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Avaliação do ciclo de vida de um sistema de gestão de RSU em uma região metropolitana

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Avaliação do ciclo de vida de um sistema

de gestão de RSU em uma região

metropolitana

Diogo Appel Colvero

a ,b,

*, Ana Paula Gomes

b

, Manuel Arlindo de Matos

b

,

Luís António Tarelho

b

, José Ramalho

b

a Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC), Universidade Fede-ral de Goiás, 74605-010, Goiânia, Goiás, Brasil

b Departamento de Ambiente e Ordenamento e Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), Universidade de Aveiro, 3810-193, Aveiro, Portugal

Resumo

No Brasil existem regiões metropolitanas com grandes adensamentos populacionais, reflexo do grande fluxo migratório que ocorreu no país a partir da década de 1970. Dentre as consequências destes quantitativos populacionais nas áreas urbanas está o aumento da geração per capita de resíduos sólidos urbanos (RSU), que na maioria dos casos, vem associado à deficiente gestão dos RSU. Um exemplo são 19 municípios do Estado de Goiás, Brasil, em que 73% dos RSU produzidos tem destino inadequado. Para minimizar os impactos ambientais, os municípios brasileiros devem implementar um sistema de gestão de RSU (SGRSU) com valorização e desvio de RSU dos aterros. Diante disso, utilizando-se uma ferramenta de avaliação do ciclo de vida, fez-se uma avaliação ambiental de diferentes alternativas para um SGRSU partilhado entre 19 municípios de Goiás. Os resultados apontaram que o cenário atual da gestão dos RSU nestes municípios tem os maiores impactos ambientais em sete das 12 categorias de impacto avaliadas, dentre elas o potencial de aquecimento global. Em contrapartida, o SGRSU proposto, com a sede situada no município de Aparecida de Goiânia, contempla a digestão anaeróbia e maximiza o desvio de RSU dos aterros. Neste SGRSU obteve-se as menores emissões ao ambiente em oito das categorias de impacto analisadas.

Palavras-Chave:

avaliação do ciclo de vida (ACV), resíduos sólidos urbanos (RSU), gestão partilhada de RSU, desvios de resíduos de aterros, Estado de Goiás

doi:

10.22181/aer.2020.0902

* Autor para correspondência

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Life cycle assessment of management

facility in a metropolitan region

Diogo Appel Colvero

a ,b,

*, Ana Paula Gomes

b

, Manuel Arlindo de Matos

b

,

Luís António Tarelho

b

, José Ramalho

b

a Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC), Universidade Fede-ral de Goiás, 74605-010, Goiânia, Goiás, Brasil

b Departamento de Ambiente e Ordenamento e Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), Universidade de Aveiro, 3810-193, Aveiro, Portugal

Abstract

In Brazil, there are metropolitan regions with large populations, reflecting the great migratory flow that has occurred there since the 1970's. Among the consequences of this urban population rise in is the increase of municipal solid waste (MSW) per capita generation. This is mostly associated with poor MSW management. For example, 19 municipalities in Goiás State, Brazil, inappropriately dispose of 73% of their produced MSW. To minimize environmental impacts, Brazilian municipalities must implement an MSW management facility (MSWMF) with MSW recovery and diversion from landfills. Therefore, using a life cycle assessment tool, an environmental analysis of different alternatives was made to a MSWMF shared among these 19 municipalities of Goiás. The results showed that the current MSW management scenario in these municipalities has the greatest environmental impacts in seven of the 12 evaluated impact categories, among them global warming potential. Conversely, the proposed MSWMF, with its headquarters in the municipality of Aparecida de Goiânia, contemplating anaerobic digestion and maximizing MSW diversions from landfills, has the lowest emissions to the environment in eight of 12 impact categories.

