ACESSIBILIDADE EM INSTALAÇÕES ESPORTIVAS EM PRESIDENTE PRUDENTE: A IMPORTÂNCIA DE UM AMBIENTE PROJETADO PARA O DEFICIENTE FÍSICO.
Luciana Mação Bernal ¹, Hélio Hirao ²
¹Graduada pelo curso de Arquitetura e Urbanismo ‐ UNESP, Campus de Presidente Prudente. ²Professor Assistente Doutor – UNESP, Campus de Presidente Prudente. E‐mail: lu_bernal@yahoo.com.br
RESUMO
As preocupações referentes a esse trabalho busca esclarecer e justificar a necessidade de instalações esportivas projetadas de maneira que se considere o uso destes ambientes por pessoas que apresentem algum tipo de deficiência física. Toda atividade física quando feita corretamente só traz benefícios para a pessoa e, no caso de uma pessoa com deficiência esse benefício não se refere somente à melhora de seu condicionamento físico, mas também de sua socialização, tendo em vista que a pessoa passa a explorar o máximo de suas potencialidades assim como passa a ter uma vivência com outras pessoas que sentem as mesmas dificuldades, gerando a troca de experiências, dúvidas e expectativas, proporcionando assim, a qualidade de vida. Mas para que a pessoa com deficiência consiga utilizar uma quadra, um ginásio, entre outros, as normas esportivas adaptadas devem ser levadas em consideração para que se possa praticar a atividade física com segurança e autonomia.
Palavras‐chave: Acessibilidades; instalações esportivas; deficiente físico; qualidade de vida;
normas.
INTRODUÇÃO E OBJETIVO
Aproximadamente 24,5 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência no Brasil. Em Presidente Prudente, a média de deficientes supera as médias das demais cidades do estado de São Paulo, com aproximadamente 26.386 pessoas com algum tipo de deficiência (IBGE 2010).
A partir dos dados acima, vemos que o município de Presidente Prudente, necessita de uma maior atenção, por apresentar um grande número de pessoas com algum tipo de deficiência. Em busca de qualidade de vida, muitas destas pessoas encontram dificuldades. É neste momento que o esporte surge, não apenas como uma ferramenta para uma vida mais saudável, mas também de motivação para que através da prática esportiva obtenha benefícios tanto para sua reabilitação quanto em para seu desenvolvimento social.
A prática de atividade física regular, quando feita sem exageros e sob orientação de profissionais da área, só trás benefícios para o corpo e também para a mente. Melhora a qualidade de vida, aumenta a disposição, dificulta a possibilidade do surgimento de novas doenças, aumenta à longevidade, melhora a autoestima, velocidade de reação a estímulos e convívio social.
Fatores como esse são de grande importância para qualquer ser humano. Para portadores de deficiência a prática de esportes é uma ótima alternativa para cuidar da saúde, melhorando seu condicionamento físico e mais importante ainda, é que, no esporte há uma alternativa para socialização com outras pessoas que também possuem deficiências, gerando experiências, superações e motivações para manter uma melhor forma de viver.
Este trabalho tem por objetivo, expor as dificuldades de se encontrar um local onde se possa praticar atividade física de maneira devidamente adequada ao uso para pessoas com algum tipo de deficiência física, assim como ressaltar a importância de se projetar as instalações esportivas pensando na acessibilidade e nas modalidades adaptadas, para que estes usuários possam utilizar o ambiente de forma plena e independente.
METODOLOGIA
Ao projetar as instalações esportivas, foram adotados os critérios da ABNT NBR 9050, diretrizes projetuais de infraestrutura paradesportiva e as reais necessidades do usuário em questão.
DISCUSSÕES
Equipamentos que proporcionam a prática de atividade física e que sejam voltados para o uso adequado de uma pessoa com deficiência física dificilmente são encontrados. Poucos locais respeitam corretamente as normas estabelecidas pela ABNT 9050 (que dispões de normas de acessibilidade), impedindo o uso autônomo desta pessoa.
Com locais pouco apropriados para a atividade física, torna‐se difícil e desestimulante para o deficiente físico buscar um melhor condicionamento físico. Apesar da Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que defende a supressão de barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e comunicação, pouco se concretiza de fato. Não é difícil encontrar rampas inadequadas ou ausência de rampas; pavimentação do passeio em mau estado, dificultando o trajeto; ausência de sanitários adaptados, sem espaço para o giro da cadeira de rodas, sem barras de apoio, entre outros.
