• Nenhum resultado encontrado

ECLI:PT:TRE:2006: B1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ECLI:PT:TRE:2006: B1"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

ECLI:PT:TRE:2006:474.06.3.B1

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2006:474.06.3.B1

Relator Nº do Documento

Chambel Mourisco

Apenso Data do Acordão

18/04/2006

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação apelação improcedente

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores descaracterização de acidente;

(2)

Sumário:

1. Não basta a mera circunstância de a conduta do sinistrado integrar uma infracção ao Código da Estrada, ainda que eventualmente qualificável como contra-ordenação grave, para se dar como preenchido o requisito que integra a causa de descaracterização do acidente

2. A existência de culpa grave e indesculpável não deve ser apreciada em relação a um tipo abstracto de comportamento, mas “ in concreto”, isto é, casuisticamente em relação a cada caso particular

Decisão Integral:

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora:

A. …, casado, tratador de gado, residente, ……… propôs acção com processo especial emergente de acidente de trabalho contra B. … pedindo a condenação da Ré a pagar-lhe:

- Indemnização pelos períodos de incapacidade temporária de que esteve afectado, no montante de Euros 4.106,50;

- O capital de remição de uma pensão anual e vitalícia de Euros 857,89, devida desde 4.10.2003; - O pagamento de Euros 45,00 referente a despesas de transporte e alimentação em deslocações obrigatórias ao Tribunal;

- Juros de mora sobre as importâncias peticionadas, desde a data em que se venceram até integral pagamento.

Para o efeito alegou, em síntese, que exercia as funções de tratador de gado por conta da

Sociedade Agrícola …, quando, em 29 de Julho de 2002, sofreu um acidente de viação no trajecto do trabalho para a sua residência, do qual lhe resultaram lesões que deixaram sequelas. Esteve afectado de incapacidades temporárias absolutas e parciais e ficou afectado de uma incapacidade permanente parcial para o trabalho.

A Ré contestou, pugnando pela improcedência total da acção, alegando, em síntese que o acidente se deveu a falta grave e indesculpável do sinistrado, o qual desrespeitou as regras da prioridade, tendo agido com violação grosseira das regras de condução rodoviária, o que leva à

descaracterização do acidente como acidente de trabalho.

Foi proferido despacho saneador e seleccionados os factos assentes por acordo na tentativa de conciliação e nos articulados e elaborada base instrutória.

A Ré apresentou reclamação dos factos assentes e da base instrutória, que não foi atendida. Procedeu-se à realização da audiência de julgamento, tendo-se aditado quesitos à base instrutória, tendo sido proferida decisão sobre a matéria de facto provada, o qual não foi objecto de

reclamação.

Foi proferida sentença que julgou a acção procedente e, em consequência, decidiu condenar a Ré a pagar ao Autor:

- A quantia de € 4.076,91 a título de indemnização por incapacidades temporárias; - O capital de remição correspondente a uma pensão anual e vitalícia no montante de € 571,92 a calcular por referência ao dia seguinte ao da alta, isto é, 5 de Outubro de 2003; - A quantia de Euros 45,00 (quarenta e cinco euros) a título de despesas em deslocações obrigatórias ao Tribunal;

(3)

- Juros de mora, à taxa legal, sobre aquelas prestações, desde a data em que deveriam ter sido pagas (com excepção da obrigação do capital de remição, em relação à qual apenas se vencerão juros de mora após a data da prolação desta sentença) e até integral pagamento.

Inconformada com a sentença, a Ré apresentou recurso de apelação tendo, nas suas alegações, apresentado as seguintes conclusões:

1. A douta sentença recorrida foi proferida nos termos previstos nos artigos 75º e 76º do Código de Processo do Trabalho, por o tribunal “ a quo” ter considerado não existir fundamento para a

descaracterização do acidente enquanto acidente de trabalho, porquanto “ não resulta inequívoco o legalmente exigido alto e relevante grau de temeridade do comportamento do sinistrado”.