Keywords:

life cycle assessment (LCA), municipal solid waste (MSW), shared MSW management, landfill diversion, Goiás State

doi:

10.22181/aer.2020.0902

* Corresponding author

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Introdução

O crescimento da população mundial e as migrações para áreas urbanas indicam a tendência de que, até 2025, dois terços da população mundial viverá em cidades (Troschinetz e Mihelcic 2009). No Brasil, segundo dados de 2010, ano do último censo oficial do país, havia cerca de 84% da população a viver em áreas urbanas (IBGE 2010). Este fluxo migratório da população brasileira das áreas rurais para as cidades, principalmente a partir dos anos 1970 (Rezende, 2011), ocasionou áreas urbanas com grandes quantitativos populacionais e aumentou a geração per capita de resíduos sólidos urbanos (RSU). Aliado a este fator está a gestão inadequada dos RSU, que deu origem a danos ambientais (Bernstad et al. 2017).

Verifica-se a situação supracitada em 19 municípios que se situam em uma zona metropolitana do Estado de Goiás, Brasil, que em 2015 produziam mais de 2,1 mil t.dia-1 de RSU (Colvero et al. 2017). Segundo SECIMA/GO (2015), 12 destes 19 municípios possuem lixões, 3 possuem aterros não licenciados e somente quatro contam com aterros licenciados para a deposição final dos RSU. Além disso, 11 municípios não possuem coleta de materiais recicláveis, e não há referências à coleta diferenciada de biorresíduos.

Considerando o total de RSU produzidos nos municípios avaliados, 69,3% são enviados para aterros não licenciados, 24,5% para aterros licenciados, 2,6% para lixões, 2,8% triagem e 0,8% não são recolhidos (Colvero et al. 2017). Este panorama da gestão dos RSU, em que praticamente todos os resíduos recolhidos são enviados para a deposição final, é semelhante ao que ocorre nos demais estados brasileiros (Alfaia et al. 2017). Apesar da gestão dos RSU estar concentrada sobretudo na eliminação de resíduos em sistemas de deposição final, a Lei brasileira n.º 12.305 – conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Brasil, 2010), sugere o emprego de tecnologias com valorização de RSU, deixando o aterro para receber os refugos de outros sistemas de tratamento de resíduos.

Diante do cenário atual (CA) da gestão dos RSU em Goiás, este trabalho tem foco numa avaliação ambiental de alternativas de gestão de RSU para a área em estudo. Sendo que a redução dos impactos ambientais como resultado da implantação de modelos de gestão focados no desvio de RSU de aterros, pode ser mensurado a partir de uma avaliação do ciclo de vida – ACV (Bernstad et al. 2017). Assim, utilizando-se uma ACV, o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto ambiental de diferentes alternativas de um sistema de gestão de RSU (SGRSU) partilhado entre 19 municípios do Estado de Goiás. Esta avaliação compara os impactos ambientais do CA da gestão dos RSU com três cenários futuros para o SGRSU proposto.

2

Materiais e métodos

O Estado de Goiás é dividido em 18 microrregiões, que são agrupamentos que visam delinear e executar projetos e atividades que sejam de interesse comum, assim como validar estudos que visem instalar infraestruturas em regiões metropolitanas, como é o caso de um SGRSU (IMB, 2014).

2.1

O atual modelo de gestão

De acordo com Colvero et al. (2018), somente em dois municípios (Guapó e Professor Jamil) os sistemas de deposição final de RSU localizam-se em áreas livres para a instalação e operação de aterros. Contudo, ambos os municípios possuem lixões. Já os aterros licenciados (existentes nos municípios de Aparecida de Goiânia, Bonfinópolis, Hidrolândia e Senador Canedo) estão situados em áreas restritas para a construção de aterros.

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2.2

Modelo de gestão proposto e o município-sede do SGRSU partilhado

O SGRSU proposto como alternativa ao status quo foi definido de acordo com a produção de RSU e será composto por um modelo de gestão baseado em Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES 2014): coleta indiferenciada, coleta diferenciada de resíduos recicláveis secos, coleta diferenciada de biorresíduos, estação de transferência (ET), transporte, triagem, compostagem doméstica (CD), compostagem comunitária (CC) ou digestão anaeróbia (DA), incineração e aterro. Este modelo prioriza a hierarquia de gestão dos resíduos (Brasil, 2010), com os recursos permanecendo na economia o maior tempo possível e os sistemas de eliminação de RSU usados para descartar os refugos dos tratamentos a montante (Merli et al. 2018, Malinauskaite et al. 2017).

