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TRANSTORNO BIPOLAR as duas faces do humor

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Academic year: 2021

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TRANSTORNO BIPOLAR as duas faces do humor

Há dias em que a euforia bate no céu. Em outros a depressão leva ao fundo do poço. A novidade sobre essa gangorra de emoções é que os cientistas confirmam a suspeita de que uma molécula presente no cérebro e no sangue pode apontar a predisposição para a doença (sim, é

doença!) com boa margem de segurança.

por Tito Montenegro | design Thiago Lyra | foto Gustavo Arrais http://saude.abril.com.br/edicoes/0272/medicina/conteudo_128498.shtml?pagi

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É como levar uma vida dupla. Uma hora a euforia toma conta e leva o organismo ao seu limite de excitação, até mesmo sexual. É energia que não acaba mais, a ponto de o sono tornar-se quase desnecessário. Perdese a capacidade de julgamento e a autocrítica e há quem se torne irritadiço. Para descrever esse estado de ânimo os médicos utilizam o termo mania. Ela é um dos extremos de uma doença caracterizada por uma profunda instabilidade de humor, o qual oscila entre esse estado eufórico intenso e o seu oposto, a depressão.

Para os portadores do transtorno bipolar doença que há poucos anos era conhecida como psicose maníaco-depressiva, encontrar o equilíbrio entre as duas pontas das emoções radicais é como tentar andar sobre um terreno movediço. "É o pessoal do oito ou 80", resume o psiquiatra Diogo Lara, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e autor de Temperamento Forte e Bipolaridade. "Diferentemente de quem tem um humor saudável, os que sofrem desse transtorno não costumam ser previsíveis ou flexíveis nem respondem com proporcionalidade aos estímulos." Acredita- se que 1% da população mundial conviva com o tipo 1 da doença, considerado o mais grave.

Pode até parecer pouco, mas na verdade o transtorno bipolar é um tormento para muito mais gente. Estima-se que cerca de 5% das pessoas tenham instabilidades de humor em algum grau. Feitos os cálculos, os brasileiros alterados somam aproximadamente 9 milhões. Muitos deles nem sabem do próprio distúrbio. Outros, ainda pior, são tratados da maneira errada. "Nesse caso o diagnóstico costuma ser esquizofrenia ou simplesmente depressão", conta o psiquiatra Jair Soares, chefe da Divisão de Transtornos do Humor e Ansiedade da Universidade do Texas em San Antonio, nos Estados Unidos.

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Sabe-se que essa é uma doença em grande parte determinada pelo histórico familiar. Uma criança que tem um dos pais com transtorno bipolar apresenta uma probabilidade de 15% a 20% de manifestar o mesmo problema. Um estudo, realizado com gêmeos idênticos, mostrou ainda que, se um deles tem a doença, o risco de o outro também vir a ser uma vítima é de 80%.

A mais recente descoberta sobre a origem do mal vem de um grupo de pesquisa do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Os cientistas andavam em busca de uma pista sobre a relação entre o transtorno bipolar e a molécula BDNF (sigla em inglês para fator neurotrófico derivado do cérebro), cuja atuação na memória já era bem conhecida. As evidências dessa ligação ficaram muito claras em seu estudo.

O trabalho mostrou que os bipolares têm menos BDNF no sangue do que as pessoas normais. "E notamos que, quanto menores os teores no sangue, maior a gravidade da doença", revela um dos autores do trabalho, o psiquiatra Flávio Kapczinski, responsável pelo Laboratório de Psiquiatria Experimental do hospital gaúcho. Como os níveis dessa molécula são ditados pela genética, a esperança é de que ela possa vir a ser um marcador da doença. O teste ainda é experimental, mas deverá se tornar rotina médica nos próximos anos.