2. No momento em que se deu a colisão do veículo automóvel conduzido pela testemunha …, com o ciclomotor conduzido pelo apelado, aquele já se encontrava plenamente na via de trânsito em que este circulava, pelo que existiam boas condições de visibilidade na hemi-faixa de rodagem por onde circulava o apelado, pelo que estamos perante uma situação subsumível no âmbito de aplicação do nº2 do art. 8º do RLAT, na medida em que não estamos perante uma qualquer simples imprudência ou distracção, mas sim perante uma temeridade voluntária que em concreto não seria praticada por um homem medianamente diligente.

3. Conhecendo o apelado a via onde se deu o acidente, assim como, sabendo que em tal via não existia à data do sinistro qualquer sinalização de trânsito, deverá, ser de esperar daquele,

porquanto conhecedor, um comportamento mais exigente daquele que efectivamente teve. Nestes termos tal princípio desculpabilizante poderia ter aplicação se o mesmo desconhecesse a via em questão, o que manifestamente não é o caso.

4. Em face do exposto, resulta inequívoco ter existido por parte do sinistrado um comportamento temerário, de relevante grau, susceptível de ser descaracterizado enquanto acidente de trabalho. O Autor contra-alegou formulando as seguintes conclusões:

1. Não se encontram provados quaisquer factos que possam justificar a existência de negligência grosseira por parte do Autor/Recorrido na ocorrência do acidente em apreço;

2. A prova de tais factos competiria à R. Recorrente;

3. Não existem outras circunstâncias que determinem a descaracterização do acidente em apreço como acidente de trabalho;

4. Pelo contrário todos os factos provados impõem a caracterização do acidente como acidente de trabalho, face à legislação em vigor.

5. Deve manter-se a decisão recorrida, nos precisos termos em que foi proferida. O Exmo. Procurador-Geral Adjunto emitiu o seu parecer.

Os autos foram com vista aos Ex.mos Juízes adjuntos.

Nos termos dos art. 690º nº1 e 684º nº3 do CPC, ex vi art. 1º, nº2 al.a) do CPT as conclusões das alegações delimitam o objecto do recurso, pelo que a única questão a decidir é a de saber se o acidente de trabalho de que o Autor foi vítima deve ser descaracterizado em virtude daquele não ter respeitado, na situação concreta, a regra estradal de dar prioridade a quem se apresentava pela direita.

Na sentença recorrida foram consignados como provados os seguintes factos:

a) O autor, no dia 29/07/2002, pelas 17,15 horas, em …, quando se deslocava conduzindo o seu ciclomotor matricula …, do seu local de trabalho para a sua residência, circulando pela Rua …, no sentido de marcha …- , ao chegar ao entroncamento formado pela aludida artéria com a Rua …,

(4)

colidiu com o veiculo automóvel, matrícula QB…… que provinha desta via com intuito de passar a circular na Rua …….. no sentido …, provocando a queda do ciclomotorista;

b) À data, o autor exercia funções de tratador de gado sob ordens, direcção e fiscalização de Sociedade Agrícola …, auferindo de retribuição anual global a quantia de Euros 6 983,20;

c) Em consequência das lesões sofridas pelo autor, designadamente fractura diafisiária do terço inferior da tíbia e luxação do pilão tibial da perna direita com fractura descoaptada dos três

maléolos inferior e respectivas sequelas. O perito médico do tribunal considerou-o curado com uma IPP de 11,7% segundo a TNI, partir de 04/10/2003, atribuindo-lhe ITA no período compreendido entre a data da ocorrência e 13/03/2003, e ITP de 25% no período entre 14/03/2003 e 03/10/2003; d) A entidade patronal do sinistrado tinha transferido a responsabilidade civil por acidentes de trabalho para a ré seguradora, mediante contrato de seguro titulado pela apólice …, em função da retribuição anual auferida por aquele;

e) O autor despendeu em transportes e alimentação, com as deslocações ao tribunal, a quantia de € 45,00;