Ressaltando esse aspecto vemos como é importante o desenvolvimento de um local adequado, voltado para o deficiente, uma vez que este encontra inúmeras dificuldades em seu cotidiano.
É importante ressaltar que de acordo com a Lei citada, as instalações esportivas também devem ser enquadradas, apresentando acessibilidade, mas que também se empenhem em desenvolver as atividades adaptadas, para que os deficientes além de conseguir utilizar o local (usar os sanitários e se locomover), também possa fazer uso dele praticando alguma modalidade esportiva. Para tal, deve‐se considerar além das normas da ABNT 9050, considerar as modalidades paradesportivas a ser desenvolvidas no local e suas normas, para adequação total do ambiente, permitindo a pessoa com algum tipo de deficiência o uso pleno, para que consiga realizar a prática da atividade física da melhor forma o possível. RESULTADOS
Abaixo, uma tabela foi desenvolvida para mostrar de forma geral, algumas das necessidades que alguns esportes adaptados apresentam para serem incorporados a um ginásio para a prática adequada da modalidade.
Tabela: Modalidades e necessidade.
Modalidade Necessidades Incorporado ao ginásio
Basquete sobre rodas Alambrado acolchoado para segurar a C.R. quando sai de quadra evitando impacto com elementos como parede ou arquibancada; Alambrado acolchoado móvel* Futebol de cego Alambrado a no Max. 1,2m da quadra (para a bola não ir muito longe e fazer a rápida reposição de bola), sendo este com 1,1m de altura. Alambrado instalado com 1 metro de distância. Goalball Possibilidade de vedação da abertura para que se diminua ao máximo a incidência de luz. Aberturas sem incidência de luz direta e com altura que permite a fácil vedação destas em dias de jogos.
Handebol Similar ao Handebol não adaptado. Alambrado acolchoado móvel* Natação Placas de toque sensível nas chegadas, com cores chamativas e plataformas removíveis (dependendo da deficiência em questão, o atleta salta da própria borda da piscina) As Placas de toque sensível e plataforma são removíveis, sendo utilizadas somente quando necessário e ambas respeitando as normas exigidas pelo IPC. Além disso, a piscina dispõe de rampa e barra de apoio. Rugby Alambrado acolchoado para segurar a C.R. quando sai de quadra evitando impacto com elementos como parede ou arquibancada; Alambrado acolchoado móvel*
Vôlei sentado Área de jogo 6 x 10m Pode ser utilizado a própria dimensão da quadra, ou ser
*O alambrado móvel foi a solução encontrada para sanar as necessidades de 3 modalidades. O basquete sobre rodas e o rugby necessitam de alambrado, no entanto, este não deve ser instalado tão próximo a quadra, em decorrência do alto impacto que o atleta pode sofrer. Diferente disto, o Futebol de cegos, necessidade de um alambrado próximo para manter a bola sempre próxima a quadra (permitindo que o guizo seja bem ouvido), também auxilia o atleta a se manter sempre próximo a quadra e a fazer a rápida reposição de bola. Fonte: Elaborado pela autora.
Segundo os autores Costa e Gorgatti (2005), o termo “deficiente” ganha outro sentido. Segundo os autores, um portador de deficiência, seja ela qual for é visto como uma pessoa que tem pela frente, um grande potencial a ser desenvolvido, principalmente pessoal. Esses, então, são chamados de “pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições”, que através do esporte, encontram uma forma de desenvolver suas novas capacidades e habilidades e se readaptar.
A prática regular de atividades físicas de pessoas que apresentam algum tipo de deficiência seja auditiva, visual, mental ou física, traz um enorme benefício, não só pela prática esportiva propiciando melhor qualidade de vida (auxiliando na prevenção das enfermidades secundárias), mas também por servir como um fator de integração social do indivíduo. É importante ressaltar a melhoria do lado psicológico, como a melhoria da autoestima, integração social, redução da agressividade, dentre outros benefícios. Lembrando que para a escolha do esporte a ser praticado pelo indivíduo, devem ser levadas em consideração as limitações e potencialidades, respeitando as normas de segurança e auxiliando‐o sempre que necessário, visando sempre estimulá‐lo.