A partir do quantitativo de RSU e da eficiência na recuperação destes resíduos, foram consideradas três tecnologias de tratamento dos biorresíduos, cuja escolha depende do quantitativo a ser tratado: (i) Compostagem doméstica (CD): será utilizada naqueles municípios que, entre 2021 e 2040, irão tratar até 2 000 t.ano-1 de biorresíduos. Esta tecnologia será empregue em 13 dos 19 municípios; (ii) Compostagem comunitária (CC) ou digestão anaeróbia (DA): atenderão os seis municípios que, entre 2021 e 2040, irão tratar quantitativos superiores a 2 000 t.ano-1 de biorresíduos (Tsilemou e Panagiotakopoulos 2006).

Os sistemas de valorização de materiais que visam a economia circular (triagem, compostagem e DA) situar-se-ão nos próprios municípios, ou seja, estarão descentralizados. Já as operações que receberão os refugos dos sistemas de tratamento e os RSU indiferenciados, estarão centralizadas. Caberá a cada município definir os lugares para instalação das tecnologias de tratamento de RSU locais (triagem, CC ou DA), ou seja, descentralizadas. Já as localizações de todas as infraestruturas centralizadas (ET, incineração e aterro) foram definidas neste estudo, de modo que estejam situados o mais próximo possível do centro gerador de RSU, minimizando-se assim, os custos com o transporte dos RSU.

Para isso, usou-se a geometria das massas, metodologia que permitiu a definição do município-sede (MS) da unidade de incineração do SGRSU proposto. Com o quantitativo de RSU produzido e as coordenadas dos centros urbanos dos municípios (Colvero et al. 2017), obteve-se o centro de massa (CM) dos 19 municípios avaliados. Conforme o estudo de Pereira et al. (2013), os CM foram obtidos a partir das eq. 1 e 2.

y =∑(yi.Pi)

∑ Pi (eq. 1) x =∑(xi.Pi)

∑ Pi (eq. 2)

Em que x – longitude, y – latitude, xi e yi – coordenadas geográficas dos centros urbanos (em coordenadas UTM), Pi – produção média diária de RSU de cada município (t.dia-1). Para distâncias inferiores a 25 km entre os centros urbanos de cada município e a unidade de incineração, o resíduo será transportado diretamente à unidade de incineração por veículos de coleta (Chen e Lo 2016). Enquanto que, para distâncias superiores a 25 km, a coleta dos RSU deverá ser centralizada numa ET, donde estes resíduos serão enviados com veículos de transporte de longa distância. Definiu-se esta distância limite porque, conforme USEPA (2002), 25 km é o ponto de viragem, em que é mais viável economicamente centralizar a coleta para uma ET e depois enviar os RSU para tratamento.

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2.3

Metas de desvios de RSU de aterro e a proposição de cenários

De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES), os municípios goianos devem propor SGRSU que atendam as metas de desvios de biorresíduos e de resíduos recicláveis (Quadro 1) sobre o total de RSU produzidos (MMA, 2012). Os municípios avaliados neste estudo não atingiram sequer as metas de desvios de RSU dos aterros para 2015. Assim, optou-se por criar diferentes cenários com as referidas metas.

Quadro 1. Metas de desvio de RSU dispostos em aterro em Goiás (adaptado de MMA 2012)

Meta 2015 (%) Plano de metas de desvios dos aterros 2019 (%) 2023 (%) 2027 (%) 2031 (%)

Redução da percentagem de resíduos recicláveis secos depositados em aterro

13 15 18 21 25

Redução da percentagem de

biorresíduos depositados em aterro 15 25 35 45 40

Formularam-se três cenários futuros para um horizonte de 20 anos, entre 2021 (início das operações dos sistemas) e 2040 (último ano da vida útil do SGRSU proposto) que estão apresentados a seguir:

• Cenário pessimista (CP): neste cenário, o crescimento linear dos desvios de RSU do aterro será mais lento. Estimou-se que as metas estabelecidas no PLANARES serão parcialmente atingidas, reflexo das dificuldades inerentes à implantação e início das operações de um novo SGRSU. Objetiva-se alcançar em 2023 e 2031 as metas de desvios de RSU de aterros previstas, respetivamente, para 2015 e 2027;

• Cenário moderado (CMd): neste cenário, o crescimento linear das percentagens de desvios de RSU será maior em comparação ao CP. Entretanto, as metas de desvios estabelecidas no PLANARES ainda não serão plenamente atingidas. Para 2023 pretende-se atingir as metas previstas para 2019, enquanto que para 2031 estimou-se alcançar uma taxa de desvio intermédia entre as metas de 2027 e 2031;

• Cenário otimista (CO): neste cenário, o SGRSU proposto para os 19 municípios terá uma operação em pleno, com uma ampla participação da população nos desvios de materiais recicláveis e biorresíduos. Assim, em 2023 e 2031, serão atingidas as metas de desvios de RSU de aterro para estes mesmos anos.

2.4

Metodologia de avaliação do ciclo de vida (ACV)

A ACV é uma ferramenta holística que permite a compilação e avaliação de potenciais impactos ao longo do ciclo de vida de um produto, processo ou serviço. Esta avaliação pode ser feita desde a extração da matéria-prima, passando pela produção, uso e a gestão no fim de vida, que inclui o tratamento, o transporte, a reciclagem e a deposição final (Matos et al. 2012). Mesmo com os problemas e desafios implícitos, a ACV é uma poderosa ferramenta, pois proporciona uma visão geral do perfil ambiental para cada estratégia, auxiliando na identificação de soluções adequadas para a gestão dos RSU (Nabavi-Pelesaraei et al. 2017).

Assim como no estudo de Bernstad et al. (2017), todos os cenários foram modelados em uma ferramenta de ACV específica para a gestão de resíduos chamada EASETECH, software desenvolvido pela Technical University of Denmark – DTU (Clavreul et al. 2014). Este software se baseia na análise de fluxo de material, gerando resultados para as entradas e processos específicos (Bernstad et al. 2017).

A unidade funcional (UF) definida foi a gestão de 1 t de RSU, conforme Bernstad et al. (2017). O fluxo base dos RSU são os resíduos gerados nas habitações, assim como

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outros resíduos que, pela composição, natureza e volume, sejam equiparados aos resíduos provenientes dos domicílios (Brasil 2010). Assim como Nabavi-Pelesaraei et al. (2017) a avaliação de impacto do ciclo de vida (AICV) foi analisada a partir dos resultados do inventário de ciclo de vida (ICV). Realizou-se a AICV para 12 categorias de impacto (Quadro 2), conforme o método recomendado pelo International Reference Life Cycle Data System – ILCD (2011). Usaram-se os fatores de normalização universais para as emissões e extração de recursos usados por Sala et al. (2017).

Quadro 2. Fatores de normalização ILCD recomendados (adaptado de Sala et al. 2017)

Categoria de impacto ILCD Abreviatura Unidade normalização Fator de

Potencial de aquecimento global GWP100 kg CO2eq.PE-1.ano-1 8,40E 03 Potencial de destruição da camada de ozônio ODP kg CFC-11eq.PE-1.ano-1 2,34E-02 Toxicidade humana, efeitos cancerígenos HT-CE CTUh.PE-1.ano-1 3,85E-05 Toxicidade humana, efeitos não cancerígenos HT-non CE CTUh.PE-1.ano-1 4,75E-04