f) O veículo QB…, proveniente da Rua …, encontrava-se, no momento do embate, em posição diagonal, relativamente à via onde circulava, Rua …, ocupando, em parte, a hemi-faixa em que seguia o Autor;

g) A colisão deu-se entre a parte da frente do ciclomotor e a parte lateral esquerda do veículo automóvel, junto, mas antes do rodado traseiro;

h) O veículo automóvel, no momento da colisão, encontrava-se em posição diagonal, ocupando parte da hemi-faixa direita, atento o sentido … e parte da hemi-faixa esquerda, atento o mesmo sentido de trânsito;

i) Imediatamente antes da confluência da Rua …. com a Rua …, não existe, em qualquer uma destas aludidas artérias, qualquer sinalização reguladora do trânsito;

j) A profissão do autor exige que este manuseie sacos de rações, fardos de palha e de forragens; k) No momento do acidente, sobre o lado direito da Rua … (atendendo ao sentido de marcha do autor), estavam estacionados dois veículos automóveis;

l) Estes veículos estavam estacionados a menos de cinco metros do entroncamento com a Rua …; m) Atendendo ao sentido de marcha do autor os veículos estacionados sobre o lado direito da via eram uma carrinha VW Passat, e outro veículo que antecedia esta e tinha pelo menos idêntica altura;

n) A Rua … é utilizada por quem se desloca de e para …; o) O trânsito na Rua … é mais frequente que o trânsito na …; p) A Rua … situa-se no Bairro da …;

q) Para circular de automóvel entre o Bairro da .. e … é necessário utilizar uma de duas ruas do Bairro da …, uma das quais é a Rua do …;

r) Ambas as ruas confluem na Rua …;

***Feita esta enumeração, e delimitado como está o objecto do recurso pelas conclusões das alegações do recorrente, passaremos a apreciar a questão a decidir.

Como já se referiu a única questão a decidir consiste em saber se o acidente de trabalho de que o Autor foi vítima deve ser descaracterizado em virtude daquele não ter respeitado, na situação concreta, a regra estradal de dar prioridade a quem se apresentava pela direita.

O art. 6º nº1 da LAT fornece-nos o conceito de acidente de trabalho como sendo “aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza directa ou indirectamente lesão corporal,

(5)

a morte.”

No nº2 do mesmo preceito legal, refere-se que se considera também acidente de trabalho, o ocorrido:

a) No trajecto de ida e de regresso para e do local de trabalho, nos termos em que vier a ser definido em regulamentação posterior; [1]

No caso concreto dos presentes autos as partes aceitam que o acidente que vitimou o Autor é um acidente de trabalho por ter ocorrido no trajecto de regresso do local de trabalho.

A recorrente defende que este acidente de trabalho deve ser descaracterizado, em virtude do comportamento do Autor, de não ter respeitado, na situação concreta, a regra estradal de dar

prioridade a quem se apresentava pela direita, não poder ser considerada uma simples imprudência ou distracção, mas uma temeridade voluntária que não seria praticada por um homem

medianamente diligente.

Vejamos então se assiste razão à recorrente:

O art. 7º nº1 al. b) da Lei nº100/97, de 13 de Setembro (LAT), estatui que não dá direito a reparação o acidente que provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado.

Por seu turno, o DL nº 143/99, de 30 de Abril, que regulamentou a LAT, refere no seu art. 8º nº2 que “Entende-se por negligência grosseira o comportamento temerário em alto e relevante grau, que não se consubstancie em acto ou omissão resultante da habitualidade ao perigo do trabalho executado, da confiança na experiência profissional ou dos usos e costumes da profissão.” O art. 7º nº1 al. b) da Lei nº 100/97, de 13 de Setembro, corresponde na sua essência à Base VI nº1 al.b) da Lei nº 2127, de 3 de Agosto de 1965 e o art. 8º nº2 do DL nº 143/99, de 30 de Abril, corresponde ao art. 13º do Decreto nº 360/71, de 21/8/1971.