Abaixo, três tabelas mostram um estudo realizado por Labronici; Cunha; Oliveira e Alain (2000), durante dois anos em atletas de basquete sobre rodas e natação, avaliando sua composição familiar, o lado profissional e o lado social, antes e depois da prática esportiva.
Tabela 1 .Distribuição dos atletas quanto a sua composição familiar e suas atividades profissionais, antes e depois do esporte. Fonte: Arquivos de neuro‐psciquiatria, são paulo. Tabela 2. Avaliação social: escala de Rivermead nos atletas do basquete, dois anos após o início do
Tabela 3. Avalição social: escala de Rivermead nos atletas da natação, dois anos após o início do esporte. Fonte: Arquivos de neuro‐psciquiatria, são paulo. De modo geral, podemos ver a melhora não só do condicionamento físico da pessoa, como também social. Com isso vemos a importância da prática esportiva assim como de um local adequado para tal, de maneira que o usuário consiga usar o local com autonomia, como lhe é garantido através da Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que estabelece a eliminação de barreiras/obstáculos para que a pessoa com deficiência possa transitar e fazer uso dos lugares de forma independente, apesar de não ser cumprida em diversos locais.
É importante ressaltar que ao projetar instalações voltadas para pessoas com deficiência física, não significa que o ambiente deve ser de uso exclusivo para estes usuários, mas sim prioritário, pois assim permite que toda a população próxima ao local também possa utilizá‐lo, dando maior uso ao local e assim proporcionando qualidade de vida não somente para as pessoas com deficiência física, mas também a toda a população que queira fazer uso do local.
Com instalações esportivas acessíveis, visa criar um ambiente adequado, na qual ele consiga utilizar o local de maneira independente, e que este também tenha todas as condições adequadas para a prática correta das atividades físicas, proporcionando qualidade de vida, através da prática esportiva e atividade social, uma vez que neste local, diversas pessoas com deficiência se encontraram permitindo a estes, o convívio.
Por intermédio do esporte o deficiente é estimulado a ser independente, a ter autonomia, e tentar ao máximo desenvolver suas novas potencialidades, desta forma melhora e desenvolve a
autoestima, assim como autovalorização, além de socializar com outros grupos, o que possibilita o compartilhamento de dúvidas, dificuldades e experiências, melhorando sua interação social. CONCLUSÃO Um ambiente projetado considerando as normas de acessibilidade trás diversas vantagens ao local, não somente para as pessoas com deficiência que poderão utiliza‐los sem dificuldades, mas também para pessoas idosas e obesas, que encontrarão elementos auxiliadores para utilização do ambiente como barras (presentes nas escadas, rampas, sanitários, etc.), rampas com baixa inclinação, espaços maiores, entre outros, permitindo que também frequentem o local para a realização de atividades físicas.
Com instalações esportivas acessíveis, que permite ao deficiente físico a prática esportiva, podemos dizer que temos um local adequado ao uso e que trará inúmeros benefícios a esses usuários como a melhora do condicionamento físico, sistema cardiovascular, pulmonar, reflexos, entre outros, além da interação social. Outro aspecto positivo é que esses benefícios também se refletem não somente a esses usuários, mas a toda a população que queira fazer uso das instalações esportivas, proporcionando a todos qualidade de vida. REFERÊNCIAS ABRADECAR (Associação Brasileira de Desportos em Cadeiras de Rodas) 2002. Capturado em: <Erro! A referência de hiperlink não é válida.> em 21/06. ALMEIDA, A. L. de J. O lugar social do fisioterapeuta. 2008. 166 f. Tese (doutorado em fisioterapia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. IBGE ‐ CENSO DEMOGRÁFICO 2000 GIL, L. O que é classificação funcional? Paraolímpicos, 16 de junho de 2011. Disponível em: < http://paraolimpicos.wordpress.com/2011/06/19/o‐que‐e‐classificacao‐funcional/> GORGATTI, M. G.; COSTA, R. F. (Org.) Atividade física adaptada: qualidade de vida para pessoas com necessidades especiais. Barueri: Manole, 2005. p. 4 WINNICK, J.P. Educação física e esportes adaptados. Tradução: Fernando Augusto Lopes. 3ª Ed. Barueri: Manole, 2004.