Material particulado PM kg PM2.5eq.PE-1.ano-1 5,07 E 00

Formação de oxidantes fotoquímicos POF kg NMVOCeq.PE-1.ano-1 4,06E 01

Acidificação terrestre TAD mol H+eq.PE-1.ano-1 5,55E 01

Eutrofização terrestre EPT mol Neq.PE-1.ano-1 1,77E 02

Eutrofização de água doce EPF kg Peq.PE-1.ano-1 7,34E-01

Eutrofização de marinha EPM kg Neq.PE-1.ano-1 2,83E 01

Ecotoxicidade de água doce ECF CTUeq.PE-1.ano-1 1,18E 01

Destruição de recursos abióticos, minerais,

fósseis e renováveis DAMR kg Sbeq.PE-1.ano-1 1,93E-01

3

Resultados

3.1

O SGRSU proposto

Com a metodologia da geometria das massas, identificou-se Aparecida de Goiânia, município vizinho a Goiânia (capital de Goiás), e que possui o maior Distrito Industrial Goiano (com quatro polos industriais), como sede do sistema de incineração (FIEG 2015). Escolheu-se o chamado Polo Empresarial para instalar a incineração, pois tem 130 indústrias que são potenciais usuárias da energia elétrica a ser gerada nesse sistema.

Para respeitar as distâncias máximas de 25 km para o transporte direto de RSU (Chen e Lo 2016) e com uma ET para os municípios que tem os seus centros urbanos a mais de 25 km da incineração (USEPA 2002), identificou-se a necessidade de nove ET para servir 17 municípios. Somente Aparecida de Goiânia e Hidrolândia enviarão seus RSU diretamente à incineração. O sistema de deposição final de RSU deverá ser instalado no município de Hidrolândia, a 29,3 km da incineração (Colvero et al. 2018). O sistema de incineração, o aterro e as nove ET do SGRSU proposto estão apresentados na Figura 1.

3.2

Comparação global entre as categorias de impacto para os sistemas

avaliados

Conforme Reichert e Mendes (2014), os valores positivos da ACV são os impactos globais (emissões para o ambiente), enquanto que valores negativos são as poupanças líquidas (emissões evitadas). Os resultados líquidos normalizados da ACV (feita para o CA, CP, CMd e CO para 2040), em miliequivalente de pessoa – mPE, para cada

(7)

23 categoria de impacto estão apresentados no Quadro 3. A normalização em mPE

possibilita comparar as diferentes categorias de impacto. Dos cenários avaliados, obteve-se que o CA da gestão dos RSU nos 19 municípios avaliados tem os maiores impactos ambientais em sete das 12 categorias avaliadas: potencial de aquecimento global (GWP100), potencial de destruição da camada de ozônio (ODP), toxicidade humana, efeitos cancerígenos (HT-CE), eutrofização de água doce (EPF), eutrofização marinha (EPM), ecotoxicidade de água doce (ECF) e, destruição de recursos abióticos, minerais, fósseis e renováveis (DAMR).

O processo de gestão que é o maior responsável pelas emissões ao ambiente no CA é a deposição final dos RSU. De modo que os aterros controlados, que recebem 70% do destino final dos RSU produzidos nos municípios avaliados, acabam por ser os responsáveis pelas maiores emissões no CA. Quanto às economias ambientais, o único processo no CA que evita emissões para o ambiente é a reciclagem. Considerando-se que a triagem tem uma eficiência média de 70% (Colvero et al. 2016), estima-se que somente 2% dos 2,8% de materiais potencialmente recicláveis enviados para a triagem nos 19 municípios acabem por ser enviados à reciclagem, taxa aquém da meta de desvio de recicláveis definida no PLANARES para 2019.

Figura 1. Sistema de gestão de RSU proposto para os 19 municípios de Goiás

Em contrapartida, os cenários otimistas com digestão anaeróbia (CO–DA), que possuem os maiores desvios de RSU dos aterros e que ainda valorizam os biorresíduos em biogás, têm as menores emissões ao ambiente em oito das 12 categorias de impacto avaliadas: GWP100, ODP, HT-CE, EPF, ECF, DAMR, material particulado (PM) e formação de oxidantes fotoquímicos (POF). Para estas categorias de impacto, três processos se destacam quanto às emissões evitadas: reciclagem, que representa as maiores economias líquidas em quatro categorias de impacto; economia de energia, obtida a partir da energia elétrica produzida no incinerador, que representa as maiores emissões evitadas ao ambiente em duas categorias; e o fertilizante químico mineral evitado (que representa o efeito da aplicação de fertilizantes naturais no solo, em

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24

substituição a uma fração dos fertilizantes minerais – Lima et al., 2018), que obteve a maior economia líquida em duas categorias (HT-CE e EPF).