A propósito do disposto na Base VI nº1 al.b) da Lei nº 2127, de 3 de Agosto de 1965, José

Augusto Cruz de Carvalho [2] escreveu que desta “alínea b) resulta, que a presente lei, como todas as inspiradas no risco da autoridade, continua (como a anterior), a considerar indemnizáveis os acidentes resultantes de negligência, imprudência, imprevidência, imperícia, distracção,

esquecimento de uma ordem, e comportamentos análogos, abrangidos na figura jurídica de culpa em sentido genérico, como a simples e involuntária inobservância daquela diligência que se deveria ter empregado, e que se tivesse sido empregada teria impedido a realização do facto danoso.” Acrescenta o referido Autor que “para aplicação da alínea b) do nº1 é preciso que haja um

comportamento temerário, reprovado por um elementar sentido de prudência, uma imprudência e temeridade inútil, indesculpável, mas voluntária embora não intencional, e além disso que tal comportamento seja a causa única do acidente, como resulta do advérbio “ exclusivamente”; tal não acontecerá no caso de concorrência de culpa da entidade patronal ou do seu representante, ou quando seja possível concluir que, mesmo sem tal comportamento, o acidente sempre se

verificaria.”

Ainda no domínio da Lei nº 1942 de 27/7/1936 [3] era orientação unânime da jurisprudência que a existência de culpa grave e indesculpável, não devia ser apreciada em relação a um tipo abstracto de comportamento, mas in concreto, isto é, casuisticamente em relação a cada caso particular. Carlos Alegre [4] em anotação ao art. 8º do DL nº 143/99, de 30 de Abril, refere que “

Comportamento temerário e alto e relevante grau são conceitos vagos que dificilmente se podem analisar, a não ser ponderando situações concretas, com pessoas concretas e em locais concretos. Significa isto que entendemos que tais conceitos não devem ser medidos face ao comportamento ideal do bónus pater familiae”.

(6)

existência de culpa grave e indesculpável não deve ser apreciada em relação a um tipo abstracto de comportamento, mas “ in concreto”, isto é, casuisticamente em relação a cada caso particular [5] .

Também a jurisprudência do STJ tem vindo a associar o comportamento temerário em alto e

relevante grau a um comportamento inútil, indesculpável, reprovado pelo mais elementar sentido de prudência [6] .

Por outro lado, em diversos acórdãos, o STJ tem reafirmado que não basta a mera circunstância de a conduta do sinistrado integrar uma infracção ao Código da Estrada, ainda que eventualmente qualificável como contra-ordenação grave, para se dar como preenchido o requisito que integra a causa de descaracterização do acidente [7] .

No Acórdão do referido tribunal de 26/1/2006, em www.dgsi.pt/jstj, Processo nº 05S3114, foi decidido que a circunstância de o sinistrado, conduzindo um veículo ligeiro de mercadorias, ter invadido a faixa de rodagem contrária, dando origem a colisão com um veículo pesado que seguia em sentido oposto, embora represente uma contravenção grave às regras estradais, não envolve necessariamente uma negligência grosseira, para efeito da descaracterização do acidente de trabalho.

Acrescente-se que também é pacífico na jurisprudência que a descaracterização do acidente de trabalho constitui facto impeditivo do direito invocado pelo sinistrado, cabendo à entidade

responsável o ónus da prova dos factos integrantes de tal descaracterização [8] .

Vejamos se, no caso concreto, da factualidade dada como provada, se pode concluir que o

comportamento do sinistrado foi temerário em alto e relevante grau ao ponto de descaracterizar o acidente de trabalho de que foi vítima.

Provou-se que o sinistrado quando se deslocava, conduzindo o seu ciclomotor, do seu local de trabalho para a sua residência, circulando pela Rua R. …, no sentido de marcha …, ao chegar ao entroncamento formado pela aludida artéria com a Rua F. …, colidiu com o veiculo automóvel que provinha desta via com intuito de passar a circular na Rua R. no sentido ….

