

Salazar, Discursos

O objeto deste ensaio é analisar a emergência do fenómeno da propaganda de guerra em Portugal e o processo histórico da sua apropriação para fins exclusivamente políticos pelas ditaduras de Sidónio Pais e de Salazar.

Com efeito, a participação de Portugal na I Grande Guerra Mundial implicou a necessidade de organizar e constituir um aparelho de propaganda intervencionista, pelo ministro da Guerra Norton de Matos (julho de 1915 a dezembro de 1917). A “guerra de Gabinetes”, como também ficou conhecida, é travada em todos os países beli‑ gerantes. E é a importância da consciência política em travar, na frente interna, a guerra da propaganda que faz da Grande Guerra

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o primeiro conflito “total” do século XX, no sentido em que exis‑ te uma consciência, política e militar, de se travar, em paralelo, a guerra em duas frentes distintas: na frente “interna” uma guerra psicológica junto da opinião pública e publicada; e na frente externa uma guerra de trincheiras que obedece a uma tática desenvolvida pelo exército alemão.

É também no contexto da guerra interna, travada também pelos intelectuais, que o modernismo futurista se manifesta em Portugal. Primeiro, com a publicação dos dois números da revista “Orpheu” que vêm a público ao longo do primeiro semestre de 1915 e quase que coincidido com a ditadura do general Pimenta de Castro. E, num segundo momento, com a publicação de “Sphinx: Revista de Novos”, cujos dois números são publicados durante o primeiro trimestre de 1917. E, no mês de novembro, é publicado o número único da revista “Portugal Futurista” que suscita a imediata apreensão pelas autoridades policiais.

Entretanto, o agravamento da crise económica e social e a mo‑ bilização que se segue, após a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, a 9 de março de 1916, e o consequente desembarque de tropas portuguesas para combater na Flandres francesa a partir de janeiro de 1917, precipitam o golpe de Estado comandado, a 5 de dezembro de 1917, pelo militar e catedrático Sidónio Pais. É em ditadura que Sidónio Pais se apropria do aparelho militar de pro‑ paganda intervencionista e direciona ‑o para a construção do seu carisma político, ao mesmo tempo que nomeia Diretor ‑Geral Homem Cristo Filho para dirigir, em Paris, a DSIPRPPAA, a primeira estrutu‑ ra governamental criada em Portugal vocacionada, especificamente, para a propaganda.

Sustentamos que, sem um estudo sistemático da participação portuguesa na I Guerra Mundial em matéria de propaganda, quer na frente externa quer na frente interna, bem como do comporta‑ mento político de Homem Cristo Filho e de António Ferro, não é

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possível perceber porque é que Salazar vai dar posse a este último, a 26 de outubro de 1933, como diretor do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN).

A terminar analisamos, como exemplo, o processo de propagan‑ da que conduz Salazar a escrever a Nota Oficiosa “I Duas Escolas Políticas”, em que declara Afonso Costa como seu inimigo político a 17 de julho de 1934, e como, a partir de então, o SPN o trata como objeto de contrapropaganda e o Estado Novo o persegue politica‑ mente até ao fim da sua vida.

A intervenção de Portugal na I Guerra Mundial implicou a criação de um gabinete e de estruturas de propaganda no Ministério da Guerra. A afirmação do modernismo futurista na frente interna

Portugal mobiliza e envia para combater em África, desde o verão de 1914 até 1919, ou seja, desde o início da eclosão até ao fim do primeiro conflito à escala mundial, cerca de 55 mil homens no teatro de guerra africano (34 600 das Forças Armadas metropolitanas e 19 500 soldados indígenas). Este dispositivo militar é instalado no teatro de guerra africano nas colónias de Angola e Moçambique, uma vez que estes territórios faziam fronteira, respetivamente, a sul e a norte, com duas colónias alemãs, a Damaralândia e a África Oriental Alemã. Os graves confrontos militares fronteiriços começaram pri‑ meiro em Angola e, posteriormente, estenderam ‑se a Moçambique, tendo ‑se registado incidentes militares fronteiriços graves que leva‑ ram os sucessivos governos portugueses a procederem ao reforço da defesa militar das duas maiores e mais importantes colónias.

É no quadro militar da guerra em África que ocorre o Golpe das Espadas em Lisboa e tem início, a 25 de janeiro de 1915, a Ditadura do general Pimenta de Castro. Esta termina com a eclosão da violenta

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e sangrenta revolução constitucionalista de 14 de maio de 1915, que leva os democráticos a regressarem ao poder após a realização de eleições. Na sequência, o major Norton de Matos torna ‑se ministro da Guerra, durante o governo presidido por José de Castro. E de‑ tém esta pasta, ininterruptamente, entre 22 de julho de 1915 até ao 2.º governo da União Sagrada presidido por Afonso Costa, quando ocorre, a 5 de dezembro de 1917, o golpe de Estado de Sidónio Pais. Entretanto, a 9 de março de 1916 tem lugar a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em resultado da requisição dos navios alemães surtos em portos portugueses. Durante estes 17 meses de política intervencionista, coerente e sólida, foi possível preparar o Exército, designadamente através da organização das primeiras manobras militares no Polígono Militar de Tancos, para combater no exigente teatro de guerra europeu. Por isso, em fevereiro de 1917, o Corpo Expedicionário Português (CEP) é constituído por duas divisões que totalizam 55 000 homens. E estas, por sua vez, formam um Corpo de Exército integrado no dispositivo militar britânico estacionado para combate na Flandres francesa.1

Na frente interna, e no quadro do que Emilio Gentile designou de “guerra dos intelectuais”, em janeiro de 1915, é publicado o pri‑ meiro número da revista Orpheu. E entre janeiro e março de 1917 são publicados dois números de “Sphinx: Revista de Novos”, onde colaboram entre outros os estudantes de Belas Artes, Carlos Ramos, Leitão de Barros e Cotinnelli Telmo. Em novembro de 1917 ‑ mas logo apreendida pela polícia ‑ sai a público a revista Portugal Futurista. Nesta se percebe a clara influência da estética da vanguarda futurista de Marinetti e também da filosofia do Super ‑homem de Nietzsche (1844 ‑1900), para a chamada Geração de Orpheu, designadamente,

1 Sobre o número total dos efetivos portugueses combatentes em África e na

Europa, cf. BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno Severiano ‑ Nova História

Militar de Portugal. vol. 4. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003. ISBN 972 ‑42 ‑3209 ‑3,

Referências

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