Salienta-se ainda que o SGRSU proposto produz uma toxicidade humana superior comparativamente ao CA na categoria HT-non CE, que é explicado pela emissão de bioaerossóis, elementos que Pearson et al. (2015) apontaram ser nocivos à saúde humana. Porém, os resultados mostram que o SGRSU proposto evita efeitos de toxicidade cancerígena sobre a saúde humana, quando feita a substituição dos fertilizantes minerais pelos fertilizantes orgânicos produzidos pela CC ou DA.

Comparando-se a CC com a DA nos SGRSU propostos, verifica-se que para as 12 categorias de impacto, os cenários que possuem DA promovem uma importante economia líquida (através das emissões ao ambiente substancialmente menores) comparados aos cenários com CC. Para a categoria GWP100, para o CO, o SGRSU com CC tem quatro vezes mais emissões ao ambiente do que a DA “via seca”, e três vezes mais emissões que a DA “via húmida”. Para a categoria PM, enquanto que os cenários com CC geram elevadas emissões ao ambiente (devido às emissões do processo de CC), os cenários com DA evitam emissões ao ambiente. De qualquer modo, deve-se valorizar os SGRSU com CC comparativamente ao CA. Isso porque, apresentam melhores resultados ambientais na maior parte das categorias de impacto comparativamente com o CA, além da CC ser um processo que necessita de menores áreas do que o aterro e ainda gera um composto bioestabilizado.

Quadro 3. Resultados líquidos normalizados das 12 categorias de impacto avaliadas, em 2040

(em miliequivalentes de pessoa – mPE)

Categorias de Impacto

Cenários

CA CP–CC Seca Húmida CP–DA CMd–CC Seca Húmida CMd–DA CO–CC Seca Húmida CO–DA

GWP100 105,13 31,27 11,09 12,31 31,26 9,96 11,31 30,88 8,44 9,89 ODP 28,44 -11,22 -11,29 -11,26 -12,23 -12,30 -12,27 -13,25 -13,33 -13,29 HT-CE 24,63 -105,76 -107,02 -108,46 -111,20 -112,53 -114,03 -116,89 -118,30 -119,87 HT-non CE 23,23 213,09 211,73 167,47 223,23 221,79 175,31 233,51 231,99 183,08 PM -1,80 12,05 -13,68 -13,46 12,38 -14,78 -14,46 12,90 -15,71 -15,36 POF 12,39 24,32 8,44 10,14 24,36 7,61 9,53 25,01 7,31 9,36 TAD -0,39 110,34 4,44 4,78 115,45 3,67 4,11 121,26 3,55 4,01 EPT 1,69 164,57 16,66 16,70 172,31 16,47 16,59 180,73 16,33 16,51 EPF 1,56 -18,05 -18,12 -17,53 -19,09 -19,15 -18,53 -20,34 -20,42 -19,76 EPM 35,56 16,20 12,84 12,91 16,30 12,76 12,90 16,75 13,01 13,16 ECF 16566,06 -3048,04 -3795,74 -4753,94 -2969,90 -3759,13 -4765,11 -3230,53 -4063,47 -5119,81 DAMR -4,75 -19,29 -19,32 -19,28 -20,79 -20,83 -20,78 -22,27 -22,30 -22,25

GWP100: potencial de aquecimento global; ODP: potencial de destruição da camada de ozônio; HT-CE: toxicidade humana,

efeitos cancerígenos; HT-non CE: toxicidade humana, efeitos não cancerígenos; PM: material particulado; POF: formação de oxidantes fotoquímicos; TAD: acidificação terrestre; EPT: eutrofização terrestre; EPF: eutrofização da água doce;

EPM: eutrofização marinha; ECF: ecotoxicidade da água doce; DAMR: destruição de recursos abióticos, minerais, fósseis e

renováveis CA: Cenário atual; CP–CC: Cenário pessimista, compostagem comunitária; CMd–CC: Cenário moderado, compostagem comunitária; CO–CC: Cenário otimista, compostagem comunitária; CP–DA: Cenário pessimista, digestão anaeróbia; CMd–DA: Cenário moderado, digestão anaeróbia; CO–DA: Cenário otimista, digestão anaeróbia.