Mais se provou que:

- O veículo automóvel, proveniente da Rua F. , encontrava-se, no momento do embate, em posição diagonal, relativamente à via onde circulava, Rua R. …, ocupando, em parte, a hemi-faixa em que seguia o Autor;

- A colisão deu-se entre a parte da frente do ciclomotor e a parte lateral esquerda do veículo automóvel, junto, mas antes do rodado traseiro;

- O veículo automóvel, no momento da colisão, encontrava-se em posição diagonal, ocupando parte da hemi-faixa direita, atento o sentido … e parte da hemi-faixa esquerda, atento o mesmo sentido de trânsito;

- Imediatamente antes da confluência da Rua R. … com a Rua F…, não existe, em qualquer uma destas aludidas artérias, qualquer sinalização reguladora do trânsito;

- No momento do acidente, sobre o lado direito da Rua R. …. (atendendo ao sentido de marcha do autor), estavam estacionados dois veículos automóveis;

- Estes veículos estavam estacionados a menos de cinco metros do entroncamento com a Rua F. ..;

- Atendendo ao sentido de marcha do autor os veículos estacionados sobre o lado direito da via eram uma carrinha VW Passat, e outro veículo que antecedia esta e tinha pelo menos idêntica altura;

(7)

- O trânsito na Rua R. é mais frequente que o trânsito na Rua F….; - A Rua F. … situa-se no Bairro da …;

- Para circular de automóvel entre o Bairro da … e é necessário utilizar uma de duas ruas do Bairro da …, uma das quais é a Rua F. …;

- Ambas as ruas confluem na Rua R…..

Perante estes factos, atendendo à posição diagonal do veículo automóvel no momento do embate, que já ocupava parte da hemi-faixa direita, atento o sentido ….e parte das hemi-faixa esquerda, atento o mesmo sentido de trânsito e as partes dos veículos onde se deu a colisão (parte da frente do ciclomotor e a parte lateral esquerda antes do rodado traseiro do veículo automóvel) parece que temos de concluir que o sinistrado, que circulava na Rua R…, não parou o seu ciclomotor para ceder passagem ao veículo automóvel que se apresentava pela direita vindo da Rua F. ….

Na verdade, não existindo em qualquer das referidas artérias, qualquer sinalização reguladora do trânsito, deveria o sinistrado nos termos dos art. 29º nº1 e 30º nº1 do Código da Estrada, então em vigor [9] , ceder passagem ao veículo automóvel que se apresentava pela direita.

O desrespeito das regras de cedência de passagem constituem uma contra-ordenação grave, nos termos do art. 146º alínea e) do Código da Estrada.

No entanto, existem factos dados como provados que nos levam a concluir que o comportamento do sinistrado não deve ser considerado temerário em alto e relevante grau ao ponto de

descaracterizar o acidente de trabalho de que foi vítima.

Na verdade, temos de ponderar que o sinistrado se deslocava pela Rua R…. onde o trânsito é mais frequente que na Rua F. .

Temos também de ponderar que imediatamente antes da confluência da Rua R…. com a Rua F., não existe, em qualquer uma destas aludidas artérias, qualquer sinalização reguladora do trânsito. Finalmente há ainda que considerar que no momento do acidente, sobre o lado direito da Rua R…. (atendendo ao sentido de marcha do autor), estavam estacionados dois veículos automóveis, e que estes veículos estavam estacionados a menos de cinco metros do entroncamento com a Rua F. …, sendo um deles uma carrinha VW Passat, e outro veículo que a antecedia com pelo menos

idêntica altura.

Toda esta factualidade denota que da parte do sinistrado terá havido apenas um excesso de confiança por estar a circular numa rua onde circulava mais trânsito que nas ruas laterais e desprovida de qualquer sinalização reguladora do trânsito.