Igual a todo distúrbio da mente humana, porém, a bipolaridade também é determinada pela maneira como lidamos com as adversidades. "Muitas vezes podese até herdar o gene que leva a uma predisposição, mas, sem um evento estressante, o transtorno não se desenvolve", afirma o psiquiatra Beny Lafer, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do grupo de pesquisa em transtorno bipolar do Hospital das Clínicas da capital paulista. "Em caso de estresse emocional ou abuso de drogas, os riscos ficam de quatro a cinco vezes maiores."

O problema geralmente dá as caras no final da adolescência e no início da vida adulta, mas a meninada menor também é alvo. Na infância, aliás, não raro ele é confundido com distúrbio do déficit de atenção e hiperatividade. "Crianças diagnosticadas assim, mas que não respondem ao tratamento, podem ter na realidade o transtorno bipolar", garante Jair Soares. Descobrir a doença cedo e

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controlá-la o quanto antes ajuda seu portador a levar uma vida normal. É o que você verá nas páginas seguintes.

As oscilações do humor podem ser trágicas. Uma depressão prolongada, daquelas que chegam a durar meses ou mesmo anos, muitas vezes são o estopim de uma tentativa de suicídio. No outro extremo, o da mania, algumas semanas de crise são suficientes para pôr toda uma vida a perder. Relações são desfeitas e o dinheiro economizado por décadas, torrado em poucos dias. Não precisa ser assim. O.k., não há cura para o transtorno bipolar mas, como outras doenças crônicas, trata-se de um mal controlável.

Em casos de bipolaridade, os remédios conhecidos como estabilizadores do humor são fundamentais para o tratamento do tipo 1 e para alguns pacientes do tipo 2, como os médicos chamam uma forma mais moderada do transtorno. Qualquer que seja o tipo, porém, o maior problema costuma ser a resistência do paciente a tomar os medicamentos. Um dos motivos está nos efeitos colaterais. O lítio, por exemplo, que ainda é uma das drogas mais usadas, pode provocar ganho de peso, tremores, aumento do apetite e retenção de líquido um sufoco que, parece, as mulheres têm ainda mais dificuldade para enfrentar. "Mesmo assim, os benefícios são muito maiores do que os efeitos colaterais", opina Beny Lafer, da USP.

No entanto, é bom que fique claro: nenhum remédio, sozinho, opera milagres. Ele pode restaurar o equilíbrio químico dentro do cérebro, mas e as emoções? Hoje, até os cartesianos mais ferrenhos já deixaram de considerar a mente e o corpo como estruturas absolutamente separadas. No caso do transtorno bipolar, diga-se, estão intimamente ligadas. E é aí que entra a psicoterapia, como peça fundamental do tratamento dos bipolares. "Aliás, não se trata de uma doença mental apenas, mas um mal sistêmico que afeta o indivíduo como um todo. Esse paciente requer uma equipe multidisciplinar", defende Flávio Kapczinski. Prova disso é que, em uma das pesquisas realizadas pela equipe de Kapczinski, descobriu-se que os pacientes bipolares têm no cérebro uma quantidade menor de enzimas antioxidantes em comparação com o resto da população. Essas substâncias são essenciais para a manutenção da saúde ao evitar mutações genéticas que podem dar início ao câncer, por exemplo. "Não é por acaso que os bipolares têm maior incidência de morte por tumores, doenças cardiovasculares e diabete", acredita o psiquiatra. "Estamos em busca de métodos que permitam aos pacientes ficar livres não só das alterações do ânimo, mas de outros danos." Doença do corpo e da mente, a bipolaridade também pode se enquadrar em outra categoria, a de doença social. Afinal de contas, muitas vezes não é o transtorno em si o que mais preocupa os pacientes, mas a reação das outras pessoas. Em outras palavras, é preconceito mesmo. E contra isso muitas vezes o melhor antídoto é fazer parte de um grupo. "O convívio social faz parte da terapia porque o doente discute situações comuns a todos os portadores. E um ajuda o outro", conta Silvio Esteves, presidente da Stabilitas, organização que reúne cerca de 400 bipolares em Porto Alegre. Ora, se a vida é dupla e a doença é tripla, a conta só fecha porque as soluções são múltiplas.