3.3

Análise dos impactos por processo

Em geral, os resultados evidenciam que quanto maior os desvios de RSU, maiores as economias líquidas nos processos, ou seja, os CO trazem maiores benefícios ambientais do que os CP. De qualquer modo, mesmo para o cenário pessimista com compostagem comunitária ou com digestão anaeróbia (CP–CC e CP–DA), que contemplam menores desvios de RSU dos aterros, as economias ambientais são maiores do que o encontrado

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25 no CA. Este estudo evidencia que a proposta do PLANARES (MMA 2012) de aumentos

progressivos nos desvios de RSU dos aterros com o passar dos anos trará ganhos ambientais.

Os resultados obtidos vão ao encontro do estudo de Nabavi-Pelesaraei et al. (2017), que concluíram que a redução do volume de RSU nos aterros conduz os sistemas a diminuírem os impactos ambientais negativos dos sistemas de deposição final. Comparando-se o CA (que envia 96,4% de seus RSU para a deposição final) com os cenários avaliados (que possuem incineração), verifica-se que os sistemas de deposição final terão sempre maiores impactos que a incineração nas categorias de impacto GWP100, POF e EPM. Este resultado converge com o estudo de Mendes et al. (2004), que apontaram que os aterros têm um maior impacto ambiental do que a incineração. Reichert e Mendes (2014) ressaltam ainda que a reciclagem e a poupança energética (obtida através da incineração) trazem ganhos ambientais para um SGRSU.

4

Considerações finais

O uso de uma ACV para comparar o atual modelo de gestão com possíveis alternativas de SGRSU para os 19 municípios do Estado de Goiás (Brasil), poderá servir de elemento norteador aos tomadores de decisão dos municípios envolvidos e de outros municípios de regiões metropolitanas de qualquer parte do mundo.

Os resultados confirmaram que o CA é um elevado passivo ambiental para os municípios avaliados. Ao todo, sete das 12 categorias de impacto avaliadas apresentaram maiores emissões ao ambiente no CA: GWP100, ODP, HT-CE, EPF, EPM, ECF e DAMR. Sendo que a deposição final de RSU (em aterros licenciados e não licenciados e em lixões) é a maior responsável pelas emissões ao ambiente no CA. Por outro lado, o CO–DA (com maiores desvios de RSU dos aterros) é o modelo de gestão com os melhores resultados quanto às economias líquidas de emissões ao ambiente, em oito das 12 categorias de impacto analisadas: GWP100, ODP, HT-CE, PM, POF, EPF, ECF e DAMR. Sendo que a reciclagem é o processo em que se obtém as maiores economias líquidas em quatro categorias de impacto.

Quanto aos SGRSU propostos, em todas as categorias de impacto avaliadas, os modelos de gestão com DA têm menores emissões ao ambiente comparativamente à CC. Para a categoria GWP100, o cenário otimista com compostagem comunitária (CO– CC) tem o quádruplo de emissões ao ambiente em comparação com a CO–DA “via seca”. Para a categoria PM, enquanto que o SGRSU com DA tem resultados com economias líquidas, no SGRSU com CC há emissões ao ambiente. Além disso, cabe destacar que os SGRSU com maiores desvios de RSU dos aterros, apresentaram melhores resultados ambientais, o que significa que atender às metas de desvios dos aterros do PLANARES reduz os impactos ambientais.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – FAPEG. Os autores agradecem ainda o apoio financeiro do CESAM (UID/AMB/50017/2019) e da FCT/MCTES e o cofinanciamento FEDER, P2020 e Compete 2020.

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Referências

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