O facto de no momento do acidente, sobre o lado direito da Rua R. …, atento o sentido de marcha do autor, estarem estacionados dois veículos automóveis a menos de cinco metros do

entroncamento com a Rua F…, também terá certamente dificultado a visibilidade do sinistrado em relação ao trânsito oriundo dessa Rua, atendendo a que o mesmo se deslocava num ciclomotor. Ponderando todos estes factos não podemos de maneira alguma concluir que o comportamento do sinistrado foi temerário em alto e relevante grau ao ponto de descaracterizar o acidente de trabalho de que foi vítima.

Pelo exposto, acorda-se nesta secção social deste Tribunal da Relação de Évora, em julgar improcedente a Apelação mantendo na íntegra a sentença recorrida.

Custas a cargo da recorrente.

( Processado e revisto pelo relator que assina e rubrica as restantes folhas) Évora, 2006/ 04/ 18

(8)

Chambel Mourisco Gonçalves Rocha Baptista Coelho

______________________________

[1] O art. 6º nº2 e 3 do DL nº 143/99, de 30 de Abril, regulamenta o disposto no art. 6º nº2 al. a) da LAT.

[2] Acidentes de trabalho e doenças profissionais, Livraria Petrony, pág. 42.

[3] Lei de acidentes de trabalho que antecedeu a Lei nº 2127, de 3 de Agosto de 1965, e que foi revogada por esta na sua Base LI nº2.

[4] Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, Almedina, 2ª edição, pág. 187.

[5] Cfr. Acórdão do STJ de 3/3/88, relatado pelo Juiz Conselheiro Melo Franco, em www.dgsi.pt/jstj, nº JSTJ00011142.

No mesmo sentido os Acórdãos mais recentes de 7/11/2001 e 16/6/2004, em www.dgsi.pt/jstj, relatados pelos Juízes Conselheiros Mário Torres e Vítor Mesquita, com os nºs JSTJ00000575 e JSTJ000 ( Proc.03S3401).

[6] Cfr. Acórdão do STJ de 7 de Novembro de 2001, Revista 1314/01.

[7] Cfr. Acórdãos de 2/2/2005, Revista nº 3151/04, 10/3/2005, Revista nº 4090/05, de 22/6/2005, revista nº 59/05, 29/11/2005, www.dgsi.pt/jstj, Processo nº 05S1924, relatado pelo Juiz Conselheiro Pinto Hespanhol.

[8] Cfr. Acórdão do STJ de 13/1/93, em www.dgsi.pt/jstj, com o nº JSTJ00017219.

[9] Código da Estrada aprovado pelo DL nº 114/94, de 3 de Maio, revisto e republicado pelo DL nº 2/98, de 3 de Janeiro e alterado pelo DL nº 265-A/2001, de 28 de Setembro.

Referências

Documentos relacionados

Os custos das aplicações de inseticidas e acaricidas para as cultivares transgênicas DP 90 B e NuOpal ficaram mais elevados por que foram usados produtos seletivos contra as

linhas directrizes relativas ao tratamento de informações recebidas pelo Tribunal referentes a eventuais casos de fraude, corrupção ou qualquer outra actividade ilegal, ou da Decisão

CONCLUSÃO : Deferir o registro da pessoa jurídica REDUMAX EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., sob a responsabilidade técnica da ENG.ª CIVIL MARIA ELAINE CARLESSO PAGLIARIN,

Consideramos deveras um conceito stricto sensu, portanto, muito limitado para denotar o fenômeno que se propõe na obra Le Breton (2002).. trabalho escravo, eleitos em nosso

O protocolo proposto ´e capaz de operar, independentemente, da ociosidade ou da ocupac¸˜ao do relay, promovendo cooperac¸˜ao com o n´o fonte no n´ıvel da camada de enlace..

Os candidatos terão até 2 (dois) dias úteis após a divulgação para apresentar eventuais recursos ao resultado e a Comissão de Seleção terá 01 (um) dia útil

daquele Programa, um convite à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação para

Os profissionais que não estão atuando na área puderam se desligar do CRF/MG até o dia 31 de março sem pagar a anuidade de 2018.. Conforme um parecer jurídico da Advocacia-Geral