O SOBE-E-DESCE DAS EMOÇÕES

As fases eufóricas são chamadas de mania. As mais brandas, de hipomania. Podem durar de alguns dias até longos meses, assim como as fases da depressão. No gráfico abaixo, repare que, quanto mais perto do centro, mais equilibrado é o humor.

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RELATO VIVO

KAY REDFIELD JAMISON é psiquiatra, cientista, professora de uma das mais prestigiadas instituições acadêmicas dos Estados Unidos, a Universidade Johns Hopkins. E sofre de transtorno bipolar. Num inusitado caso de atividade de pesquisa que se mistura com experiência pessoal, ela se tornou uma das maiores especialistas do mundo naquilo que ainda prefere chamar de doença maníaco-depressiva. O relato de sua convivência com o transtorno, muitas vezes apavorante, embora carregado de esperança, está no livro Uma Mente Inquieta, editado no Brasil pela Martins Fontes.

É a história de quem atravessou o deserto do descontrole. "A doença maníacodepressiva deforma seus pensamentos, estimula comportamentos aterradores destroem a base da razão e, com enorme freqüência solapa o desejo e a vontade de viver", escreveu Kay Jamison. "É uma doença sem par pelo fato de proporcionar vantagens e prazer que, como conseqüência, levam a um sofrimento quase insuportável”.

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MANIA DE ARTISTA

A bipolaridade de alguns criadores famosos • ERNEST HEMINGWAY (1899-1961)

O escritor americano, autor de clássicos como O Velho e o Mar, levou uma vida conturbada. Nos seus últimos anos, descobriu que tinha doença maníacodepressiva e insônia. Aos poucos, com o fracasso dos tratamentos, sua condição mental se deteriorou até que ele cometeu suicídio.

• LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

A vida pessoal do compositor alemão foi marcada pela luta contra a surdez, deficiência que não o impediu de continuar compondo peças que se tornaram fundamentais para a música ocidental. De acordo com seus biógrafos, também era depressivo e tinha períodos maníacos, o que, na definição atual, o colocaria entre os bipolares.

• VINCENT VAN GOGH (1853-1890)

O pintor holandês, que ficou famoso não só pelas telas, mas por ter cortado um pedaço da própria orelha, é considerado o mais célebre bipolar do mundo artístico. Segundo os críticos, a instabilidade do seu humor pode ser notada também nos quadros.

Você pode ser bipolar?

Responda às perguntas abaixo e descubra se você tem algum grau de bipolaridade

1. Você se considera com muitos altos e baixos de humor? 2. Precisa estar sempre fazendo algo ou buscando coisas novas? 3. Já teve vários momentos de apatia ou tristeza sem motivo aparente?

EM COMPARAÇÃO COM OUTRAS PESSOAS VOCÊ...

1....Já ficou muito alegre e radiante ou irritável sem motivo aparente? 2....Já teve fases com muitos planos, falando mais rápido, alto e bastante? 3....Já se arriscou demais em alguns momentos? 4....Já teve fases ou dias de se vestir de um jeito bem mais chamativo? 5....Gasta mais dinheiro com prazeres, futilidades ou aparência? 6....Apresenta mais dificuldade para manter as coisas em ordem e tende à dispersão?

7....Já teve impulsos exagerados em relação a comida, drogas, sexo ou compras?

8....Já teve momentos de maior confiança em que se sentiu muito especial? 9....Muda de planos e objetivos com extrema facilidade? 10. ...Demonstra instabilidade profissional ou nos relacionamentos afetivos? 11. ...Tende a se magoar ou a se irritar quando alguém o critica ou desagrada?

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RESULTADO:

Se você marcou de uma a três respostas "sim", é pouco provável que tenha algum grau de bipolaridade. De quatro a sete respostas "sim", é provável que você tenha algum grau de bipolaridade. Oito ou mais respostas "sim" indicam que é muito provável que você tenha algum grau de bipolaridade. Reflita e, se for o caso, procure ajuda.

Referências

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